O senhor do tempo escrita por calivillas


Capítulo 2
Cheio de mistérios.




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— Jessica, por que chegou tão tarde? – a avó questionou, quando Jessica a acordou do cochilo, na sua poltrona na frente da televisão ligada, esperando pela neta, pois nunca se deitava antes que ela retornasse para casa.

— Porque me atrasei no trabalho e, depois, fui comprar o presente do pai. Ele já chegou? – Jessica se desculpou, dando um beijo na avó, omitindo sobre o incidente do carro para não a preocupar, ainda mais.

— Não, seu pai está substituindo um colega no trabalho, chegará mais tarde hoje.

O pai de Jessica trabalhava no aeroporto, na manutenção e, regularmente, dava plantões noturnos.

— Não quer comer nada, minha neta?

— Não, vó, estou bem cansada, só quero dormir – Jessica mentiu, pois precisa tranquilizar a mente bastante agitada, depois do que presenciou.

Após o banho, se deitou no quarto que dividia com a avó, mas não conseguia dormir, sentindo-se culpada por não ter feito nada para ajudar o garoto, pensando que, naquele momento, ele poderia estar sendo torturado ou mesmo morto.

Durante dias, o coração de Jessica ficou pesado, ainda refletindo se deveria ir à polícia, mas ela não sabia quem era o rapaz, nem havia anotado a placa do carro dos sequestradores, não poderia dar nenhuma informação importante, estava amedrontada, pois nunca foi uma pessoa corajosa, jamais se arriscava, havia crescido cercada de cuidado e proteção de seu pai e sua avó.

Naquele fim de tarde, saía depois da aula na faculdade e da monitoria, pensando que teria que encarar um ônibus lotado, já que seu carro estava com problemas outra vez, então viu algo que não esperaria nunca. Não podia acreditar, achava que era um engano, e só quando se aproximou teve a certeza.

— Alex! É você mesmo? – Jessica estava surpresa, pois era ele mesmo, e não parecia que foi torturado, muito menos morto, pelo ao contrário, vestindo calça jeans e a mesma jaqueta de couro preta, parecia muito bem, de braços cruzados sobre o peito e de um jeito indolente, encostado em uma motocicleta de uma marca japonesa, que deveria ser bem cara. Ela não tinha reparado como era alto, magro, mas seus braços preenchiam completamente a manga da jaqueta, marcando os seus músculos definidos, fazia um tipo que não combinava com este mundo de “nerds” da sua universidade.

— Sim, sou eu – declarou o óbvio, olhando por cima dos óculos escuro estilo aviador – Inteirinho!

Jessica sentiu um enorme alivio, um peso saiu da sua alma.

— Eu estava tão preocupada com você, mas não sabia o que fazer! – confessou, com uma pontinha de culpa.

— Foi por isso que eu vim, para tranquilizá-la, depois do que viu, podia entender tudo errado.

— Afinal, quem eram aqueles homens? – Jessica estava intrigada.

— Seguranças do meu pai, minhas babás – respondeu, um tanto contrariado.

— E por que fizeram aquilo com você? Foi um tanto dramático.

— Meus pais são superprotetores e desobedeci a ordem de não sair sozinho, principalmente, à noite.

— Então, eles estão aqui agora? – indagou, olhando a volta procurando pelo carro dos seguranças.

— Não, conversei com minha mãe. Disse a ela que não sou mais criança, que não posso ser vigiado 24 horas por dia.

— Pelo que eu vi, eles devem ser muito superprotetores mesmo, mas do que teriam tanto receio?

— É bem complicado, coisas de família.

— Por acaso, não tem nada a ver com a máfia ou coisa parecida? — perguntou, assustada.

— Não, nada de máfia — respondeu, achando graça.

Alex olhou a sua volta, notando como chamava a atenção dos alunos e, principalmente, das alunas, que saiam das últimas aulas. Algumas garotas ficariam com torcicolo de tanto virarem o pescoço para o olhar para trás. Jessica viu duas delas tropeçando e um garoto batendo em uma árvore, sem conseguir tirar os olhos do belo visitante. A maioria deveria estar imaginando como um cara daquele estava conversando com uma garota tão sem graça como Jessica, já que ela não possuía nada em especial, era um tipo comum, com suas roupas simples de lojas populares.

