Connected | BTS Fanfic escrita por Choi Jinhee


Capítulo 23
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Notas iniciais do capítulo

Olá
Desculpem pela longa demora. Sei como é frustrante esperar atualizações, principalmente se gostamos da história - e parecem que vocês estão gostando haha Espero que sim, pelo menos 0.o
Agradecimentos especiais à Chloé, leitora assídua que me buzinou pelo whatsapp implorando pelo capítulo novo hahaha Você botou a gente pra trabalhar, linda =D Obrigada.
Sempre é bom saber que não estamos neste projeto sozinhas.
Espero que gostem da história; não deixem de comentar o que acharam!!



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Yuri POV

O natal sempre foi um dos meus feriados favoritos. 

Lembro-me dos momentos felizes da infância em que eu e meus pais sentávamos com meus avós na frente da lareira de sua casa, comentando sobre o decorrer do ano de cada um. Eles sempre ouviam até os mínimos detalhes do que eu falava – mesmo que fosse apenas besteiras de uma criança de cinco anos. Comíamos todos os deliciosos doces que minha avó jurava fazer, e embora todos soubéssemos que haviam sido comprados numa padaria do bairro, nunca deixamos de lembrar dela ao sentir aquele sabor especial de chocolate com canela.

Era realmente uma pena que os dois não pudessem nos acompanhar em nossa comemoração de volta a Seoul. 

Mas eles estão em um lugar melhor, eu sei disso.

Diferentemente do que havia imaginado, o natal desse ano estava monótono e chato. Não poderia culpar meus pais, afinal haviam chegado ontem e sofriam com o jet-lag de 12 horas, porém o que me incomodava era o fato de não conseguir sentir suas presenças como gostaria, uma vez que estavam, cada um, em seu respectivo mundo pessoal, também conhecido como celular.

— Preciso atender essa ligação – os olhos de Jaehyun brilharam, levantando-se animado. — Acho que a Lindsey mudou de ideia e venderá sua casa em Lisboa.

Suspirei, levemente aborrecida pelo descaso que eles pareciam tratar o nosso reencontro, disfarçando enquanto ajeitava a barra do meu vestido vermelho.

— Nostálgica? – Minha mãe levantou os olhos do aparelho em mãos, olhando para o nada.— Parece que foi um dia desses que você estava correndo pelada pela casa.

— Um grande arrependimento da minha vida, aliás. 

Ela soltou uma risada, direcionando seu olhar para mim.

— Lembro do quanto você ficou chateada comigo quando mostrei para todo mundo.

— Vale ressaltar que quando você diz Todo mundo, você realmente quer dizer isso. Empregadas, jardineiros, família, amigos, meus amigos.

— Mas era fofo.

— Era eu, pelada e com quatro anos de idade correndo apavorada de um pomerânia que queria morder a minha bunda. O que tem de fofo nisso?

— Absolutamente tudo.

Contrariada, deixei escapar um riso. E então bufei, irritada pelas minhas expressões terem me traído.

— Seu pai chamou um amigo para nos visitar, espero que não se importe. Ele está com saudade da vida em Seoul, mesmo não admitindo.

Hesitei, quase dizendo que não queria um estranho atrapalhando nossa reunião em família, mas, como aquilo soou egoísta demais na minha cabeça, respirei fundo, e em vez disso, falei:

— Eu imagino o quanto vocês sentem falta daqui.

Mamãe não respondeu, contraindo seus lábios em uma careta. 

— Aconteceu alguma coisa?

— Como assim?

— Você e papai estão... suspeitos.

Ela assentiu, hesitante. Olhava para baixo como se medisse suas palavras, fazendo-me sentir uma vontade de me desculpar antes mesmo que falasse alguma coisa.

— Eu e seu pai estamos esperando o momento certo para tocar no assunto.

Esperei que ela continuasse falando, de repente atenta.

— Prometemos que não apressaríamos você — começou —, mas seis meses já se passaram. E nós fizemos um acordo.

Eu havia previsto que ela invocaria o tema, mas, mesmo assim, senti meus ombros pesarem.

— Você continua tendo a minha palavra – respondi, engolindo em seco. — Eu vou cumprir minha parte do acordo, só não agora.

Seu longo suspiro denunciou seu descontentamento.

— Você sabe que eu também não gosto disso – virou sua cabeça para o lado, fazendo sua clavícula se sobressair enquanto respirava mais uma vez. — Nunca foi a minha intenção obrigar você a cuidar de tudo.

— Mas vocês não podem deixar tudo inacabado. Eu sei o desenrolar da história.

— É mais do que isso. O seu pai disse que, se não fosse você, não saberia mais em quem confiar depois da traição de Ra Yunsi.

— Papai me disse que ele passou informações confidenciais para um concorrente.

— Foi bem mais do que apenas isso.

Assenti, emudecendo-me por um instante.

— Eu só preciso de mais tempo.

O assunto foi congelado quando meu pai voltou para a sala, eufórico.

— Kim Chungho está vindo para cá! – parecia uma criança. — Eu pedi para que ele trouxesse o filho e a esposa, mas eles estão passando o natal com a família dela.

— Isso seria uma explicação de como você pretende me deixar sozinha esta noite? – Chaeyeon franziu a sobrancelha.

— Claro que não, Chaechae.

Ela fez um bico, pegando novamente seu celular.

— Você se lembra dele, Yull? — papai perguntou, tomando seu assento.

