O Fantástico Mundo de Ivy escrita por Charbitch


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Feliz dia dos namorados e boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/696111/chapter/1

 

Meu primeiro dia de aula na nova escola foi totalmente bizarro. Lá conheci um menino diferente de todos os outros. Na inocência dos meus doze anos, avistei uma figura esquisita no recreio e senti curiosidade. Ele era provavelmente três anos mais velho do que eu e estudava em outra classe. Ninguém falava com ele. Era branco como cera e magro como um morto. Alto e esguio, vestia-se apenas de preto e usava delineador. Já eu, era apenas um garoto comum, que gostava de jogar bola e falar bobagem. Ele era diferente, mas diferente de um jeito legal. O sujeito esquisito estava lendo um livro de Edgar Allan Poe. Eu não era muito de ler, mas sabia que era um livro de terror.

— Oi. – tentei uma aproximação. Ele me ignorou da primeira vez. – Oi?

— Deveria saber que não é educado interromper a leitura de alguém. – respondeu secamente, sem tirar os olhos do livro. A voz dele era firme e grave. E assustadora. E intimidadora.

— D-d-desculpa... – gaguejei. Ele finalmente parou de ler e me olhou pela primeira vez. Os olhos dele eram lindos. E a maquiagem só me deixava ainda mais interessado. Ele parecia uma garota. Uma garota bonita.

— Não te conheço. Novato? – perguntou, olhando-me com piedade. Ele percebeu que eu estava com medo. Pela primeira vez soou mais doce. Ele não parecia tão ameaçador naquele momento.

— Sim... – desviei o olhar e sorri de leve. Senti as minhas bochechas se ruborizarem.

— Não deveria estar com os seus novos colegas? Ou não conseguiu se enturmar? – ele estava sendo legal. Estava conversando comigo. Aquilo me deixou mais à vontade.

— Eu sou um pouco tímido. Ainda não consegui falar muito com eles. Sinto falta da minha escola antiga. Lá eu conhecia todo o mundo. – ele sorria para tudo o que eu falava. Senti que ele gostava de mim.

— E por que veio falar comigo? – seus olhos reluziam. Eu estava hipnotizado por eles.

— Eu... Eu não sei... – entrelacei meus dedos uns nos outros. Senti que as minhas mãos suavam.

— Senta aqui do meu lado. Vamos conversar. – ele deu tapinhas no banco ao seu lado, indicando onde eu deveria sentar. Hesitei. – Vamos, eu não vou te machucar. – sentei-me ao lado dele e inocentemente balancei as pernas. Olhei para ele.

— Eu sei que não vai. – o sorriso dele foi imediato. – Eu confio em você.

— Eu nunca tive amigos, sabe? – ele pela primeira vez ficou tímido. Foi lindo. – Você quer ser o primeiro?

— Claro que sim! – e o abracei como um garotinho abraça o irmão mais velho. Ele não me abraçou de volta. Estava assustado. Mas sei que ele gostou.

— Faz muito tempo que alguém não me abraça... – ele estava todo vermelho. – Quer ir na minha casa hoje? Eu tenho dois gatos pretos. Você gosta de gatos?

— Quero sim. – eu sentia o meu coração aquecido. Ele não era um amigo qualquer. Nunca senti nada parecido. – Eu amo gatos! Eu não tenho um porque o meu pai é alérgico, mas a minha tia tem doze! E todos gostam de mim!

— Eu também gosto de você... – ele colocou o meu cabelo atrás da orelha. Senti um leve arrepio. – Qual o seu nome?

— Linus. Meu nome é Linus.

— Linus? É um nome doce como você. – ele riu de um jeito fofo. – Meu nome não é importante agora. Mas me chame de Ivy. 

— Ivy? – indaguei surpreso – Eu tinha uma amiga chamada Ivy na escola antiga. Pensei que fosse um nome de menina.

— Eu sou uma menina bonita e um menino feio. – ele desviou o olhar.

— Você não é nem um pouco feio. – segurei o queixo dele e o fiz olhar nos meus olhos. – Nem um pouco mesmo.

Mal pude ouvir a reação dele e o sinal tocou. Combinamos de nos encontrar na saída da escola e irmos juntos para a casa dele. Depois disso, fomos para as nossas respectivas salas. Eu mal conseguia prestar atenção na aula. Só pensava em Ivy. Tinha algo diferente nele. Algo que eu nunca vi em menino nenhum. Ele não era como os amigos que eu tinha na escola antiga. E eu já gostava dele como se o conhecesse há anos.

Na saída da escola, encontrei Ivy. Ele acenou para que eu o acompanhasse. A casa dele era um pouco longe da escola. No longo caminho, mostrei a ele um desenho que eu tinha feito na hora da aula. Eu não era muito bom em desenho, mas também não era muito ruim.

— Você desenhou... Nós dois? – as bochechas dele ficaram vermelhas.

— Sim! – sorri como uma garotinha – Você gostou? 

— Gostei sim... – seus olhos estavam marejados. – Posso ficar com o desenho?

— Claro! – sorri novamente – Eu fiz pra você! – e entreguei o desenho na mão dele. Ele prontamente o guardou numa das pastas da sua mochila.

— Muito obrigado... – a sua voz sempre tão firme parecia afetada naquele momento. – Ninguém nunca fez isso por mim. Você é... Especial.

Eu queria muito dizer a Ivy que ele também era especial, mas finalmente chegamos à casa dele, cortando o assunto.

