A Verdade Através do Sangue escrita por Pan


Capítulo 5
Novos furos


Notas iniciais do capítulo

Mais um esse mês ainda, para recompensar que todos saíram atrasados. Bom, eu não tenho muito para dizer desse aqui. Te espero lá em baixo.



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— Já que não tenho mais escapatória. Hora de juntar as coisas. Trabalho para a mãe. Ela me contou a verdade, a que minha mãe escondeu de mim. A mãe disse que precisava de você, me deu seu endereço, contou sua história e disse o que deveria fazer. Eu te achei e estou aqui para cumprir meu dever. Você vai voltar e me ajudar a resolver meus problemas ou vou ter que arrumar outro jeito de fazer você ir? – o menino havia comido em silêncio. Bryan o encarou e o provocou durante todo o jantar.

— Não vou falar com ela, não devo nada para aquela mulher. Esquece isso e volta para sua mãe. Onde já se viu? Um menino da sua idade trocar a família por um emprego. Deveria ter vergonha do que você fez. Quero que você saia dessa mesa e nunca mais me procure.

— Hope vai ficar triste quando souber que você não vai vista-la. Ela esperava que você compreenderia que não tem escolha e fosse por bem – o garoto tomou o último gole de refrigerante no copo e fez menção para levantar.

— Hope? O que você sabe dela? – Bryan segurou o pulso do pequeno antes que esse pudesse se mover.

— Eu conto tudo o que quiser saber sobre ela. Você vai largar meu braço, pagar a conta e nós vamos tomar o sorvete, por minha conta – a criança olhava ao redor de modo discreto. Não apresentou nenhuma alteração de humor, continuava quieto e prestativo desde o momento em que vira Bryan pela primeira vez.

A garçonete colocou o número dentro da conta deles. Ela flertou com Bryan durante a noite toda. Na saída do restaurante, Bryan passou o endereço do apartamento dele para ela. O menino lançou um olhar e trocou umas palavras com ela, foi o suficiente. Ela entendeu e voltou a atender as mesas. “Seja lá quem for esse moleque, ele tem alguma coisa que eu nunca vou entender”, Bryan tirou o cigarro do bolso e estava prestes a acender.

— Sem fumaça. Não preciso de uma lareira do meu lado. Não acho uma boa ideia tomar sorvete agora, tá frio – Caled fechou a jaqueta enquanto Bryan puxou o isqueiro e pôs o cigarro na boca.

— Seu nome? Sua idade? Quem é sua mãe? Quero saber de tudo – ele deu o primeiro trago e soprou a fumaça.

— Já que acendeu o seu, me empresta o isqueiro? – assim que colocou as mãos no pedaço de metal, ele o jogou longe. Quando o fumante foi reclamar, ele puxou o cigarro da boca de Bryan e apagou no chão. – Sou Caled, prazer.

— Você não tinha o direito de fazer isso. Pirralho, eu quero te encher de porrada. Mais uma dessas suas brincadeirinhas e nós vamos lutar como nos tempos do clube – Bryan levantou os punhos e avançou.

— Tenho direito de fazer muito mais, isso é pouco. Minha vida é isso que é porque um retardado de um lutador resolveu fugir. Eu tenho que servir aquela piranha daquela mulher porque minha família corre perigo, isso é, se ainda não morreu. Você é só mais um desses imbecis que eu tenho que lidar todos os dias. Trabalhar como lutador é moleza perto do que eu faço. Tenho nem quinze anos e já perdi metade da minha vida servindo quem não deveria ter nada. Acha que sua vida foi uma merda? Pelo menos seu irmão se preocupava com você, tinha alguém do seu lado. Eu não abandonei minha mãe, ela praticamente me vendeu para salvar o meu pai e adivinha só, ele nos abandonou também. Agora, você vai comigo até aquela bosta de sorveteria e se reclamar de novo, quem vai encher alguém de porrada sou eu. Mexe esses pés, lutador, eu não tenho nada a haver com suas tretas, só estou seguindo ordens.

­– Esquentadinho, hein? – Bryan lançou um olhar de raiva para Caled e começou a andar. O jovem o seguiu e pareceu não notar que o outro tinha puxado a faca do bolso.

Andaram alguns metros antes de o antigo lutador empurrar o acompanhante contra a parede e colocar a lâmina no pescoço dele. Estava enlouquecido, porém não arrancaria a verdade do garoto, que parecia não reagir. Caled matinha os braços baixos e, apesar de parecer assustado, pensava em um jeito de escapar da situação. Poderiam ter se encarado por horas, no entanto Caled não precisou de minutos para conseguir o que queria. Ele puxou o cinto de calça e enrolou na mão. A parte de ferro ficou em cima dos dedos. Ele esperou.

