Make Your Choice escrita por Elvish Song, SraFantasma


Capítulo 6
Cuidados


Notas iniciais do capítulo

Olá! Sim, dois caps num dia só. Não me aguentei, rsrsrs. Mas agora, finalmente teremos o fim da sequência mórbida, e postamos aqui um cap com alguns momentos fofos para vocês, ok? kisses!



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Erik levou Christine para sua casa. Não a Casa do Lago: a casa aonde um dia pretendera leva-la como sua mulher... E para onde, agora, a trazia quase morta. Pela manhã avisaria Madame Giry, mas, agora, seu Anjo era sua prioridade.

Levou-a direto para o banheiro: ela estava imunda de sangue e pó, e um banho morno ajudaria a baixar a febre. Tentou coloca-la em pé, mas ela não estava consciente o bastante para isso, de modo que ele a sentou na beira da banheira, desenrolando-a da capa. Com movimentos débeis, ela tentou pará-lo e implorou:

— por favor, não... De novo, não... – aquilo cortou o coração do Anjo, que beijou a fronte dela e, segurando seu rosto delicadamente:

— preciso banhar você, meu amor. Calma, não vou te machucar. Ninguém mais vai te machucar, eu prometo, mas precisa me deixar cuidar de você.

Ela suspirou e fechou os olhos, abandonando-se às mãos dele; com cuidado, ele a deixou nua e, enquanto a banheira enchia, ficou segurando-a nos braços. Então depositou-a delicadamente dentro da água, e percebeu algo: seria difícil banhar Christine daquele jeito, estando fora da água. Então, mesmo constrangido, ficou apenas com roupas de baixo, e entrou na banheira junto com a moça; o lado exposto de seu rosto estava um tanto ruborizado, mas ele se obrigou a deixar a vergonha de lado. Sentou-se no fundo da banheira e pôs a moça em seu colo, pegando então o sabonete e começando a deslizá-lo pelo corpo dela. Cuidava para que seu toque fosse leve, enquanto tirava o sangue e a sujeira do corpo de sua amada, que ora estremecia, ora gemia ao seu toque, semiconsciente.

Quando a teve já limpa, tirou-a da água e a secou delicadamente, podendo agora avaliar melhor os estragos: ela estava tão machucada! Seu corpo franzino estava cheio de vergões vermelhos, hematomas e edemas... O que sua pobre menina não passara, nas mãos daquele crápula De Chagny? Ele sabia que, quando a tivesse cuidado, a raiva do Fantasma viria em toda a sua força, mas, no momento, só conseguia pensar em cuidar de seu Anjo. Vestiu-a com uma camisa sua e a carregou para a cama, deitando-a ali. Trocou as próprias vestes – já que sua calça ficara encharcada ao dar banho na garota – e foi para a cozinha, onde sua criada – Mademoiselle Louise – deixara-lhe uma sopa quente pronta. Tratou de servir um pouco do caldo numa xícara e, voltando para o quarto, aninhou Christine em seu colo.

Com a paciência que nunca tivera com ninguém, ele fez a moça inconsciente beber o caldo até o fim, para então deixar a xícara sobre o criado-mudo e embalar Christine num sono profundo. Pela manhã chamaria um médico, mas, agora, só podia embalar o sono de sua amada, cantando suavemente para ela.

POV Christine

Não restara mais nada. Minha mente era um grande vazio. Seria assim estar morta? Acho que eu estava... Não saberia dizer se estivesse, saberia? Nenhum sentimento, nenhum pensamento... Apenas aquela profunda escuridão. Meu Anjo da Música não viera a mim após a morte, e agora eu era aquele enorme mar de nada. Não era uma pessoa. Não tinha nome. Não me lembrava de quem era – eu fora alguém, algum dia? – e tampouco sabia o que acontecia ao meu redor, se é que algo acontecia.

Foi então, na mais profunda escuridão, que uma luz pareceu se intrometer em meu uniforme vazio; não uma luz forte... Era uma luz suave e morna, como uma vela acesa na noite profunda. Uma luz de sons... Sons suaves, que preenchiam o vazio, e transformavam o escuro numa penumbra aconchegante, onde me aninhei. Memórias – seriam mesmo memórias? – de um lugar... Uma grande caverna, e velas... Memórias vinham à minha mente – eu ainda tinha uma? – e algo despertou naquele coração oco em que se convertera o meu. Muito fracamente, mas não menos real, eu senti algo. Algo se agitou em meu âmago, e então eu já não era aquele enorme vazio. Havia algo dentro de mim, por mais ínfimo que fosse. Mas eu não tinha condições de compreender o que eu era, quem eu era, o que sentia... Ainda estava quebrada, mas aqueles sons... Como se chamava aquilo? MÚSICA! SIM! Música... Aquela música... Significava algo. Então, talvez eu ainda existisse, não é? Talvez ainda estivesse viva... Mas pensar era difícil demais, então deixei-me acalentar por aqueles sons e, antes que percebesse, havia adormecido profundamente.

