Guardião escrita por Jafs


Capítulo 1
Capítulo 1




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Acordando com os solavancos do carro, a menina logo concluiu que a viagem continuava noite adentro. Além das janelas, apenas escuridão, exceto para estrada de terra que os faróis iluminavam.

Olhando pelo retrovisor, o homem que dirigia disse a sua filha, “Veja quem abriu olhos. Nós estamos quase chegando.”

“Querido, nós devíamos ter partido mais cedo,” respondeu a esposa que estava sentada no banco de passageiro.

“Eu sei! Eu sei! Faz tanto tempo que não faço esse trajeto que acabei me enganando com a duração.” Ele voltou a olhar para o retrovisor. “Sabe, a última vez que viemos aqui foi para mostrar você para sua vó. Você era ainda bem pequena-”

“Você já me contou um monte de vezes essa história.” A menina sorriu.

“Apesar de chover muito, eu gosto da paz daquele lugar, mas espero que a casa dela não esteja muito abandonada,” comentou a mulher.

“Claro que não,” falou o homem, “o povo da vila iria cuidar do-”

“O que foi?”

Ele segurou o volante com mais firmeza. “Estranho, parece que colocaram areia na estrada.”

Todos dentro do veículo sentiram que o solo estava mais fofo.

“O-Onde está estrada?!” Ele diminuiu a velocidade e continuou em frente até que fora obrigado a parar, pois as luzes banhavam as ondas do mar.

“Isso é uma praia?” a mulher questionou, “você errou o caminho?”

“Impossível! Eu vi a placa.” O homem estava abismado. “O oceano não poderia estar tão perto.” Ele deu marcha ré, mas ao acelerar, o veículo não saiu do lugar. “Ah não! Atolamos?”

A esposa cruzou os braços e bufou. “Isso que dá por sairmos tão tarde. Você não sabe encontrar o lugar no escuro.”

O marido levantou a voz. “Eu já disse que vi a placa! Eu tenho certeza!”

“Claro!” Ela revirou os olhos. “Só que você devia ter lido ela, lá estava escrito ‘lugar nenhum’.”

O homem pisou no acelerador, mais com raiva do que esperança. “Eu li a placa, tá bom? Eu li!”

“Por que não usa essa teimosia para tirar esse carro?” A mulher tirou o cinto. “Ou talvez você queira que maré suba e faça isso por ti.”

Ao ouvir isso, o marido tirou o cinto prontamente. “Saco!”

Contudo, antes que eles pudessem sair do carro, a menina alertou, “O que está acontecendo com o mar?”

As águas haviam recuado ao ponto de revelar seu leito. Um som fora ouvido, como os das ondas de outrora, mas que continuava a ganhar força. Então as luzes dos faróis mostraram a massiva parede de água que vinha velozmente na direção deles.

Em um primeiro momento, os três ficaram imóveis, apenas conseguindo balbuciar alguns fonemas diante da destruição iminente. A mulher foi a primeira agir, tentando abrir a porta.

Porém, ele segurou o braço dela. “Não! NÃO SAIA DO CARRO!”

Enquanto a menina só teve tempo de fechar os olhos e proteger os braços. Logo veio o som ensurdecedor do impacto. Ela gritou apenas para si, quando o cinto a puxou violentamente. O mumdo escuro rodopiava e as águas, salgadas e frias, vieram de todas as direções.

Quando elas invadiram suas narinas, a menina tentou tossir, mas apenas fez com que mais água entrasse em sua boca. Ela tentou reabrir os olhos, mas eles ardiam e nada conseguia enxergar. Ela sentiu seu corpo se chocar em uma superfície, que ela não tinha certeza se era a janela ou o topo do veículo. Ela tateou desesperadamente, ouvindo as batidas aceleradas do coração e sentindo seus pulmões queimarem.

Então veio uma forte luz. Atraída por aquilo, a menina conseguiu discernir os bancos da frente do veículo e, entre os feixes luminosos brancos, os corpos dos seus pais boiando. De repente, um forte impacto atingiu o carro e tudo ficou escuro novamente.