Conseguia ter vagas lembranças do tio Chungho. Ele, a esposa e o filho sempre iam aos mesmos jantares chatos que meus pais costumavam me levar quando morávamos aqui. Lembro que, quando descobri que Chungho era filho de um dos ex-presidentes, a pequena Yuri teve medo de ser deportada por ter derrubado patê de salmão no seu terno sem querer.

— Sim, claro. Aliás, o pai do tio Chungho já envelheceu? – perguntei, interrompendo sua concentração nas mensagens de texto que digitava. — Lembro que você costumava dizer que ele era um vampiro.

— Você lembra? – ele riu. Pousou seu celular na mesa e pegou sua taça de vinho. — Não, ele continua com a mesma cara. Eu tenho certeza de que deixaremos a terra antes dele. Chungho me disse que ele está fazendo pilates agora, e que sua flexibilidade é igual a de um garoto de 12 anos.

— Talvez, se multiplicarmos por 8, essa possa ser a idade dele – minha mãe acrescentou, levando um tira-gosto a boca.

— Acho que ele já passou dessa idade há alguns séculos – papai brincou.

— Queria tanto saber como está Seokjin; sempre foi um menino tão bonito. Ele se envolveu com política?

— Para a infelicidade do avô, não. Chungho disse que ele fez Artes, se não me engano.

—Yuri, você se lembra dele?

— Seokjin? O nome é até familiar, mas não me lembro muito bem de rostos. Nós éramos amigos?

Meu pai balançou a cabeça, negativamente.

— Ele era muito tímido para ser amigo de alguém tão elétrica como você.

— Ah – sorri amarelo, pegando minha taça. — Então isso justifica minha falta de lembranças.

— Por que não chamamos o Shinhwassi para vir pra cá? — minha mãe sugeriu, fazendo com que eu me engasgasse com a bebida.

Ela me lançou um olhar preocupado antes de se certificar de que estava tudo sob controle.

Meus olhos estavam arregalados e eu sentia que um pouco de vinho havia saído pelas narinas, mas nada tão urgente para aplacar o súbito nervosismo que me atingiu naquela hora.

— Bem, isso seria inútil – Jaehyun respondeu. — Ele nunca está em Seoul, ainda mais no natal. Acho mais provável que tenha viajado com Seolhyun e Hoseok.

Ao ouvir seu nome, peguei alguns salgados que estavam como aperitivos em cima da mesa.

— Certo – sua cabeça virou-se para mim. — Yuri, filha, você tem certeza de que está bem?

Concordei com a cabeça.

— Coma um pedaço de cada vez – apontou para minha boca cheia.

Dei-a um sorriso torto.

— Por acaso – meu pai começou, cuidadoso, entreolhando-se com minha mãe.

E se eles soubessem? 

“Soubessem o quê?”

O que tinha pra saber?

“Além daquela foto…”

Que foi tirada do site.

Eu estavam em segurança, não estava?

— Você está com medo de conhecer seu futuro mentor?

Franzi o cenho, confusa. 

Daí lembrei que Shinhwa seria meu tutor de administração dali a alguns meses.

— Hm, mais ou menos isso. É, sim. Acho que é isso – meus olhos cerrados. Droga, como eu deveria aprender a mentir bem.

— Então você está nervosa por nada, querida — mamãe deu batidinhas na minha perna. — Jung Shinhwa é muito fácil de ser manipulado. Logo, logo, você o terá na palma da mão.

— Como você pode dizer isso do maior empresário da Ásia? — meu pai franziu o cenho.

— Ele ainda é apenas um homem — ela deu uma piscadela, falando como se fosse óbvio.

— Cruzes, mãe – gargalhei. — Cadê sua integridade moral?

— A gente trabalha com as armas que tem.

— Yuri, vamos ter que conversar sobre o que você deve ou não absorver da sua mãe.

Ela bufou, ainda risonha.

— O que eu quis dizer é: seja amigo dele. O velho Shinhwa é muito generoso com quem ele gosta; sempre tratou muito bem seu pai e eu. Além de quê Jung Shinhwa não faz mal a um mosquito.

Meu pai levantou a mão para chamar nossa atenção.

— Isso é verídico — falou, num tom sério. — Lembra quando fomos a Amazônia naquele retiro espiritual? Ele disse que não podíamos matar os mosquitos, que nós que éramos os parasitas no lar deles. Eu quase o afoguei num lago. — Deu mais um gole no seu vinho. — True story.

A campainha soou.

— Deve ser o Chungho.

Observei os dois amigos adentrarem a sala, sorridentes. O visitante vestia um terno grafite com uma gravata vermelha sangue – com uma aparência mais sofisticada do que costumava recordar de minhas lembranças. Vendo-o diante de mim, com exceção de talvez algumas poucas rugas que surgiam na testa e no canto dos olhos, ele ainda parecia o mesmo. Abriu um sorriso enorme quando nos viu, logo levantamos para recebê-lo.

— Yuri, como você cresceu! – ele ajeitou seus óculos.

Eu sorri, sem saber ao certo o que dizer. Ele se interrompeu, direcionando-nos duas caixinhas azul-escuro que segurava em sua mão. A embalagem era da Swarovski.

— Comprei em cima da hora, espero que gostem. O vendedor disse que estes saíam muito.

Minha mãe sorriu, reverenciando-se novamente.

— Como está sua família, Chunghossi?

— Estamos todos muito bem, obrigado — respondeu. — Minha esposa e eu assumimos o museu do meu sogro.

— Eu me lembro de você comentar o assunto na última vez que nos vimos.

— Após tanta insistência por parte da família dela, acabei cedendo à proposta – deu de ombros, risonho.

