A Assassina e o Alquimista escrita por Lilás


Capítulo 51
O Destino de Cada Um


Notas iniciais do capítulo

Oi, todo mundo!
Eu sei, demorei muito para voltar. Mandaram até mensagem para mim para saber se eu estava bem. Não, eu não morri e estou de volta. Estive apenas muito ocupada por esses dias. E também eu estava esperando ficar satisfeita com esse capítulo mas, enfim, isso não vai acontecer. E como já tem muito tempo que eu não atualizo a história (mais de vinte dias!), vou fazer isso agora.
Confesso que eu pretendia terminar a história no capítulo anterior, mas pensei "por que desperdiçar todas as coisas que coloquei aqui?" E teve muita coisa que eu precisei cortar dessa história. O objetivo era desenvolver a relação entre Edward e Akame desde quando eles se conheceram e começaram a se estranhar até quando eles finalmente se acertassem. Então, tive que abandonar algumas ideias porque iriam me desviar do meu objetivo original.
Explico melhor mais na frente. Boa leitura.



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— Aqui está seu pedido como sempre, Akame-chan – uma mulher de pele escura e rosto redondo e sorridente estendeu uma sacola para uma garota de longos cabelos negros e olhos vermelhos.

— Obrigada, Maria – ela respondeu, simplesmente.

— Seu irmão passou aqui mais cedo, Akame-chan – Maria, a dona da mais famosa pâtisserie da cidade de Teutrania, ao sul de Aerugo, comentou simpaticamente – E disse que vocês já irão partir para o país de vocês depois de amanhã. Sentirei saudades.

Akame e Wave estavam há poucos dias naquela cidade, mas conheceram mais pessoas do que imaginavam. Principalmente, porque Wave tinha o péssimo hábito de sempre falar demais e fazer amizade com estranhos. Ele havia contado a mentira de que era o irmão mais velho de Akame e ela nem se preocupou em desmentir.

— Obrigada. Também sentiremos – ela cumprimentou, formalmente.

— Mas, antes de ir, me diga uma coisa. Eu sempre tive uma dúvida com você, Akame – Maria enrugou a testa – Você fala com um sotaque de amestrina, mais até do que seu irmão, mas não parece com uma.

— Não sou amestrina – Akame respondeu, simplesmente.

— Oh, ainda bem – um homem ao lado estava ouvindo a conversa e comentou alto – Não queremos amestrinos aqui – e alguns dos clientes mais próximos concordaram com exclamações e acenos de cabeça.

— Clientes são clientes – Maria fez uma cara séria – Independentes se são amestrinos ou não.

— Mas vai estragar sua freguesia, Maria. E espantar os seus clientes mais antigos – um rapaz perto da porta disse – Isso seria péssimo para os negócios – e continuou com um sorriso debochado – Não é certo tirar o pão das crianças e jogá-lo aos cachorros.

— Não sou amestrina – Akame repetiu sem sair do lugar e de costas para os outros clientes – Mas tenho família em Amestris.

A expressão do último rapaz a falar tremeu e seu sorriso sumiu imediatamente do rosto. Os outros clientes também pareciam tensos e um clima pesado se instalou no ar.

— Oh, que surpresa, Akame-chan – Maria deu um sorriso sem graça para espantar a tensão – Toda a sua família será muito bem-vinda aqui. Agora, não quer experimentar uma fatia de bolo? – ela apontou para os doces no mostruário – É por conta da casa.

Parecia ser estranha a reação dos outros clientes com Akame, porém ela já estava se acostumando a isso. Ultimamente, ela não precisava fazer nada para os outros sentirem medo dela. Apenas algumas palavras ditas em certo tom provocavam aquele efeito. E, também desconfiava, talvez eles sentissem a aura assassina da Murasame.

— É muita gentileza a sua – Akame sentou-se no balcão e experimentou um pedaço de uma bela torta de maçã.

Aquilo tinha gosto de comida feita em casa. Não uma casa qualquer, mas uma casa simples nos arredores de Resembool. Akame suspirou e deixou escapar um sorriso de lado.

Estava tão distraída com suas lembranças que nem deu importância quando um vulto parou atrás dela. Porém, arregalou os olhos ao escutar uma voz conhecida dizer:

— Akame?

***************************

Wave estava se sentindo feliz demais. Estava com bastante dinheiro no bolso por causa da gorda gratificação que recebera do Exército Amestrino e, ainda por cima, logo estaria em contato com sua verdadeira paixão: o mar. E finalmente voltaria para casa. Então, hoje era um dia bom para comemorar porque, afinal, amanhã estaria muito ocupado fazendo os preparativos da viagem com Akame.

Ele estava maravilhado com a beleza das paisagens de Aerugo. Amanhã, eles deixariam essa cidade e iriam para a cidade de Adália, onde havia o maior porto do país. As cidades eram bem próximas e a viagem seria curta. Mas, se Adália fosse tão bonita quanto a cidade de Teutrania, Wave ficaria muito agradecido.

— Ei! Mais cuidado por onde anda – Wave segurou com firmeza um garoto pelos ombros. O menino havia acabado de sair correndo de um estabelecimento quando esbarrou no marinheiro.

— Certo, moço – o menino sorriu e saiu novamente correndo atrás de outro garoto.

Wave abanou a cabeça e olhou para o lugar de onde o menino tinha saído. Parecia uma dessas tabernas mais limpas do que aquelas que ele encontrava na beira das estradas, mas ainda assim não achava um local adequado para crianças frequentarem. A música animada e as risadas o convidavam a entrar e ele achou que não seria ruim dar uma espiada.

O lugar tinha uma decoração bem alegre e os funcionários desfilavam pelo grande salão com trajes típicos do país. Wave não sabia para onde olhar primeiro até ter sua atenção atraída para uma mesa onde uma grande aglomeração se formava e as pessoas cochichavam excitadas.

— Quem mais quer arriscar? – um homem ruivo perguntava aos berros, abrindo os braços de maneira teatral – As apostas acumularam, senhores. Vai receber o dobro quem conseguir derrotar eu e meu amigo Accetti – e deu um tapa afetuoso no ombro de um rapaz de cabelos raspados, sentado na frente de uma mesa com cartas espalhadas.

— Eu quero participar – Wave levantou a mão, animado – Estou sentindo que estou com sorte.