POV Narrador

Quando amanheceu, Erik pôde examinar melhor sua amada, e o ódio que sentiu ao ver como estava ferida só cresceu. Ele mataria o Visconde, lenta e dolorosamente! Ela já era tão pequena e delicada... Como alguém poderia ter coragem de ataca-la, ainda mais daquele modo? Meneando a cabeça com desgosto, ele arrumou os travesseiros da melhor forma que pôde, e a acomodou sobre eles. O músico ouvir sons vindos da sala, e imaginava que Louise houvesse chegado.

De fato, a moça de dezoito anos, cabelos ruivos e olhas castanhos acabara de entrar, e estava desenrolando-se de seu xale quando Erik a saudou:

— Bom dia, Louise.

— Bom dia, patrão – cumprimentou ela, surpresa. Seu patrão raramente a cumprimentava – algo errado, senhor?

— Preciso que vá à casa de Antoinette. Diga-lhe que encontrei Christine, e que preciso de um médico para ela. Peça também uma camisola emprestada, pois ela não tem nada para vestir.

— Sim, senhor – a jovem nem cogitou perguntar quem seria Christine. A vida de seu patrão não era de sua conta. Ele era um amo reservado e respeitoso, que não a maltratava nem ofendia, apesar do mau-humor constante, e isso era algo difícil de se encontrar, naqueles dias.

Enquanto a moça cumpria suas ordens, o Fantasma voltou para junto de seu Anjo. Ela tinha os olhos abertos, e fitava o teto inexpressivamente, na mesma posição em que a deixara. Imaginando que ela estivesse acordada, Erik chamou:

— Christine? –a moça não respondeu, nem sequer reagiu. O que estava havendo, afinal? Tentou de novo, um pouco mais alto – Christine! – nada. Nem mesmo um esboço de movimento. Era como se ela não estivesse ali, como se apenas seu corpo estivesse presente. Sem compreender o estado de sua amada, que sempre fora tão cheia de vida e curiosidade, ele se aproximou e tomou-lhe a mão... Novamente, nenhuma reação. Aquilo partiu o coração do Anjo, mais uma vez, e ele se aconchegou junto a sua pequena, deitando-a em seu peito, acariciando os cabelos dela, cantando baixinho.

Levou cerca de quarenta minutos até que ele ouvisse batidas à porta; deitando Christine nos travesseiros, foi atender, e o mais puro alívio se desenhou em seu rosto ao ver Antoinette e Meg. As duas o abraçaram, e Madame Giry chorava copiosamente, agradecendo:

— Obrigada por encontra-la, meu amigo.

Ele se afastou, incomodado pelo contato, e perguntou:

— Trouxeram um médico?

Em resposta, as Girys entraram, dando passagem a uma mulher que devia ter, como Antoinette, entre trinta e trinta e cinco anos; usava roupas claras, e trazia uma grande maleta à tira-colo. Erik estranhou aquilo, mas Meg apresentou:

— Esta é a Doutora Renée D’Albignon. É uma excelente médica. Trata dos artistas do Conservatório.

O Fantasma anuiu e foi o mais polido que o desespero em relação a Christine lhe permitia:

— Bom dia, doutora. – a mulher o saudou com uma breve mesura, e perguntou:

— Vamos ver a paciente, Monsieur?

De imediato, o Fantasma conduziu as três mulheres ao quarto, enquanto Louise ia se ocupar de suas tarefas diárias. Ao entrar no aposento e encarar a jovem sobre o leito, cada dama teve uma reação diferente: Meg cobriu a boca com as mãos, horrorizada com o estado de sua melhor amiga e irmã adotiva; Madame Giry correu para junto da cama, com lágrimas no rosto, enquanto a médica fitou Erik, estreitando os olhos de modo ameaçador, e perguntou:

— Quem fez isso a ela?

