A Assassina e o Alquimista escrita por Lilás


Capítulo 46
Bons Amigos em Três Países


Notas iniciais do capítulo

Oi de novo.
Sentiram a minha falta? Espero que sim. Bom, vou passar o feriado de castigo, escrevendo relatório, e resolvi deixar um capítulo novo para vocês.
Olha o capítulo de hoje foi planejado e escrito bem antes de saírem os capítulos finais do mangá de Akame ga Kill. Qualquer semelhança é apenas mera coincidência.



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Akame deixou a sala de jantar do Palácio Real de Xing logo após o almoço e se dirigiu ao pátio principal onde encontraria Edward. O rapaz já a esperava pontualmente, mas não veio sozinho.

— É a Akame – Wave levantou de um degrau do pátio, sacudindo a poeira da roupa.

— O que vocês estão fazendo aqui? – Akame perguntou, olhando de Wave para Najenda e Run mais atrás.

— Bom, Edward pediu para que eu viesse com ele – Wave começou – Segundo ele, para evitar que você minta. Aí eu falei para o Run...

— E eu disse que viria também – Run continuou – Mas a Najenda ouviu e, como era um assunto que envolvia você, ela decidiu vir também...

— E então só não virou piquenique porque todo mundo já almoçou e ninguém trouxe comida – Edward completou, de mau humor.

— Mas eu trouxe alguns biscoitos – Najenda estendeu uma sacola – E eu pedi para o Run trazer chá – e indicou o outro, segurando uma pequena garrafa – Quer um pouco, Akame?

— Não vamos nos desviar do assunto – Edward reclamou – Estamos aqui porque você prometeu que iria esclarecer algumas coisas. Em primeiro lugar, antes de ir buscar o Alphonse, você disse que não era humana. Explique direito essa história.

Akame estava com um biscoito pendurado na boca e fez sinal para Edward esperar enquanto ela terminava de mastigar.

— Você acabou de almoçar! – ele gritou, revoltado, enquanto Akame se servia de mais biscoitos junto com Najenda.

— Não sei nem por onde começar – ela disse, depois de terminar de comer.

— Comece pelo começo – Edward disse.

— Já sei – Wave estalou os dedos – Você pode começar naquela vez que você lutou com a taichou, não?

— Isso – Edward confirmou – Comece daí.

— Está bem – Akame fez uma breve pausa – quando eu me cortei com a Murasame, meu sangue se misturou com o veneno da espada. Bom, é mais ou menos como quando se mistura o tempero com a comida. A partir daquele momento, eu e Murasame fizemos um pacto e passamos a ser uma mesma existência.

— Murasame? – Edward enrugou a testa – Sua espada?

— O demônio que está selado nessa espada – Akame continuou – Eu sou a mestra dele e compartilhamos dos mesmos poderes. Por extensão, eu também poderia ser considerada um demônio – ela suspirou – Porém, Murasame tem o péssimo hábito de tentar me manipular. Ele é meu familiar e, mesmo a contragosto, deve obedecer minhas ordens. Mas ele sempre tenta tomar o meu lugar e assumir o controle.

— Demônio?! – Run piscou os olhos, confuso – Onde você arranjou esse demônio?!

— Esse é o ponto – Najenda responde – Estávamos pesquisando sobre as origens das Teigus, mas não achamos muitas informações porque os arquivos originais da fabricação das armas foram destruídos. A hipótese mais aceita foi que o primeiro Imperador queria manter o sigilo para impedir que isso caísse em mãos erradas. Mas comecei a pensar em outra teoria. Talvez, ele não quisesse que esses arquivos viessem a público porque precisaria prestar contas das suas ações...

— Eles usaram técnicas proibidas de Alquimia – Edward falou, de repente, estalando os dedos.

— Como sabe disso, Edward? – Wave levantou uma sobrancelha.

— Digamos que tenho certa experiência com técnicas proibidas – Edward meneou a cabeça.

— Pensamos nisso mesmo – Akame continuou – Aliás, vocês lembram o que sempre dizem do que as Teigus são feitas?