— Muito trabalho?

Mamãe apontou para que nos sentássemos à mesa de jantar, onde mais um jogo de pratos fora arrumado para o convidado.

— Não pude viajar com eles por conta de umas comemorações de fim de ano — ele franziu o cenho. — Vocês sabem como é: perca uma dessas cerimônias e você perde a credibilidade no círculo. Sempre odiei essas formalidades, mas não se pode fugir de tudo.

— Tem certeza de que é filho do seu pai?  — mamãe brincou. — Ele nunca faltou uma confraternização.

Chungho riu.

— É, acho que a política pulou uma geração na família – justificou-se, sem jeito. — Duas, se contar com o meu filho.

— Sim, sim. Diga-me, como está Seokjin?

— Ele está ótimo! Vocês precisam vê-lo, tornara-se um homem extremamente bonito.

— Com certeza não puxou pra você, então — papai falou por entre goladas de vinho.

— Se for assim, a Yullie não tem nenhuma relação sanguínea com você. Eu me preocuparia no seu caso. — Chungho brincou.

— Ela puxou 90% pra mim — mamãe assentiu, dando ombros. — E o que o seu filho tem feito? Quero revê-lo.

— Seokjin-ah começou o segundo curso agora.

— Segundo? — mamãe arqueou a sobrancelha, surpresa. — Ainda tão jovem! Você deve estar orgulhoso.

Ele concordou com a cabeça.

— Aliás, Yullie, seu pai mencionou que você está estudando na Universidade dos Jung – sua atenção voltou-se para mim. — O que está achando do curso de administração?

Com o canto do olho, percebi meus pais se entreolharem.

Sabia que eles não teriam mentido sobre meu curso, apenas ocultado-o, talvez. Não poderia julgá-los, afinal, todos seriam contra sua decisão de aprovar que eu curse algo totalmente diferente do meu futuro ramo, uma vez que, bom, herdaria a 2ª maior parte das ações do Grupo Shinhwa.

— A Universidade é ótima — respondi, direcionando apressadamente o vinho a minha boca.

— Você deve estar estudando com Kim Taehyung, correto? Ele é um grande amigo do meu filho.

Pisquei.

Ah.

— Sei quem é.

— Kim Taehyung? – meu pai perguntou, como se nunca tivesse ouvido esse nome antes.

— Filho do Kim Hyunjoong, dos hotéis Kim — Chungho especificou.

— Ah, eu me lembro dele — mamãe falou, virando-se para mim. — Você lembra que falamos para você que seu pai, Chungho e Shinhwa eram melhores amigos na época da escola?

Concordei, confusa.

— Então, você também lembra que seu pai fez um intercâmbio na faculdade para o Japão. Acontece que, nesse período de tempo, Hyunjoong tomou o lugar dele no trio da amizade.

Meu pai revirou os olhos quando Chungho começou a rir.

— Ele não tomou meu lugar, apenas foi um reserva – bufou. — Não preciso me preocupar com reservas quando o jogador principal sou eu.

— Você faltou jogar ele na piscina no dia da festa de formatura porque ele me pediu uma dança!

— É claro, nós já estávamos namorando.

Mamãe revirou os olhos, um sorriso ainda brincava em seus lábios.

— Yul, o que você acha desse Kim Taehyung? – perguntou, curiosa. — Kim Hyunjoong era lindíssimo; no tempo da escola, tínhamos até um apelido pra ele: Benjamin. Sabe, beija a mim — ela gargalhou sozinha do trocadilho.

Chungho e meu pai fingiram um refluxo, juntamente comigo.

— Acho que posso responder isso depois da sobremesa.

«»

Tio Chungho não demorou muito para ir embora. Ficou até alguns minutos após servimos os biscoitos de chocolate com canela, mas não tardou em receber uma ligação requisitando sua presença em algum assunto do museu.

Entristecia-me que aquela fosse uma realidade comum no mundo de empresários – a maior vírgula no meu desejo de seguir a carreira dos meus pais.

Reuniões precipitadas, complicações inesperadas e compromissos inadiáveis. Tudo aquilo faria parte do meu mundo, e eu não poderia fugir nem se quisesse.

Eu mexia no celular singelamente por de baixo da mesa enquanto meus pais conversavam sobre seus amigos do colegial. Era por volta das dez e meia da noite, e perguntei-me se ainda era cedo demais para usar a desculpa de estar com sono para voltar ao meu quarto.

Pousei o celular em cima da mesa, folgando um pouco mais meu rabo de cavalo. Encarei meus pais por alguns minutos, pedindo licença em baixinho para ir à cozinha – pretendia estocar meu quarto com salgadinhos para o dia seguinte, desesperançosa de que alguém fosse acordar cedo para fazer o café da manhã do dia seguinte. 

Em meu apartamento com Jinhee, minhas manhãs eram sempre agradáveis com o cheiro matinal de café feito na hora. Pietra, ciente do meu vício, sabia que conseguiria me acordar apenas com aquele aroma, portanto, sempre que estava atrasada, ela deixava uma xícara em minha escrivaninha e meus olhos abriam-se automaticamente.

— Quem é Jungkook? – a voz da minha mãe soou lá da sala, enquanto eu avaliava nosso estoque particularmente pequeno de doritos e pepero.

— Você está mexendo no meu celular? — falei no mesmo tom, para que me ouvisse.

— Não, né. Você mudou a senha.

Bufei, voltando para a sala.

— Ele é um amigo — respondi, estendendo a mão para que ela devolvesse.