— Jessica, vamos sair daqui?

— Como assim? Está dizendo para irmos a algum lugar, juntos, nisso? — Ela apontou para a moto, choacada com a proposta.

— Sim. Por quê? – Ele ergueu as sobrancelhas não entendendo aquela recus.

— Simplesmente, porque eu mal conheço você. Além disso, não havia planejado sair hoje.

— Claro que me conhece. E você sempre planeja tudo na sua vida?

— Sim. E você, não?

— Nunca! Eu nunca planejo nada! Vamos, Jessica, você precisa de um pouco de emoção na sua vida! – Ele deu um sorriso travesso e estendendo a mão na direção dela.

Jessica pensou por um segundo, pois nunca havia feito algo parecido, estava com medo, mas mesmo assim, como poderia negar, sendo assim, respirou fundo e segurou a mão dele, que a puxou na direção da moto, e os dois subiram nela.

— Eu nunca andei em uma moto antes. Você tem idade para pilotar isso? – Jessica perguntou, sarcástica.

— Sim, sou mais velho do que pareço. Você vai precisar disso – disse, entregando-lhe um capacete. – Não queremos que não de mal aconteça com você – rebateu no mesmo tom, colocando o dele e partiram rumo a um destino desconhecido por ela.

A praia estava deserta àquela hora, no fim de tarde nublado e cinzento de inverno, o céu ameaçava chuva e uma leve brisa fria, que incomodava um pouco, despenteado os cabelos e entrando pelas frestas das roupas. Jessica e Alex estavam sentado na areia, vendo as ondas do mar quebrarem perto deles, acompanhavam as idas e vindas das espumas. 

— Por que você fugiu, Alex? Estou curiosa do que levaria alguém que parecia ter tudo na vida agir daquela maneira.

— Às vezes, faço algo assim, para sentir que tenho algum controle sobre alguma na minha vida. Já que estão sempre decidindo o que devo fazer, estudar, morar, minha opinião não importa muito.

— Quem?

— Meus pais, minha família.

— Por que eles fazem isso com você?

— Porque meus pais se preocupam muito comigo, como se houvesse sempre um perigo me rondado, algo que não entendo muito bem. Minha família é muito poderosa e com o poder vem muitas desavenças, parece que é algo bem antigo.

— Se é tão antigo assim, então, por isso envolveria você?

— Eu não sei muito bem, nada é falado abertamente.

— Muitas vezes os pais são extremamente cautelosos, mas eu entendo como se sente – Jessica disse, pegando um graveto e começando a fazer desenhos na areia — No meu caso, sou eu que faço isso comigo, quero ser uma boa filha, uma boa neta, uma boa estudante, quero compensar todo sacrifício que minha família fez por mim. Meu pai e minha avó, também, se preocupam muito comigo, acho que têm medo de me perder, assim como aconteceu com minha mãe. Então, algumas vezes, sinto que eu vivo para agradar os outros e me esqueço de mim mesma – revelou e os dois olharam para o mar para a linha do horizonte, em silêncio, cada uma pensando na sua vida.

— Como você sabia onde eu estudava? – Jessica perguntou, pois estava intrigada desde o viu na sua universidade.

— No seu carro, havia um monte de papéis e trabalhos, fiquei algum tempo lá dentro, sem nada para fazer – esclareceu, com um sorriso malicioso.

— E você não estuda? – quis saber, apesar de ter percebido que dinheiro não deveria ser um problema para ele.

— Não como você. Tive um monte de professores particulares, poucas vezes frequentei uma escola convencional, porque estávamos sempre nos mudando – respondeu, com uma pontinha de tristeza — E você, por que estudar física?

— Porque acho que o universo está cheio de mistérios, que não conseguimos compreender. Eu queria ajudar desvendar um pouquinho deles. Você sabe, a magia de hoje será a ciência de amanhã – Jessica discorreu, com entusiasmo, Alex a olhou de um divertido.

