— Sim, bom eu sei que você ama escrever, e estamos precisando de uma pessoa na parte de noticias do colégio, comentei sobre você e plim! Amaram a idéia, recebemos uma proposta da própria diretora para ampliarmos os assuntos do jornal e tirarmos a parte das fofocas, o tornando assim mais profissional, que o colégio liberaria uma verba para isso nos ajudando com impressão, site e tudo – Ela contou com um sorriso de orelha a orelha.

— Você ta falando sério? – Eu me levantei ansiosa, olhando para o papel – Não acredito.

— Sério Moniquinha, sabia que ia amar – Maria sorriu por ver minha felicidade.

— Claro que topo – Gritei as abraçando.

Podia estar triste, magoada por causa do Cebola, mas participar de um jornal ultrapassava esse sentimento, não era um problema da paixão, estava lidando com meu sonho.

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Acordei anestesiada, nem acreditava que aquilo realmente estava acontecendo, não que eu não acreditasse no meu potencial, mas aquela noticia em meio a tudo o que eu estava passando realmente me deixou nas nuvens.

Claro, seriam apenas alguns meses como integrante do jornal, mas mesmo assim poderia mostrar meu trabalho, minha dedicação e minha criatividade, sem contar que seria um passo a mais na direção do meu sonho.

Chacoalhei a cabeça, tentando não me distrair tanto, afinal encarar mais um dia na escola depois de todo aquele turbilhão do dia anterior, mesmo com toda minha alegria, seria um martírio.

Inexplicavelmente estava mais calma naquela manhã, me sentia um pouco mais animada, me troquei um tanto quanto rápido, coloquei tudo que precisaria dentro da mochila e sai para tomar café. Estranhei a cozinha vazia, mas logo entendi o por que, um bilhetinho grudado na geladeira me dizia que o Titi tinha passado mal na madrugada e meu pai estava com ele no hospital, imediatamente peguei meu celular e disquei seu número, esperando impacientemente pela resposta.

— Pai? Como ele está? – Perguntei preocupada.

— Oi filha, está melhor agora, já está fazendo inalação – Ele me respondeu calmamente – Pode ficar tranqüila.

— Ai que ótimo, mas foi outro problema respiratório? – Questionei andando de um lado para o outro.

— Foi, mas dessa vez a crise veio leve, como ele não tinha desde criança, ficaremos aqui para fazer alguns exames após a inalação – Concluiu tentando me acalmar – Já avisei sua mãe, ela já está o par do assunto.

— Ok, todo caso me avisa, vou para o colégio – Desliguei aflita.

O Titi podia ser o que fosse, mas no final eu sabia que fazia tudo isso para me proteger de alguma forma, era meu irmão e eu o amava. Ainda pequeno, meus pais já me contaram diversas vezes de problemas sérios respiratórios que ele teve, e isso sempre me preocupou bastante, ainda mais devido a sua profissão, na qual envolvia bastante desgaste físico.

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Cheguei ao colégio ainda preocupada, mas tive que encarar outra situação difícil logo de imediato, o Fabinho se aproximava sorrindo e eu não tinha idéia de como conversaríamos sobre o que aconteceu, preferi deixar fluir.

— E ai Mo, tudo bem? – Ele perguntou abrindo um sorriso mais bonito do que o normal.

— Oi Fabinho, estou bem, e você? – Perguntei enquanto caminhávamos na direção do corredor.

— Tranqüilo – Ele respondeu com as mãos no bolso.

— E ai, por fim no que deu ontem? – Questionei ansiosa, porém receosa pela resposta.

— Ah, meu pai veio aqui, conversou com a diretora, e quase riu da cara dela quando ela o explicou o motivo, não que ele não a respeite, mas por favor, tirar ele da empresa pra vir discutir, apenas por que beijei uma pessoa – Ele imitou a voz do seu pai rindo.

— Pois é... Totalmente desnecessário! – Eu tentei rir junto – Mas então... Sem mais brigas, ou discussões?

— Sim, tranqüilo, o professor me levou até ela, e depois de conversarmos um pouco nós três, ele foi embora. Parecia triste, mudou totalmente a feição de raiva depois que você saiu da sala dele, ficou meio cabisbaixo – Ele contou pensativo – O que você disse pra ele hein?!