— Um paquerinha?

— Mãe – repreendi-a,

— O que é Snapchat? — ela leu a notificação, sem sinais de devolver o celular.

— Uma rede social.

— Quero ver o que ele mandou para você — ela abriu um sorriso travesso. — Por favorzinho — acrescentou.

Um tanto roboticamente, atendi ao pedido, desbloqueando a tela e mostrando o snap de Jungkook.

A foto que cronometrava seis segundos, mostrava um garoto revirando os olhos enquanto tomava Coca-Cola pelo canudo. “Espero que o seu Natal esteja mais divertido que o meu”.

— Que gracinha! – ela me sacudiu. — Então de fato é um paquerinha.

— Por que ele não pode ser só um amigo?

— E ele é só um amigo?

Hesitei, recebendo outra notificação de snap.

— Sim.

Ela bateu as palmas no ar.

— Você demorou pra responder! Está mentindo.

— Não! – minha voz fraquejou indevidamente, o que a fez sorrir maliciosa. Revirei os olhos.

— Ele mandou uma coisa pra você, está azul!

Papai levantou os olhos do seu celular, prestando atenção na nossa conversa.

— Qual é o nome do rapaz? — perguntou meu pai.

— Por favor, não entre você também nessa onda.

— Abre a mensagem — ela me apressou, com voz infantil.

— Com licença?

Chaeyeon e Jaehyun apenas esperaram, sem nenhum sinal se afastar. Respirei fundo.

“Vamos sair amanhã? Preciso de algum compromisso que me impeça de me matar neste momento. Eles estão falando sobre fraldas geriátricas”.

Mamãe aplaudiu, contente.

— Ele está muito na sua!

— Mãe, ninguém mais fala assim.

— Tá, tá. Você vai aceitar, não é? — ela perguntou, animada. — Me mostra o insutagurum desse rapaz.

— Chaechae, Instagram.

Chaeyeon quase gritou, apontando para o celular:

— Ele mandou mais uma coisa!

Revirando os olhos, abri a mensagem.

“Aparentemente, minha avó descobriu ontem que dá para lavar as fraldas em vez de só jogar fora. Isso explica o que eu vi no varal da casa deles, e porque eu acho que vou ter pesadelos até a próxima vida”.

Eu segurei o riso, deixando o humor tirar meu ar preso no peito. Meus pais, por outro lado, gargalharam alto.

— Seria este Jungkook o pai dos meus netos? — mamãe riu.

— Você é mesmo uma coisa, hein?

— Obrigada. Jungkookah é seu namorado?

— Não vamos nos precipitar, mãe. Nós somos apenas amigos.

— “Ni vimis nis pricipitir”. E tudo que eu te ensinei, Lee Yuri? O que você tem que fazer com homens bonitos?

Pisquei.

— Questioná-los sobre questões sociais em relação ao feminismo e à causa LGBT+ para saber se vale ou não a pena me envolver amorosamente?

— Eu iria dizer ‘’agarrá-los’’, mas acho que isso vale também.

— Que tipo de coisas você ainda ensinando para a nossa filha?

— Ah, nem queira saber, pai.

Minha mãe balançou a cabeça, erguendo suas mãos em redenção.

— Se não fosse por mim, você nem estaria neste mundo. Seu pai tem zero atitude.

— De repente eu me sinto tão atacado — ele franziu a testa.

Mamãe continuou tagarelando, sem se incomodar.

— Eu tive que fazer tudo no início, porque ele achava que estava indo “rápido” demais pegando na minha mão no primeiro encontro. Ah, se ele soubesse como ficava gostosinho naquela camiseta polo. Mas eu achei que iria assustá-lo se fizesse tudo que queria fazer logo no primeiro encontro, e senti que deveria esperar ele dar o primeiro passo. Mas ele nunca deu!

— Vocês já casaram. Eu nasci. Tudo deu certo no final.

— Tive que esperar até o sétimo encontro para ele me dar o primeiro beijo! Sabe a tortura que foi?

— Eu estava cozinhando o sapo na água fria — papai explicou muito claramente.

— O que diabos isso quer dizer?

— Se você colocar o sapo direto na água quente, ele pula pra fora. O jeito é colocar numa panela com água fria e ir esquentando aos poucos, porque se ele sentir-se confortável no início, não pulará para fora. O sapo só percebe que a água está quente quando é tarde demais, não conseguindo mais fugir.

Eu achei aquilo muito estranho, mas minha mãe amoleceu, se esticando para os seus braços. Ele deu um beijo em sua testa.

— Vou me deitar – anunciei, não pretendendo estragar aquele clima.

— Boa noite, querida — papai falou, ainda agarrado com minha mãe.

Quando eu estava no corredor, escutei minha mãe exclamar:

— Cuidado para seu sapo não pular enquanto a água ainda estiver fria!

Entrei em meu quarto, martirizando-me por esquecer dos malditos salgadinhos. 

Não pretendia descer novamente e me responsabilizar pelo que poderia encontrar lá em baixo, então tirei os sapatos e joguei-os no canto do quarto. 

Eu nunca havia reparado o quão rosa era aquele quarto, durante a minha infância. Eu que havia escolhido a cor – as paredes, os móveis, até os lençóis da cama. Alguns detalhes de antigamente continuavam intactos, como meus desenhos grudados com fita no canto da parede – meu peito apertou carinhosamente ao reparar o quadro intitulado ‘’Irmãs’’, três garotas de mãos dadas sorrindo, eu, Nami e Jinhee. Analisava-os como se fosse a primeira vez, aqueles rabiscos malfeitos tão valiosos para mim agora.