— O quê? – Wave estava um pouco confuso – Pedaços de Bestas Perigosas?

— Será mesmo? – Akame insistiu.

— Não me diga que... – Wave balbuciou.

— A Murasame é chamada de Espada Demoníaca – Akame disse – A Incursio era chamada de Armadura do Demônio. Não acho que são meras coincidências.

— A Teigu da taichou era chamada de Extrato do Demônio – Wave gaguejou com os olhos arregalados – Então...

— Você acha que todas as Teigus – Run não estava menos espantado – foram feitas a partir de... a partir de partes de demônios?!!

— Isso explicaria o poder incomum delas – Najenda fechou os olhos – E o problema não é só esse. Exceto no caso extremo de Akame em que ela se fundiu com a espada ao usar o trunfo, acreditamos que o uso prolongado das Teigus também pode provocar o mesmo efeito no usuário regular. Apesar de ser de uma forma mais lenta.

— Não diga que nós também podemos ficar assim? – Wave perguntou, assustado.

— Não sabemos – Najenda encolheu os ombros – Mas, se sim, eu acho que a Teigu mais perigosa era a Lionel. Leone ficava vestida com ela o tempo todo.

— E se nos desfizéssemos das nossas Teigus? – Run apontou para ele mesmo e Wave – Teria como reverter o efeito?

— Não acho muito aconselhável porque a Teigu pode cair em mão erradas – Najenda completou – E, se não achar outra pessoa compatível, a Teigu acaba voltando para o seu usuário.

— Uma vez – Akame continuou – Eu tentei esconder a Murasame em uma caverna no meio do deserto e fui para uma cidade de Xing. No dia seguinte, eu encontrei a Murasame em cima da minha cama como se alguém a tivesse colocado lá. E ninguém havia entrado naquele quarto.

— Akame – Wave se encolheu – você está me assustando!

— Destruindo as Teigus, então – Run insistiu.

— Não sei quanto suas Teigus estão infiltradas na alma de vocês – Akame suspirou – Bom, no meu caso, eu acho que, se a Murasame for destruída, talvez não seja algo muito bom para mim... – e olhou para o lado sem completar a frase.

— Mesmo assim, não acho que resolveria – Najenda sacudiu a cabeça – Suzanoo foi destruído há tanto tempo e, não espalhem essa notícia, por favor, mas minha saúde tem piorado gradativamente desde então.

— É o quê? – Edward estava perdido naquele diálogo – Isso significa que...

— Isso significa que estamos perdidos – Wave bagunçou os cabelos, com uma expressão de desespero – Fritos! Lascados!

— Mas Akame estava procurando por uma solução, não? – Run indicou a garota – Então, o que você achou?

— Sabe – Akame alisou o queixo – compartilhar minha existência com Murasame, permitiu que eu tivesse acesso a informações que eu não poderia saber. Por exemplo, a nossa realidade não é a única existente. Várias outras realidades existem ao mesmo tempo e se tangenciam como as camadas de um bolo.

— Será que todos os seus exemplos são comidas? – Edward resmungou.

— Deixa ela falar, cacete! – Wave reclamou.

— Na primeira vez que eu vi o Alphonse-sama fazendo Alquimia – Akame continuou – Eu não consegui entender como ele fazia isso. Mas, depois, eu cheguei a uma conclusão simples. Vocês usam a energia da Terra para poder fazer as transformações, mas, todas as vezes em que vocês fazem isso, abre uma espécie de porta para essas outras realidades.

— Porta? – Edward enrugou a testa – Como a Porta da Verdade?

— Não exatamente – Akame coçou o queixo – É meio difícil de explicar. Quando vocês fazem essas transformações, parecem que vocês estão criando coisas novas. Mas é só aparência. Na verdade, para todas as coisas que os alquimistas “criam”, existe um modelo em outro plano, fora do tempo e do espaço. O que acontece é, mais ou menos, uma transferência entre planos e tudo que vocês criam aqui é uma cópia de um modelo que já existe.

