A Assassina e o Alquimista escrita por Lilás


Capítulo 45
Humanos Entre Nós


Notas iniciais do capítulo

Oiii! Eu não morri e voltei!
Demorei alguns dias a mais porque eu tive uma semana terrível. Trabalho para apresentar, mil reuniões, puxão de orelha de orientador e ainda fiquei doente (quer dizer, ainda estou).
Mas não vamos falar dos meus problemas, e sim, do capítulo novo. Bom, pode parecer repetitivo, mas não tive muito tempo para revisar esse capítulo. Para compensar a demora, resolvi trazer a versão na íntrega, sem cortes. Acabou virando o maior capítulo de todos e também o mais irregular, na minha opinião. Peço paciência porque algumas passagens só poderão ser explicadas nos próximos capítulos. Bom, boa leitura.



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Murasame caia para trás em câmera lenta mas, antes que conseguisse tocar o chão, é atingido por um chute circular e voa na direção de uma floresta, arrancando árvores pelo caminho.

— Por que não usa sua espada? – pergunta, se levantando com dificuldade e encarando a figura de Akame em sua forma demoníaca e emanando uma estranha aura avermelhada – Não seja tão pretensiosa. Já disse para não me subestimar...

Akame continuou o olhando com o rosto sério. Lentamente, ela saca novamente sua espada e as chamas ao redor se agitam e oscilam no ar.

Murasame arregala os olhos de surpresa, porém sua expressão muda para um sorriso satisfeito.

— Fantástico – Murasame gargalha e pula para o alto como uma criança, com a espada em punho – É assim mesmo que eu gosto, Kame-Kame-chan!!

Os dois recomeçam a trocar golpes de espada, mas o sorriso de Murasame não dura muito porque Akame estava bem mais rápida e, nas poucas vezes em que Murasame conseguia atingi-la, seus ferimentos estavam se curando instantaneamente. Antes mesmo de sentir dor, os cortes sumiam da pele de Akame sem deixar rastros.

Sentindo-se pressionado pelo poder de Akame, Murasame tenta se afastar dela, subindo ainda mais, contudo Akame surge inesperadamente na frente dela e o chuta na direção do chão. Durante a queda, Akame pisa nas costas de Murasame, como se ele fosse uma prancha viva, e o empurra mais para baixo. Sem muitas opções para escapar, Murasame puxa uma mecha do cabelo esvoaçante de Akame e faz com que ela se desequilibre. Os dois acabam caindo agachados no chão e provocam uma grande onda de choque, fazendo uma cratera e jogando destroços para os lados.

— Não quero mais brincar – Murasame materializa uma porta suspensa no nada e atira-se rapidamente para dentro dela – Saída pela esquerda – e solta um beijo para Akame antes de bater a porta.

Akame pula na direção dele para tentar impedir. Ela só tem tempo de dividir a porta ao meio com sua espada, mas apenas caem os dois pedaços destruídos da porta. Nenhum sinal de Murasame. Akame cutuca os restos da porta com a ponta do pé e suspira profundamente. Detestava quando Murasame fazia isso.

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Alphonse abriu os olhos, mas não adiantou nada. Estava tão escuro que não fazia diferença ficar com os olhos abertos ou fechados. Ele esperou os olhos se acostumarem à escuridão e, depois de piscá-los várias vezes, chega à conclusão de que isso nunca iria acontecer. Resolve levantar-se lentamente e estende os braços na frente do corpo, tateando o vazio.

O coração de Alphonse quase sai pela boca ao sentir uma mão segurar firmemente seu braço. Antes disso acontecer, ele não sentiu a presença de ninguém ao seu lado.

— Sou eu – a voz de Akame chegou aos seus ouvidos.

— Akame-chan – chamou, desesperado – O que está acontecendo? Onde nós estamos?

— Fique perto de mim – a voz responde.

Alphonse aperta a mão estranha entre seus dedos. Decididamente, aquelas eram as mãos de Akame, mas ele não conseguia ver se era ela.

— Um humano poderia vagar aqui para sempre e nunca acharia a saída – a suposta voz de Akame continuou – Só precisamos continuar subindo – e, com um leve puxão, conduziu Alphonse pela escuridão com passos decididos.

Alphonse andava um pouco receoso e tentava achar algo para servir como ponto de referência, sem sucesso.

