Connected | BTS Fanfic escrita por Choi Jinhee


Capítulo 22
Recomeço?


Notas iniciais do capítulo

"Is marola dead?"
Não, cheirosas (os). Apesar dos pesares, estamos vivíssimas.
"Sabem quanto tempo faz desde a última atualização? dOIS MESES. D-o-i-s, two, deux-"
Eu sei e peço desculpas por isso. Foram vários os fatores que influenciaram na construção do capítulo, os quais posso resumir em três: tempo, provas e o bendito bloqueio criativo. Eles justificam a demora? Claro que não. Mas já dissemos isso antes e vamos repetir sempre que necessário: Preferimos atrasar as postagens para fazer um capítulo bem feito, do que entregar qualquer coisa só para cumprir o prazo. Mas se isso não for suficiente e quiserem alguém pra culpar, esse alguém se chama Maria, tá? Fight me nos comentários (ノ `Д’) ノ
Além disso, tenho duas novidades, uma boa e uma ruim. A boa é que o capítulo 21 agora está revisado, fiquem a vontade para relê-lo. A ruim... Lembram quando dissemos que postaríamos de 15 em 15 dias? Rsrsrsrsrsrs pode ser que não role.
"o qUE? Já foram DOIS MESES de atraso, agora a fic só vai ser atualizada quando? Uma vez por ano?"
Não é pra tanto, cheirosas. Eu disse "pode ser". Por mais corrida que nossa rotina esteja, tentaremos o possível para postarmos no prazo certo. Atrasos podem ocorrer? Podem, não tão longos quanto esse último, mas nada garante que eles não ocorram eventualmente.
Não se preocupem, Connected não vai morrer. Nós não vamos desistir da fic e esperamos que vocês também não desistam dela, por mais que esperar seja uma droga.
É isso.
Boa leitura.



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Pov. Yoongi

Como assim você não vem pra reunião, Min Yoongi? — a voz de Yeri soou suspeitosamente ameaçadora. — Sabe o quão difícil foi trazer o produtor Kimura do Japão? Sabe quanto ele cobrou pra vir?-

Revirei os olhos e afastei o telefone da orelha, deixando-a gritar o tempo que fosse necessário e poupando meus ouvidos de seu sermão. Quando o murmurinho da ligação tornou-se mais calmo, posicionei o aparelho de volta.

—... -simplesmente me ligar e dizer que não vem?

— Eu tenho aula as cinco — expliquei. — Ainda não aprendi a estar em dois lugares ao mesmo tempo, mas estou trabalhando nisso.

Você sabe como eu odeio quando banca o espertinho. Não percebe que o meu emprego e o seu álbum estão em jogo aqui?

— Noona, o Kimura vai passar três dias em Seoul bancado pela YG e sem nenhum outro compromisso além dessa reunião. É só remarcar pra amanhã. Diga que eu tenho um seminário inadiável na universidade ou qualquer coisa do tipo.

O que está escondendo? — ela disparou, tão inesperadamente que demorei alguns instantes para reagir.

— Por que acha que estou escondendo algo?

Min Yoongi, você nunca se importou com a universidade e decidiu se importar logo agora? Prestes a lançar um álbum.

— Talvez eu só queira passar o oitavo semestre. O Mino entrou no mesmo ano que eu e já se formou.

Joguei sujo ao tocar no assunto que a incomodava — muito mais antes do que agora. Durante o período mais intenso do meu apogeu, tive que trancar e refazer minha matrícula inúmeras vezes. Cumprindo um papel mais relacionado à responsabilidade familiar do que empresarial, noona defendia veementemente que eu precisava de tempo para me dedicar à graduação, mas na época nem eu e nem a equipe técnica a deu atenção. Contanto que estivesse com a agenda lotada, arrecadando o máximo para o bolso da agência, eu não precisaria me preocupar com essa tal educação que tantos falam.