— Agora, você se superou – Edward jogou a cabeça para trás – Nem eu conseguiria imaginar algo assim.

— Será que ele não consegue ficar calado? – Run cochichou discretamente com Wave.

— O certo seria que as realidades não pudessem se comunicar, então essas trocas não seriam possíveis – Akame continuou – Mas, isso só acontece porque, bom, podemos chamar isso de “fluxo de energia”. É algo que está presente em todas as coisas, no entanto humanos não podem ver, apesar dos alquimistas conseguirem manipulá-la e, como essas trocas não interferem na Lei de Conservação de Massas, é algo aceitável dentro da ordem natural do Universo. O problema é quando isso envolve uma vida, seja humana ou animal.

— De que forma? – Edward voltou a olhar para Akame, interessado.

— A essência de uma vida se espalha no Universo quando essa vida morre – Akame falou, séria – E nunca mais ela irá se juntar como antes. Se alguém tenta interferir no ciclo da vida, essa comunicação entre as realidades é interceptada pela Lei Suprema porque isso provocaria uma ruptura nas Leis Naturais do Universo.

— Entendo – Edward cruzou os braços e pensou um pouco – Mas, espera um pouco – ele recomeçou – O que isso tem a ver com você e o Al?

— Eu achei que ele poderia me ajudar na minha relação com Murasame – Akame desviou o olhar de Edward – Murasame não pertence ao nosso mundo. Os demônios não podem transitar pelo nosso mundo sem um intermediário. Aconteceu algo, há muito tempo atrás, que fez com que eles fossem proibidos de viajar livremente entre os mundos. Murasame pode ter contato com a nossa realidade através de mim por causa de uma coisa que chamamos de “sincronia de almas”, mas Murasame é o meu familiar. Eu o proibi de vir para cá e ele deve obedecer minhas ordens. Mesmo que seja contra a vontade dele.

— Espera um pouco aí – Edward a interrompeu – Você disse que demônios não podem viajar sem um intermediário entre os mundos, então como você conseguiu entrar sozinha nos domínios da Verdade?

— Porque eu sou uma mestiça – Akame respondeu – Mestiços de humanos com demônios são raros e, por isso, são considerados perigosos. Demônios têm poder para se transportar para outros mundos, mas são proibidos de fazer isso. Humanos não são proibidos, mas sofreriam duras consequências se fizessem isso. Um mestiço pode viajar livremente entre mundos se souber o caminho. Apesar de que, na verdade, não existe uma separação clara entre mundo espiritual e mundo físico.

— Então – Edward enrugou a testa – você nem precisaria estar aqui entre nós, não?

Akame meneou a cabeça.

— Mas – Najenda pigarreou e lançou um olhar para Akame – Akame não ficará assim para sempre. Vamos reverter o efeito do veneno e ela voltará a ser totalmente humana, não?

— É claro – ela confirmou com a cabeça.

— Eu ainda não entendi como o Al entra nessa história – Edward resmungou.

— Eu pensei que, talvez – Akame coçou o queixo e comentou, um pouco sem graça – sendo ele um alquimista, ele poderia interromper a sincronia de almas entre eu e Murasame e eu poderia voltar a ser humana...

— Você está querendo dizer – Edward continuou – que o Alphonse teve apenas o azar de ser o primeiro alquimista a cruzar seu caminho?

— Bom – Akame olhou para o lado – eu pensei que, desde que a probabilidade não fosse zero, valeria a pena tentar...

— Você não acha que eu vou acreditar nessa maluquice, não é? Essa história está mal contada – Edward elevou um pouco a voz – E tem uma coisa que eu sempre tive dúvida. Quando você estava no quartel do exército, o doutor Marcoh disse que vários alquimistas analisaram a Murasame. Mas por que só o Al conseguia pegá-la?

— Murasame gostou dele – Akame deu de ombros.

— Apenas porque gostou dele? – Edward ergueu uma sobrancelha – Não tem nada a mais?

