O senhor do tempo escrita por calivillas


Capítulo 30
O sacríficio




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Ao sair do quarto do irmão, Alex ajeitou o capuz do traje para esconder o rosto, andou de cabeça baixa e rapidamente, em direção a saída do palácio, passando pelos imensos salões de pedras com gigantescas colunas e pelas sombras que vagavam por lá.

— Senhor Namtar! Vizir! – Alguém o interpelou de longe, o confundindo com seu irmão, por isso apressou o passo, mas a sombra foi mais rápida emparelhando com ele.

— Senhor Vizir Namtar, a nossa senhora, sua mãe, o espera, imediatamente, na sala do trono – a sombra o avisou, humildemente, se curvando quase até o chão na sua frente, sem lhe dirigir o olhar.

Alex não sabia o que fazer, poderia desaparecer, mas isso alertaria sobre a sua presença, precisava ganhar tempo e pensar, então, sem emitir nenhuma palavra, deu meia volta e seguiu sombra que abria passagem. Por onde passava e à medida que se aproximava da sala do trono, haviam mais e mais sombras ao seu redor. Estava ficando sem saída, já que não adiantava lutar pois não podia destruir as sombras. Angustiado, pensou em desaparecer, mas sabia para onde poderia ir, quando se dirigia para enormes portas duplas de madeira dourada trabalhada com cenas de dor e sofrimento, imaginando, naquele momento, Eres, majestosa, sentada em seu tronco negro, esperando pelo seu filho e vizir. Quando sentiu, uma mão sobre o seu ombro, puxá-lo para trás, para à escuridão de um canto do salão. Assustado, deparou com seu irmão usando um traje bastante semelhante ao seu.

— Imaginei que isso pudesse acontecer, por isso o segui. Vá! Eu tomo o seu lugar agora – O irmão sussurrou. – Vá embora, quando as portas se fecharem novamente! – disse, se virando e indo em direção a grande porta dourada, que se abriram para a passagem dele. Alex ainda pode ter um rápido e furtivo vislumbre da magnífica Eres, rainha absoluta daquele lugar, sentada no seu trono negro, totalmente vestida de dourado, sorrindo extasiada, ao ver a chegada do seu filho, esperando que ele tomasse o lugar no trono ao seu lado, que outrora foi do pai deles.

Como dito, Alex esperou a porta se fechar, novamente, e saiu sorrateiramente, do palácio. Mesmo usando trajes um tanto espalhafatosos, ninguém parecia perceber sua presença, um ou outro habitante mais recente, que ainda se lembrando de alguns sentimentos adormecidos, erguia os olhos a sua passagem, mas a maioria continuava a olhar para o chão, sem emoção ou sentimentos. Quase aliviado, Alex prosseguiu o seu caminho pela estrada por onde veio, quando estava a uma boa distância, pegou a ampulheta e a bússola, se assustou quando percebeu que quase toda a areia havia escorrido, só faltava um pouquinho para terminar. Ficou aturdido, pois não imaginava que se passara quase um dia inteiro, precisava se apressar. Consultou a bússola com atenção, para sua surpresa a agulha dançava a sua frente, sem apontar nenhum destino certo. Assustado, levantou a cabeça, olhou para frente e teve outra surpresa, porque bem diante dele, estava a ninfa das águas subterrâneas que encontrou na caverna e mandou de volta para o mundo inferior. Ela o encarava com seus enormes olhos completamente negros.

— Você! – gritou com sua voz estridente. – Invasor! – E segurou Alex pelo braço com uma força extraordinária, seus dedos eram como garras de ferro e queimavam como ácido. – Vou levá-lo à minha senhora! – A criatura começou a arrastá-lo, com uma força descomunal.

— Solte-me! – O rapaz exigiu se debatendo, mas o ser continuava a puxá-lo com uma força incrível. Então, ele pensou na sua espada, que surgiu brilhante na sua mão, com um movimento preciso e seguro, cortou fora o antebraço dela. Não houve sangue, nem grito de dor, ela só olhou atônita para Alex e para o restante do seu membro.

— Senhora! Invasor! — berrou, saindo correndo para o interior do palácio, passando pelas criaturas apáticas que não se manifestaram.

Contudo, Alex sabia que era questão de pouco tempo, para a criatura chegar a sala do trono e dar o alerta e que começasse a perseguição a ele. Com muita dificuldade, se livrou das garras da criatura ainda preso nele, e correu o mais que podia em direção oposta, pois se ao menos chegasse a caverna, onde ficava a entrada, sua espada seria útil outra vez. Não queria olhar para trás, só continuou correndo, porém conseguia pressentir os inimigos no seu encalço. Para sua sorte, havia herdado a velocidade e o senso de direção da sua mãe, mesmo assim se sentia ameaçado e inseguro, sem saber se estava na direção certa.