As águas se moveram e ela rodopiou sem controle. Quando a sua velocidade reduziu, ela notou que estava agora distante da parte traseira do carro, separada do resto, afundando lentamente. Também se deu conta que ele continuava sendo iluminado por aquele feixe de luz.

Foi então que ela viu.

Era o casco de um navio de madeira com dezenas de metros de comprimento. Na proa havia um olho de íris azul pintado, que se mexia como se estivesse vivo, focando em sua boca logo abaixo, onde sua poderosa mandíbula retorcia o metal de sua refeição. O convés era coberto por uma lesma, com alguns pares de antenas ao longo de seu corpo, de suas pontas a luz projetava em direção ao seu próximo alvo.

A menina não conseguiu mais segurar e seu corpo se contraiu dolorosamente, puxando água para dentro de si. Ela se debateu, tomada pelo pavor, não apenas por estar se afogando, mas ao ver o navio bater seu leme e avançar com desenvoltura para devorar o que havia restado do veículo. As luzes a alcançaram, tudo indicando que ela seria a próxima.

No entanto, os olhos do navio se arregalaram e ele nadou velozmente para longe, até suas luzes desaparecerem sob o manto negro das águas.

Enquanto isso, a cabeça da menina se ergueu e sua boca escancarou, buscando o ar que não havia. Seus braços e pernas tentando alcançar o nada. A tontura prenunciando o que ela já estava ciente.

Então a agonia se foi, como se alguém tivesse pressionado um interruptor. Na verdade não somente o sofrimento, mas o senso de seu corpo a deixou. A leveza e liberdade em seu lugar. Ela percebeu que se encontrava atrás de si mesma, enxergando os ombros daquele corpo que afundava. Ele estava ficando cada vez mais distante e desconectado dela, seguido por um som que ganhava volume, como o de outrora...

Veio o impacto.

Aquele som tomou conta de seu ser, trazendo o frio e a dor de volta. A água parecia rasgar por dentro, saindo incontrolável pelo seu nariz e boca. Seu corpo pedira ar novamente e ele veio, inflando os espaços que encontrava e a fazendo tossir ainda mais. Seus músculos, sem forças, apenas tremiam, somente seus olhos ela conseguia mover.

O som vinha de todas direções, por imensas paredes de água que pareciam tocar as nuvens. Ela estava se afastando lentamente daquelas paredes, indo até o centro.

Ela estava flutuando em pleno ar, mas ao mesmo tempo seu corpo boiava na água. Sua mente fatigada não compreendia e talvez jamais fosse possível.

Porém, ao perceber que tudo estava sendo iluminado por uma luz de fraco azul, ela procurou pela fonte.

Acima dela, a luz descia. Estava na ponta de um cajado e iluminava seu portador, uma sacerdotisa. O mais incrível era que ela estava de pé sobre o que seria uma nuvem de água.

Aquilo fora demais para a menina. Com a realidade tão contestada, sua consciência a abandonou.

/人 ‿‿ 人\

NO FINAL DE UMA ESTRADA

A noite trazia a fúria de uma tempestade para um vilarejo. Os lampejos dos raios reinavam sobre as luzes artificiais, mas era um reino modesto, pois eram poucas, apenas as que haviam nos postes.

Nenhuma janela das casas apresentava alguma iluminação, era como se tudo estivesse abandonado. Se fosse verdade, então ninguém alardearia sobre a massa de lama que surgia entre árvores da floresta que cercava o lugar.

Alimentado pela grossa chuva, além de galhos e troncos caídos, a lama ganhou volume e se ergueu. Braços e pernas, colados uns nos outros, brotaram do monte e em seu topo abriu-se um buraco circular.

A monstruosidade se aproximava cada vez mais das casas quando, de repente, um raio veio do céu e a atingiu, logo seguido de outro. Um clarão contínuo banhou o ambiente e as janelas das casas vibravam sem parar com o estrondo dos trovões.