— Você disse para continuarmos subindo? – resolveu quebrar o silêncio – Não parece que estamos subindo. Estamos andando em linha reta e no plano.

— Estamos, é? – foi a única resposta de Akame.

Andaram por algumas longas horas, pelas contas de Alphonse, até avistarem um minúsculo ponto luminoso no horizonte. Com os olhos desacostumados à luz, Alphonse piscou várias vezes e demorou a perceber que a luz também vinha na direção deles. Quando o ponto luminoso ficou mais ou menos do tamanho de uma laranja, ele explodiu em uma luz brilhante e espalhou pedaços para todos os lados. A luz provocada pela explosão devorou o restante da escuridão e Alphonse finalmente conseguiu ver que eles estavam no meio de um espaço totalmente branco e vazio. Sem em cima ou embaixo.

— Akame-chan – Alphonse se soltou da mão de Akame e deu dois passos para trás – Onde nós realmente estamos?

— Sabe qual o problema de manipular memórias que não são suas? – Akame perguntou de costas para ele. Até agora, Alphonse ainda não tinha visto o rosto de Akame – Chega o momento em que não é mais possível saber quais são as verdadeiras e quais são as inventadas.

— Do que está falando, Akame?

— Nada – Akame deu de ombros e se virou para ele – Vamos embora – e esticou a mão para segurar a mão de Alphonse.

— Vai me dizer o que era aquilo? – Alphonse apontou para onde ocorrera a explosão. Aparentemente, ele não percebera o gesto de Akame e a garota acabou pegando o nada.

— Não será necessário – Akame encolheu os ombros e se aproximou mais dele – Aqui – ela deu um bote e segurou o pulso de Alphonse de surpresa – O que foi?

— Não é nada – Alphonse suava frio – Estou só um pouco preocupado com o Edward e todo mundo... Será que está todo mundo bem?

— Hum – Akame pondera um pouco – não sei se isso vai te ajudar, mas... – ela fica na ponta dos pés e aproxima o rosto de Alphonse.

— O QUE ESTÁ FAZENDO?! – Alphonse pula para trás e quase tropeça nas próprias pernas – Aqui não é lugar para isso!!

— Ninguém vai vir aqui – Akame encolhe os ombros.

— Mesmo assim – Alphonse gaguejava, nervoso – E não estávamos indo para casa?

— Ah, ninguém vai reparar se demorarmos um pouquinho mais – ela se aproxima novamente de Alphonse enquanto ele recuava – Não tivemos um minuto de sossego para ficarmos juntos – e cruza os braços, erguendo uma sobrancelha – A menos que você não queira mais nada comigo.

— Não é isso – Alphonse olha desconcertado e perdido para todos os lados – Nós ainda não...

— Não quer que eu chegue perto – Akame aperta o braço de Alphonse, com um sorrisinho malicioso – Não é, Murasame?

— Akame-chan...

— Achou que poderia escapar para o mundo humano e eu não iria perceber? – ela sussurrou.

Alphonse deslizou rapidamente para trás e parou a alguns metros de distância de Akame.

— E saia do corpo dele – Akame apontou para Alphonse – Não lhe dei permissão para isso.

— Você não bateria em Alphonse Elric – Alphonse abriu a boca, mas acaba saindo a voz de Murasame – não é, Kame-chan? – e acrescenta, com menos certeza – Bateria?

Akame responde fazendo um sinal com o dedo como se estivesse o convidando a se aproximar.

No corpo de Alphonse, Murasame dá meia volta e tenta atravessar uma porta que apareceu miraculosamente atrás dele. Mas, dessa vez, Akame o derruba no chão.

— Você não é nem um pouco delicada – ele rosna com a voz abafada enquanto Akame sobe em suas costas e imobiliza seus braços – EI! PARE!! PARE!! – parecia que Akame estava puxando os cabelos de Alphonse mas, na verdade, ela puxava um punhado de fios prateados que saíam da cabeça dele – Se você forçar mais, vai matá-lo!!

— Prefiro vê-lo morto a vê-lo manipulado por você – e, sob os gritos de Murasame, Akame dá um último puxão, desprendendo totalmente os fios de Alphonse.

O alquimista cai de bruços, inconsciente, mas Akame não estava olhando para ele. Ela encarava seriamente para outra pessoa que surgiu na direção onde ela jogara os fios.

— Que desagradável – Murasame se levantou, massageando a testa e fazendo uma careta de dor – Pegou pesado dessa vez.