— Alguém que estará num caixão muito em breve, senhora, se sobrar algo dele para ser enterrado. – e mantendo-se impassível – cuide dela, por favor.

Com um aceno de cabeça, a médica afastou Madame Giry e Meg - que foram obrigadas a deixar o quarto por estarem muito abaladas - e declarou, olhando para Erik:

— Precisarei despi-la, Monsieur...

— Eu a banhei e vesti... Creio que não vou me chocar em vê-la despida. Além disso, posso ser útil, se precisar erguê-la ou virá-la.

A doutora deu de ombros, e começou o exame: verificou primeiro o rosto da jovem, constatando as feias equimoses decorrentes dos tapas de Raoul. Preocupada com um possível coma, beliscou a coxa da jovem, que gemeu; aquilo provocou uma reação inesperada de Erik, que afastou a doutora com violência:

— O que pensa estar fazendo?! – vociferou.

— Verificando se sua mulher ainda reage à dor. Se não reagisse, seria sinal de coma, mas ela percebe a dor, e isso mostra que seu estado é menos grave do que pensei. – ela empurrou Erik para o lado – agora, se me atrapalhar outra vez, vou jogá-lo para fora do quarto e fazer tudo sozinha!

— Perdoe-me, doutora.

— Cale a boca e deixe-me examiná-la. – cortou Renée, ríspida. Erik teria achado divertido o jeito da médica, se fossem outras as circunstâncias. Agora, ó conseguia pensar em sua amada.

Após examinar o rosto da jovem, palpar-lhe a cabeça à procura de fraturas – que felizmente não havia – e verificar se havia lesões no pescoço – outra feliz negativa – ela pediu a ajuda de Erik para despir Christine. Profissional, manteve-se impassível ao ver as mordidas, hematomas e vergões no corpo esguio; embebeu um algodão em álcool, e começou a limpar com cuidado cada mordida. Christine gemeu, mas era necessário: mordidas humanas causavam mais infecções do que mordidas de animais!

Uma vez limpas as feridas, Renée continuou o exame: havia quatro costelas quebradas, mas nenhuma saíra do alinhamento, o que afastava a chance de pulmão perfurado. A enorme marca deixada pelo golpe no estômago, porém, a preocupou, e ela perguntou:

— Ela comeu algo?

— Eu a fiz beber um caldo quente, ontem à noite.

— E ela não vomitou?

— Não.

— Ótimo – ela avaliou o estado da pele de Christine – ela está desidratada, e precisa beber água. Muita água, ou os rins irão falhar.

— Sim, Madame. – Erik apenas observava, mortificado. A doutora era meticulosa e precisa, muito profissional, mas fez uma careta ao ver os machucados nas coxas da menina:

— Violentada, estou certa?

— Infelizmente sim, Madame. – respondeu o Fantasma, trincando os dentes, com ódio.

Ela não respondeu; afastou a hipótese de fraturas pélvicas, e continuou a anamnese; os ossos das pernas estavam íntegros, até o meio da perna esquerda: esta tinha uma fratura desalinhada, que a doutora tratou de realinhar, explicando a Erik:

— Vou imobilizar esta perna: ela não pode apoiar qualquer peso nela, ou desalinhará a fratura outra vez. Um mês de talas e o osso estará novo em folha. – verificou os dedos das mãos e pés da moça, que estavam rosados e normais, a não ser pelos ferimentos nos dedos das mãos, decorrentes de lutar contra a porta de madeira – O que fizeram com ela?

— Ela ficou por um dia e meio em posse de um homem... Insano. Eu prefiro não me perguntar o que ele fez a ela, Madame, porque sei que não vou gostar de saber os detalhes. – mas algo perturbava Erik – por que ela não reage? Ontem falou uma ou duas frases, quando a encontrei e a trouxe para cá, mas desde então está muda... Não reage à minha voz, nem parece despertar de todo...

— Fisicamente, ela vai se recuperar – disse a doutora, erguendo-se e cobrindo Christine com as mantas quentes da cama – é jovem e saudável, e só precisa ser alimentada e hidratada para se recobrar. Mas os abusos que sofreu a deixaram em choque.

— Em choque?

— Emoções muito intensas, um terror como o que ela deve ter sentido, fazem a mente... Fugir. – a médica deu de ombros – a ciência ainda não entende bem a mente humana, mas... É como se algo dentro dela se quebrasse. Pode durar alguns dias, ou o resto da vida, e é impossível dizer se e quando voltará a ser ela mesma. Alguma pessoas voltam a agir como crianças... Outras enlouquecem, e outras... – ela fitou a jovem – se perdem de si mesmas. Só posso recomendar paciência, cuidado e amor. Muitos se recuperam, ao menos parcialmente, e não vejo motivos para ela não o fazer. Mas não posso dar garantias, senhor.