Admiti, depois, me arrepender por ter sido tão ingênuo. Eu estaria mentindo se dissesse que não me sentia incomodado presenciando Seokjin cursar a segunda graduação, ao passo que eu ainda estava preso ao oitavo semestre de Música.

Você tinha uma agenda muito mais movimentada-

— O G-Dragon também tinha, e ele conseguiu se formar. Você mesma diz que eu deveria frequentar mais a universidade. — Ela iniciou algumas tentativas de contra argumentação, mas logo percebeu que estava se contradizendo e pausou. — É só uma aula — enfatizei, sendo o mais convincente possível.

Suspirou.

Tudo bem. Mas se não for só uma aula se considere morto, ouviu bem?

— Eu já menti pra você? — Sorri, vitorioso. Yeri provavelmente conseguia visualizá-lo, de tão bem que me conhecia.

Quer mesmo falar sobre isso?

— Talvez mais tarde. Tenho que ir, noona.

Encerrei a chamada, evitando que a conversa se prolongasse ainda mais. Notei, numa olhadela a tela do celular, mensagens de Mino chegando uma atrás da outra. A última festa da YG reacendeu a nossa “amizade” numa proporção que eu não esperava que acontecesse. Reviver o nosso antigo hábito de trocar mensagens de tantos anos antes dava-me uma nostálgica sensação de déjà vu.

O conteúdo das conversas, em sua maioria, se restringia àquela trainee com quem começou a se encontrar — Mei, se não estiver enganado. Vez ou outra, no entanto, ele perguntava sobre Nami, sobre onde eu havia a conhecido, o que ela fazia e qual a nossa relação. Conhecendo-o, não ficaria surpreso se já estivesse pensando em dispensar a atual para partir para a próxima, mas estranhei seu interesse em Nami. Nas poucas palavras que trocaram, ela literalmente se mostrou o contrário do que ele procurava numa garota; Nami era a representação das regras e, até mais do que eu, Mino adorava quebrá-las – e, na verdade, talvez fosse exatamente aquele o motivo do interesse. Se bem que eu não podia dizer que Nami seguia sempre as regras. Afinal, estávamos os dois naquele estúdio agora, não?

— Você é tão cara de pau.

A voz de Nami me trouxe de volta à realidade. Ela dava uma última mordida numa barra de cereal. Notei que o cesto de lixo estava cheio de outras embalagens de lanches – e possivelmente havia ainda mais na sua mochila, pois ela pegava mais uma e se preparava para abrir. Franzi a testa, pensando quando fora a última vez que ela fizera uma refeição decente. Não por preocupação, mas porque era simplesmente deplorável; sobreviver à base de barras de cereal.

— Por que diz isso?

— É injusto. Se eu falasse assim com alguém da empresa, ficaria sem almoço por uns três dias.

— Digamos que o fato de ser parente da minha manager me favorece, às vezes — dei de ombros.

— Ainda assim é injusto.

— O que eu posso fazer? A vida é injusta.

Nami fez uma careta e descartou a outra embalagem, girando a poltrona de frente para o teclado e posicionando as partituras no suporte. Nós ensaiávamos desde o início da tarde e fazíamos eventuais alterações nas letras ou na melodia. Nami não era amadora, ela havia realizado um bom trabalho sozinha, até então. Mas, comigo ali, a ela era proporcionado um outro ponto de vista, um mais experiente no ramo da música. Juntos, fizemos alterações leves aos ouvidos, mas que pesavam aos telespectadores. As músicas eram fáceis de gostar porque eram boas, além de que... Nami adicionava algo de especial. Ainda não sabia nomear o quê, ao certo. Talvez sua voz? De qualquer forma, o importante era que – com a propaganda certa - aquilo poderia funcionar.