— Nunca mais chegue perto dele – Akame fala em um tom frio – Eu te proíbo.

— Ora, ora – Murasame olhava para o lado, com um sorriso debochado – Você vai me obrigar?

Imediatamente, um vento forte esvoaça os cabelos de Akame e o ambiente começa a escurecer. Grossas nuvens negras aparecem no alto e o chão fica espelhado, refletindo apenas a figura assombrada de Murasame e Akame, que voltara a ter tatuagens vermelhas e olhos injetados.

— Você também faz efeitos especiais – Murasame ri, nervoso, quando um raio corta os céus.

Akame estala os dedos e uma pequena chama avermelhada acende sobre sua mão. A chama balança de maneira irregular e, em questão de segundos, muda gradativamente de laranja para amarelo, até terminar por ficar azul.

— Você consegue aumentar a temperatura de suas chamas? – Murasame perguntou, impressionado – Isso é novidade para mim.

Akame faz apenas um pequeno movimento com os dedos e a esfera de fogo azulado voa em alta velocidade na direção de Murasame, explodindo violentamente. Quando a fumaça se dissipou, Murasame havia sumido completamente.

— Você acha que eu vou ficar parado esperando enquanto você me pulveriza? – Murasame flutuava no ar, logo acima da cabeça de Akame.

Dando uma cambalhota, Murasame aterrissa atrás de Akame em uma distância segura. Ou, pelo menos, era o que ele achava. Mal ele toca no chão e é surpreendido por uma gigantesca bola de energia explodindo bem na frente dele e o jogando a muitos quilômetros de distância.

Murasame nem teve tempo de se levantar e sentiu ser puxado pelos cabelos.

— Espere! – ele pediu, fazendo uma careta de dor – Eu não disse que posso tornar você humana de novo?

— Você não pode fazer isso – Akame rebateu, friamente.

— Você não sabe tudo sobre mim – apesar da dor, Murasame deu um meio sorriso debochado – Eu não estava mentindo naquele nosso acordo. Eu realmente posso reverter o efeito do veneno em seu sangue. Melhor que isso. Eu posso limpar totalmente o seu sangue. Será como se nada tivesse acontecido.

Akame largou os cabelos de Murasame e o arrastou pelo colarinho até uma pedra, onde colocou Murasame, sem nenhum cuidado, sentado no chão e virado de costas para a pedra.

— Fale – Akame sibilou.

— Seja um pouco mais gentil – Murasame sorria levemente, apesar de estar todo machucado e chamuscado – Bom, um humano que passa por um processo semelhante ao seu e sobrevive é realmente raro. Mas,o caminho inverso também não é totalmente impossível. As possibilidades são baixas, mas não é totalmente zero.

— Fale logo o seu preço – Akame pediu, impaciente.

— Você sabe como ninguém que, às vezes, é preciso sujar as mãos para poder limpar toda a sujeira – as feridas de Murasame estavam praticamente curadas, mas sua armadura ainda estava chamuscada – E eu não estava blefando. Você realmente precisa do garoto ali.

— Como assim?

— A alma dele em troca da sua – Murasame inclinou o corpo para frente e esfregou as costas, fazendo uma careta como se estivesse sentindo dor – Não há outro jeito.

— E por que isso? – Akame arregalava os olhos.

— Não me faça contar toda aquela história do bode-expiatório. Ora essa, você achou uma alma pura... uma alma que conheceu os segredos da Verdade... Quantas almas no mundo inteiro passaram por isso? Alphonse Elric nem sabe o quanto absorveu de conhecimento e, levando em conta que ele não passa de um humano, ele não aguentaria o choque de se lembrar de tudo – Murasame ergueu o queixo – Mas, e daí se acontecer algo com ele durante o processo? O que importa é que você conseguiria o que quer e continuaria viva, não? O vencedor sobrevive.

— Eu vou sobreviver, sim – Akame disse entre os dentes, com uma expressão irritada – Mas nos meus termos. Não nos seus.

— Não sou eu quem estou dizendo isso. É um ritual antigo – Murasame limpou o canto da boca sujo de sangue com as costas da mão – De fato, a única alma que poderia ser trocada pela sua é a dele. É a única maneira que eu conheço.

— Mas não quer dizer que é a única que existe – Akame franziu a testa.

— Faça como quiser – Murasame torce a boca, desdenhoso – Mas não esqueça que você é tão amaldiçoada quanto eu.