Olhei em volta, dessa vez prestando mais atenção em uma prateleira cheia de ursos de pelúcias e alguns outros brinquedos antigos. Arqueei as sobrancelhas, surpresa, indo em direção a uma polaroid – minha primeira câmera. Pensava que a havia perdido anos atrás.

Uma onda de memórias fez com que eu me jogasse na cama segurando aquela relíquia. Lembrei-me do quanto chorei quando cheguei em São Paulo e não a encontrei em lugar algum.

Testei um dos cartuchos que encontrara junto a ela. Fiz uma careta feia enquanto olhava para a lente e fui presenteada quando, depois de alguns momentos observando a foto, a imagem se formou.

Talvez a Sra. Rae tivesse comprado novos cartuchos quando veio limpar nossa casa.

Meu celular vibrou ao meu lado. Pousei a polaroid na escrivaninha ao lado da minha cama, e peguei o aparelho, sorrindo ao olhar para o visor.

Jungkook: Meia-noite. Feliz natal!

Yuri: Feliz natal, Kookiessi! 

Yuri: Alguma coisa em mente para amanhã à noite?

Jungkook: O que você me diz de irmos à Gwacheon? :)

Sem explicar o por quê, senti meu coração aumentar seu ritmo.

Yuri: Isso seria um encontro?

Enviei a mensagem, arrependendo-me em poucos segundos. 

Só porque ele queria sair comigo um dia depois do natal, não significaria que algo iria mudar em nossa amizade.

Mesmo que o dia 25 fosse a data mais propícia para os casais se encontrarem na Coreia.

Jungkook: Eu sou um cara difícil, Yurissi.

Jungkook: Mas você me conquistou.

Jungkook: Então, sim.

Jungkook: Você quer ir a um encontro comigo?

Afundei o rosto no travesseiro, sentindo meu corpo se encher de borboletas. Eu não podia responder imediatamente, certo? Soaria desesperada.  Joguei o telefone para o outro lado da cama e esperneei minhas pernas no ar, rindo – tentando liberar toda aquela energia da cabeça.

Uma discreta vibração me fez parar imediatamente. Desesperada, comecei a procurar pelo celular que, aparentemente, havia desaparecido em algum lugar.

Jungkook: Sem pressão.

Yuri: Eu quero.

Jungkook POV

Eu não queria mais esperar o momento perfeito para me declarar.

Talvez momentos perfeitos não existissem de verdade – ou, pelo menos, não como os filmes os concebiam. Infelizmente, vida real não tinha uma trilha sonora para construir o clima ideal para uma declaração.

A verdade era que eu nunca tinha me apaixonado. Bem, já tinha gostado de algumas pessoas – mas, sempre de longe. Nunca cheguei a de fato conversar com elas, avalie me confessar. Namoro, declarações, amor. Meus conhecimentos sobre essa área se limitavam às experiências não agradáveis de Jimin e os filmes de amor que assistia (normalmente segurando vela para Jimin e a namorada do momento).

Senti o coração apertar no peito enquanto ajeitava o cabelo, já frustrado com o tempo perdido ali na frente do espelho.

— Escolheu logo hoje pra acordar rebelde, hein? – murmurei.

— Seu cabelo não é rebelde. — Pulei ao escutar a voz de minha mãe, encostada no batente da porta do quarto. — Você só não está sabendo arrumá-lo.

Caminhou até mim na frente do espelho do guarda roupa, estendendo suas mãos para meu cabelo. 

Seu dedilhar em minha cabeça reconfortou-me de uma maneira que só as mães faziam.

— Para onde você vai? — perguntou.

Hesitei.

— Gwacheon.

Ela franziu a testa.

— O parque?

Assenti.

— Com quem?

Devo ter demorado demais para responder, porque no momento seguinte ela continuou:

— Nunca te vi assim, se arrumando tanto. Creio que não esteja com toda essa cerimônia só para se encontrar com o Jimin, estou certa?

— Vou com uma amiga. — Contive a vontade de bufar quando seus olhos se estreitaram. — Por favor, não use suas técnicas de leitura corporal em mim. Já estou nervoso o suficiente sem a sua tortura psicológica.

Ela arqueou as sobrancelhas, surpresa, e então sorriu de lado.

— Gostaria que você pudesse se abrir mais comigo – suas mãos foram para meus ombros, massageando-os em uma tentativa inútil de me acalmar —, assim como você faz com a Sra. Park.

Aliviei-me ao escutar que não havia se referido à Sra. Park como “Dona daquele restaurantezinho” ou “Mãe do seu amigo bolsista”.

— A Sra. Park é… – mais mãe para mim do que você jamais foi — legal.

Olhei meu reflexo no espelho, menos nervoso agora que meu cabelo estava arrumado. Afastei-me dela para procurar um agasalho no armário.

— Quem é ela? — perguntou, pondo-se ao meu lado.

— Uma amiga – repeti.

— Onde vocês se conheceram?

Balancei a cabeça, fechando-me para o assunto.

Ela puxou um casaco do cabide.

— Não irei julgá-la – prometeu, com a voz aveludada. — Vista, vai combinar.

Obedeci.

— Nos conhecemos no parque que vamos hoje — após vesti-lo, observei de relance meu reflexo. — Ela estuda na Shinhwa.

— Ela estuda com você?

— Não. Cursos diferentes.

— E qual-

— Fotografia.

— Ah.

Ela suspirou, como se estivesse decepcionada.