Bem, eu poderia dar como satisfeito pelo dia; afinal, havia, sim, feito bastante progresso na produção das músicas naquelas últimas sete horas. Mas – e era estranhamente difícil admitir até mesmo para mim – eu não queria ir embora. Pela primeira vez em o que parecia um tempo penosamente extenso, eu finalmente sentia que estava produzindo algo. Trabalhando com a música. E aquele agradável sentimento quase palpável de criatividade no ar não era algo do qual eu queria me desprender tão cedo.

— Credo. Você é muito pessimista.

— Não é pessimismo, estou sendo realista. — ajeitei minha poltrona de frente para o computador. — Além de quê positividade pode ser uma droga. O que você acha que é pior: fracassar estando confiante ou fracassar já estando ciente do fracasso?

— Vê? Você só foca no pior lado das coisas.

Bufei, irônico.

— Entenderei isso como se eu estivesse sempre pronto para lidar com as desilusões da vida.

— Acho perda de tempo. Quem consegue viver em paz esperando sempre pelo pior?

— Eu consigo.

— Acontece que você é tão sensível quanto uma pedra.

— Ouch. — Coloquei a mão no peito, fingindo um golpe. — Agora você feriu meus sentimentos.

— E você tem algum?

Olhei na sua direção – só para encontrar um sorriso involuntário em seus lábios, seus olhos concentrados nas partituras que tinha em mãos.

— Está interessada em descobrir?

Reagindo à minha indagação, ela revirou os olhos e deu mais uma mordida na barra de cereal.

— O quê? — indaguei. — Acabaram suas respostas? Você sabe que não sou nada sem elas.

— Estou de saco cheio — ela recolocou as partituras no teclado. — Você fica trocando essas palavras na letra da música sem o meu consentimento; qual a diferença entre ‘’minhas asas conseguem voar’’ para ‘’minhas asas podem voar’’?

— Você é uma compositora. Deve saber mais do que ninguém o peso que uma só vírgula pode ter numa música inteira. Só estou querendo o seu melhor.

Semicerrou os olhos, ainda focada no teclado. Colocou um dos fones e tocou alguns acordes.

— Como sua manager pode acreditar que você tem aulas em dezembro?

Dei de ombros, empurrando minha poltrona de rodinhas até o seu lado e pegando o outro fone do teclado.

— Experimenta trocar esse ré-mi-sol por um ré-sol-lá — apontei na partitura. — Eu tenho uma ficha bem limpa quando o assunto é faltar o trabalho.

— E uma ficha bem suja em mentir – arqueou a sobrancelha. — Hm... Não estou satisfeita com essa melodia ainda. Tem algo me incomodando nessa segunda parte.

Antes que a respondesse, ela fez menção para que esperasse. Tirou, então, o celular de seu bolso e se levantou com certa pressa, colocando o aparelho no ouvido.

— Yuri unnie! – sua voz era surpresa, quase como se tivesse sido pega desprevenida fazendo algo ilícito. — Eu estou meio ocupada, aqui na empresa.

Nami passou a mão pelo cabelo, escutando o outro lado da linha. Revirei os olhos, voltando a atenção para as partituras.

— Eles vão chegar hoje? Ah, sim. No natal? – sua voz entristeceu-se. — Adoraria ir, mas eu não posso. Não sei onde vou passar o natal, mas provavelmente será no dormitório ou no– —sua voz falhou e eu levantei o olhar para seu reflexo no vidro do estúdio, olhando para mim com uma careta. Abanei as mãos para que ela continuasse. — Um-hum. Bom, qualquer coisa eu aviso. Tudo bem, tchau.

Sentou-se de volta na cadeira, observando a tela do celular bloqueada por algum tempo.

— Quer dizer, então, que você joga dos dois lados?

— Está perguntando sobre a minha sexualidade? — ela pareceu surpresa.

— Você não é obrigada a responder — dei de ombros.

Ela hesitou, e então começou a rir, acenando com a cabeça.

— Você não respondeu a minha pergunta.

— Você está concluindo que eu sou bi? – ela balançou a cabeça, rindo.