— Vamos embora daqui – ela deu as costas para ele e se afastou, sem olhar para trás.

— E por que eu deveria? – Murasame gritou – Eu não fui derrotado.

— Não me obrigue... – Akame se virou para ele, em tom de ameaça.

Contudo, Murasame já estava de pé e totalmente recuperado. Mais que isso, seu corpo começou a sofrer alguma espécie de mutação. Os olhos de Murasame se tornaram imediatamente injetados e tatuagens semelhantes as de Akame se espalharam sob sua armadura. Porém, um pouco diferente de Akame, sua aparência era ainda mais assustadora e sombria, emanando uma aura sinistra e intimidadora.

Murasame atacou imediatamente, soltando na direção da garota e esmagando o local onde Akame estava com um soco. O chão afundou com a força do golpe e uma gigantesca cratera se formou sob seus pés. Mas, ao se levantar e esperar a poeira se dispersar para checar se realmente acertara seu alvo, não encontrou nada. Na verdade, Akame flutuava no alto, acima de sua cabeça, com a espada envolvida em chamas azuis, pronta para desferir um golpe poderoso.

Um risco luminoso cortou o ar de cima a baixo e Murasame se desviou, mas não conseguiu evitar ser atingido. Com sangue jorrando de uma imensa ferida no peito, ele invocou novamente sua espada e aparou um novo golpe de Akame. Logo, a ferida tapou como se nada tivesse acontecido, porém Akame estava sem paciência e continuou desferindo sucessivos cortes contra Murasame que se defendia de todos com um sorrisinho no canto dos lábios.

— Está anulando meus golpes, Akame? – Murasame perguntou depois de terem batido as espadas várias vezes, claramente, com menos força que antes – Por que está absorvendo o impacto...? Ah, entendi. Isso é para que Alphonse Elric não sofra com o nosso pequeno debate, não?

— Achei que ele fosse valioso para você – Akame mantinha a pose de ataque, analisando os movimentos de Murasame, a poucos metros de distância.

— E é. Mas não disse que precisava dele inteiro – Murasame corre na direção de Akame e os dois comprimem as espadas uma contra a outra – Aliás, gostei da ideia. Se você receber um único golpe meu com toda essa energia acumulada, vou fazer um belo estrago em você.

Akame range os dentes e o empurra para trás. Murasame se aproveita disso e recua um pouco, apenas para atacar a cabeça de Akame novamente. Dessa vez, ela não consegue se desviar tão bem e Murasame acerta o rosto dela de raspão. A energia que escapa do golpe ricocheteia e explode um pouco distante deles, jogando uma grande quantidade de pedras e poeira para cima.

— Não se preocupe. Também estou tentando evitar acertá-lo – Murasame sorri, sarcástico – Mas, você deve reconhecer que acidentes acontecem...

Uma trilha de sangue escorre pela testa de Akame e ela limpa com as costas da luva. Quando ela retira a mão, a ferida já havia sumido completamente.

Akame voa na direção de Murasame que, ao invés de se preparar para o iminente ataque, crava a espada no chão e se agacha. Ao perceber isso, Akame arregala os olhos e freia no caminho, afundando os pés no chão e deslizando um pouco antes de conseguir parar e dar meia volta a toda velocidade.

Murasame concentra bastante energia em sua espada e, ao afundar a espada no chão, essa energia se converte em uma onda de fogo que se alastra como um tsunami e incendeia o cenário ao redor, destruindo tudo pelo caminho.

Akame chegou facilmente à conclusão que, mesmo se não fosse atingido diretamente, Alphonse ficaria mais bem passado do que seu jantar na noite anterior. Ela pula na frente do alquimista caído e posiciona seus braços em defesa, preparando-se para receber o golpe.

E realmente foi um golpe intenso. Akame rangeu os dentes enquanto tentava suportar o máximo que podia, desviando toda aquela energia e poder de fogo apenas com as mãos e a espada. O esforço foi tanto que começou a escorrer sangue de seu nariz e ouvidos.

— Que previsível – Murasame balançava a cabeça, desdenhoso, após a poeira abaixar novamente – Sabia que você iria fazer isso.

Murasame se move em alta velocidade e ataca Akame novamente antes dela conseguir se recuperar. Dessa vez, Akame estava mais lenta e não conseguia absorver direito os golpes de Murasame, fazendo a energia escapar pelos seus pés e mãos e quicar para os lados, explodindo bem perto deles.