Não olhei em seus olhos, sentindo-me incomodado. Peguei minhas chaves e a carteira na mesa de cabeceira.

— Você não tem jeito, hein? — falou.

— Não é um pecado, sabe? — estiquei o braço para alcançar meu celular em cima da cama. — Acontece que nós termos bastante em comum, e o interesse pela fotografia-

— Seu interesse é momentâneo.

— Momentâneo? – repeti. Sentia-me estranhamente indiferente, com outras prioridades na cabeça. — Momentâneo seriam dias, semanas- ou até meses. Você sabe há quantos anos eu me interesso por fotografia?

Respirei fundo quando a vi revirar os olhos.

— Estou indo. Não quero me atrasar.

Eu tinha noção do quão privilegiado eu era por ter tudo o que meus pais me davam; um cartão sem limites, uma ótima universidade, um carro. Mas, desde muito novo, me pegava perguntando por que minha mãe não era gentil como a Sra. Park, ou porque meu pai não era compreensível como o tio Hyesung. Perguntava-me se o que havia corrompido minha casa havia sido a sede pelo dinheiro e poder; sempre vidrados pelo sucesso no trabalho mais do que nos laços familiares.

Ainda tinha lembranças nítidas do funeral do tio Hyesung, da impaciência dos meus pais e a tristeza dos meus avôs, que lamentavam e não compreendiam suas escolhas quando em vida. Jimin e a Sra. Park estavam lá, e meu amigo chorou junto comigo enquanto sua mãe nos consolava com um abraço materno. Eles ficaram comigo mesmo depois que todos se foram.

Park Jimin era mais família para mim que qualquer outro familiar vivo que eu tinha.

— Você realmente a chamou pra sair? — Ele não escondia seu contentamento. — Hyung! Estou orgulhoso.

— Acho que estava na hora de seguir seus conselhos.

Sua risada preencheu os alto-falantes do carro, que transmitia a ligação enquanto eu dirigia.

— Quer dizer que finalmente você vai aceitar que eu sou o melhor coach de relacionamentos da Coreia?

— Talvez quando algum de seus relacionamento der certo, eu possa considerar esse pensamento.

— Faça o que eu digo, não faça o que eu faço.

Eu adorava quando Jimin ficava tão feliz ao ponto de rir de qualquer coisa que eu falasse.

— Depois de tantas desilusões que eu passei, acho que já devo garantir meu PhD – depois disso, sua voz abafou-se, como se estivesse tapando o telefone enquanto falava com algum cliente. — Mas, então. Você já sabe o quê vai dizer?

— Sim, mais ou menos. — Senti minha mão formigar.

— Aposto que você deve ter treinado a manhã inteira na frente do espelho. 

— Talvez. Mas tenho a sensação de que foi inútil, porque provavelmente vou esquecer tudo na hora principal.

— Estarei aqui torcendo por você. — Ele fez uma pausa, e então sua voz, agora um tanto mais tímida, revelou: — Mamãe também está torcendo por você.

— Eu vou te mat-

— Nosso Jungkookie está tão crescidinho e apaixonado – a voz fina da Sra. Park ecoou, como se falasse com uma criança. — Eu sempre soube que você gostava dela, eu sempre soube!

— Sra. Park...

— Não se esqueça de que seu coração é o lugar mais ameno na face da terra, então cuide dele.

— Obrigado, Sra. Park. E eu agradeceria do fundo do coração se você não contasse para ninguém enquanto eu não receber uma resposta dela mesma.

— Olhe nos olhos dela, Jungkookie. É fundamental você olhar nos olhos dela enquanto estiver se declarando.

— Jimin, faça ela prometer que não vai contar para ninguém.

Ele riu, assentindo.

— Minha boca é um túmulo — ela respondeu, tentando soar confiante enquanto tentava não rir.

— Bom, temos que ir — falou. — Estamos com uns clientes esperando, mas você é nossa prioridade sempre.

— Tudo bem, Jiminah. Obrigado – falei. — Até, Sra. Park. Controle-se.

— Até – responderam em uníssono. 

— Boa sorte, meu filho.

«»

 

Ao longe, avistei a silhueta de Yuri encostada num banco de madeira na entrada do parque.

O nervosismo tomou conta de mim. 

Olhei em meu relógio, conferindo que estava quinze minutos adiantado para o horário que combinamos. Impulsivamente, um sorriso brotou em meus lábios, imaginando se ela estaria tão ansiosa quanto eu – aquele pensamento que me dava esperanças era o mesmo que me dava medo. A dor seria maior se eu me iludisse desde agora.

Apressei o passo em sua direção, enfiando minhas mãos no bolso do casaco.

Yuri estava com calças pretas e um suéter branco felpudo, seu pescoço protegido do frio com um cachecol xadrez marrom e branco. Logo reconheci aquela estampa, olhando para meu casaco e verificando a semelhança.

Tudo bem, estávamos usando roupas de casal coincidentemente. Isso não é um sinal divino, Jeon Jungkook. Isso acontece.

Seu cabelo preto parecia quase azul em contraste com o ambiente embranquecido pela neve que caiu durante a noite passada – os bancos, a grama, o chão, a copa das árvores todos pintados de branco. Até o extenso lago tinha sua superfície congelada.

Dei-me o luxo de passar alguns segundos sem me aproximar completamente, pegando meu celular para tirar uma foto. A imagem seria melancólica, se a mera presença de Yuri não tivesse dado-lhe uma conotação inteiramente diferente: bonita, pacífica – romântica, até.

