And if you feel you're sinking, I will jump right over

Into cold, cold water for you

Nos apresentamos e eu me juntei a conversa com Carol e Olívia por alguns minutos.

— Então você não se lembra de nada? Cara, isso deve ser muito ruim. – Eu disse a encarando.

Eu não sabia quase nada sobre ela. Eu sabia que ela se chamava Olivia Martin e tinha dezoito anos. Três anos mais velha que eu, me senti mal por isso apesar de ser mais alto que ela poucos centímetros. Também descobri infelizmente que ela tinha achado Daryl bonito, eu ri por dentro, sinceramente.

No horário do almoço comemos eu, Carol, Rick, Enid, Daryl, Olívia e Michonne na mesma casa. Mas faltava alguém, era Thomas.

— Pai, Glenn não achou Thomas?

Meu pai desde ontem falava comigo só o necessário e ainda estava com minha arma escondida em algum lugar.

— Não. Mas você vai com Daryl procura-lo depois do almoço.

Assenti e continuei comendo em silêncio.

— E Olívia se quiser poderá ir com eles, você precisa aprender algumas coisas que não se lembra mais.

— Tudo bem Rick. – Ela deu um sorriso.

Quando todos terminaram eu tive que ajudar a arrumar a louça, eu odiava isso, mas felizmente Daryl me chamou e disse que já estava indo pra floresta. Nunca fiquei tão feliz por ir para a floresta com Daryl. Ele estava com sua besta e Olívia estava atrás dele tentando acompanha-lo com algumas corridinhas.

“Daryl, você um dia poderia me ensinar a atirar arco e flecha, eu sempre quis aprender”

“ Isso não é um arco e flecha, é bem melhor. E não tenho tempo para isso”

Revirei os olhos e corri em direção á eles.

— Daryl, meu pai não lhe entregou minha arma? Sério que eu vou sem nada?

— Isso já não é problema meu, Carl. Mas olhe para o chão, está cheio de gravetos, pegue um. – Ele deu um sorriso estranho.

Uma coisa eu sei, Daryl com certeza sabia ser insuportável quando queria, meu deus. Daryl abriu o portão e saímos em direção a floresta, ele sabia muito bem rastrear pegadas, acho que por isso meu pai pediu para procurar Thomas. Eu realmente não sabia para onde Thomas tinha ido, ou se estava escondido. Tinha outras possibilidades, mas não pensei nelas, Thomas não estava morto e não era tão idiota a ponto de ir procurar a mãe dele. Andamos por horas e até deixamos a Olívia atirar com a besta do Daryl de tanta insistência dela, precisou de quatro flechas para acertar um errante, mas pelo menos ela estava feliz. Quando já estávamos desistindo de andar, alguma coisa acertou minha cabeça, era uma pedrinha.

 “Ei otário, está me procurando?”

Senti um alívio ao ouvir a voz de Thomas, me virei para olha-lo e ele estava em cima de uma árvore com algumas pedrinhas na mão. Seu olho estava roxo e sua mão estava machucada.

— Thomas, estávamos muito preocupados cara. Desça daí e vamos voltar para casa. – Eu disse o encarando.

Ele deu um sorriso sarcástico e saltou da árvore caindo de joelhos.

— Que casa Carl? Ninguém lá se importou com minha mãe, porque se importariam comigo?

— Isso é mentira, você sabe que sua mãe fez aquilo para impedir uma confusão, seremos gratos por ela para sempre. – Daryl disse entrando na conversa.

— Aí está o caipira. – Ele olhou para Olívia – e aí está essa garota linda, quem é você?

Revirei os olhos e disse com dor no coração.

— Enid não está muito bem, e disse que se eu te visse era pra dizer que ela está te chamando. Ela não sabe que você saiu.

Seus olhos brilharam e sua expressão ficou mais calma. Ele saiu andando de volta a Alexandria e nós três o seguimos. Estava claro que Thomas gostava muito da Enid e vice-versa. Como ele em tão pouco tempo conseguiu fazer com que ela se apaixonasse e eu em tanto tempo só consegui ser amigo dela. Que a vida era injusta estava na cara, mas que eu não tinha sorte já era brincadeira. Chegamos e Glenn e Rick estavam conversando preocupados com algo. Quando nos viu, correram até nós.

—  Até que enfim chegaram. – Rick disse abraçando Thomas- desculpe por ontem, depois conversámos.

Thomas apenas correu em direção a casa que Enid estava e fechou a porta atrás de si. Glenn disse que estava faltando água na casa em que ele estava, e que o estoque de alimentos estava acabando.

“Precisamos ir para longe dessa vez Rick, já vasculhamos a todo redor por aqui e se a água faltar não vai ter jeito se não buscar outro lugar por que os rios daqui ao redor estão contaminados. ”

Eu e Olívia decidimos ir atrás de Thomas e Enid já que por agora não tínhamos utilidade nenhuma. Passamos por algumas ruas e acenamos para Rosita que estava cuidando da horta.

— Fiquei sabendo que ela e Sasha não se gostam, é verdade Carl?

— É uma longa história Olívia, longa história.