— Às vezes, a Teigu pode ter compatibilidade com outra pessoa, além do seu usuário – Run comentou – Coisa que só poderia acontecer se o usuário original estivesse morto ou incapacitado, o que não é o caso. É raro, mas acontece.

— E você ainda acha que o Al pode te ajudar nessa loucura? – Edward insistiu.

— Eu me enganei – Akame encolheu os ombros – Ele não pode me ajudar.

— Não pode te ajudar?! – Edward estava quase gritando – Você ao menos contou para ele toda essa maluquice?! Como ele poderia te ajudar se nem ao menos sabia onde estava se metendo?!

— Ele não pode me ajudar – Akame repetiu, sem olhar para ele.

— Então – Najenda suspirou – voltamos à estaca zero?

— Não totalmente – Akame balançou a cabeça – Mas, teoricamente, sim.

— Nós também iremos procurar uma solução – Wave olhou para Run, esperando por apoio – Nós estamos tão interessados quanto você, Akame.

— Com certeza – Run confirmou com a cabeça – Mas, por enquanto, vamos reduzir o uso de nossas Teigus ao mínimo. Usaremos apenas quando for estritamente necessário.

— O principal problema é interpretar todos aqueles símbolos do material que já conseguimos – Najenda olhou de Akame para Run – Tudo aquilo é muito antigo e complicado.

— É Alquimia, não é? – Edward perguntou – Mesmo sendo diferente da Alquimia do nosso país, eu e o Al podemos analisar. Aprendemos sobre vários tipos de Alquimia enquanto estivemos viajando. Só que – ele olhou para Akame – o Al vai precisar saber de tudo isso.

— Nada mais justo – Run sorriu, discretamente.

— Posso falar também com outros colegas alquimistas de confiança – Edward acrescentou – Não é cem por cento de certeza, mas a ajuda deles seria muito útil.

— Eu não sei... –Akame falava um pouco hesitante – Eu não acho que... Não acho que seria uma boa ideia vocês se envolverem nisso.

— Do que está falando, Akame? – Wave parecia incrédulo – Vocês não estavam mesmo procurando por alguém que fosse especialista em Alquimia? Nós já temos dois alquimistas que irão nos ajudar...

— Vocês não podem nos ajudar – Akame falou para Edward – Essa é uma pesquisa do diabo. Não é sensato se envolver nisso.

 - Você já nos envolveu nisso. Esqueceu? – Edward respondeu – Podemos começar a falar com outros alquimistas assim que voltarmos para Amestris...

— Bom, eu não pretendo voltar para Amestris – Akame encolheu os ombros.

— E aonde você vai, Akame? – Wave perguntou, surpreso – Eu estava pensando que você voltaria para Amestris conosco – e acrescentou, com um pequeno sorriso – O tal do Führer não tinha prometido um trabalho nas Forças Armadas para nós dois?

— Estava pensando em voltar para o Império juntamente com vocês – Akame indicou Najenda e Run com o queixo.

— Não sei se é uma boa ideia, Akame – Najenda meneou a cabeça – Apesar das coisas estarem bem mais calmas agora...

— Tenho algo importante para fazer lá – Akame coçou o queixo, levemente envergonhada – E, depois, eu vou desaparecer totalmente.

— E o Al foi informado sobre isso? – Edward ergueu uma sobrancelha.

— Eu vou aonde eu quiser – Akame encolheu os ombros, com um olhar indiferente.

— Não foi isso que eu quis dizer – Edward falou, com irritação – É que eu acho que o Al merece saber o que está acontecendo, não? E, quando eu falo isso, quero dizer tudo, incluindo essa loucura aí dos demônios e tal.

Akame abaixou os olhos e não respondeu.

— Eu acho que toda ajuda é bem-vinda – Najenda acenou com a cabeça para Edward – E, o quanto antes começarmos, melhor.

— Se quiserem também posso ajudar nos estudos – Run falou com Edward – Apesar de meus conhecimentos sobre Alquimia não serem muito extensos.