— Olha aqui, moleque, você não sabe o que passei para sair de lá e não é um pivete que se acha que vai me dizer o que fazer. Vou soltar a faca e você vai sair daqui e nunca mais me procurar, entendeu? – Caled acenou com a cabeça. – Ótimo, agora corre.

O soco acertou na boca do estômago e Bryan caiu de joelhos e depois rolou no chão. A cabeça girou algumas vezes, tinha batido ela quando caiu. Teve suas mãos amarradas e a faca, presente de Hope, havia sido confiscada. Ouviu o menino chamar alguém pelo telefone. Tentou se levantar, em vão. Não conseguia mover os pés e logo depois, nem ao menos sentia eles. Se sentia estranho. O vômito subiu a garganta, deixando o gosto amargo na boca.

— É só remédio para apagar. Não achou realmente que eu fosse ser trouxa a ponto de deixar você decidir se ia ou não ver a mãe – Caled sentou no chão e encostou na parede. – Não tem problema que eu tenha comido um pouco também, eles já estão vindo. Fica deitado, só faz o que ela pedir ... e se tiver como, foge de novo. Só foge... de novo. Eu preciso ficar acordado, eu tenho que... – o adolescente arfava e por mais que tentasse respirar, não conseguia.

— Respira, garoto. Não vai adiantar nada morrer aqui, não a esse ponto. Puxa pelo nariz e solta pela boca – nada surtia efeito. Bryan via a silhueta do menino, o peito subindo e descendo em uma velocidade assombrosa. Um carro parou na frente deles.

— Outra crise de asma? Você se ferrou de vez porque eu não trouxe a bombinha. Como a gente faz? Sério, deixei em cima do balcão da cozinha, você sabe, eu sou esquecido – um do brutamontes agachou na frente do menino e o olhava com desprezo.

— Olha, ele conseguiu outra vez. Vou pôr o cara no carro, dá um jeito no corpo, ele é só peso morto agora – o outro pôs Bryan no carro.

— Eu só vou se vocês levarem ele para o hospital antes – ele começara a lutar contra o sono. Apesar de não ter mais como lutar, ele insistia em tentar mover os pés e as pernas para chutar seu sequestrador.

— É mais fácil deixar ele morrer, ai a gente ocupa o emprego dele. Além disso, você não tem direito de pedir nada. Vai apagar logo, logo – Bryan foi largado dentro do carro. O cara que o deixou lá puxou uma arma do banco do passageiro e passou para o outro. – Não deixa o moleque sofrendo. Acaba logo com isso, quando antes chegarmos lá, melhor para a gente.

— Não, ele vai sofrer até morrer. Eu tomei um tiro por causa desse safado. Tive uma ideia, vou fazer furos. Você vai vazar como uma banheira – Caled olhava para o carro, tentando inutilmente pedir ajuda a Bryan.

— Encoste nele e eu juro que faço vocês pagarem. A mãe vai saber disso e Hope também. Vão querer nunca ter olhado para ele. Põe ele no carro e vamos. Agora – os olhos de Bryan fechavam cada vez mais rápido e era mais difícil abrir eles de novo.

— Manda... espe... – Caled riu da própria dificuldade para falar. – Esperança... Mamãe...

— Aguenta garoto, você vai ver ela de novo – Bryan não aguentou e caiu no banco de trás do carro. Não sentia mais as mãos. Mandaria esperanças para a mãe dele. Faria isso. Era questão de honra. O corpo de Caled se reprimiu quando a bala o atingiu.

— Deixa ele ai e vamos logo. A mãe vai ficar puta com você, ele era um dos favoritos. Você sabe como ela ama essas crianças patéticas dela – mais uma vez a arma cuspiu. Os dois entraram no carro.

O corpo se manteve na mesma posição. Não arfava mais, o peito já não subia e descia bruscamente. O sangue ainda escorria dos buracos. Os sinos da porta do restaurante tocaram e os gritos da garçonete acordaram alguns vizinhos. Todos haviam ligado para o IML, corpos naqueles becos eram normais, mas alguém com esperança chamou a ambulância, que por milagre naquela noite, chegou antes do carro funerário.


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Notas finais do capítulo

Hey, eu queria dizer que por enquanto ta dando tudo certo e eu estou muito feliz com o feedback. A história já está andando com suas próprias pernas, o que é bom por sinal. Eu poderia dar alguns spoilers, mas vou só comentar que ainda vai demorar um pouco para a treta terminar. Bom, novo personagem, regras de sempre.
Caled: significa “eterno”, “imortal”, “que dura para sempre” ou “para durar para sempre”.
Vejo você no próximo. Continuo com minha malhação, então espero seus comentários e etc. Não morram até lá.



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