A Verdade Através do Sangue escrita por Pan


Capítulo 3
Segunda Gota


Notas iniciais do capítulo

Eu tenho que pedir desculpas pelo atraso, então lá vai, desculpas. Atrasei porque eu tive que revisar esse várias vezes antes de postar, provavelmente ainda tem erro. Ele ficou longo, possivelmente cansativo. Tenho alguns recados, te vejo nas notas finais. Sem mais delongas, espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/696495/chapter/3

— Chegamos. É aqui que eu moro. Bem vindos ao meu pequeno apartamento – Bryan colocou Balthazar no sofá. – Vou pegar uns colchões e colocar no chão. Sky, você vai dormir na cama do meu quarto e o Leônidas no chão. Eu fico aqui com seu irmão, se precisarem de alguma coisa me avisa. O banheiro fica no fim do corredor. Nenhum dos dois, em ocasião nenhuma, nem pense, nem cogite a ideia de sair pela porta. Se alguém quiser alguma coisa, nem que seja comida, me espere.

— Você vai sair? – Sky estava olhando algumas fotos espalhadas na mesa da sala. O apartamento era pequeno, sala e cozinha sem paredes de divisão. O corredor dava acesso para o banheiro, o quarto, um closet bagunçado e uma sala trancada.

— Possivelmente. Não façam nada do que possam se arrepender de manhã. Vão, boa noite. Decidimos o resto amanhã.

Bryan e Sky se arrumaram evitando conversar ou apenas se olhar. Hope havia entrado no banheiro e os dois estavam cansados demais para esperar que ela saísse. Trocaram-se no quarto, um de costas para o outro. O lutador esperou que Sky se sentisse a vontade antes de se virar. Ela entrou debaixo das cobertas e apagou as luzes. Ele deitou em alguns colchões no chão.

— Você está com frio? Tenho cobertas sobrando – ambos se sentiam desconfortáveis. Não notaram Hope ouvindo atrás da porta.

— Se a senhora puder, estou com um pouco de frio – Sky passou uma manta grossa para ele. – Posso fazer uma pergunta, senhora?

— Sky, me chame de Sky. Pode perguntar, isso também me confunde.

— Você e a outra não moram juntas? Vocês são tão próximas.

— Não. Hope mora sozinha, eu acho. Eu passo a maior parte do meu tempo estudando na faculdade que ela conseguiu me colocar. Fico na faculdade até fechar, ela quer que eu me forme. Quando eu tenho que ir embora, às vezes ela me traz pra cá, mas na maioria acabo dormindo no clube. Tem um quarto lá, não é grande coisa.

— Deve ser triste, dormir sozinha lá no clube. Eu gosto dos alojamentos, somos quase como uma grande família. Por que você não pede pra dormir lá com a gente? Ninguém mexeria com a senhora, quer dizer, você – Hope se contorceu com a ideia que Bryan deu. Não poderia deixar que os lutadores interferissem nos estudos de Sky.

— Eu não posso, Hope não deixaria e eu não pediria. Ela já paga as minhas despesas, não vou abusar. Confesso que tenho vontade de conhecer o mundo de vocês, mas não quero pedir.

— Ei! Que conversar é essa? Silêncio, vocês vão acordar alguém. Vão dormir, sem discussão – Hope continuou com o ouvido grudado na porta. – Boa noite.

 Os dois ficaram quietos e dormiram. Balthazar gemeu alguma coisa. Hope ajeitou o colchão na sala. Tirou o paletó e a gravata do doente. O cobriu com um cobertor que tinha pego para si. Voltou para o banheiro e tomou banho. Pegou peças de roupa limpas e se trancou no outro quarto por algumas horas.

Saiu logo que amanheceu. Balthazar abriu os olhos quando ouviu a porta batendo, porém se sentiu fraco demais para levantar. Ficou sentado no sofá, tentando entender o que havia acontecido. Sky levantou-se para ir ao banheiro. Bryan acordou ao ouvir o barulho da descarga. Os três teriam feito algum plano para fugir se tivessem tido tempo.