— Um estrangeiro – o homem ruivo continuou enquanto Wave sentava em frente à mesa – Conhece as regras do jogo?

— No meu país, temos um jogo parecido – Wave falou – Ganha quem tiver a mão melhor, não?

— Exatamente, estrangeiro – Accetti concordou – Se quer tanto, vamos jogar.

O ruivo se apresentou como Anton e chamou mais um dos que assistiam para jogar, que se apresentou como Mattia, enquanto mais gente se juntou para fazer suas apostas. Wave estava muito confiante e também estava com muito dinheiro dentro dos bolsos.

— Durante o jogo, pode apostar o quanto quiser – Anton comentou – Até o limite de suas fichas.

Porém, essa confiança toda do marinheiro foi embora ao longo do jogo. As cartas estavam todas trocadas e as regras eram contraditórias! Não sabia porquê, mas tinha uma impressão de que estavam tentando enganá-lo. Com certeza, só por que ele era um estrangeiro.

— Isso é muito confuso – reclamou – Eu não reconheço essas cartas.

As rodadas passavam e a dívida de Wave se acumulava até que, em determinado momento, ele achou melhor parar ou perderia até as roupas.

— Fique mais um pouco, estrangeiro – Accetti insistiu.

— Melhor não – Wave se levantou da mesa, ajeitando a roupa – Se eu perder mais, uma certa pessoa me mata. E não é no sentido figurado – ele ficou um tempo apalpando os próprios bolsos – Espera um pouco aí. Onde está meu dinheiro?

A única coisa que ele conseguiu puxar do bolso era uma pequena bolsa surrada e bastante gasta nas laterais.

— É minha carteira – Anton tomou a bolsa das mãos de Wave – Você por acaso é algum ladrão?

— E tinha algum dinheiro dentro dela? – Mattia piscou seus olhos miúdos.

— Na verdade... na verdade, não – Anton falou as últimas palavras bem baixo – Mas isso não importa – e apontou para Wave – Peguem esse ladrão!

— Eu não roubei nada! – Wave se apressou em responder – Meu dinheiro também sumiu. A única coisa de que eu me lembro é de ter esbarrado naquele menino... – Wave parou de falar porque acabara de perceber o que realmente aconteceu.

No entanto, ele nem teve tempo de se defender porque, alertados pelos gritos de Anton, várias pessoas chegaram e Wave foi arrastado para o lado de fora do estabelecimento onde estavam.

— Deveríamos dar uma lição nele para aprender a não roubar no país dos outros – um dos sujeitos mais mal-encarados sacou um canivete do bolso – Segurem ele.

— Ei! Esperem um pouco!

Wave levantou a cabeça com dificuldade e avistou a figura de um rapaz que, aparentemente, tinha vindo em seu auxílio.

— O que quer também, estrangeiro? – um dos seus agressores perguntou de forma hostil – Vai apanhar no lugar dele?

— Pago a dívida dele – respondeu, simplesmente.

— Você?!! – Wave arregalou os olhos ao reconhecer seu salvador.

— Há quanto tempo, Wave – Alphonse sorriu para ele – Só encontro você metido em alguma confusão, não?

— Isso não é verdade!! – Wave esbravejou.

— Tomem aqui – Alphonse atirou um saco de moedas para Accetti – Isso cobre a dívida, não?

— Mas é dinheiro amestrino, seu amarelo – Accetti abriu a sacola e analisou as moedas.

— Desculpem, não tive tempo de trocar o dinheiro – Alphonse se justificou – Mas o Maristé ali – e acenou para o garçom atrás da bancada dentro do bar – aceita dinheiro amestrino. Uma rodada de bebida para todo mundo por minha conta.

— Agora, sim – Anton deu tapinhas na cabeça de Wave antes de soltá-lo – Seu amigo sabe tratar bem os anfitriões...

Os agressores de Wave voltaram para o bar, rindo e conversando, como se nada tivesse acontecido. Wave continuou parado no mesmo lugar onde o tinham largado, olhando para dentro sem acreditar enquanto Alphonse agia como se fosse o dono da festa que acabara de começar, pagando bebidas para todo mundo. Depois de alguns minutos sem reação alguma, Wave se levantou da calçada e entrou no bar, traçando uma linha reta até Alphonse.

— Ah, Wave – Alphonse estendeu um copo na direção dele quando o viu chegar perto – Vai querer também?

— O que você está fazendo aqui? – Wave perguntou um pouco alto demais – Você está aqui a mando do exército, Alphonse Elric?

— Espera um pouco aí – Mattia arregalou os olhos – Seu nome é Elric?! Dos irmãos Elric?!!

— Ah, sim – Alphonse coçou a nuca, um pouco envergonhado – Sou irmão de Edward Elric, o Alquimista de Aço. Inclusive, eu e meu irmão já estivemos aqui alguns anos atrás.

Todos fizeram caretas que misturavam espanto com pavor.

— Pessoal... – Wave chamou, receoso.

— Peguem ele!! – Anton gritou e uma massa furiosa se precipitou na direção de Alphonse e de Wave que estava ao seu lado. Porém, uma forte explosão acabou forçando todos a recuarem e protegerem os rostos. Quando a fumaça da explosão dissipou, uma enorme cratera surgiu onde estava o jovem alquimista e seu amigo alguns segundos atrás.

— Eles estão tentando fugir pela tubulação do esgoto! – um homem gritou e alguns deles correram para fora do estabelecimento.

Exatamente nesse momento, Wave e Alphonse corriam através das gigantescas galerias do subsolo que, felizmente, eram grandes o suficiente para um homem adulto caminhar sem precisar se abaixar. Outra sorte dos dois era que, naquela época do ano, o rio que cortava a cidade estava com o nível baixo e, por isso, os corredores estavam secos.

— Por que estão atrás de nós?! – Wave seguia Alphonse através da galeria – O que vocês dois aprontaram quando estiveram aqui?!

— Que eu lembre, nada – Alphonse corria sem olhar para trás – Ou, então, a culpa é do Ed. Ele nunca me escuta.

Os dois alcançaram uma escada fixa em uma das paredes que dava para fora do subsolo e Wave subiu afoito por ela, quase batendo a cabeça no alçapão ao final da escada.

— Estamos livres e... – ele disse, removendo a tampa a bloquear a passagem – UUOOOAAHH!!