Ela se contorceu. Seus braços e pernas de lama se desconectavam e se derretiam antes de chegar ao chão. Os troncos estouravam e uma nuvem de vapor se formou.

Os raios somente cessaram quando, do buraco do monstro, ocorreu uma erupção de água. A montanha de lama sucumbiu e aos poucos foi sendo lavada pela pesada chuva.

Não muito distante dali, sobre o telhado de uma casa, uma sombra observava tudo. Uma capa e capuz camuflavam tanto sua silhueta quanto quaisquer movimentos, se parecendo com uma lúgubre estátua.

Bem diferente da pequena criatura branca que estava ao seu lado. A chuva escorria sobre sua pelagem rala que se mantinha perfeitamente seca. Seus olhos vermelhos apenas piscavam para remover a água quando esta dificultava sua visão. [Excelente desempenho. Você derrotou a bruxa em 2.67 segundos, superando sua antiga marca em dois décimos.]

A sombra respondeu, com uma voz abafada, “Hoje a tempestade está forte.” Ela saltou do telhado até onde o monte de lama estava. Entre os galhos e troncos, ela procurou pelo objeto até encontrá-lo.

Era um globo negro, onde em seu equador haviam vários anéis metálicos justapostos. Seu polegar coberto de borracha acariciou o anel que decorava a ponta no topo da semente da aflição.

A criatura logo a alcançou e caminhava sobre um tronco. [Seria melhor remover esses entulhos.]

“Sim.” A sombra arremessou a semente para a criatura, que prontamente abriu o orifício em suas costas para recebê-la.

/人 ‿‿ 人\

A estrada era de terra batida. Não havia prédios ou outras construções, apenas árvores em ambos os lados. O som de pássaros e insetos acompanhava o dos passos do cavalo.

Tal ambiente poderia significar tranqüilidade, mas não para Kyouko Sakura. “Ok... admita. Você errou.”

Sayaka Miki, que compartilhava o lombo do animal com a sua parceira, respondeu, “A estrada ainda não acabou.”

“A gente já tá nela faz tempo,” afirmou Kyouko. “Tu não vê que não tem nada aqui?”

“Eu vi a placa.”

“Que tava caída e enferrujada.” Kyouko revirou os olhos. “Se a gente tivesse em algo mais rápido, nem teríamos visto.”

“É, mas não estamos.” Sayaka pegou o mapa que estava em uma das mochilas que ela carregava nas costas. “Hoje está nublado e vai escurecer logo. Aqui consta que estamos a quilômetros de distância de qualquer lugar para passar a noite. Nós temos que tentar esse lugar, eu que não quero arriscar de pegar chuva e molhar nossas coisas.”

Kyouko olhou para trás. “O mapa diz aí o que esse lugar é?”

“Hmmm...” Sayaka botou o mapa mais perto da sua face. “A estrada atravessa um rio...”

“E...?”

Sayaka coçou a testa. “Erm... Aqui não mostra nada.”

“Beleza.” Kyouko sorriu e voltou a olhar para frente. “Vamos dar meia volta. Na próxima vez, o cavalo vai ser a navegadora.”

“Ei! Eu-” A irritação de Sayaka fora breve, pois ela avistou, além da curva, uma ponte de madeira.

Kyouko não virou o cavalo. “Aquele é o tal rio que tu falou?”

“Deve ser.” Sayaka sorriu, mais confiante. “Está vendo essa ponte? Ela bem cuidada e é até coberta!”

Kyouko concordou, “É, parece que podemos passar a noite aqui.”

“Você está de brincadeira, não é?” disse Sayaka, novamente irritada. “Isso significa que tem que ter algo além dela, não custa nada ir mais um pouco.”

Kyouko não falou nada, mas sua posição a respeito ficou clara quando atravessou a ponte até o outro lado. Observando o pequeno córrego que passava por baixo, ela concluiu que aquilo não fazia jus a um rio. Passaram-se mais alguns minutos de cavalgada e não parecia haver mais nada além da estrada.