— Se continuar desse jeito, nós vamos passar meses nisso – Murasame se afastou um pouco para poder analisá-la melhor – Mas tenho outros compromissos, vou viajar no feriado... É melhor acabar logo com isso de uma vez por todas.

Murasame concentra novamente energia, mas dessa vez ela explode e ele é envolvido por uma chama alaranjada gigantesca. Akame é obrigada a proteger o rosto e se segura para não ser jogada para trás. Murasame surge do meio da poeira e ataca Akame de surpresa com a espada envolvida em chamas.

— O que eu estou achando – Akame rebate fácil o golpe de Murasame e chuta suas costas – é que você está no seu limite e, por isso, está agindo de maneira desesperada – ela empunha a espada – Essa luta não vai demorar mais.

— É verdade que eu costumo negar as aparências e disfarçar as evidências – Murasame sorri de lado – Mas não se engane. Eu ainda posso lutar por muito tempo. Você sabe.

Os dois voltam a trocar golpes poderosos com a espada, com a espada de Murasame envolvida em chamas. E Akame estava certa em um ponto porque as pancadas de Murasame se tornaram cada vez mais desesperadas e furiosas.

— Por que você – Murasame gritava uma palavra a cada batida – não se rende a mim? Você não passa de uma humana...

Mesmo esse descontrole de Murasame era perigoso e Akame precisou tomar cuidado de não ser atingida pelas chamas impetuosas. Realmente, se ela fosse atingida de frente com aquela energia acumulada, sofreria muito dano. Ela já estava muito cansada porque aquele embate durava horas e não poderia confiar muito na regeneração.

Depois de se defender de um golpe pela centésima vez, Akame sentiu uma fraqueza e cambaleou, confusa, para trás.

— Você não parece muito bem... – Murasame sibilou.

Akame respirou fundo e tentou se manter firme, mas sua visão ardia e sentiu estar com febre.

— O trunfo é uma faca de dois gumes – Murasame se aproximou, lentamente – Seu corpo ficou mais forte, é verdade, mas o veneno também se fortalece e ataca cada um dos seus órgãos pelas suas veias, até afetar o seu sistema neurológico. Logo, não será você quem dará as cartas aqui...

As pernas de Akame fraquejam e Murasame aproveita para disparar uma rajada de fogo contra ela. Akame se desvia precariamente e acaba caindo no chão. Antes que ela conseguisse levantar, ele a segura pelo pescoço e a ergue do chão.

— Não importa o quanto você suporta a dor e o quão poderosa você fique – Murasame aperta o pescoço de Akame – Você ainda tem um corpo humano e vulnerável.

Com toda a sua força, ele joga Akame contra o chão e uma imensa cratera se abre sob seus pés. Akame não conseguiu absorver o impacto como antes e acabou no fundo do buraco, bastante machucada. Porém, ela se levantou com dificuldade e encarou Murasame com determinação.

— Bom, eu já cheguei no meu limite – ela estalou o pescoço – Mas, você tem razão. É melhor acabar com isso de vez.

Murasame sente um arrepio desagradável na espinha e sua expressão treme.

— O que você... ? – ele pula para trás, o mais longe possível, quando sente uma aura sinistra emanando de Akame – Espere um pouco... Você não vai... ?

Akame respira fundo, com os olhos fechados, e um trovão retumba no céu. O vento começa a circular mais rápido e o chão treme. Pedras, galhos, árvores e casas voaram longe e chamas azuladas envolveram Akame que continuava com os olhos fechados.

— Ei! Espere! – Murasame se recuperou do choque e empunhou a espada – Eu não vou deixar – e, dando um berro, pulou na direção de Akame, contudo sua arma se desmanchava quanto mais próximo ele chegava da garota.

Murasame olhou, perplexo, da sua espada destruída para Akame, que estava novamente com os olhos abertos e com sua espada em posição, preparada para aplicar um poderoso golpe.

— Ah, merda. Isso vai doer... – a imagem da garota com sua espada envolvida em chamas azuis, refletida na íris de seu olho, foi a última coisa que Murasame viu antes de ser atingido por uma verdadeira avalanche de chamas, que simplesmente o aniquilou e tudo mais ao redor, em um raio de uns seis quilômetros.