Subi as escadas lentamente e parei ao seu lado, meu tênis deixando pegadas na fina camada de neve no chão.

— Você está aqui há muito tempo?

Ela pulou, olhando surpresa para mim. E então sorriu, dentes brancos brilhando entre seus lábios avermelhados.

— Não o suficiente para criar raízes, então tudo bem.

— Você chegou bem cedo.

Ela assentiu, arregalando os olhos quando notou meu casaco.

— Parece que estamos combinando – o som de sua risada fez com que eu me acalmasse.

Ao perceber o clima agradável entre nós, Yuri levantou-se de súbito, deixando algo cair no chão com um barulho preocupante.

Ajoelhei-me rapidamente, pegando uma polaroid parcialmente desmontada no chão.

— É uma galinha! — exclamei, olhando para o formato engraçado da máquina.

— É um pintinho, não uma galinha — ela riu, pegando sua câmera da minha mão. — Obrigada.

— Será que quebrou?

— Parece que não.

— Acho que vou ter que descobrir na sorte.

Fiz menção para que caminhássemos – pois parte do meu plano incluía aquilo.

Ela ajeitou sua pequena bolsa no ombro, segurando com uma de suas mãos a polaroid.

— Eu pensei em irmos na Nespresso Boutique depois; aproveitar os aquecedores da loja.

Yuri assentiu, satisfeita com a ideia.

— Como diz a Sra. Park, ‘’nada como um bom café para aquecer a alma’’.

Eu ri – talvez um tanto veemente demais, por causa do nervosismo. 

Tirei as mãos dos bolsos e dei batidinhas nas laterais do corpo, sem saber ao certo o que fazer com as mãos suadas. Enquanto andávamos, senti-me estranho com o silêncio que se estabeleceu entre nós, ainda mais quando casais passavam por nós rindo animadamente.

Eu devia ter pensado em como puxar um assunto interessante antes, quando tive tempo – céus, eu só programara a declaração.

A declaração. Procurei desesperadamente em minha mente pelas palavras ensaiadas. Jeon Jungkook, você aprendeu todo o rap de ‘’Thank You, Good Bye’’ do Rap Monster, você vai lembrar a maldita declaração.

Admirava Yuri com os cantos dos olhos, sentindo que deveria fazer algo para chamar sua atenção.

— É incrível a quantidade de pessoas que aguentam esse frio para sair com seus parceiros. O que o amor não faz.

Ela olhou para mim, com um sorriso de lado em seu rosto.

— Jungkookssi?

— Sim?

— Foi isso que fez você me chamar para sair nesse frio? — seu tom de voz era brincalhão, embora meu coração tenha dado doloridas batidas nervosas.

Ela riu, me empurrando com o ombro.

— Onde nos conhecemos! – apontou para a ponte de madeira do lago, trazendo-me flashes daquela tarde. — Você lembra?

Ela sorriu tão animadamente que meu coração palpitou erroneamente, doendo ainda mais.

Suas palavras se repetiam em minha cabeça como se precisasse de mais tempo para assimilá-las.

— Claro que eu lembro.

— Aquele dia foi tão surreal que eu cheguei a me perguntar se foi um sonho.

— Surreal?

— Foi uma coincidência incrível, nós dois tirarmos fotos um do outro.

— Em minha defesa, você estava bonita demais para não tirar uma foto.

Eu estava começando a me divertir quando suas bochechas se avermelhavam.

— Você ainda tem a foto? — ela perguntou.

— É meu protetor de tela.

— Sério?

— Isso seria muito estranho?

Estendeu a mão para que eu a entregasse meu celular.

— Tudo bem, não é meu protetor de tela. Eu me sentiria estranho, ainda mais sem a sua permissão.

Ela riu. 

Desbloqueei o celular e procurei na galeria pela imagem, demorando um pouco mais que o necessário – hesitei em estender a mão, mostrando aquela foto tirada secretamente.

— Linda, não é?

Ela prendeu sua respiração, puxando gentilmente o aparelho da minha mão.

— Estou chocada — ela sorriu, dando zoom na tela. — Dá pra ver claramente que era outono aqui, por causa do amarelo das flores. E a iluminação natural ficou perfeita.

— Seria um desperdício ignorar tanto potencial. Numa foto, claro.

Suas orelhas se avermelharam.

Entregou-me sua máquina enquanto abria sua bolsa, procurando seu celular.

Em pouco tempo, estendeu-me a fotografia.

— Essa foi a que eu tirei. Ali na ponte.

Ela apontou para trás.

Olhei uma segunda vez, confuso.

— Oh, não.

— O quê?

Havíamos passado da ponte. E eu não me declarei.

— Porra.

— Jungkook?

Hesitei.

— Yuri, o que você me diz de refazermos nossas fotos? Nas mesmas posições das originais.

Sua expressão era confusa, mas seu sorriso assentia com a ideia.

— Não será a mesma, já que estamos no inverno. Podemos voltar na primavera e no verão! Vai ficar legal. Uma foto para diferentes estações, na mesma posição. Mesmos modelos, mesmos lugares, diferentes cenários.

— Vamos voltar para a ponte, então.

Ela assentiu, e demos meia volta.

Meu coração estava tão nervoso que me perguntei se estaria enfartando. Sequei o suor das mãos nas calças.

Enquanto Yuri falava sobre a importância da posição da câmera para obter o mesmo ângulo, repassei as palavras ensaiadas na minha mente.