— Certo – Edward coçou o queixo – Agora, mudado de assunto, você me surpreendeu, assassina. Não sabia que você entendia alguns conceitos científicos tão complexos.

— Nunca disse que não entendia – Akame respondeu, olhando para o lado.

***************************

Na noite daquele mesmo dia, Ling Yao convidou Mustang e Najenda para um jantar particular onde ele pretendia discutir o futuro das alianças entre os três países e outras questões políticas. Os três se reuniram em uma mesa posicionada na varanda do palácio real, com uma bela vista para o pátio e o pomar do palácio.

— Estive pensando ultimamente nas dificuldades de ser um bom líder – Ling suspirou – Será que é possível exercer algum cargo de poder e permanecer fiel aos seus princípios?

— Entendo sua preocupação, rei – Mustang tomou um gole de seu chá – Afinal, é preferível que um líder seja amado ou temido?

— Já estou começando a concordar que é melhor ser temida do que amada – Najenda se recostou na cadeira e admirou a bela vista da varanda – As pessoas mudam de lealdade com muita facilidade. Isso porque é da natureza humana ser um pouco egoísta.

— Eu tenho um belo exemplo de como as pessoas podem ser irracionais – Mustang continuou – Pode não parecer, mas eu sou um veterano de outras guerras – e perguntou para Najenda – Ouviu falar da Guerra de Ishval?

— Você quer dizer – Najenda deu uma longa baforada em seu cigarro – da Guerra de Extermínio de Ishval?

— Infelizmente, participei dela – Mustang concordou, com pesar – Mas, antes do antigo Führer tomar a decisão extrema de chamar os Alquimistas Federais, houve pequenos conflitos não menos sangrentos. Certa vez, correu uma notícia na região de que uma ishvaliana grávida havia sido agredida por um amestrino. Ao mesmo tempo, os amestrinos acusaram um ishvaliano de ter roubado uma amestrina. Bom, nenhum dos boatos era verdadeiro, mas acham que eles queriam saber disso? Em menos de vinte e quatro horas, nos arredores de Ishval, as pessoas estavam atacando qualquer um que tivesse uma cor de pele diferente da sua. A polícia amestrina teve que ser acionada, mas eles tomaram partido dos amestrinos. Sessenta horas depois, a rebelião estava controlada com vinte e nove ishvalianos e onze amestrinos mortos e centenas de feridos. Isso sem contar o prejuízo material.

Si vis pacem, para bellum— Najenda alisou o queixo, com um sorriso triste – Essas tragédias não são exclusivas de vocês. Pior é quando os próprios cidadãos começam a brigar entre si. Vocês sabem que meu país passou por uma guerra civil há dois anos. Até hoje, estamos nos recuperando dos anos de conflito e destruição.

— E as várias tribos em que se dividem o Reino de Xing? – Ling completou – Muitos de nós estão brigando com os próprios parentes. Como o caso do meu meio-irmão.

— A propósito – Najenda usou um tom mais triste – eu sinto muito pelo que aconteceu com ele. Como ele está?

— Aparentemente – Ling deu um longo suspiro – nunca mais vai conseguir mexer o corpo do pescoço para baixo. Asami disse que cuidará dele a partir de agora, mas... acho que ela está se culpando pelo ocorrido.

— Bom – Mustang pigarreou para poder mudar o foco da conversa – Sabemos que as pessoas são estúpidas e que vivemos em uma constante guerra de todos contra todos. É nesse cenário que nossa importância é maior. Porque, para garantir a nossa tão desejada paz, os cidadãos confiam a nós a responsabilidade de sua proteção.

— A essência do poder consiste unicamente em ter a força suficiente para manter a paz, punindo aqueles que a quebram – Najenda deu um meio sorriso – Compartilho do mesmo ponto de vista.

— E juntos podemos fazer ainda mais – Ling acenou com a cabeça – Por isso, chamei os senhores aqui hoje. Quero fazer uma proposta.

— Que tipo de proposta? – Najenda o olhou por cima da sua xícara de chá.