Wave teve apenas tempo de se encolher inutilmente e rezar para que o carro vindo em sua direção passasse direto por ele e não arrancasse sua cabeça. Para sua sorte, o motorista o viu, tentou frear, mas o carro acabou deslizando na pista e bateu em outro veículo estacionado no lado oposto da rua.

— Anda logo – Alphonse empurrou-o para fora e, aproveitando a confusão provocada pela batida, os dois correram para uma rua próxima – Essa foi por pouco – Alphonse apoiou a mão em um muro e respirou fundo para recuperar o fôlego.

— Como assim por pouco? – Wave agarrou o colarinho do casaco de Alphonse e o sacudiu – Eu quase morri por tua causa!

— É, mas salvei você lá naquele bar – Alphonse rebateu, tranquilamente – O que você faria se eu não aparecesse, heim?

— Está me seguindo? – Wave falou, um pouco mais calmo, largando o casaco de Alphonse.

— E por que eu seguiria você? – enrugou a testa – Na verdade, estou aqui porque tenho de pegar um navio amanhã para o seu país. Tenho um compromisso marcado com a ministra Najenda.

— Não diga que são sobre as Teigus.

— Exatamente – Alphonse concordou, sério – Estou me concentrando totalmente nisso.

— Tinha esperanças pela sua ajuda – Wave acenou com a cabeça.

— Sim, eu sei – Alphonse suspirou e olhou para os lados – Eu acho que isso que aconteceu agora foi um grande mal-entendido. Deveríamos voltar e tentar conversar...

— Escuta aqui, se você está tentando se matar, vá sozinho – Wave berrou – Aliás, o que você estava fazendo naquele lugar?

— Estou fazendo uma investigação – Alphonse respondeu, calmamente – Uma vez, o tenente Havoc me disse que lugares assim como esse em que estávamos eram bons para se conseguir informações onde não se acha em lugar nenhum.

— Isso não tem lógica nenhuma – Wave reclamou – E não escute os conselhos do tenente Havoc!

— Eles estão ali! – ouviram um homem gritar do outro lado da rua.

— Você atraiu a atenção deles – Alphonse correu entre as ruas inclinadas e extremamente estreitas da cidade e Wave o seguia. A rua era tão apertada que não dava para os dois correrem lado a lado – Olha! Dá para ver o mar daqui! – apontou, empolgado, para o final da ladeira.

— Presta atenção no caminho! – Wave berrou e o puxou pela gola da camisa para que Alphonse desviasse em uma curva. No final do caminho onde Alphonse corria antes de ser puxado por Wave, mais um grupo surgiu e se juntou a perseguição aos forasteiros.

Não demorou muito para cercarem os dois, principalmente porque eles nem conheciam o lugar direito porém, antes de pegá-los, Alphonse usou a Alquimia novamente e fez “crescer” o chão sob seus pés e de Wave, colocando-os fora do alcance de seus perseguidores.

— Essa é a sua ideia?!! – Wave gritou enquanto pulava, tentando acompanhar o ritmo de Alphonse – Fugir pelos telhados?!

— Você ainda tem a opção de descer e conversar com eles – Alphonse respondeu, sem parar.

— Não é isso. Mas a gente poderia... – Wave não conseguiu terminar de falar porque o telhado onde estava cedeu e, antes que ele pudesse fazer algo, o marinheiro despencou do alto. Alphonse ainda tentou segurá-lo, mas acabou sendo puxado junto e dois caíram dentro de um prédio, atravessando dois andares no caminho.

— Você poderia ter usado essa sua magia para nos salvar agora, não? – Wave tossiu, afastando a poeira e os restos do telhado destruído de cima dele.

 - E eu usei – Alphonse sacudiu o pó dos cabelos – Se não tivesse transmutado essas telhas em um material mais macio, nós dois estaríamos mortos agora.

Enquanto eles tentavam se recompor da queda, algumas pessoas começaram a chegar e cercaram o local destruído.

— Mas vocês, alquimistas, não sabem vir aqui sem destruir as coisas, não? – um homem com uma farda azul se aproximou, resmungando, dos dois estrangeiros ainda sentados no chão.

***************************

Dentro de uma modesta pâtisserie de Aerugo, um pequeno grupo incomum ocupava uma das mesas. Era um grupo formado por uma garota e dois homens, todos estrangeiros. Os três conversavam calmamente enquanto a dona do local servia um pouco de café para eles.

— Procuramos você por toda a cidade, Akame-chan – o homem de pele escura começou.

— Aconteceu alguma coisa? – Akame esperou que os dois se acomodassem para perguntar.

— Não sabemos exatamente se vai acontecer ou se já está acontecendo – Zampano resolveu falar por Jelso quando este hesitou – Estamos aqui porque fomos contratados pela Universidade de Amestris para irmos até o Império de navio. Aparentemente, foram descobertas informações importantes sobre as tais armas imperiais e há indícios de que tenham mais documentos sobre a fabricação delas espalhados nas muitas ilhas ao redor da costa do país.

— O Edward pediu para verificarmos isso – Jelso continuou – E ele pediu para procurarmos por você quando chegássemos aqui porque você seria nossa guia.

— Guia? – Akame piscou e os dois concordaram com a cabeça – Estão dizendo que eles continuam com essa ideia? – ela arqueou as sobrancelhas.

— Edward nos avisou que, talvez, você oferecesse resistência – Jelso lançou um olhar para Zampano – Olha, ele nos contou sobre o que aconteceu com você... – e coçou a nuca, envergonhado – Sabe... sobre a doença...

— Edward tem certeza que isso pode ajudar a achar a cura – Zampano falou com firmeza – E ele disse que está fazendo tudo isso pelo Alphonse.

— É porque o Alphonse não aceitou essa idéia de que não poderia achar uma cura para a maldição das armas imperiais – Jelso pigarreou – Principalmente, no seu caso.

— Nós conhecemos bem aqueles dois, Akame-chan – Zampano meneou a cabeça – Eles não vão parar até conseguirem o que querem.

— Mas de que adiantaria isso? – Akame perguntou – Eles não pensaram na possibilidade de que, talvez, eu nunca mais voltasse a vê-los?

— Edward nos disse que mantém contato com a ministra Najenda – Jelso completou – Ele disse que é só passar todos os resultados que, cedo ou tarde, você entraria em contato com ela.

Akame suspirou profundamente e escondeu o rosto em uma das mãos.