“Olha lá!”

Kyouko seguiu com os olhos até algumas árvores que sua companheira havia apontado. Entre seus galhos e troncos, despontava uma casa.

A estrada passou a ser de pedra e mais casas surgiam. Como se árvores tivessem desistido de bloquear a vista, as duas se depararam com um vilarejo em meio a um vale. Plantações de arroz e muretas de pedra separavam as modestas fazendas. Se não fosse os postes e os fios de eletricidade, poderia se dizer que as duas tinham voltado no tempo dos feudos.

Sayaka não perdeu tempo para dizer, “Viu? Eu estava certa.”

“Uhum... uhum...” Kyouko parou o cavalo. “Desce aí que eu quero pisar um pouco no chão.”

“Agradecer faz bem...” Com essa deixa, Sayaka tentou descer do animal, mas ao pôr os pés no chão se desequilibrou. “OooOooah!” Ela acabou caindo de costas, sobre as mochilas.

“Bwahahaha!” Kyouko desceu em um pulo e ofereceu a mão. “Ainda não pegou o jeito?”

Sayaka segurou a mão e se levantou, bastante emburrada. “Por que eu tenho que carregar tudo, hein?”

Kyouko pegou uma das mochilas. “Se eu tiver que carregar isso, vou acabar me desequilibrando ao guiar o cavalo.” Depois de colocar ela nas costas, estufou os peitos. “Ahhh... Que ar puro... bem... será que eles têm um fliperama por aqui?”

A garota de cabelos azuis acariciou a crina cor de pêssego do animal, que deu uma fungada. “Hmmm... Kyouko.”

“O que foi?”

“Você não vai esconder ela?”

“Não precisa.” A ruiva ajustou o laço que prendia seu longo rabo de cavalo. “O pessoal daqui deve achar normal.”

Nisso, um homem de idade saiu de uma das casas e logo avistou as garotas, com certo ar de surpresa.

Sayaka foi a primeira a se manifestar. “Ah... oie. Hehe.”

“Eae.” Kyouko acenou com a cabeça.

“Olá.” O homem também e chegou mais perto. “Mas que belo animal.”

Kyouko olhou para Sayaka, sorridente. “É... Você deve saber bastante sobre cavalos.”

O velho pigarreou antes de afirmar, “Na verdade eu não vejo um desses desde quando eu era jovem. Haha.”

Sayaka ergueu as sobrancelhas para uma Kyouko embaraçada. “Ah sim... Heheheee... E-Ela é uma égua muito especial.”

“Uma égua? Com essa musculatura, eu nem achei que fosse. Ou talvez porque estou sem os óculos...” O homem passou a mão em sua careca manchada, antes de voltar a falar com a garota de olhos azuis. “Ela é sua?”

Sayaka apontou para si própria. “Minha? Não. Ela é da-”

“Ela não tem dona,” respondeu Kyouko, “só nos acompanha.”

De repente, o cavalo se afastou delas, indo em direção a floresta.

Deixando o homem curioso. “O que houve?”

“Desculpe, ela é um pouco tímida,” disse Sayaka, com o melhor sorriso que conseguira fazer.

“Ela faz isso direto,” Kyouko complementou. “Não esquenta. Ela sabe se virar.”

“Entendo.” O homem acenou com a cabeça. “Um animal treinado.”

As duas garotas trocaram olhares.

“Pois bem,” disse o homem, “está ficando escuro e eu preciso lavar as minhas ferramentas.”

“Verdade.” Sayaka notou que as luzes dos postes haviam acendido enquanto a do dia ia embora. Os sons da floresta também haviam mudado, anunciando que os animais noturnos já haviam acordado.

“Com licença.” O homem fez menção de virar, mas logo parou. “Oh... Eu e minha memória. Perdão, mas vocês são netas de quem?”