— Bom, a Nação do Império está tentando retomar suas relações internacionais com outros países – Ling começou – E, por isso, acaba de estabelecer um acordo com a República de Amestris. E também tivemos uma negociação bem sucedida, resultando na assinatura do tratado de ajuda militar mútua entre o reino de Xing e o Império. Ao mesmo tempo, Xing e Amestris têm uma boa relação de anos. Por que não simplificarmos todos esses acordos?

— Não me diga que está sugerindo – Mustang franziu a testa – que devêssemos nos juntar em um único bloco?

— Somos países em processo de expansão econômica – Ling acenou – E podemos expandir ainda mais nossa influência na região. Isso será bom, não apenas para nós, como também para as outras nações ao redor. Pensem como isso iria fazer o comércio e o turismo crescerem.

— A ideia é interessante – Najenda alisava o queixo – Bom, vocês sabem que meu país fica muito mais ao leste, cercado por um grande mar, e existem várias outras ilhas de nações menores ao redor. Seria vantajoso nos unificarmos com as ilhas em um acordo de cooperação.

— E Amestris está precisando mesmo estender seu território – Mustang se apressou em explicar – Não com guerras. Mas, a população está crescendo muito, precisamos de mais recursos para garantir o bem-estar do povo amestrino. Estava pensando em incentivar a emigração. E, com isso, levar a cultura e o progresso amestrinos para outras nações mais atrasadas.

— E eu preciso reforçar minha liderança em Xing e unir as tribos – Ling encarou os dois, esperançoso – Então, estamos de acordo?

— Em uma aliança tríplice? – Najenda sorriu, discretamente – Por que não?

— É um bom nome – Mustang apontou para ela – A Aliança Tríplice.

— Vamos comemorar e oficializar nosso acordo na grande festa de amanhã – Ling comentou, animado – Aliás, pretendem ficar por mais tempo aqui?

— Infelizmente, não – Najenda negou – Deixei o Congresso cuidando de tudo na minha ausência. Mas é bom não deixá-los sozinhos por muito tempo.

— E eu também preciso voltar à Amestris – Mustang confirmou – Ficaremos apenas para a festa e depois partiremos. Preciso ainda organizar muita coisa no governo provisório.

— Entendo. Mas isso já é o começo de uma longa amizade entre nós. Vamos aproveitar e oferecer um brinde ao futuro da Aliança Tríplice – Ling ergue sua taça – E ao que o futuro nos reserva daqui para frente.

***************************

— Al! – Edward surgiu, chutando a porta – Não precisa ficar triste, irmãozinho. Eu cheguei!

Winry vinha logo atrás e lhe desferiu um doloroso cascudo.

— Você sabe o que é fazer silêncio? – ela ralhou com ele, com as mãos na cintura – Isso é um hospital, sabia?

— Sorte a minha que é um hospital – Edward esfregava o local atingido – Porque acho que agora vou precisar de um.

Finalmente, Alphonse havia sido liberado para sair daquele quarto de hospital. Ele não via necessidade em terem o obrigado a passar duas noites lá, mas preferiu nem discutir. Na verdade, Alphonse acordou, no dia seguinte ao seu retorno da realidade paralela, um pouco desorientado e sem lembrar memórias recentes. Ele conseguiu reconhecer Winry assim que a viu, contudo demorou um dia inteiro para lembrar quem era Edward. O médico havia dito que uma leve perda de memória após um choque era normal. A memória voltaria sozinha aos poucos. Fora isso, não sofreu nenhum efeito colateral grave aparente.

— Não se lembra mesmo de nada do que aconteceu quando esteve lá naquele outro lugar? – Winry indagou, receosa. Apesar de estar acanhada, ela também estava ansiosa para fazer aquela pergunta.

— Só algumas imagens confusas na minha cabeça – Alphonse enruga a testa – Espera! Tem uma coisa que eu lembro bem, sim. Mas eu só posso dizer quando chegarmos em Resembool. Aí a gente aproveita e conta para a vovó.