— Dessa forma, parece até que eu sou a vilã – Akame comentou consigo mesma – Então – se dirigiu para os dois – ele veio com vocês?

— Deixamos o Alphonse estudando sozinho no hotel – Zampano abaixou a cabeça – Ele não sabe que viemos atrás de você.

— Queríamos saber se... – Jelso hesitou – Se você, ao menos, não quer falar com ele.

Akame fechou os olhos e suspirou profundamente.

— Como ele está? – perguntou, sem abrir os olhos.

— Bom, por fora, parece o mesmo – Zampano encolheu os ombros – Mas está realmente obcecado pelas Teigus. Não fala em outra coisa.

— Talvez – Akame falou consigo mesmo enquanto experimentava um pouco de café – se eu falasse com ele... Mas eu não levo muito jeito com palavras...

— Ora, ele vai ficar feliz apenas em vê-la – Zampano colocou um pouco de dinheiro no centro da mesa e se levantou. Jelso repetiu o seu gesto – Vamos, Akame?

Ela hesitou um pouco, mas nem teve muito como recusar e acabou seguindo os dois até um carro estacionado do lado de fora. Akame tinha certeza que nunca conseguiria ganhar de Alphonse em um debate, mas não poderia deixar de tentar convencê-lo. Depois de darem algumas voltas pela cidade, o carro parou em frente a um prédio de fachada simples e os três entraram no saguão do hotel.

— Quarto A 113 – Jelso anuncia para um homem alto e magricela atrás de um balcão.

— O senhor Elric saiu há algumas horas – o homem estendeu uma chave, com a voz monótona – Também ligou para cá alguns minutos atrás e deixou recado – e puxou um papel de debaixo do balcão – Pediu para encontrá-lo neste endereço.

— Você sabe que lugar é esse? – Zampano perguntou ao recepcionista depois de pegar o papel da mão de Jelso.

— Sei, sim, senhor – o recepcionista continuou, sem mudar de expressão – É o endereço da delegacia do distrito, senhor.

***************************

— Vocês não entendem! – Wave parecia desesperado – Eu não posso ficar aqui! Se perdermos o navio, Akame vai me matar!

Ele e Alphonse dividiam o espaço de uma cela da delegacia daquela região. O pequeno cubículo contava com um beliche, um banquinho surrado e uma pequena pia nos fundos da cela.

— Akame?! – Alphonse arregalou os olhos – Akame está aqui com você?!

— Sim – Wave se largou no banco, totalmente derrotado – E eu vou ser morto com certeza se ela descobrir onde estou.

— Espera um pouco aí – Alphonse se virou para ele com a cara fechada e o agarrou pelo colarinho da camisa – Está me dizendo que está viajando sozinho com Akame? Você não tem vergonha na cara?

— E qual é o problema? – Wave piscou os olhos, sem entender.

— Oras, não sabe qual o problema? – Alphonse devolveu, aborrecido, sacudindo-o – Onde já se viu um rapaz viajar sozinho com uma garota?

— Você acha que eu teria alguma coisa com Akame? – Wave perguntou, se desvencilhando dele – Morro de medo dela! E, além do mais, você não viajaram juntos para Amestris?

— Eu não viajei sozinho com ela. Estávamos com os senhores Jelso e Zampano – Alphonse respondeu, levemente irritado – E que desculpa esfarrapada é essa de ter medo de Akame? Você já viu o seu tamanho e o dela?

— Não é uma questão de tamanho – Wave esticou o braço para o alto e fez um gesto que Alphonse entendeu como se Wave estivesse simulando um chuveiro ligado sobre sua cabeça – Estou falando daquela aura negra que sai dela. Aquilo é de dar arrepios.

— Aura negra? – Alphonse enrugou a testa – Do que está falando?

— Você nunca sentiu? – Wave olhou para ele, espantado – É uma coisa meio sinistra como se... como se algo maligno a seguisse para todo lugar. Se bem que, agora, faz sentido o porquê disso.

— Não sei do que está falando – Alphonse tinha uma ruga de dúvida entre as sobrancelhas – Nunca senti nada disso aí que você falou quando estou perto de Akame.

— Você tem sorte – Wave entortou a boca – Aliás, você já lutou de verdade com Akame? Eu já lutei duas vezes e, bom, só estou aqui por pura sorte. Na primeira vez, Akame estava mais preocupada com outra coisa e nem me deu atenção. Na segunda, eu só escapei porque ela me queria vivo para poder passar um recado para Kurome. E olha que as duas vezes foram antes dela se fundir com a espada. Acho que, mesmo com minha armadura, ela seria capaz de me matar se quisesse.

— Não vejo problemas algum com Akame – Alphonse abanou a cabeça – Você deve estar imaginando coisas.

— Você não vê porque não quer – Wave concluiu – Mas temos é que pensar em um jeito de sairmos daqui.

— Aliás – Alphonse recomeçou, mais calmo – como ela está?

— Ih, vocês são barulhentos, heim? – o carcereiro apareceu, com uma expressão de mau-humor, e destravou a porta – Fora daqui. Pagaram a fiança.

— Pagaram? – Alphonse enrugou a testa – Quem...?

— Ah! Aí está você! – Jelso apareceu atrás do carcereiro.

— Senhores Jelso e Zampano! – Alphonse sorriu – Sabia que viriam imediatamente!

— Recebemos seu recado no hotel – Zampano fez um sinal com a cabeça – Vamos?

— Você fica – o carcereiro empurrou Wave para dentro da cela quando o marinheiro fez menção de segui-los – Eles pagaram a fiança dele.

— Ei, espera aí – Wave resmungou – Vocês não vão me deixar aqui, não é?

— Oh, sim – Alphonse concordou com a cabeça – Vamos pagar a dele também. Afinal, ele acabou vindo para cá por minha causa.

— Tem uma pessoa que quer ver você lá fora, Alphonse – Jelso falou quando atravessavam os corredores – Aqui não é um ambiente muito adequado...

— Mas quem...? – Alphonse começou a pergunta, mas engasgou ao ver uma pessoa de costas parada ao lado do carro utilizado por Jelso e Zampano para virem até ali – A... Akame?

— Vixe! – Wave cobriu o rosto com uma mão – É hoje que eu morro.

***************************

— Está rindo sozinho? – Winry perguntou, com a sobrancelha levantada.