O Fantasma anuiu, sentindo um nó na garganta: seu Anjo poderia ficar daquele modo para sempre? Como isso era possível?! Ela, sempre tão alegre, tão cheia de sonhos, agora parecia oca e vazia, como se não houvesse uma alma dentro daquele corpo tão machucado. A médica pareceu entender os sentimentos do Fantasma, e teve a ousadia de tocar seu rosto! E tão perdido ele estava, que sequer se afastou. Foi só quando ela falou que despertou de seu sofrimento:

— Sei como deve se sentir. Mas precisamos acreditar nela. Eu virei aqui a cada três dias, examiná-la e mudar as receitas, se necessário, mas o amor de um esposo é o que mais forças dará à pequena para lutar e se recuperar.

Erik suspirou, aproximando-se de Christine e beijando com delicadeza os lábios machucados, sussurrando:

— Volte para mim, meu amor. – em seguida ergueu-se, e começou a falar com Renée sobre a medicação: remédios para melhorar a imunidade da soprano, outro para sedá-la e impedir pesadelos que pudessem acomete-la e comprometer seu repouso, outro ainda para acelerar a consolidação do osso partido e, finalmente, um vidro de óleo, que ela entregou ao Fantasma:

— Massageie o corpo dela com isto. Fará os hematomas e edemas sumirem mais rápido, além de aliviar a dor.

— Devo passa-lo em todo o corpo dela? – perguntou o homem, corando levemente.

— Sim.

— Todo? – a médica compreendeu o que ele queria dizer, e explicou profissionalmente, tomando o desconforto dele como fruto do fato de estar falando com uma mulher sobre o assunto:

— Não no rosto, nem na região genital, mas pode passa-lo até a altura das virilhas. – ela tentou acalmar o rubor do Fantasma – não se constranja. Sou mulher, mas sou médica. Imagine que está falando com um médico como os demais.

— Acredite, Madame, eu ficaria bem mais desconfortável se fosse um homem a examinar minha Christine.

— Imagino que sim.

Os últimos detalhes acerca das visitas médicas e cuidados foram tratados na sala, logo após Renée informar Meg e Antoinette sobre o estado da paciente. A doutora ia partir quando, subitamente, voltou-se para Erik:

— Eu não o conheço, Monsieur, mas conheço a fúria de um homem cuja esposa é machucada... Peço-lhe, então, um favor.

— Qual, Madame?

— Faça o bastardo que fez isso a ela implorar para morrer. – disse a médica de cabelos cor de palha, com ar raivoso – Arranque as unhas dele, esfole-o vivo, se quiser, mas faça-o sentir dez vezes a dor que essa menina passou.

— Ele irá sentir cem vezes mais, doutora – disse Erik – isso eu garanto.

Com um anuir satisfeito, a mulher se lançou sobre seu cavalo – uma bonita égua branca – e tomou seu caminho, enquanto as Girys, timidamente, se lançavam a fazer perguntas acerca de Christine. Pacientemente, o Fantasma contou o que se passara, omitindo alguns detalhes, como a dolorida pergunta que sua amada lhe fizera – “também vai me machucar?” – não tanto para poupar as mulheres, mas por não ter forças de repetir.

Depois de ter explicado tudo, o Fantasma deixou escapar um bocejo, ao que Antoinette falou:

— Você precisa dormir, rapaz. – ele ia protestar, mas ela interveio – eu e Meg cuidaremos dela, até você acordar, mas precisa descansar um pouco.

Vencido pelo fato de estar exausto, o Anjo concordou, e deitou-se no “quarto de hóspedes” que, na verdade, ele um dia esperara que fosse ser o quarto de um filho seu com Christine. Agora, contudo, sabia que isso provavelmente nunca aconteceria.

Sozinho no quarto, ele se sentou no colchão e, com o rosto apoiado nas mãos, chorou. Não um choro qualquer: um choro que vinha do âmago de seu ser, um choro que nada podia consolar; eram lágrimas que precisavam ser derramadas até que não restasse nenhuma, e foi só então que o Fantasma conseguiu, enfim, adormecer.


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Notas finais do capítulo

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