— Então, você quer acabar com a magia, dando uma explicação a tudo. Isso acabará com o encanto da vida.

— Não tenho essa pretensão. No entanto, quero conhecer o porquê que algo acontece.

— Para quê?

— Só para conhecer. Isso poderá trazer mil oportunidades diferentes, entender a natureza e melhorar a vida das pessoas — Deu de ombros.

— Vocês humanos são tão estranhos, se dão muita importância, perdem muito tempo em suas vidas tão efêmeras, procurando respostas para tudo. Por que os mortais querem saber todas as respostas?

— Vocês humanos? — Ela deu uma risada. — Você fala de uma maneira engraçada. Porque é assim que são os seres humanos, somos curiosos, nós temos a necessidade do saber, por isso evoluímos.

— Porém, assim acabaria com a beleza da magia, saberíamos de tudo, seria muito sem graça.

— Não existe magia, Alex – Jessica sorriu, sacudindo a cabeça. – Só fenômenos ainda desconhecidos.

— Não? Então o que seria isto? – questionou, abrindo a mão, na sua palma havia um botão de rosa vermelha, que entregou a Jessica.

— Você não quer me enganar com esse truque barato! Isso não é magia! É mágica – Jessica o espreitou com os olhos em fenda, ele deu um sorriso travesso, tocou no botão, que desabrochou na mais linda rosa que ela já vira.

Sem acreditar naquilo, Jessica sentiu o aroma suave e a delicadeza sedosa das pétalas, sem dúvidas, a flor era real. Aquele, com certeza, era um truque muito bom de mágica. Alex apenas acompanhava seus movimentos e sua cara de surpresa, divertindo-se com isso. Mas, nesse momento, algo chamou atenção dele, sentiram muito frio cruel, o ar ficou pesado e silencioso, não havia mais o barulho das ondas arrebentando na areia, a praia ficou maior e o mar parecia excepcionalmente calmo, a linha d’água recuara muitos metros além da rebentação.

— Vamos sair daqui depressa! – Alex ordenou com urgência, levantando-se, puxando Jessica pelo braço, que só teve tempo para agarrar sua mochila, jogada na areia.

— O que houve? – ela perguntou, assustada, mas a resposta apareceu na linha do horizonte, quando uma onda gigantesca surgiu e avançou sobre eles, rapidamente.

— Um tsunami?! Isso é impossível! – Jessica gritou, no instante que Alex a puxou forte pelo braço.

Eles correram mais depressa que podiam, Alex era muito veloz e forte, puxava a apavorada Jessica pela mão, obrigando-a a correr mais rápido, sem conseguir olhar para trás, porém não precisava, pois, o barulho da onda aumentava nas suas costas, demonstrando que estava cada vez mais próximo. Não via escapatória, Jessica não conseguia correr mais rápido, largou a mochila, seus pés afundavam na areia macia, suas pernas doíam e seu peito queimava sem ar, acabou tropeçando e caindo, esperando ser tragada pela água, abaixou a cabeça, protegendo-a com os braços e fechou os olhos, mas nada aconteceu, com o resto de coragem que lhe sobrou, ela levantou o rosto e viu Alex em pé, com os braços estendidos e as palmas das mãos voltadas para frente. Olhou em direção do mar e viu, atônita, a onda recuando de volta ao seu local original, revelando a faixa de areia, sobrando só o lixo espalhado e o mar voltou ao normal. Levantou-se, histérica.

— Você viu aquilo! Aquilo é fisicamente impossível! – ela berrava, apontado para a água. – Ondas não mantêm a mesma velocidade em profundidades diferentes! Não é possível!        

 Alex a encarou, calmamente.

— Estou com fome – falou, sem alterar a voz, quando ela parou de gritar. Jessica não podia acreditar no que estava escutado. – Vamos comer um hambúrguer? – sugeriu.

— Eu sou vegetariana – Jessica respondeu, com um fiozinho de voz.


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