— Estou imaginando a cara de bobo do Alphonse quando encontrar a assassina – ele diz, tentando disfarçar inutilmente uma risadinha.

— Eu ainda não acredito que você fez isso – Winry cruzou os braços com a cara emburrada – E nem explicou direito como fez tudo. Afinal, como você sabia em que cidade eles estavam?

— Sabia que o Exército Amestrino tem espiões muito bons? – Edward se espreguiçou na cadeira posta na varanda de casa – Você acha mesmo que, não um, mas DOIS portadores de Teigu iriam atravessar o país e entrar em Aerugo sem que eles monitorassem cada passo deles? Aliás, eles pediram a polícia de Aerugo para avisá-los de cada lugar que eles visitassem.

— E como você ficou sabendo disso tudo? –Winry sentou em uma cadeira ao lado e se inclinou na direção de Edward – Isso não é informação confidencial?

— Fui ao escritório daquele inútil do Mustang – Edward disse, sem interesse – E ameacei ficar cantando no ouvido dele o dia inteiro. Ele só faltou me levar até onde estava a assassina.

— Mas quem financiou a viagem não foi a Universidade de Amestris?

— Sim. E eles foram bem mais difíceis de convencer – suspirou – Convencer que a viagem ao Império pelo mar era melhor foi bem mais complicado.

— Por isso, você disse no começo que era você quem iria – Winry o olhou, séria – Para que você escolhesse o roteiro da viagem.

Edward deu uma risadinha culpada.

— Você nunca pretendeu ir nessa viagem, não é? – Winry fez uma cara concentrada – Mas, mesmo assim, é um plano arriscado. Mesmo que o Al e a Akame-chan estejam na mesma cidade, há uma grande chance deles não se encontrarem. E se a cidade for muito grande e eles ficarem em partes diferentes dela?

— E você acha que faço tudo sem cúmplices? – Edward fez uma pose convencida – Eu conheço bem aquela cidade. Passei todas as informações para o Jelso e o Zampano.

— Mas se a Akame-chan não quiser ser encontrada, ninguém a acha – Winry retrucou.

— Você fala isso porque você não conhece – ele faz uma expressão sombria – a técnica de perseguição secreta passada de geração a geração na família Armstrong – uma gota escorre na testa de Winry enquanto Edward ri da expressão dela antes de recomeçar – Bom, eu sei que a assassina poderia muito bem passar despercebida, mas o Wave não. Aconselhei a eles a procurarem por aquele marujo espalhafatoso caso não conseguissem encontrá-la. Aliás – Edward começa a rir – eu não sei quem merece mais o prêmio de rei dos idiotas, Wave ou Alphonse. Você acredita que ele havia contado dos planos dele de voltar para casa de navio com a assassina para aquela cambada de fofoqueiros do Quartel-General do Leste?

— Não fale assim deles – Winry fechou a cara – Eles não são idiotas. Só um pouco ingênuos...

— Você falou a palavra certa – ele se espreguiçou, olhando o céu – Ingênuo. Ainda bem que o Al não tem noção do quanto ele sabe ser convincente com as palavras. Ele poderia fazer sucesso com as garotas – Edward riu pelo nariz – Mas, como todo mundo sabe, ele é um total desastre. Apesar de sempre falar que queria encontrar uma namorada, ele não levava muito jeito com isso. Lembra daquela vez que eu e ele fomos atrás de um prisioneiro em Creta? Encontramos uma garota lá, a Júlia, bom, está certo que ele ainda era uma armadura, mas voltamos lá depois que ele recuperou o corpo e vi os dois conversando. Não sei nem como eles não se beijaram...

— Você estava espionando o Al? – Winry pergunta, com uma ruga entre os olhos.

— Nada disso! – Edward se sobressaltou de forma exagerada – Eu não estava espionando ninguém! Eu estava passando e, por um acaso, vi os dois conversando. Mas ela não foi a única. Tiveram outras. Tem, claro, a May. E lembro claramente daquela princesa lá de Aerugo que também gostava do Al. Parece que ele tem uma essência para atrair princesas. Se bem que a May é muito nova para ele e...

— E olha só quem fala – Winry resmungou – E você? Ao invés de dizer logo que gostava de mim, veio com aquela história de Troca Equivalente. Francamente...

— Não vem, não – Edward corou imediatamente – Você também ficou com cara de boba!

— Mas isso não explica porque você resolveu ajudar o Al agora – Winry continuou, mais calma – Afinal, não é segredo para ninguém que você não gosta da Akame.

— Só achei injusto da parte dela não ter dado a oportunidade do Al nem se despedir – Edward coçou a nuca, contrariado, depois de ficar um breve momento em silêncio – E não é que eu não goste dela. Eu só... não acho que eles combinam. Eles nem se parecem.

— Porque ela parece mais com você – Winry respondeu, simplesmente.

— Deixa de besteira – ele fez bico – E tem mais. Tem uma coisa que eu ainda não entendi. Ela falou que acompanhou o Al até aqui porque achou que ele poderia ajudá-la a achar a cura. Só que não acho que ela é o tipo de pessoa que faz algo assim sem pensar. Não, ela tinha certeza que o Al era a solução mas, quando ela voltou lá da Verdade, ela mudou o discurso e falou com muita confiança que o Al não poderia ajudá-la. Por que ela mudou de ideia?

— Talvez, ela tenha visto algo lá que a fez mudar de ideia – Winry deu de ombros.

— Nada disso – Edward fez uma expressão pensativa – Isso significa que, em algum momento, ela mentiu. Mas, quando? E por quê?

— Você continua muito paranoico – Winry deu um muxoxo – Pra você, as pessoas não podem simplesmente fazer algo sem nenhum motivo?

— Você é tão ingênua, Winry – ele abanou as mãos como se quisesse espantar um pensamento – Bom, eu realizei o desejo do Al. Ele não disse que queria ver aquela cabeçuda ao menos mais uma vez? Agora, o que vem a seguir, vai ser decisão dele. Ele disse que sabia se virar sozinho. Será que eu devo confiar nisso?

— Você quem sabe – Winry deu um pequeno sorriso e se levantou da cadeira para entrar em casa.

— Mas por que ficar falando daqueles bobos agora? – Edward mudou o tom de voz para um mais brando – E nós?

— Como assim...? – Winry não conseguiu terminar a frase porque se assustou com o puxão que Edward deu em seu braço. Ela acabou se desequilibrando e caindo sentada no colo de Edward.