Foi só quando a neblina densa surgiu ao seu redor e os sons dos lamentos dos condenados encheram seus ouvidos, que ele soube que estava perto da saída, mesmo assim continuou a correr, até avistar a grande figura de Órion, parado, onde ele o havia deixado. Então, estancou e respirou fundo.

— Eles estão atrás de mim! – gritou, aflito, para o gigante.

— Não se preocupe, Alex. Eles não poderão chegar até aqui – Órion falou com tranquilidade.

— Ah! — Alex suspirou aliviado. – Órion, vamos sair daqui!

 Na morada do Velho, na entrada da caverna, Jessica, ansiosa, se levantou e começou a andar de um lado para o outro, mais uma vez.

— Se aquiete, mulher! – O Velho exclamou, irritado. – Mortais não deviam se meter conosco, não entendem a nossa natureza! — Jessica o encarou com um misto de surpresa e irritação. – Vocês são medrosos, pois suas vidas são efêmeras e frágeis! Se não fosse por sua utilidade em nos servir, deveriam ser extintos! – vociferava com mal humor. Em resposta, ela deu as costas para ele e continuou a andar até o limite da caverna, querendo aliviar a tensão e a preocupação por Alex. Parou de respirar ao ver o vulto surgindo da escuridão, sem vacilar, correu para ele e o abraçou com força. Alex nunca havia ficado tão feliz ao ver uma pessoa antes, retribuindo o abraço apertado, mas quando percebeu que os braços de Jessica se afrouxaram, virou para o lado para ver o semblante de espanto e os olhos arregalados dela, olhando para cima.

— Não precisa temer, Jessica. Este é meu amigo Órion – ele explicou.

— Ah! Órion – balbuciou ela. — Órion! Aquele Órion? – indagou, espantada, se lembrando da lenda da constelação.

— Esse mesmo. Órion, o caçador – confirmou, achando graça da expressão dela.

— Muito prazer! — ela o cumprimentou e o gigante fez um leve aceno com a cabeça. – Então encontrou Namtar? – Estava curiosa.

— Sim. Agora, ele se chama Mark, é um empresário artístico e afirmou não ter nada a ver com os ataques — Alex esclareceu, andando mais para fora da caverna.

— Se não foi ele, quem está por trás daqueles ataques a você? —  Jessica indagou.

— Vou ter que descobrir.

Ao chegarem perto da entrada, encontraram o Velho, que o olhou com espanto.

— Você voltou, meu jovem – falou, com um tom soturno.

— Sim, voltei — reafirmou Alex, achando estranha aquela reação.

— Ainda trouxe um amigo – proferiu o velho, tentando passar um pouco de empolgação.

— Sim, esse é Órion.

— Eu sei. Precisamos comemorar a sua volta! – disse, em um tom festivo. Precisamos de vinho! – declarou, se virando e se aprofundando mais para o interior da caverna, mas em vez de continuar o caminho, ele se voltou, com uma pequena adaga de prata na mão, indo em direção a Alex, sorrateiramente.

— Você não podia ter voltado! Você era o preço da minha liberdade! Meu sacrifício! Vou entregá-lo à Eres! – berrou para Alex, se atirando em cima dele, que estava de costa e não teve tempo para se virar.

Ao ver a cena, antes que o Velho chegasse Alex, como em câmera lenta, quando viu o brilho prateado da faca, Jessica pegou uma espada, que jazia esquecida em um canto, e a levantou que com um rápido e gracioso movimento em semicírculo, zuniu no ar, colidindo com seu objetivo. Sentiu a força do impacto contra o seu corpo com uma onda elétrica e uma explosão, que atirou longe, ainda ouviu chamarem seu nome antes do mundo se pagar ao seu redor.

Pego de surpresa, o Velho ficou confuso pelo ataque e arregalou os olhos antes de desaparecer de volta ao Mundo Inferior. Atordoado, Alex demorou para entender o que aconteceu ali, até perceber Jessica desfalecida no chão.

— Jessica! Não! – gritou, em desespero. Correu na direção dela e a segurou nos seus braços – Você não pode morrer! – suplicou.

— Alex, talvez ela seja o seu pagamento por ter voltado do Mundo Inferior. Ela era o seu sacrifício — ponderou Órion, com pesar, ajoelhando ao seu lado.


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