Infantilidade ou não, cheguei em casa emburrada, com um bico enorme. Eu tinha feito um planejamento de tudo que faria nessa viagem e em nenhum dos tópicos eu contava com Austin do meu lado.

Entrei no meu quarto batendo a porta e me jogando na cama. Juro que entendo a preocupação dos meus pais, mas com mais de sete bilhões de pessoas do mundo, o Austin que terá de ir comigo para o Chile? É sério?

Meu celular tocou. Era aquele projeto de ser vivo mal feito.

— O que você quer? _ atendi mal - humorada.

Ele riu.

— Oi pra você também _  revirei os olhos, mesmo sabendo que ele não veria.

— Vem cá, ligou pra me dizer alguma coisa ou só pra me perturbar mesmo? Por que se for a segunda opção, você tá conseguindo.

— É... Eu gosto da segunda opção, mas liguei pra pedir carona amanhã. Sabe, meus pais não podem me dar uma carona.

Me sentei.

— Isso é pedir demais, sabia? _ aumentei um pouco meu tom de voz. _ Você quer dizer que além de eu ter que te aturar no avião e no Chile, vou ter que te aturar também na ida para o aeroporto?

— Basicamente.

— Ah, que notícia maravilhosa! _ ironizei.

— Eu sei! Seu presente de Natal adiantado _ se estivéssemos conversando cara a cara, tenho certeza de que ele piscaria um olho. Isso me irrita.

— Eu vou ver _ disse entre dentes, ante de desligar.

Eu até ia falar com meus pais _ cheguei a abrir a porta _ mas pensei que, se eu convencer meus pais de sairmos de casa um pouco antes de Austin pensar em vir bater na minha porta, dizendo que ele encontraria com a gente no aeroporto, ele iria se atrasar.

Austin não pegaria um táxi pelo simples motivo de que seus pais cortaram sua mesada por causa de uma besteira que ele fez e ele não tem dinheiro. Ele pode pegar um ônibus, mas não vai chegar à tempo, porque ele não vai acordar cedinho, porque ele vai contar com a carona dos meus pais.

É, essa me parece uma ótima ideia para uma pessoa desesperada como eu.

*

Ontem no jantar eu nem toquei no nome do Austin. Acordei até bem humorada hoje. Tinha 99% de chance de o meu plano dar certo, pois comentei com meus pais que era bom irmos mais cedo para o aeroporto, pois sempre demora para fazer Check-in e essas coisas.

Desci para o café da manhã com um sorriso que logo se desmanchou.

— O que você está fazendo aqui, Austin?! _ fiz muito sacrifício para não gritar.

— Ah, ele disse que precisava de uma carona, e como você disse ontem que preferia sair mais cedo... _ começou meu pai.

— Chamamos Austin para tomar café aqui para não perder a hora _ minha mãe terminou.

Aquela praga dos infernos estava me olhando com um sorriso de "mocinho da história" que me dava nos nervos.

Me sentei à mesa.

— Bom dia, Liv _ falou.

— Já começou mal. _ dei um gole no meu suco.

Eu gostando ou não, Austin foi no nosso carro. Não nos falamos muito, apenas trocamos algumas farpas, nada de novo.

Quando chegamos no aeroporto, meus pais fizeram aquele drama e listaram um monte de coisas que eu não deveria fazer. Acho que ouvi a frase "Juízo" uma trinta vezes e apenas cinco minutos antes de Austin e eu entrarmos no avião.

Sentei em uma das pontas, na janela e Austin se pôs ao meu lado.

— Qual a necessidade de grudar em mim até aqui? _ o encarei.

— Bom, você é a única pessoa que eu conheço nesse avião. _ sorriu.

— Infelizmente _ murmurei.

Logo depois, colocamos o cinto e decolamos. Essas férias vão ser bem diferentes do que eu planejei.