‘“Nós nos conhecemos aqui. Eu te achei especial no momento que te vi, aqui nesta ponte, fotografando a vista. E a mim também, mas já superamos isso (aqui eu vou rir e esperar que ela me acompanhe, mas se ela não rir, tudo bem, o jeito é continuar e fingir que não aconteceu). Foi tão natural e tão rápido me tornar seu amigo que eu fiquei até assustado, a princípio. Estou feliz que nos conhecemos, e mais feliz ainda por termos tido um início tão bonito quanto o nosso aqui neste parque. Eu sinto que você é especial – tudo em você é cativante. Seu sorriso, seus olhos, suas palavras e suas expressões... Se você deixar, eu gostaria de ficar ao seu lado. Mais do que como amigo. Porque, afinal, eu gosto de você.’’ 

Depois disso é rezar e se esforçar para não chorar se receber uma rejeição.

— Olha, você estava sentado aqui no corrimão. Vou lá pra baixo tirar a foto e você-

Respirei fundo. Era agora. Agora era a hora. Respirei fundo.

— Yuri.

Ela olhou em meus olhos, um sorriso animado nos lábios.

— Sim?

— Nós nos conhecemos aqui — comecei, sentindo as mãos transpirarem.

Ela arqueou a sobrancelha, confusa, e fez que sim com a cabeça.

— E foi especial. Você é especial. Eu gosto de você.

Ela arregalou os olhos.

Eu pausei, pensando no que tinha dito.

— Ah, merda. Espera.

— Eu-

— A gente se conheceu aqui, e foi bonito e, hum, você é especial. E você tirou uma foto minha, mas a gente já superou isso. — Soltei uma risada nervosa, tão tensa que pareceu mais um arquejo.

Mordi os lábios, tentando não entrar em combustão – irônico estar tão quente mesmo sendo inverno.

Quer saber, o que era uma faísca para quem já estava em chamas?

— Gosto de você. Estou perdidamente apaixonado por você.

Eu não sabia se a surpresa em seu rosto era boa ou não. De qualquer forma, continuei:

— Eu estou tão cativado por você que, quando eu te encontro entre as pessoas no refeitório, quando te vejo passando pela porta do restaurante, meu coração se acelera e eu fico com muita vontade de ir ao seu encontro. E de te fazer rir, de te trazer pro meu lado. De te-

— Jungkookssi, eu-

— Não estou pedindo nada em troca, mas estaria mentindo se dissesse que não gostaria que você me correspondesse. Eu só preciso que você saiba como eu me sinto, porque não quero mais guardar isso como se fosse um segredo.

Ela olhou para baixo, e eu temi que piscar fosse me fazer perder algum detalhe importante daquele momento. Franzia seus lábios como se estivesse reprimindo suas bochechas de corarem.

— Eu não acredito em destino.

Pisquei meus olhos repetidas vezes, atônico.

— Eu me sinto... feliz, quando você está ao meu lado. A primeira vez que nos vimos aqui foi uma coincidência incrível. E, ainda mais incrível, foi reencontrá-lo depois. Eu não acredito em destino, mas-

Ela levantou os olhos do chão, sorrindo timidamente. E eu senti o chão abandonar meus pés.

— Eu senti que a vida estava me dando uma oportunidade.

Eu tive medo ao pensar no que aquilo significava; quero dizer, me parecia muito que ela estava me dando uma chance, certo? Mas e se, sei lá, eu estivesse imaginando coisas? Precisava que ela dissesse com todas as palavras o que queria que eu fizesse, e eu faria.

— Você vai aceitar essa oportunidade? — perguntei.

— Vou.

Ela me abraçou, escondendo seu rosto em meu peito.

— Eu gosto de você.

Pensei que o mundo fosse entrar em combustão, enquanto eu a abraçava de volta. Estava muito quente, mas era confortável. Eu não conseguia pensar em mais nada, a mente completamente em branco, mas nada daquilo me incomodava. Eu estava muito nervoso, como se qualquer movimento em falso pudesse estragar aquele momento, mas nada superava a sensação indescritível de abraçar Yuri.

De repente, ela soltou uma risada tímida.

— Seu coração está batendo muito rápido — ela falou.

— O seu também — respondi.

Ela não respondeu imediatamente.

— Vamos ver se estamos com sorte e testar se a minha polaroid ainda funciona?

Hesitante, separei nosso abraço. Ela me entregou a câmera e eu a direcionei para nós.

— Você quer fazer alguma pose ou-

Ela beijou minha bochecha, e eu travei. Ela começou a rir.

— Tire a foto, Jungkook.

— Ah, sim.

Com um quê de nostalgia, balancei a foto no ar esperando que a imagem aparecesse mais rápido.

— Acredito que gastei toda a sorte do mundo hoje — falei. — Parece que o visor trincou.

Ela analisou a imagem e sorriu.

— Eu gostei. Nós combinamos.

Ela pegou seu celular da bolsa e tirou uma foto da imagem. E então, mostrou a tela para mim.

— Você pode colocar minha foto no seu plano de fundo agora, se quiser. Estamos quites.

Seu sorriso tímido fez a ponta das minhas orelhas esquentarem.

— E... você pode ficar ao meu lado, se quiser.

— Eu quero.

— E você pode me chamar de Yuri, sem honoríficos.

— E de namorada?

Suas bochechas, já vermelhas, pareceram se avermelhar ainda mais.

— Pode.

— E eu posso-

— Quando quiser.

Eu sorri quando ela fechou os olhos.

Queria eternizar aquele momento em uma fotografia, mas eu sabia que nunca chegaria aos pés da realidade.

 


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Notas finais do capítulo

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