“Netas?!” Kyouko fez uma careta.

“Não! Não! Hahahahaaa...” Sayaka gesticulou para o homem. “Não temos parentes aqui, somos somente viajantes de passagem.”

“Viajantes.” Ele ponderou por um tempo para depois anunciar, “Raramente recebemos visitas, então sejam bem vindas a Arashimura.”

“Obrigada,” disse Sayaka.

Então ele se virou. “Só tomem cuidado para que a égua de vocês não coma as plantações.”

“Ah... Claro! Claro!” Sayaka se virou para procurar pelo animal, mas ele já havia desaparecido. Quando retornou, o homem já havia caminhado até a parte de trás da sua residência. “Hmmm...”

“Arashimura. Heh.” Kyouko olhou em volta. “Então esse é o nome desse fim de mundo. Agora eu sei o que aquela placa queria dizer.”

“Droga, nós devíamos ter perguntado a ele sobre alguma hospedaria,” Sayaka comentou.

“E daí?” Kyouko deu de ombros. “Se houver, a gente acha em cinco minutos, no máximo.”

Sayaka não se convenceu. “Está ficando realmente escuro, esses postes não ajudam muito.” Então algo lhe chamou a atenção. “Olhe! Nós podemos ir até lá.”

Kyouko olhou para onde sua companheira havia apontado. Em um dos morros havia uma grande escadaria de pedra, que terminava em um grande portão vermelho, composto por dois pilares unidos por duas traves. “Um santuário. Então tu quer rezar...”

Sayaka fechou olhos e respirou fundo. “Dá para parar com isso? Eu estou sendo séria...”

“Sim... Sim... Eu entendi. Dali vai ser possível ver todo o vilarejo. Vamos logo!”

Apressadamente, as duas alcançaram e subiram os degraus da escada. No final dela, além do portão, Sayaka encontrou o que já esperava. O santuário era como tantos outros, com sua tradicional arquitetura, além de uma fonte de água e estátuas de cachorros, ou seriam raposas? Religião nunca fora algo de seu interesse e esses detalhes lhe escapavam. O que realmente chamou sua atenção era o belo jardim, mesmo que muito de suas cores já tivessem sido roubadas pela noite vindoura.

“É... Esse lugar é minúsculo mesmo.”

Sayaka quis protestar, estava certa de que haviam santuários muito menores do que aquele, mas logo viu que sua companheira se referia ao vilarejo.

Kyouko apontou para uma construção maior, que parecia mais com um galpão. “Aquilo ali é única coisa que não parece uma casa, mas também não tem cara de hotel. Acho que tá abandonado.”

Antes que pudesse opinar, Sayaka notou alguém surgindo por detrás das plantas do santuário. Era uma mulher que usava chapéu e luvas, vestindo roupas claras, carregando consigo uma bolsa com ferramentas de jardinagem. Mesmo com a pouca luz, era possível dizer que ela tinha por volta dos setenta anos.

A mulher sorriu gentilmente e perguntou, “Olá, eu posso ajudá-las?”

“Oi?” Kyouko se virou. “Você é a dona desse lugar?”

“Dona?”

“Kyouko,” Sayaka cochichou, com um olhar de desaprovação para a sua colega.

A mulher olhava para as duas com expressão estática, até que sua face se iluminou. “Ah! Você quis dizer se eu sou a sacerdotisa, né? Não, não...”

“Alguém me chama?” Uma quarta pessoa se aproximava das demais. Outra mulher adulta, mas bem mais jovem. Ela vestia um quimono branco e saia vermelha, amarrado na frente com um grande laço. Seus olhos eram de um amarelo vivo, que parecia brilhar na noite. Seu longo cabelo liso e negro tinha um laço vermelho amarrado em sua ponta.

Temendo que a situação ficasse mais complicada, Sayaka gesticulou. “Esperem! Não precisamos de nenhuma ajuda espiritual. Haha... Somos só viajantes procurando por um lugar para ficar.”