— Não é uma conclusão, é apenas uma hipótese, — completei — dongsaeng.

Nami arqueou a sobrancelha e cruzou os braços, um sorriso desafiador ainda nos lábios.

— A minha sexualidade não depende das suas hipóteses, sunbae. E não, eu não jogo dos dois lados.

— Então você é lésbica? Foi por isso que fugiu, naquela hora na varanda?

Nami lançou-me um olhar significativo que fez eu me sentir estranhamente idiota.

— Você seriamente pensa que todo mundo se interessa por você? Como se fosse o tipo ideal de todas as garotas héteras que existem?

— Eu não disse isso. Só quero entender o que te fez fugir de mim.

— Desinteresse, talvez? — ela arqueou a sobrancelha. — Não me sentir sexualmente atraída por você não me faz lésbica. Aliás, como diz meu querido amigo Jaegun: eu sou tediosamente hétera.

Foi inevitável, o riso escapou da minha garganta antes que eu pudesse contê-lo. Nami não perdeu a compostura, permanecendo de braços cruzados, fitando-me com uma aura imponente. Aproximei minha cadeira da sua um pouco mais, apoiando meu cotovelo no teclado e olhando em seus olhos.

— Então você não queria?

— Tenho mais com que me preocupar no momento, sunbae. — Ela pegou as partituras das minhas mãos.

— Isso não foi um não.

— Os caras no geral ficam procurando mensagens implícitas nas falas das pessoas para transformá-las em um ‘’sim’’ ou isso é uma característica só sua mesmo?

— Foi uma pergunta simples com duas possíveis simples respostas, Nami. Sim ou não.

— Se eu realmente tenho que escolher, a resposta é não.

— Não acredito em você.

Ela soltou um risinho.

— Detonei seus sentimentos?

— Não foi você quem disse que eu era sensível feito uma pedra? — Suspirei, endireitando-me na cadeira. Neguei com a cabeça, como se estivesse decepcionado. — E ainda fica plantando ideias na cabeça dos outros, me fazendo morder a isca.

— Não se faça de sonso, a iniciativa foi sua — ela acusou com um sorriso travesso nos lábios. — No final das contas, é você o verdadeiro interessado em descobrir se ainda te resta algum sentimento.

Hesitei, procurando algo na mente para retrucar. Bem, o primeiro passo, de fato, foi meu. Mas foi quase mecânico, involuntário. Nós dois estávamos a sós; o único questionamento a se passar na minha mente foi: por que não?

— Acredito que esteja tirando conclusões precipitadas, Kim Nami.

— Não é uma conclusão, é apenas uma hipótese — ela repetiu minhas palavras anteriores. — Sunbae — acrescentou com um sorrisinho.

O sorriso de Nami apenas aumentou, e ela não desviou o olhar.

Antes que pudéssemos dar como terminado aquele jogo e determinar o vencedor, a porta repentinamente se abriu. Lee Shin, o técnico acústico que eu havia contratado, entrou carregando uma porção de papéis.

— Desculpem a demora; o documento não abria no computador da recep- — Lee Shin calou-se abruptamente, quando percebeu a proximidade que eu e Nami estávamos. — Estou atrapalhando?

— Não.

— Sim — minha voz soou em uníssono com a de Nami.

Ele hesitou brevemente, e então deu de ombros e fechou a porta atrás de si com um chute.

— Estamos num ambiente de trabalho, comportem-se.

— É aquela velha regra de sempre — brinquei.

Lee Shin riu, sentando-se no sofá de couro marrom.

Nami arqueou a sobrancelha para mim.

— Lá em 2010, por aí, tive aulas de programação musical com ele. Nossa professora sempre dizia que a regra número um dentro dos estúdios era ‘’nada de sexo na mesa’’, porque viviam encontrando camisinhas nas lixeiras.

Ela franziu a testa. Dei de ombros.