— Uau! Isso é uma mansão! – fiquei boquiaberto. – Você mora num lugar grande! E como é bonito! – ele sorriu de leve. Provavelmente estava acostumado com aquele tipo de reação.

— Meus pais estão no trabalho. Temos a casa toda pra gente. – ele fez uma pequena pausa. – Quer ver os meus gatos?

— Mas é claro!

— Então vamos! – Ivy deu um enorme sorriso, segurou a minha mão, entrelaçou os seus dedos nos meus e saiu me puxando.

— Por que estamos de mãos dadas? – perguntei inocentemente. Não que eu estivesse incomodado. A mão dele era grande e os seus dedos eram longos. Inevitavelmente a minha mãozinha pequena se sentia confortável e protegida dentro da dele.

— É para você não se perder... – ele falou de um jeito tão doce que a minha única escolha foi sorrir.

Quando chegamos à sacada da sua imensa residência, senti-me no topo do mundo. Seus dois gatos pretos estavam lá, aguardando o seu dono.

— Olha como são lindos! – ele afagou um dos gatos em seu colo. – Segure o outro. Não tenha medo. Ele é manso! – fiz como ele pediu e peguei o outro gatinho em meu colo. Os olhos dele eram verdes. Era um ser adorável.

— Qual o nome deles? – perguntei, enquanto acariciava o gatinho em meu colo. O pelo dele fazia cócegas.

— O que está no meu colo se chama Biscoito. O seu na verdade é uma fêmea. O nome dela é Bolacha. – ele sorriu de um jeito bobo. – Antes a gente só tinha o Biscoito. Mas ele trouxe a namoradinha dele pra cá. Então a gente apelidou ela de Bolacha. Não é uma graça?

— Com certeza! – a gatinha Bolacha tinha gostado do meu colo. Mas depois começou a miar sem parar. Biscoito miou de volta.

— Eles fazem isso quando estão querendo namorar. É melhor deixá-los a sós. – e assim fizemos. Biscoito e Bolacha ficaram juntinhos e, como eram da mesma cor, pareciam um só. Realmente uma graça.

— Posso ver o seu quarto? – perguntei.

— Você vai achar estranho... – ele tentou desconversar, mas não deixei.

— Tenho certeza de que eu vou gostar! – dessa vez eu mesmo segurei a sua mão. O sorriso dele foi instantâneo. – Me leve até lá! – Ivy nem hesitou depois daquilo.

Quando eu abri a porta do quarto, vi vários pôsteres de bandas de heavy metal e um closet lotado de roupas pretas. A cama dele estava forrada com uma colcha do Iron Maiden. As paredes, o chão e o teto eram de cores frias, do jeito que Ivy gostava. As cortinas pretas escureciam ainda mais aquele cenário tenebroso, mas ao mesmo tempo encantador.

— Você não gostou, eu sei... – ele abaixou a cabeça. Parecia frágil.

— É muito diferente do meu mundo. Nunca tive um amigo assim. Você usa maquiagem, gosta de livros de terror e de heavy metal. Mas nada disso muda o que você significa pra mim. Tudo isso é lindo. E eu gosto de você do jeito que você é.

Ele estava em lágrimas.

— Obrigado... – fechou os olhos e soluçou, chorando baixinho. Eu cheguei mais perto, toquei o seu rosto e limpei as suas lágrimas. – Você é o único amigo de que eu preciso...

— Eu sei que você se sente sozinho, Ivy. Que você nunca teve amigos. Mas eu estou aqui com você agora. E você nunca estará sozinho.

— Promete? – ele pôs as suas mãos em meu rosto, finalmente parando de chorar. Parecia finalmente em paz.

— Prometo. – nós estávamos muito próximos um do outro. Era insano. Ele me fez carinho nas bochechas. Eu fiz o mesmo com ele. Sorri quando ele colocou o meu cabelo atrás da orelha como fez quando nos conhecemos. Ele sorriu de volta. Nossos narizes já se encostavam, tamanha era a nossa proximidade. Eu podia sentir a respiração dele, assim como ele sentia a minha.

— Você é lindo... – foi o que ele disse, antes de colar os seus lábios nos meus. No início fiquei um pouco assustado. Eu não sabia o que estava acontecendo. Mas ele me beijava de um jeito tão singelo que a minha única escolha foi fechar os meus olhos bem devagar e sentir. Como eu tinha apenas doze anos e não sabia beijar, não soube exatamente como retribuir, mas tentei. Minha mãe sempre me dizia que era errado meninos beijando meninos. Mas Ivy não era um menino. Era apenas Ivy.

Nossas bocas se afastaram bem devagar. Ainda estávamos de narizes encostados. Ele me tirou o fôlego. Minha respiração estava ofegante. Percebi que ele sorria de um jeito tímido, como se estivesse arrependido.

— Me desculpa... – sussurrou – Eu não queria... – interrompi a sua fala, beijando-o novamente. Foi um beijo desajeitado e totalmente sem técnica, mas ele retribuiu, colocando a sua língua dentro da minha boca, timidamente encontrando a minha. Demorei a pegar o jeito, mas ele me guiou da melhor forma possível. Eu nunca tinha experimentado nada igual. Foi perfeito.

Nós nos afastamos novamente, praticamente sem ar. Ele sussurrou bem baixinho:

— Você gosta de mim?

— Gosto.

— Muito ou pouco?

— Muito.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Deixe o seu comentário e até a próxima ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Fantástico Mundo de Ivy" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.