— Por que você não diz logo? – Winry fez bico.

— Não seja curiosa – Alphonse dá um sorriso maroto.

— Depois você fala – Edward os interrompeu – Vamos logo embora.

— Desculpa – Alphonse enrugou a testa – Mas quem é você mesmo?

Edward respondeu acertando o travesseiro da cama vizinha na cabeça de Alphonse.

— Não faz isso, seu idiota – Winry deu um novo cascudo em Edward – Não vê que ele ainda está confuso com tudo isso?

— Ele está mentindo – Edward segurou o galo na cabeça, aos berros – Confesse, Alphonse! Você está apenas fingindo!

— Não te conheço, senhor – Alphonse riu, com cinismo – Vocês dois estão é muito animados hoje de manhã.

— É seu irmão que me tira do sério – Winry cruzou os braços, emburrada – E então? Podemos ir?

— Ah, sim – Alphonse respondeu, vagamente.

— Sente-se melhor hoje? – Winry perguntou ao reparar na cara de interrogação de Alphonse.

— Sim. Estou bem – ele apressou-se em responder enquanto guardava suas coisas – Apenas tive um sonho estranho...

— Que tipo de sonho estranho? – Winry o ajudava a arrumar tudo também.

— Sonhei que conhecia uma garota loura que se dizia ser a melhor amiga de Akame – Alphonse enrugou a testa como se estivesse forçando a memória – Mas ela falava umas coisas estranhas... – inesperadamente, as bochechas de Alphonse ficaram vermelhas e ele coçou a nuca, envergonhado – Ah, deixa pra lá. É só um sonho bobo...

— Se envolve a assassina, deve ser bobo mesmo – Edward fez um bico – Nem em sonho ela para de atormentar?

— Não fale desse jeito da Akame-chan – Winry o repreendeu.

— Desse jeito como? – Edward devolveu, impaciente – Aliás, estive conversando com ela ontem, Al, e sabe o que ela me disse? Simplesmente, contou uma história bem louca com demônios e armas amaldiçoadas e, o pior, o pessoal daquele país de malucos dela acredita nessas doideiras. Dá para acreditar?

— De que história você está falando? – Alphonse perguntou, interessado.

— Ah, eu perguntei para ela sobre o que aconteceu com você na Verdade e ela continuou com as mentiras – Edward abanou as mãos, espantando uma mosca imaginária – Mas, eu tenho que admitir que ela é criativa. E não é que ela entende um pouco da nossa ciência?

— Não me diga que isso tem alguma coisa a ver com aquelas manchas estranhas que aparecem na pele dela, não é? – Alphonse enrugou a testa.

— E como eu vou saber? – Edward faz uma cômica careta emburrada – Ela falou uma coisa lá de ter um demônio na espada dela e que tem uma maldição – e abanou as mãos novamente – Depois eu conto os detalhes. E, por causa disso, a ministra do Império pediu para analisarmos um material de Alquimia sobre a fabricação das Teigus. Ou, pelo menos, o que sobrou dos arquivos originais.

— Mas vocês só vão fazer isso depois de chegarmos em casa, não é? – Winry parecia chateada com a ideia dos dois começarem a estudar Alquimia pelo resto da viagem de volta.

— Sim. Preciso falar com algumas pessoas lá em Amestris também – Edward concordou – E, a propósito, a assassina disse que não voltaria com a gente para Resembool.

— E por quê? – Winry se assustou.

— Ela disse que precisava fazer algo importante no país dela – Edward falou, sem muito interesse – Eu acho que foi uma desculpa e também uma falta de consideração com a vovó. Ela nem ao menos vai se despedir da velha...

— Akame tem o direito de ir para onde ela quiser, Ed – Alphonse olhava para o chão, com a expressão séria – Ela não deve satisfação a ninguém.

— É, mas ela ficou comendo de graça na nossa casa – Edward insistiu – E nem ao menos se preocupou em avisar...