— Ed – ela arregalou os olhos – Mas o que deu em...?

— Não tivemos muito tempo juntos. Foi uma loucura atrás da outra desde o casamento – e começou a beijar o pescoço de Winry.

— Ed! Aqui não – Winry se arrepiou – A vovó pode aparecer...

— Até parece que aquela velha nunca viu duas pessoas namorando – Edward rebateu – Se bem que, do jeito que ela já está caducando, é capaz de nem perceber.

— EU OUVI ISSO, EDWARD!! – uma voz raivosa ecoou do outro lado da casa.

— E não é que, pelo menos, a audição está muito boa? – Edward ria enquanto Winry amarrava a cara para ele. Porém, a raiva dela não durou muito e, logo, começou a rir também.

***************************

Alphonse estava maravilhado com a vista. Nunca havia ido para uma praia antes e era totalmente diferente do rio Rain, em Resembool, ou do lago Kauroy, em Dublith. Para começar, ele não conseguia nem ver onde o mar terminava. Isso por si só já era surpreendente. E, além disso, as ondas vinham e voltavam em um movimento constante.

Ele puxou a boca da calça até os joelhos e mergulhou os pés na água. Era uma sensação estranha e, ao mesmo tempo, relaxante sentir seus tornozelos serem acariciados pelas ondas e seus pés afundarem na areia fofa.

— É a primeira vez que vê o mar? – por causa da ventania, Alphonse teve dificuldade inicial em avistar Wave em pé sobre algumas rochas ali perto, em uma espécie de quebra-mar.

— Estou parecendo um caipira? – gritou de volta, caminhando na direção dele.

— Mais ou menos – Wave carregava um pequeno balde e uma vara de pescar.

— Vai pescar aqui? – perguntou, duvidando que ele conseguisse pegar alguma coisa com aquele mar que parecia um pouco agitado demais para Alphonse.

— Talvez – Wave meneou a cabeça – Ou pegar alguns moluscos. Pensei em algo diferente para o nosso jantar. Que tal? – e completou, animado – Uma comida típica do meu país.

— E tem animais que podemos comer, além de peixes? – Alphonse subiu vacilante nas rochas.

— Tome cuidado, Alphonse Elric – alertou quando o outro quase escorregou em uma pedra lisa – Claro que tem. Ostras, lulas, mexilhões... O mar oferece as mais variadas opções.

Wave sentou na ponta do quebra-mar com a vara de pescar enquanto tagarelava alegremente sobre os mistérios do mar. Alphonse ficou observando por um tempo, mas depois se distraiu com algo entre as rochas. Afastou-se um pouco de Wave e surpreendeu-se ao encontrar um molusco no meio das rochas. Não sabia ao certo o que era aquilo, porém cogitou ser um mexilhão. Viu algo parecido em algum livro. Examinou-o por um tempo e achou que era uma peça bonita. Imediatamente, pensou em dar de presente para Akame.

Aliás, ele havia acabado de avistá-la em um ponto mais afastado da orla, sentada na areia. Alphonse pulou por sobre as rochas cheias de musgos na direção da garota.

— Pode me deixar falando sozinho – Wave resmungou quando, ao olhar para trás, viu Alphonse já na areia da praia e correndo na direção de Akame – Sou só um personagem secundário.

Sem falar nada, Alphonse pôs o molusco entre os dois.

— Trouxe isso para você – ele sentou ao lado de Akame, abraçando as pernas – Acho que é um mexilhão, mas não tenho muita certeza. Não é bonito?

Akame nem ao menos virou a cabeça.

— Olha – Alphonse deu um longo suspiro – Tudo bem ficar chateada, mas uma hora você vai ter que falar comigo.

Akame continuou séria, encarando o mar.

— Tudo bem – ele falou, resignado – Mas posso falar algo em minha defesa antes?

Ela não esboçou nenhuma reação novamente e Alphonse encarou isso como um sim.

— Monstro, aberração, anormal – Alphonse suspirou – Eu já fui chamado de tudo isso. Bom, eu nem poderia condenar a reação das pessoas ao me verem porque, afinal, eu nem ao menos tinha um corpo humano.

Akame continuou olhando para o lado e Alphonse achou que poderia continuar.

— Ser uma armadura tinha suas vantagens – ele esperou alguns segundos antes de recomeçar – Eu não precisava dormir ou comer e nunca me cansava. Mas, depois de passar tanto tempo sem sentir absolutamente nada, eu comecei a achar minha existência... vazia. Tão vazia quanto a armadura onde estava presa a minha alma. Eu me sentia como um fantasma no mundo dos vivos. Cheguei a pensar que jamais voltaria a ser como antes... Eu só não desisti de tudo mesmo por causa do Ed.

Akame parecia que continuaria a insistir naquela estratégia de ignorá-lo. Alphonse a observou por alguns segundos, mas não percebeu nenhuma mudança de atitude.

— Ed não deixou que eu desistisse – Alphonse suspirou – Às vezes, a única coisa que me mantinha na luta era pensar que o Ed ficaria triste se eu desistisse. Mas, eu achei que seria melhor desistir mesmo e evitar o sofrimento das outras pessoas ao meu redor. Principalmente, do Ed. Eu vi o quanto ele não poupou esforços para que eu recuperasse meu corpo.

Alphonse olhou para o horizonte, até onde a vista do mar se perdia.

— E todo o esforço valeu a pena – ele deu um pequeno sorriso – Mas, só foi suportável porque eu tive alguém para me amparar – e voltou os olhos para Akame, com receio – Se você quiser, não precisa carregar todo o peso sozinha.

— Você não entende – Akame suspirou.

— Eu entendo mais do que você imagina – ele falou com a voz calma – Eu tenho ciência de todos os seus problemas e quero enfrentar todos eles com você.

— Não é algo que você pode lutar apenas com sua vontade – ela ainda não havia olhado para ele – Coisas horríveis acontecem com quem desafia certas forças...

— Olhe para mim, Akame – pediu. Ela virou o rosto lentamente para ele e viu Alphonse exibir um discreto sorriso – Quem melhor do que eu sabe disso? Eu e meu irmão desafiamos a Verdade quando ainda éramos crianças. Está certo que fomos tolos – ele fez uma cara triste – mas isso me serviu como aprendizado.