— Sei que aqui vamos ter várias horas de tédio, não vai faltar oportunidade para me contar detalhe por detalhe.

Entramos em casa e Judith estava na sala, Olívia correu até ela e começou a falar o que sempre falam da Judith. “ Ela é muito fofa, muito linda, oh meu deus, tem os olhos do pai”.

— Ela puxou pra mim, claro. – Eu disse sentando no sofá.

Ela revirou os olhos e voltou a brincar com Judith. Percebi que ela tinha esquecido que íamos ver como Enid estava de tão entretida que estava com a bebê. Subi as escadas e quando ia abrir a porta, ouvi eles conversando.

“Enid, você vai ficar bem, eu estou aqui agora com você. Sim, eu tinha saído, mas o Carl me achou e me disse que queria me ver. Não fique brava com ele, ele é só meio idiota, mas é um garoto bom”

Mesmo me insultando, Thomas estava tentando me ajudar a não ficar mal com Enid, agradeci mentalmente por isso.

“ Não estou brava com ele. Está tudo bem agora. Mas foi horrível quando vi vocês correndo para longe na floresta e aqueles caras me puxaram. Antes de eu não ver mais nada vi que Carl tentou correr para me ajudar mas você o impediu, porque também não me ajudou? ”

Decidi abrir a porta antes dele responder para poupar o constrangimento de não ter ido salvar sua nova namorada, pelo que me parecia.

— Oi Enid, você está melhor? – Eu disse encarando ela.

— É Carl, estou bem sim – ela disse sorrindo. – E aliás, desculpe por estar sendo chata com você esses dias, não sei o que deu em mim.

Antes de eu falar algo, Olívia apareceu cortando o assunto.

— Oi gente, uma pergunta. O Daryl tem alguma coisa com a Carol?

Nós três olhamos sem entender para ela.

— Que eu saiba não. – Thomas disse.

— Porque esse interesse nele, eu não entendo – eu disse sem paciência- ele é velho e chato.

Enid me olhou e riu.

— Está com ciúmes da Olívia, Carl? Parece que eu não preciso me sentir culpada por gostar do Thomas.

Foi como uma adaga em meu peito. Saber que Enid gostava do Thomas era uma coisa, mas ouvir isso da sua boca era uma totalmente diferente. Sai do quarto e corri direto para o meu. Logo atrás estava Thomas. Deitei na minha cama e não disse nada.

— Carl, nós não escolhemos de quem gostar, você sabe disso. Me desculpe por isso.

Não o respondi e continuei deitado com minha dor e angústia só para mim. Ás vezes cansa viver assim, sem amigos na maioria do tempo, sem poder viver como um adolescente normal. Fui tirado de meus devaneios quando alguém entrou no nosso quarto correndo e falando rápido.

— Vocês precisam correr. Carl pegue a Judith e Thomas ajude Enid e saiam de Alexandria imediatamente. – Carol dizia estupefata.

— O que está acontecendo? – Perguntei levantando.

Thomas e Olívia ajudaram Enid e eu peguei Judith para sairmos da casa. Todos já estavam fora das casas e estavam indo em direção ao portão. Encontrei meu pai enquanto corria e pedi para Olivia levar Judith com ela.

— Pai, o que está acontecendo? Eu preciso da minha arma.

— Carl, tem uma bomba em Alexandria, você precisa sair daqui rápido, siga o Daryl.

Ele tirou a arma do coldre e jogou para mim. Dei um abraço em Rick e corri para alcançar Olivia, Thomas e Enid.

“Cadê o resto do pessoal Daryl? Você precisa encontra-los. ”

Carol cochichava para Daryl, mas todos ouviam. Eu, Thomas, Olívia, Enid e Judith tínhamos acompanhado Carol e Daryl. Meu pai havia sumido, Glenn, Maggie, Abraham e todos os outros estavam desaparecidos até agora. Já era noite, e só tínhamos uma lanterna. Estávamos sem água e comida e Judith estava chorando, era nosso fim.

— Façam ela calar a boca ou vamos todos morrer.

Olívia estava cantando para Judith até que ela pegasse no sono e estava adiantando. Passamos minutos parados no mesmo lugar até que nossa única lanterna apagou e estávamos na completa escuridão.

— Ah que beleza – Daryl tinha tacado a lanterna em uma arvore, e que agora estava quebrada. – Fiquem onde estão, não se mexam ou podem se perder facilmente.

Eu confesso que estava com medo. Eu queria que meu pai estivesse aqui, que a gente estaria em um carro e conversando sobre algo divertido, mas a vida não é como nos nossos planos. Senti uma mão apertando a minha, era Enid. Com certeza ela estava com muito medo e estava preocupada como eu estava. Apertei a mão dela de volta dizendo que estava tudo bem, eu estava com ela e não deixaria nada acontecer. Passaram-se horas desde que estávamos ali quando ouvimos barulho de errantes. Ficamos todos em silêncio e rezando para Deus (se ele existisse mesmo) que Judith não acordasse e começasse a chorar. Foi quando ouvimos um tiro e depois outro, mas o segundo eu apenas não ouvi, como senti ele também.