— Eu tenho a impressão que eu fiz alguma idiotice que chateou a Akame – Alphonse suspirou, mais para si mesmo – Durante esses dias que ficamos lá...

— Dias? – Winry perguntou, confusa – Você perdeu a noção de tempo mesmo, não foi? Na verdade, vocês passaram mais de quatro horas como se não estivessem em lugar nenhum!

— Quatro horas? – Alphonse coçou a nuca – Parece que foram dias. O tempo deve passar diferente nesse lugar...

— Você acha que deixou a Akame chateada? – Winry fez uma careta de pena.

— Logicamente, ela não fala – Alphonse encolheu os ombros – Mas eu tenho certeza que ela está chateada. Não que eu esperasse que nosso relacionamento fosse durar tanto...

— Ora, não se sinta culpado – Edward aconselhou – Quem perdeu foi ela. Aliás, ela nem merece você, Al. Vai ser melhor...

— Eu vou ao banheiro – Alphonse o interrompeu, sorrindo forçadamente e dirigindo-se para a porta – Quando eu voltar, já poderemos ir. Ah, e Ed – Alphonse deu meia volta, puxando algo do bolso – Não me pergunte como, mas isso estava preso em meu braço.

— A pedra filosofal?! – Edward arregalou os olhos – Onde achou isso?

— Não sei – Alphonse deu de ombros – Não me lembro de ter achado nenhuma pedra filosofal. Quando voltei da Verdade, já estava com a pedra presa em fitas adesivas no meu antebraço.

— A assassina não usou a pedra? – Edward resmungou consigo mesmo – Então, como ela conseguiu voltar?

— É o quê? – Alphonse franziu a testa, confuso.

— Nada, não. Pensei alto – Edward guardou a pedra dentro do bolso – Pode deixar que eu vou cuidar disso. E vai logo nesse banheiro, Al. Quero ir logo embora daqui.

Nem bem a porta bateu, indicando a saída de Alphonse, para Winry desferir um novo cascudo na cabeça de Edward.

— Mas por que você está me espancando, mulher? – ele perguntou, segurando a cabeça.

— Por que você é um idiota insensível – ela rebateu – Você viu como ele ficou com a notícia?

— E o que posso fazer? É a mais pura verdade!

— Você não aprontou alguma coisa para Akame-chan decidir não voltar com a gente, não é? – Winry mostrou o punho fechado de forma ameaçadora.

— Eu juro que não tive nada a ver com isso – ele disse, rapidamente – Ela quem decidiu.

— Coitado do Al – Winry suspirou – E ainda tem um irmão idiota e insensível para atrapalhar.

Edward revirou os olhos e bufou de impaciência.


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Notas finais do capítulo

Não sei se a primeira parte está muito clara com toda a explicação de Akame e tal. Outro dia, eu estava esperando o ônibus e reparei que o tal "fluxo de energia" que ela fala lembra o rukh de Magi. Ah, e lembrem-se que Akame não é uma pessoa totalmente confiável.
...
Najenda fala o ditado latino "Si vis pacem, para bellum" que quer dizer "Se deseja a paz, se prepara para a guerra".
Ah, e esse diálogo deles foi meio que uma mistura de "Leviatã", de Thomas Hobbes, com "O Príncipe", de Maquiavel. Aliás, se vocês forem bastante curiosos, experimente colocar o título do capítulo de hoje no Google e depois me digam o que acharam.
...
E eu acho que não esqueci nada dessa vez. Ah, quase esquecia! Bom, não sei se o Nyah tem esse recurso mas, por ocasião de estarmos perto da reta final, publiquei um pequeno jornal com curiosidades da fanfic no Spirit. Pega o link:
https://spiritfanfics.com/perfil/kurome-sama/jornal/ultimos-capitulos-de-a-assassina-e-o-alquimista-8146493
...
Só um último comentário. Eu disse que iria passar o feriado escrevendo meu relatório. Imagine ainda fazer isso com a música de encerramento de Youjo Senki tocando em loop dentro da sua cabeça.

Até a próxima!



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