Bryan saiu do quarto e viu o irmão sentado. Ficou parado na porta do quarto, olhando. Sky saiu do banheiro e se deparou com a cena. Seus olhos analisaram Bryan de cima a baixo várias vezes, não porque estava interessada nele e sim por ser a primeira vez que ela via alguém do sexo oposto sem camisa. Ela mal tinha contato com os apostadores e compradores no clube, ficou sem reação. Bryan notou que estava sendo observado e olhou para Sky. Sentiu-se igualmente envergonhado, pelo mesmo motivo dela, nunca havia visto uma garota com roupas tão curtas. Os olhos se encontraram e ficaram presos.

— Eu gostei do pijama – Balthazar estava na outra ponta do corredor, sem tirar os olhos de Sky. – Muito criativo.

— Eu, ahm, obrigada. Como você está? – ela o encarou e andou até ele. Bryan voltou ao quarto. O irmão e a senhora Sky teriam muito o que conversar.

Hope chegou meia hora depois que todos estavam acordados. Ela estava com os fones no volume máximo, sacolas cheias e um cachorro. Ignorou o casal no sofá e guardou tudo. O cão foi direto para o closet. Hope colocou a música para tocar no máximo e andou até o quarto. Bryan estava sentado em um canto, com a cabeça entre as mãos.

— Quer falar sobre isso? – Hope não parecia se importar com o fato de ser um dia anormal. Ela começou a arrumar o quarto, dobrando as cobertas e sacudindo os lençóis.

— A culpa é sua, por isso estar acontecendo. Eu teria uma vida fora daqui, teria uma família. Mas estou preso, sou obrigado a lutar. Odeio a minha vida e tudo isso porque você me tirou da rua. Eu te odeio. Queria voltar no tempo e nunca ter te conhecido.

— Você disse sim naquele dia, eu só fiz a proposta. Além disso, você estaria atrás das grades, nas ruas ou morto, de fome, de frio. Não coloque a culpa em outra pessoa, você não quer uma vida normal. Está com ciúmes do que seu irmão tem.

— Fala como se soubesse de alguma coisa sobre o que eu passei. Sempre teve tudo o que quis. É o cachorrinho da mãe. Eu adoraria ter uma vida normal. Deve ser bom, chegar em casa depois do trabalho, encontrar sua mulher e seus filhos. Poder fazer o que quiser quando quiser. Imagina, ter seu próprio dinheiro – Bryan fechará os olhos, sua voz soava melancólica.

— É, deve ser incrível, não ver seus filhos crescerem porque você trabalha demais, ser traído porque sua esposa sente falta de você, nunca estar em casa ou afundar em dividas e bebidas. Famílias normais são clichês. Pessoas como eu e você não são feitas para isso, fomos feitos para sofrer, enquanto Sky e Balthazar possam ter tudo o que quiserem. Agora pare de choramingar, se não vou te dar umas porradas – Hope abriu as janelas. A luz entrou no cômodo e ela entendeu. Já havia entrado naquela crise muito tempo atrás.  – Aproveita. Daqui a pouco, você volta para os alojamentos, Sky tem que ir estudar e eu vou limpar o clube.

— Não vou voltar para aquele lugar. Vou embora com Balt, nunca mais vou precisar lutar de novo, não dentro daquela gaiola. Não há nada que você possa fazer para me impedir de sair por aquela porta – Bryan se pôs de pé em um salto. Hope fechou a porta do quarto e trancou. Ela andou em direção ao canto em que ele estava, não estava a fim de agredir ninguém, teria um dia cansativo pela frente, mas ele estava pedindo, ah se não estava.

Eles poderiam ter brigado até a morte de um dos dois. Hope teria maiores chances, era fisicamente mais preparada do que ele, porém ela sabia que perderia a maior chance de realizar seu plano. Ela parou centímetros a frente dele quase provando que dois corpos podem ocupar um mesmo espaço. Respirar ficou mais difícil, os pulmões dele demoravam mais para inflar. Ela o olhou nos olhos, o mundo se calou. Sky, Balthazar, a mãe, o cachorro, os lutadores, nada fazia diferença. A música não fazia diferença. As cicatrizes não faziam diferença. Tudo poderiam ser deixado para trás, ele sentia isso. Nada iria mudar, ela não deixaria.

