Elena se sentiu desanimada assim que acordou, pois o barulho da chuva batendo na janela mais lhe soava como violinos tocando funebremente no velório do dia agradável que pretendia passar dirigindo seu conversível pelas ruas de Manhattan, quem sabe até New Jersey, com o calor do sol em seu rosto e vento nos cabelos. Obviamente seria só uma desculpa para passar maior parte do dia fora, já que não havia um canto de New York que ela não conhecesse. Preferia rever a cidade que tanto amava, canto a canto, do que encarar a realidade: estava na mansão de seus pais, que estavam hospedando as famílias que também tinham ações na Gilberty, tais quais praticamente faziam parte da Família Gilbert. Era feriado de 4 de Julho, e John Gilbert queria toda sua enorme família de coração junta para comemorar, assim, causando um reencontro que Elena ansiava com angústia, porém temia. Os assuntos inacabados que tinha com um certo par de olhos azuis a assombraram durante cinco anos. Cinco anos de saudade, raiva, dor, medo, esperança, mas acima de tudo, amor. Aquela paixão arrebatadora esteve morando em seu peito durante todo esse tempo, e jamais a abandonou. Apesar do sofrimento, não se arrependia de suas ações, e apesar do pavor da rejeição, nutria uma enorme crença de que talvez ela não fosse a única a desejar reviver aquele romance impulsiva e prematuramente interrompido.

Mudou de planos rapidamente e se levantou antes que o som da chuva se tornasse uma canção de ninar, lhe convidando para mais algumas horas de sono. Tomou um rápido banho quente, vestiu jeans, camiseta branca, tênis, uma pesada corrente de prata, alguns anéis, e completou com um batom vermelho, que combinava com suas longas unhas escarlate. Seus cabelos naturalmente ondulados estavam perfeitamente alinhados, e ela saiu do quarto depois de pegar uma jaquetade couro.
A mansão estava silenciosa, estavam todos dormindo e ela agradeceu aos céus por isso. Ainda não havia visto ninguém - exceto seus pais - desde quando chegara, tarde da noite. Todos já haviam se recolhido, e assim ela o fez também.

Desceu para a exagerada garagem subterrânea, e pediu para que um dos motoristas lhe desse a chave do Mustang de seu pai, que era um apaixonado por carros antigos. Fato que fazia parte da pequena lista de coisas as quais os dois tinham em comum. Pensou o quanto queria poder falar-lhe que via todos os erros dele, mas que estava tudo bem. Mas logo decidiu que aquele não era um bom pensamento para começar o dia.

Saiu da garagem cantando pneu, e adorando a adrenalina de dirigir em alta velocidade.