“Entendo...” A sacerdotisa observou as duas garotas por um tempo antes de dirigir a palavra para a outra mulher. “Vá descansar, Nariko, eu cuido delas agora. Se ficar mais escuro, esses degraus podem ficar perigosos.”

“Como se eu já não tivesse descido por eles tantas vezes,” respondeu Nariko. Ela então acenou para sacerdotisa e depois para as garotas antes de ir. “Vocês estão em boas mãos, minhas crianças.”

“Erm...” Kyouko franziu a testa. “Valeu?”

“Minha casa é perto daqui,” disse a sacerdotisa, “por favor, me acompanhem.”

As duas se entreolharam antes de começarem a segui-la, se afastando do santuário.

Durante o trajeto, a sacerdotisa voltou a falar, “Eu sou Gin Nakayama. Como vocês se chamam?”

“Eu sou Sayaka Miki e a minha amiga aqui se chama Kyouko Sakura.”

“Sakura... Soa tão forte e ao mesmo tempo tão delicado...” Gin caminhava por uma calçada de pedras, que passava entre grandes árvores com cordas amarradas em seus troncos. “De onde vocês vêm?”

“Nós somos de...” Sayaka hesitou. Aquela voz, apesar de ser suave, apresentava certa frieza. Era natural, já que a sacerdotisa estava lidando com duas desconhecidas, mas a sensação incômoda persistia. De qualquer forma, não seria uma boa idéia revelar o lugar onde haviam pessoas que conheciam ela em vida.

“Kazamino,” respondeu Kyouko.

“Kazamino? Nunca ouvi falar,” disse Gin.

“É um lugar pequeno.” Kyouko sorriu. “Claro que muito maior que isso aqui.”

A sacerdotisa virou a face para ruiva, sem parar com a caminhada. “Provavelmente.”

Sayaka deu um tapa na testa, balançando a cabeça.

Elas enfim alcançaram uma clareira, onde se encontrava uma casa de arquitetura muito tradicional. As portas de correr feitos de papel esticado sobre armação de madeira eram ricamente decorados, mas seus detalhes não eram possíveis de serem explorados devido a pouca iluminação.

“Legal.” Kyouko olhou para a floresta escura que cercava o local, isolado em relação ao vilarejo. “Mas quanto vai custar, hein?”

“Ora!” Gin sorriu. “Não vou cobrar nada.”

Sayaka veio com um olhar confuso. “Espere... Você está nos oferecendo abrigo?”

“Hã?” Kyouko inquiriu, “Você achou que era o quê?”

“Vocês não irão encontrar hospedagem por aqui,” explicou a sacerdotisa. “As pessoas daqui também vão dormir cedo, estão cansadas... então seria mais prudente não incomodá-las.”

Sayaka abaixou a cabeça. “Desculpe, mas não estaríamos incomodando você?”

“Oh não!” Gin balançou a cabeça. “Minha casa é muito espaçosa para tão poucos moradores. Só não posso garantir o conforto da cidade grande.”

“Heh. Tendo um edredon ou colchão já tá bom, o resto a gente...” Kyouko parou de falar quando algo chamou a sua atenção.

Estava no telhado da casa. Um par de olhos vermelhos, que cintilavam na escuridão e pertenciam a sombra de uma criatura de compridas orelhas e cauda felpuda. Ao ser avistada, ela recuou e desapareceu.

Aqueles olhos eram inconfundíveis. “Kyuubey?! O que ele está fazendo aqui?”

Apesar de não ter visto ele, para Sayaka, a reação de Kyouko era legítima. Contudo, a garota pensou em uma forma de repreender sua companheira por ter se manifestado tão abertamente diante da...

“Por que não estaria?”

Sayaka se virou para a sacerdotisa com ar de surpresa. Seu olhar indo ao primeiro lugar onde ela encontraria a confirmação.

No dedo médio da mão esquerda de Gin se encontrava um anel prateado, com runas inscritas nele.


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