— Por que você não fugiu disso? Tem tantas chances de fazer isso, poderia ter partido há muito tempo. Por que você ficou? – ele aproximou ainda mais os rostos.

— Contas para pagar. É um jeito de ganhar muito sem fazer nada. Além disso, eu posso fazer o que quiser sem precisar me preocupar com nada, só com a mãe. Um emprego dos sonhos – ela ergueu a mão e apertou o nariz dele. – É melhor a gente comer antes que você vire tio.

— Espera, o que você acha de me deixar ir? Quero dizer, deixar eu e meu irmão irmos embora.

— Eu não vou perder você de vista, pode deixar. Seu irmão não tem condições de ir a lugar nenhum e se perguntar de novo ...

— Vai me bater? – ele cruzou os braços e o espaço entre eles diminuiu.

— Vou quebrar as pernas do seu irmão. Osso por osso. Paga para ver? – ela mexeu os braços, mas eles foram para a cintura dele. Ela o puxou, se ainda existisse espaço entre eles, não havia mais. Ele pareceu entender o que ela provavelmente faria, não estava pronto, a situação era nova. – Não estamos no clube, nem nos alojamentos, muito menos em Esparta, senhor Leônidas. Aqui é minha casa – as mãos dela subiram até os ombros e pararam. – Faça qualquer coisa que eu não goste e vai encarar as consequências – ela cravou as unhas nas costas dele e arranhou.

Ela riu e se virou para andar. Ele a puxou pelo pulso e a segurou contra o corpo. Ela sabia que não poderia lutar, ele teria a vantagem, tinha prendido o braço dela. O despertador de Sky tocou, eles tinham duas horas antes que alguém notasse um lutador a menos no alojamento ou uma aluna faltando na primeira aula. Ele a puxou ainda mais, queria mostrar que ele também sabia jogar. Ela fez a careta de dor que a pouco vira no rosto do outro. Ele a teria beijado, mas ela o beijou primeiro. Não foi nada espetacular, como um beijo de tirar o fôlego ou coisa parecida, foi um selinho.

Ela saiu do quarto, havia coisas para fazer. Ele ficou no canto durante alguns minutos. Sky entrou no banheiro para tomar banho. Hope tinha começado a fazer o café da manhã e conversava com Balthazar. Pareciam uma família normal e feliz. O cachorro entrou no quarto e rosnou para Bryan, que saiu correndo.

— Da onde aquele cachorro saiu? – Balthazar encarou o irmão.

— Bom dia para você também. Como você tá? – o rosto de Balthazar estava destruído, com costuras e curativos. O inchaço havia diminuído em partes, porém ainda estava deformado.

— Joker! Seu vira-lata. O reencontro dos irmãos fica para depois. Vai colocar uma camisa e senta para comer. Vou levar você no alojamento, deixo Sky na faculdade e o seu irmão pode ficar aqui até se sentir melhor – Balthazar sentou no balcão que separava a sala da cozinha e Bryan voltou ao quarto para vestir a camisa. – Recomendo que você fique até a hora que eu voltar do serviço, ai te deixo em um ponto de ônibus ou em algum lugar.

— Obrigado. Me desculpe por ontem, eu só queria tirar ele de lá. Você podia ter batido menos, sabe, dói.

— Sim, eu sei muito bem, o que você acha que acontece comigo se eu desobedecer as ordens? O que passou pela sua cabeça? Você iria enganar Sky, pegar o dinheiro, voltar alguns dias depois e comprar seu irmão? Não iriamos notar o dinheiro faltando ou que as notas estavam marcadas. Os compradores nem usam dinheiro vivo.

— Eu já pedi desculpas. Sei que parece idiotice para você, mas eu não conheço esse sistema, sou uma pessoa direita. Não me meto com coisas estranhas que nem você – Balthazar podia não ter noção do que acabava de falar, porém Bryan sabia como aquelas palavras afetavam Hope. Ele empurrou o irmão para trás e ficou entre ele e Hope.

— Ele não quis dizer isso, você deve ter batido com força. Ele vai calar a boca e vai embora quando você for levar a Sky. Agradecemos sua bondade – Hope voltou para a pia e soltou a faca.