Akame caminhou, completamente exausta, por entre os restos chamuscados daquela réplica da rua principal da Capital, pensando ter exagerado dessa vez. Com certeza, Murasame demoraria semanas para conseguir se regenerar totalmente.

Enquanto ela andava, o ambiente se desmanchava, dando lugar para um espaço completamente branco e vazio. Vazio, exceto por uma pessoa caída de bruços no meio do caminho. Ele não parecia ter sofrido com as chamas e nem mesmo suas roupas estavam queimadas.

— Desculpe – Akame se ajoelhou ao lado de Alphonse, virando-o de frente e sacudindo a poeira do colete dele – Eu deveria ter me preocupado apenas com a única pessoa viva aqui.

***************************

Os feridos já haviam sido recolhidos do estádio semidestruído de Xing. Mais da metade das pessoas tinham ido embora, mas um grupo agitado continuava a discutir calorosamente no centro do campo coberto de escombros.

— Muito estranho a subtenente ter sumido misteriosamente dessa forma – Olivier Armstrong cruzou os braços, usando um tom zangado – Você está por trás disso, não é, Mustang? Sabia que a subtenente poderia ser minha substituta em Briggs para que eu ocupasse meu lugar de direito como Führer e já deu um jeito de sumir com a garota, não é?

— O que você está insinuando? Eu não preciso usar de trapaças!! – Mustang esbravejava – E nem pense em levar a subtenente para Briggs porque ela é a MINHA subordinada!! Ela e a capitã Hawkeye são insubstituíveis!!

— Bom saber que tem consideração conosco, ó amado Führer – Breda comentou, irônico.

— Parece até que estão em uma disputa de custódia – Havoc acendeu um cigarro e sentou ao lado do colega para apreciar o espetáculo protagonizado por seus superiores.

— Se eu estivesse aqui, teria ido ajudar a Akame – Wave deu sua opinião.

— Ou atrapalhado mais ainda – Run adicionou.

— E eu se estivesse aqui – Alex Armstrong completou o comentário do marinheiro – teria segurado os dois com os meus braços fortes e nenhum deles teria sido levado. Pobres crianças!

— Eu poderia trazê-los de volta com minha pedra filosofal – Ling repetia pela décima quinta vez.

— Eu posso ir atrás do Alphonse-san – May levanta uma mão.

— Eu já disse que ninguém vai fazer essa maluquice de novo!! – Winry devolveu com raiva.

O único a não falar nada era justamente o Edward. Ele estava sentado encolhido em um canto, olhando para o nada.

— A família Armstrong tem influência no exército, Mustang – Olivier continuou com as provocações – Mesmo você sendo o Führer, posso providenciar a transferência da subtenente em dois tempos.

— Só se for por cima do meu cadáver – Mustang rangeu os dentes.

— Vocês já perguntaram para a subtenente se ela vai querer ficar com qualquer um de vocês? – Riza perguntou, sabiamente, mas os dois brigões não pareciam escutar.

— Está nervoso assim – Olivier continuou – porque tem medo. Sabe que eu seria uma adversária difícil. Com certeza, se eu estivesse na Central na época da votação, eu seria eleita Führer. Mas ainda falta a Câmara aprovar sua permanência, não é? – e deu um sorrisinho debochado – Vou começar minha campanha...

— Não tenho medo de você – Mustang rosnou – Eu fui escolhido apenas pela minha competência. E, a propósito...

— Por favor – Najenda tentava falar, porém todos discutiam ao mesmo tempo e não lhe davam atenção – Com licença... Escutem aqui. Isso tudo que aconteceu – Najenda continuava a ser totalmente ignorada – Eu estou falando... SERÁ QUE VOCÊS PODEM CALAR A BOCA?!!

Na mesma hora, todos pararam de falar e olharam para ela.

— Melhor assim – Najenda dá um breve suspiro – Por favor, será que alguém poderia explicar o que aconteceu com a Akame?

— É mesmo – Wave olhou em volta – O que foi que aconteceu mesmo?

— Bom, é meio complicado de explicar... – Winry coçou a cabeça.

— Ela e meu irmão foram mandados para os domínios da Verdade – Najenda virou-se para Edward que continuava sentado no chão e com o rosto oculto pelos cabelos.

— E o que é isso? – ela se aproximou mais dele.

— Hora da aula de Alquimia – Fuery comentou, brincalhão, com Breda, mas Riza fez sinal para que ele ficasse quieto.