— Não é a mesma coisa – Akame coçou o queixo – Essa luta não é sua. Você só tem a perder se envolvendo com tudo isso. Só vai ter mais sofrimento daqui para frente.

— Sofrer mais do que eu já estou sofrendo, Akame? – ele fez uma careta de tristeza – Não suporto ver você nessa situação. E, além disso, uma lição sem dor não tem sentido. Aquele que nada sacrifica, nada é capaz de obter. Lei da Troca Equivalente, lembra?

— Estou falando sério – ela se encolheu – Eu já abandonei a esperança há muito tempo.

— Não pense assim. Se houver uma solução nesse mundo – Alphonse usou um tom mais firme – eu vou descobrir – e concluiu – Nesse mundo ou no outro.

— E se eu disser que não quero sua presença? – Akame olhou para o outro lado, após um profundo suspiro.

— Bom, eu não forçaria minha presença para você – Alphonse suspirou, triste – Mas, mesmo que eu nunca mais pudesse ver você, não poderia me impedir de continuar procurando pela cura. Isso é uma decisão minha.

Akame bufou de impaciência.

— Então, quer pagar para ver? – Akame levantou uma sobrancelha.

— Eu quero apenas que você seja feliz – Alphonse sorriu, triste – Se é o que posso fazer por você, o quê há de errado nisso?

— Você não deveria ter me seguido – Akame virou o rosto para o lado.

— Eu não te segui – Alphonse respondeu – Na verdade, não era nem eu quem viria para cá. A Universidade de Amestris financiou essa viagem de pesquisa, mas quem viria era o Ed junto com os senhores Zampano e Jelso – ele coçou a nuca – Mas, não sei o porquê, de última hora, o Ed falou que não poderia vir porque precisava resolver um problema. Eu não entendi muito bem, mas ele praticamente me jogou dentro do trem. E, você conhece o Ed, se soubesse que você estava aqui, ele provavelmente não deixaria que eu viesse para cá.

— É essa sua explicação para tudo isso?

— Bom, eu tenho outra explicação – Alphonse sorriu de lado – Para mim, isso é obra do destino. É sério – acrescentou rápido depois que Akame riu pelo nariz – Como naquela vez que nos encontramos por acaso no deserto – e apontou para a água – Na primeira vez, nos encontramos em uma praia sem mar. Ou será que é a praia que parece com um deserto com mar?

— Não se pode lutar contra um destino que já está escrito – Akame completou, secamente.

— “Ninguém consegue satisfazer completamente todos os seus desejos, mas lutar pela sua realização já é por si só parte de nossa redenção” – ao final da frase, Alphonse riu da cara de espanto de Akame – Achou que eu não lembrava? Ora, lembro tudo de você.

— Achei que você nem iria querer mais falar comigo – a voz de Akame estava quase sumida – por ter ido embora sem avisar.

— Sim. E eu fiquei muito chateado com você – Alphonse balançou a cabeça – Muito mesmo. Pena que minha raiva só durou alguns minutos. Eu realmente queria ficar com raiva de você, Akame. Mas eu não consigo.

— E por quê? – perguntou, aparentemente sem nenhum interesse real.

— É porque eu gosto de você, Akame – Alphonse respondeu, simplesmente.

Akame não esboçou nenhuma reação com essa declaração. Nem mesmo olhou para Alphonse.

— Mas eu não sei o que você sente por mim – Alphonse se inclinou para o lado e sussurrou perto do ouvido de Akame – Posso arriscar que é a mesma coisa?

Akame abriu a boca para responder, mas parecia que não conseguia encontrar as palavras.

— Ed me disse que você foi embora exatamente porque queria o meu bem – Alphonse continuou, casualmente – Confesso que fiquei muito surpreso por ele ter me dito isso.

Era a primeira vez que Alphonse lembrava ter visto Akame desconcertada com algo que ele havia dito. Ela ainda tentou responder mas, ao invés disso, arregalou os olhos alguns minutos depois e se levantou do chão rapidamente.

— Akame? – Alphonse perguntou, intrigado – O que...?

Mas não terminou a frase porque foi atingido violentamente por uma grande quantidade de água salgada que encharcou suas roupas.

— Esqueci de avisar – Akame falou depois da água recuar e revelar um Alphonse ensopado – Às vezes, a maré sobe.

— E só agora você fala isso? – ele sentou-se novamente e olhou em volta – Acho que a onda levou o mexilhão...

— Aquilo não era um mexilhão – Akame o corrigiu – Era a concha vazia de um caracol do mar.

— Sério? – ele enrugou a testa – Tenho muito que aprender ainda.

— Dizem que se você colocar a concha no ouvido – ela continuou, olhando para o horizonte – dá para ouvir o barulho do mar dentro dela.

— É mesmo? Não sabia – ele se animou – Então, vamos procurar por mais!

Akame deixou escapar um riso pelo nariz.

— Por que está rindo? – Alphonse franziu a testa, desconfiado.

— Você – e completou ao ver sua expressão confusa – Parece criança.

— Espero que seja um elogio – apontou para ela, forçando uma expressão séria.

— Claro que é – sorriu, discretamente – Mas – o sorriso dela sumiu – Fico me perguntando até quando você vai ser assim.

— Como assim? – Alphonse se levantou do chão.

— Isso não é uma história de ficção – Akame falou de costas para ele – Nada na minha vida se resolve da maneira fácil. A maldição que carrego atrai sangues e mortes. Nesses últimos tempos, tive que ficar indo de lugar a lugar, sem um lugar para voltar – ela tornou a olhar para ele – Vendo todo mundo que eu conhecia morrendo de forma violenta. Você quer realmente esse tipo de vida? Porque eu acho que você não sabe nem metade da gravidade da situação.

— Você acha que só você teve problemas? – Alphonse perguntou – Eu também passei por situações muito ruins na vida. Mais até do que o normalmente suportável.

— Não estou dizendo isso – Akame suspirou – Mas, não acho que a sua vontade agora vai se manter com o passar do tempo. Você iria mesmo abandonar sua família em Resembool, talvez não vê-los mais, viver se mudando toda hora e torcer para não morrer de maneira violenta? Além do mais, você ainda não sabe o quanto posso ser perigosa. Mesmo que você nunca consiga achar a cura para o veneno da Murasame, você aceitaria viver comigo sabendo da minha real natureza?