— Eu já vou terminar o café. Aqui, comam – Hope começou a servir a refeição. Pôs pão, frios, sucos, copos, pratos, talheres e saiu da cozinha. Bateu na porta do banheiro. – Sky! Você vai se atrasar. O café tá na mesa e não esqueça os livros no quarto. Vou estar lá fora, me chame quando estiver pronta.

Hope saiu do apartamento junto do cachorro. Bryan discutiu com Balthazar. Sky terminou de se trocar e os três tomaram café. O silêncio foi instaurado, era possível ouvir Hope resmungando em alguma língua que ninguém entendia. Sky acabou de comer, chamou Hope e se despediu de Balthazar. Ela e Bryan esperaram do lado de fora do apartamento.

— Você não acha estranho o fato de ela não dormir ou comer? Quer dizer, ela é um ser humano, ela tem que fazer isso – Bryan permaneceu de pé encostado na parede, esperando.

— Ela está bem, só precisa de um tempo sozinha. Não é comum ela fazer isso, mas já vi acontecer. Eu acho que ela fica desse jeito quando a mãe vem para cá e ela tem medo de perder um lutador importante ou só de ver a mãe. Sempre que a mãe vem nos visitar, Hope volta com novas cicatrizes e machucados. Ela só está preocupada, só isso.

— Sei – Bryan se mexeu e sentou ao lado de Sky. – E você? Não em relação a mãe, quero saber de você e meu irmão. Vamos, me conte tudo.

— Ele é bonito, legal e gentil. É um cara legal, nada demais – Sky encolheu os ombros e riu. – E você? Não em relação ao seu irmão, quero saber de você e Hope.

— De pé. Vou deixar Bryan primeiro, o alojamento é caminho da faculdade – Hope trancou a casa e checou a mala.

Eles saíram. Hope pensava seriamente em deixar Sky conhecer os alojamentos. Não faria mal a ninguém, os lutadores teriam algo para comemorar e Sky teria mais contato com pessoas que ela teria que ver pelo resto da vida. Talvez em outro dia. A lista de tarefas já estava pronta e não estava escrito que ela deveria explicar para um monte de trogloditas porque tinha uma menina na casa.

— Leônidas, eu vou deixar algumas coisas com você, distribui entre o pessoal e arruma tudo. Se perguntarem o porquê de você ter passado a noite fora ou de eu não ter entrado, diz que eu vou explicar quando eu voltar. Sky, presta atenção nas aulas. Assim que eu terminar o trabalho no clube, vou levar o Balthazar para a casa dele. Me liga quando as aulas acabarem. Vou deixar você em casa mais cedo e volto para os alojamentos. Entenderam? – os dois balançaram as cabeças. Hope pensou se aquilo era certo. – Sky, você e o Balthazar se tornaram próximos, quero que vocês saiam para eu ter certeza de que ele vai ficar bem, tudo bem para você?

— Claro, sem nenhum problema – Sky sorriu e pareceu que não ia esquecer aquilo nunca mais. Bryan riu, mas ficou sério de novo.

— Eu quero mudar algumas coisas em relação aos lutadores, vou falar com a mãe sobre isso. Se por algum motivo eu não conseguir o que eu quero ou não voltar, Sky você assume o clube e lutador, tem permissão de viver do seu modo. Dou notícias mais tarde, não se precipitem. Alguma dúvida?

— Senhora? Eu tenho uma dúvida. O que significa precipitem? – Bryan se encolheu com a ideia de ser burro. Hope explicou. O resto da viagem foi silencioso. Não havia o que se falar, mas podia se sentir a felicidade dos dois no banco de trás e o medo de Hope. O tempo era curto e ela precisava colocar seu plano em ação.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Hey! Eu disse que ele ficou longo. Entediante, eu sei. Os próximos serão mais emocionantes. Enfim, eu fiquei de avisar algumas coisas. O próximo vai demorar, espero que não tanto quanto esse, mas não vai sair tão cedo. Espero que vocês tenham notado a referência ao Coringa, se não notaram, é o nome do cachorro da Hope. O de sempre, três pulos para cada comentário e duas flexões pro resto. Vejo vocês no próximo. Ah, se preparem, a treta vai começar.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Verdade Através do Sangue" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.