— Não é exatamente um lugar físico nesse mundo. É como se fosse um plano superior – Edward se levanta, mas continua olhando para baixo – Existe uma entidade que regula a Lei da Troca Equivalente no Universo, a principal lei da Alquimia. Quando um alquimista é vaidoso demais e tenta se igualar a Deus, ou seja, tenta reviver alguém que já não faz mais parte do fluxo do mundo, essa pessoa cai nos domínios da Verdade.

— Entendo – Najenda alisa o queixo – E foi isso o que aconteceu com Akame?

— Não exatamente – Edward coçou a nuca – Eu não sei bem o que o Kalin fez. Parece que ele ativou, sem querer, o caminho para o Portão da Verdade e acabou puxando o Alphonse junto. E, depois, aquela doida veio com uma história surreal, tipo “eu sou tão impossível que nem a Morte me quer”, e foi atrás dele. Ela afirmou que era a única pessoa que poderia trazer o Alphonse de volta.

— Logicamente – Najenda cruzou os braços – Se Akame não consegue, ninguém mais consegue.

— Por que está afirmando isso? – Edward ergueu uma sobrancelha, desconfiado – A senhora sabe de alguma coisa sobre Akame que nós não sabemos?

— Hum, bem... – Najenda pigarreia.

— A vida do meu irmão caçula está nas mãos dela – Edward a interrompeu – Eu tenho o direito de saber, não?

Porém, antes de Najenda se decidir contar ou não o que sabia, uma forte luz azulada surgiu de repente e todos cobriram os olhos enquanto uma inesperada rajada de vento balançava seus cabelos e roupas.

— Apareceu na hora certa como sempre, subtenente – Mustang sorriu quando finalmente conseguiu abrir os olhos.

Alphonse surgiu sentado no chão, com o corpo encurvado e a cabeça pendendo precariamente para frente, enquanto Akame o amparava pelos ombros, ajoelhada ao seu lado.

— Eles voltaram!! – Winry pulou de alegria e correu até eles.

De imediato, alguns deram vivas de alegria e uma roda se formou ao redor deles.

— AL!! – Edward afastou os outros para o lado para poder ver melhor – O que você...?

Alphonse olhou para Edward com os olhos semicerrados como se não o conhecesse.

— Ei, Alphonse – Riza estalou os dedos na frente do rosto de Alphonse – Está nos ouvindo?

A cabeça de Alphonse caiu para o lado e ele piscou os olhos várias vezes. May se aproximou e puxou as pálpebras de Alphonse para ver como estavam suas pupilas.

— Parece que ele nem está aqui – May comentou.

— Alphonse, não durma – Riza deu alguns tapinhas no rosto dele. Breda e Havoc apoiaram as mãos nas costas de Alphonse para que ele não caísse – Por que ele está... ?

— O QUE VOCÊ FEZ COM O MEU IRMÃO?! – Edward levantou-se em um rompante e olhou para Akame que já estava em pé ao lado deles.

— É normal que ele fique assim – Akame deu de ombros – Amanhã, ele estará melhor.

— Normal coisa nenhuma!! – ele esbravejou – Todas as vezes em que eu ou o Al fomos para o lado da Verdade, nunca voltamos assim!!

— Eu já falei que ele vai melhorar. Só precisa de um pouco de descanso – Akame franziu as sobrancelhas – Eu trouxe ele de volta como prometi. O que mais você quer?

— Exatamente. Pare de reclamar de barriga cheia, Edward – Olivier apontou para um Alphonse semiconsciente no chão – O garoto está quase normal. Logo vai estar tudo bem. A subtenente também precisa descansar...

— E eu concederei uns dias de folga para ela – Mustang se adiantou – Afinal, a subtenente é a MINHA subordinada.

— Chega de brigas – Winry pediu – Tanto o Al-kun quanto a Akame-chan ficaram horas nesse tal lugar aí e os dois precisam de um pouco de descanso.

— É mesmo – Ling se adiantou – E eu, como um bom anfitrião, providenciarei quartos para que todos possam descansar depois desse dia tumultuado.

Akame apenas acenou com a cabeça em agradecimento. Apesar de não aparentar, ela estava completamente esgotada.

— Nós podemos levar o Alphonse – Havoc indicou Breda e Fuery com a cabeça e os três se prepararam para suspender o rapaz do chão.