— Eu... – Alphonse gaguejou e coçou a nuca – Bem...

— Imaginei que você não teria uma resposta para essa pergunta – Akame o interrompeu – Não posso lhe oferecer uma vida feliz. Eu trago destruição para qualquer lugar que vou e não me perdoaria se algo de ruim acontecesse com você – ela sorriu triste e deu as costas novamente para Alphonse – Talvez, tenhamos uma chance em outra vida.

— Ei! Espere – Alphonse a puxou pelo braço – Está certo que eu não tenho uma resposta para sua pergunta, mas deixe ao menos eu escolher também – ele suspirou para pegar fôlego antes de recomeçar a falar – Olha, eu não me importo em me machucar. Sério – acrescentou rapidamente ao perceber Akame fazer menção de que iria falar – Não me importo em morrer ou algo assim. Eu vivi muito tempo como se estivesse morto mesmo, sem poder sentir nada. Além do mais, eu vou morrer um dia e isso não depende de você. O que importa mesmo é o que vou fazer antes desse dia. Tudo que você falou não é nada diferente do que passei. Não estou esperando que você me traga alegrias. Na verdade, eu sei que você ainda vai me trazer muitos problemas – ele sorriu de lado, ainda segurando o braço de Akame – Mas eu quero todos os seus problemas.

— E se nunca acharmos a cura...

— Eu vou achar – Alphonse suplicou – Acredite em mim, por favor!

Akame deu um meio sorriso e alisou uma bochecha de Alphonse. Ele suspirou, fechou os olhos e segurou a mão dela contra seu próprio rosto.

— Eu quero acreditar – Akame sussurrou, depois de um breve momento de silêncio.

— Então? – ele insistiu – Deixe eu fazer meu trabalho.

— Eu não sei...

— Vamos fazer o seguinte. Eu e o Ed vamos pesquisar normalmente sobre as Teigus e a maldição da Murasame – e continuou depois de uma breve pausa – Se você achar que chegamos em um limite de risco, quando estivermos correndo algum perigo grave por causa disso, você pode dizer que quer que paremos e eu prometo que paramos na hora.

Akame deu um longo suspiro e olhou para o horizonte, sem dizer nada.

— Não precisa responder agora – Alphonse puxou a mão dela – Por enquanto, vai me ajudar a catar algumas daquelas conchas?

Akame nem conseguiu responder porque Alphonse já a puxava para que ela caminhasse ao lado dele pela orla da praia.

— Por que acha que eu te ajudaria? – Akame andava encolhida e olhando para o chão.

— Porque eu pedi por favor – Alphonse sorriu – E queria te pedir outra coisa. Você e o Wave poderiam viajar junto conosco. Quero que vocês continuem com a gente de agora em diante.

— Não vou com vocês – Akame respondeu, secamente.

— Eu pedi para Jelso e Zampano comprarem trezentos quilos de carne... – Alphonse falou com a voz insinuante – Ei! Ei! É brincadeira. Não precisa me olhar com essa cara... – ele pigarreou antes de recomeçar – Na verdade, as nossas passagens já haviam sido compradas – Alphonse coçou a nuca, sem jeito – Mas pense nisso como um ato do destino. Estava escrito em algum lugar no universo que tudo isso iria acontecer. Talvez, nós somos apenas personagens de uma história escrita por alguém que não tinha mais nada o que fazer.

— Você fala várias coisas sem nenhum sentido – Akame fez uma expressão neutra.

— Talvez, eu não esteja fazendo muito sentido mesmo – ele riu – Mas estou dizendo isso porque eu não quero que você lute mais sozinha. Quero que você aproveite mais o tempo com todo mundo. E também – Alphonse sorriu, sem graça – porque eu quero ficar junto de você.

— Você não tem juízo mesmo – Akame falou com a voz apática.

— Talvez – Alphonse sorriu de lado – Mas estou apenas seguindo o meu destino.

— Tem uma última coisa que gostaria de perguntar – Akame disse, séria – Vai comprar a carne?

Alphonse engoliu em seco.

— Eu não disse? – Zampano apontava para os dois que se distanciavam ao longe – Já estão se dando bem de novo.

— É mesmo – Jelso confirmava com a cabeça, sorrindo – Também já esperava por isso.

— Apesar de que – Zampano falou, um pouco triste – Eu estive pensando... Tudo que Edward disse... Eles não merecem estar passando por tudo isso – suspirou enquanto olhava para os dois ao longe – Tenho muita pena deles.

— Bom, o que importa é que eles sejam felizes apesar de tudo. É como disse um sábio do passado – Jelso usou um tom mais ameno para tentar animá-lo – “Felicidade é ter algo que fazer, algo que amar e algo que esperar” – e sorriu, discretamente – Acho que eles já tem todos esses três.

— É como dizem – Wave apareceu carregando o balde cheio de água, com alguns peixes pequenos nadando dentro dele, e a vara de pescar pendurada no ombro – depois da tempestade, vem a calmaria.

— Por falar nisso – Zampano virou para ele – você que entende de mar, acha que o tempo está bom para nossa viagem amanhã?

— O céu está perfeito. Sem sinal de tempestade e o vento está a favor – Wave sorri e cobre os olhos com uma mão, espiando para um ponto no horizonte – Espero que amanhã esteja igual.


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Notas finais do capítulo

Como prometido, capítulo gigante e último capítulo! Finalmente!
Mais ainda teremos o capítulo extra e não vou demorar para postá-lo. Nossa próxima e última atualização será dia 03/05 (nessa QUARTA-FEIRA) e esse capítulo extra será um pouco diferente de todos os capítulos até agora. Na quarta, eu explico tudo, inclusive minha ideia para essa história.
Por falar nisso, como é último capítulo, gostaria de ouvir a opinião de vocês sobre a história. Podem dizer que o não gostaram. Não fico chateada por causa de críticas, muito pelo contrário.
Então, até a próxima e última atualização!

NOTAS DA HISTÓRIA: Edward faz referência ao filme FullMetal Alchemist: The Sacred Star of Milos e ao jogo FullMetal Alchemist: Prince of the Dawn.
Ah, e lembrei que ainda não tinha feito um episódio de praia. Afinal, todo shounen tem que ter um. Mas vou ficar devendo a melancia.
E eu não lembro mais o que coloquei nesse capítulo. Se tiverem alguma dúvida, podem perguntar.



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