— HÁ! Sério? Eu só respondi o que qualquer pessoa responderia... Vai entender ele né? Ninguém merece – Virei os olhos, tentando parecer convincente.

— Enfim... Agora vou lá para a quadra, preciso conversar com o pessoal do time, afinal, ontem faltei ao treino – Ele comentou parando de frente para mim assim que chegamos na porta da sala. Congelei na hora, imaginando que outro beijo aconteceria, quando vi ele se aproximar minha reação foi fechar os olhos imóvel, mas para a minha surpresa senti ele o pousar sobre a minha testa e se afastar.

— Ei! Fabio, sobre o que aconteceu on... – Comecei a falar, precisava o esclarecer que não podíamos continuar com aquilo, ou que não estava preparada para engatar em algo, mas ele me cortou antes de qualquer continuação.

— Eu sei Mo, relaxa! Foi um impulso, sei que você não está afim, pelo menos não agora, continuamos de boa, tudo tranqüilo – Ele se despediu com uma piscada, que eu juro que me apaixonaria se não estivesse amando outra pessoa.

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A semana não demorou a findar, e minha primeira matéria escrita, sobre os exames nacionais e a pressão psicológica do terceiro ano, não demorou a bombar. Arranquei elogios da coordenadora, da diretora, e da equipe do jornal inteira, pelo jeito eu era realmente boa naquilo. Voltei a sorrir com vontade e verdadeiramente na semana seguinte, quando ganhei espaço para mais uma coluna no jornal, agora publicaria sobre moda e continuaria na categoria educação, união de duas coisas que eu amava.

Nessa loucura de dedicação ao jornal, aula extra de Espanhol, provas e atualização do meu diário, esqueci totalmente do foco principal, meu vestibular que se aproximava com força total, já era na próxima semana. Só fui me lembrar quando a Magali me ligou em uma tarde no início da primavera perguntando sobre meu aniversário de 18 anos que se aproximava, era no começo de Dezembro.

Em meio a nossa conversa surgiu o assunto faculdade e eu surtei quando lembrei que tinha parado no meio dos estudos e esquecido totalmente dessa parte, estava mega atrasada. Decidi retomar naquela mesma noite, dividiria os dias daquela semana entre, escola – jornal – UOP, tinha que dar certo.

Quando desliguei a ligação que parei pra pensar, realmente não tinha planejado absolutamente nada pro meu aniversário, mas era nítido que não deixaria passar em branco, afinal representaria minha liberdade.

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POV Cebola

Li a última frase da matéria sobre a importância da concentração e do estudo no dia a dia, e fechei o jornal do colégio abismado. Ela realmente escrevia melhor do que eu imaginava.

Cheguei a pensar que era tudo uma fantasia criada juntamente a Mel, mas aquelas palavras ainda a pouco lidas eram reais e estavam impecavelmente publicadas pela aluna Monica Sousa na terceira edição da nova fase do jornal do colégio Limoeiro. Ponto para a diretora, finalmente o objeto tinha se tornado algo construtivo tanto para os alunos quanto para os professores.

Pensei em parabeniza – lá de diversas formas, mas todas me levavam a ultrapassar a linha permitida e estabelecida entre mim e ela, faziam 8 meses que tudo tinha acontecido e mesmo assim ainda não pronunciávamos uma palavra sequer para o outro. Eu nem a via direito pra falar a verdade, raramente nos encontrávamos.

Naquele momento já não conseguiria distinguir se ainda nos gostávamos, ou se só o que tinha restado era a saudade de algo que nem tínhamos vivido.

Só sai do transe quando ouvi um barulho atrás da mesa, virei rapidamente e vi a professora Camila entrando na sala.

— Vamos Cebola? – Ela chamou me alertando, tinha esquecido totalmente da reunião de professores.

— Ah, verdade, vamos, claro – Eu concordei a seguindo pela porta.

— Estava concentrado, te atrapalhei? – Me perguntou docemente.

— Claro que não, estava lendo o jornal do colégio só isso, nada demais – Conclui sorrindo – Você nunca incomoda.