— Levaremos você também para um exame médico de rotina, Akame – Ling apontou para a garota – Só por precaução. Depois poderá descansar. Ministra Najenda e convidados, nos acompanhem também.

— Espera um pouco aí – Edward chamou quando Ling já estava saindo, levando Najenda, Akame, Run e Wave com ele – Não tem nada para me dizer, não, assassina?

— O que mais você quer? – Akame repetiu a pergunta com um suspiro.

— A verdade – ele completou – Você não acha que, depois de tudo que aconteceu, eu não tenho o direito de saber o que realmente aconteceu?

Akame continuou séria e não disse nada.

— Ed, por favor – Winry suplicou – Desculpe, Akame-chan. Você sabe como ele é...

— Eu estou falando sério – Edward a interrompeu – Dê uma boa olhada no Alphonse. Tem coragem de dizer que está tudo bem com ele?

Havoc e Breda haviam passado os braços de Alphonse em volta de seus pescoços e o ajudavam a ficar em pé. Fuery também tentava ajudá-los a sustentar o peso do alquimista que parecia estar em um sono leve.

— Se eu não me importasse com o que fez Alphonse ficar assim – Edward continuou – como eu poderia dizer que sou seu irmão mais velho? Eu estou pedindo apenas a verdade, assassina. E isso é um pedido de um irmão mais velho para uma irmã mais velha.

Ele esperou alguma reação de Akame, mas ela continuou imóvel.

— Isso é – Edward completou após alguns segundos em silêncio – se você realmente valoriza esse tipo de coisa.

Akame permaneceu o encarando, no entanto, ao final de longos segundos, ela deu um profundo suspiro antes de responder.

— Procure por mim amanhã, depois do almoço, e direi tudo que precisa saber – Akame deu as costas para Edward e seguiu seus companheiros.

— Espere aí – Edward tentou alcançá-la – Amanhã ainda?

— Depois do almoço – Akame frisou, sem parar de andar.

***************************

Asami hesitou, antes de empurrar a porta. Deparou-se com um quarto simples de paredes brancas, com poucos móveis e uma cama ocupando o meio do cômodo.

— Achei que ainda estivesse dormindo – Asami falou, com a voz quase sumida.

Kalin não respondeu. Apenas virou o pescoço na direção da janela.

Ela se balançou, nervosa, sem saber o que fazer a seguir.

— Quer que eu traga algo para comer? – perguntou, sem certeza.

— Para quê? – os cantos da boca de Kalin se curvaram em um sorriso mordaz – Para você me dar comida na boca como se em fosse um bebê chorão?

Asami não soube achar resposta para essa pergunta e permaneceu calada.

— Aquele que é o mais arrogante será punido pela Verdade tornando-se incapaz de fazer a tarefa mais simples – Kalin continuou, com sarcasmo – Não foi isso que vocês pensaram? Não foi isso que esperaram? Está feliz agora?

— Nós somos irmãos, Kalin – Asami disse, lentamente, quase sem acreditar – Nós crescemos juntos. Como pode pensar que eu desejaria que algo tão terrível acontecesse?

— Para que você pudesse ser a nova líder do clã – Kalin virou o pescoço na direção dela – Como você sempre quis. Bom, agora, nada te impede.

— Eu não queria isso... – ela começou.

— Saia daqui – Kalin disse, com a voz reprimida.

— Mas...

— EU MANDEI VOCÊ SAIR DAQUI – veias saltavam do pescoço de Kalin e Asami se assustou com sua reação – SAIA LOGO!!

Asami ficou um pouco desorientada no começo, no entanto resolveu atender ao pedido do irmão, saindo encolhida do quarto. Do lado de fora, ela se encostou a uma parede para não cair e deslizou até o chão, com as mãos escondendo o rosto.


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Notas finais do capítulo

A luta de Akame e Murasame ficou um pouco grande e durou dois capítulos. Eu não curto muito lutas longas demais e, se fosse em alguns animes aí, seria uns cinco capítulos de fusão/transformação/evolução e mais outros cinco só de conversa. Aliás, por isso eu gosto de escrever lutas de Akame porque ela quase não fala. Mas eu também sei que se a luta fosse rápida demais não iria ficar muito legal.
Por último, se por acaso eu "comi" uma ou duas letras ou se tiver uma receita de miojo no meio do capítulo, me avisem.
P.S.: vamos fazer a Troca Equivalente! Em troca do capítulo de hoje, deixe um comentário.



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