— Minha teoria — disse Lee Shin — é a de que alguns casais gostavam de se gravar. Ou o ambiente era propício, sei lá. As paredes eram cheias de pôsteres de gente seminua, quem sabe?

Apontei para os papéis em seu colo.

— Falou com o diretor do Han Musicians acerca do projeto?

Lee Shin folheou os papéis.

— Sim, ele me informou que a banda estará disponível na próxima quinta para a gravação do álbum. A correção e edição do áudio também estão inclusos no contrato. Eu já enviei as partituras e os arranjos das quatro primeiras músicas. É preciso apenas confirmar até o final do dia.

— Oppa, e quanto à cláusula de sigilo? A filial de Gangnam não é nada discreta.

— Avisei — respondi.

— Eu estava falando com Lee Shin.

— Sim, ele nos realocou para a filial de Yeonhui-dong — Lee Shin respondeu rapidamente, sem me dar chance para retrucar. — É uma vizinhança distante do centro, calma, poucos estabelecimentos comerciais. Além disso, o estúdio fica afastado da zona residencial. É bastante seguro, não se preocupe.

— Obrigada, oppa.

Revirei os olhos. Eu tinha quase certeza que Nami o chamando de oppa de propósito.

— Não há de quê. Só mais um ponto: a Han exigiu um encontro presencial para tratar das especificações do contrato. Pode ser em qualquer uma das filiais, mas é preciso avisar com antecedência. Podemos ir ainda hoje.

Nami desbloqueou a tela do seu celular e fez uma careta.

— Bom, vocês dois vão sozinhos. Eu tenho um compromisso daqui a pouco. — Ela fechou alguns programas no computador e desligou o teclado. Levantou-se da cadeira e começou a recolher seus pertences.

— O que pode ser mais importante do que o seu álbum? — questionei.

— A minha audição — respondeu.

Lee Shin estalou os dedos.

— É verdade. Lembro que você mencionou que teria uma audição na KBS, essa semana. Conseguiu decorar todo o roteiro?

— Eu não decorei, eu absorvi aquelas falas. Do jeito que passei o mês inteiro treinando, acho que nunca serei capaz de esquecer. A empresa intensificou as leituras, o acompanhamento psicológico e até me pagou um jantar decente — Nami contou num tom orgulhoso. — Só não gostei quando me fizeram cortar o cabelo; penei tanto pra deixa-lo crescer.

Pegou numa mecha, insatisfeita.

— Eu gostei do seu corte, ficou ainda mais bonita. Não é, Yoongi?

Arqueei a sobrancelha pros dois.

— Quando foi que ficaram tão próximos?

— Como não ficaríamos? — Nami retrucou, já com a mochila nas costas e pronta para sair. —Lee Shin oppa nunca faltou para me ajudar com as músicas.

‘’Ao contrário de você’’; ela não precisou verbalizar para eu saber o que tinha pensado.

Antes que Nami chegasse até a porta, eu a chamei:

— Espera, eu e Lee Shin estamos indo para o estúdio dos Han. Vamos no meu carro, posso te dar carona.

— Agradeço a gentileza, sunbae, mas a KBS é no caminho contrário ao de vocês. Quem sabe na próxima. Até logo, desejem-me sorte.

— Boa sorte.

Eu e Lee Shin dissemos em uníssono, o que fez com que Nami risse, antes de acenar, despedindo-se. Quando ela se foi, apontei o dedo ameaçadoramente para o peito do garoto ao meu lado:

— Sua namorada vai ficar sabendo disso.

Pov. Nami

Um guarda da sentinela da KBS indicou-me o caminho para o auditório do complexo.  O terreno na íntegra era quase um bairro; contava com vários prédios, cenários e até um sistema de transporte independente.  Para o meu alívio, o auditório, onde aconteceria a audição, ficava a poucos metros dos portões. Alguns jovens, possivelmente candidatos, faziam o mesmo trajeto que o meu. Eles estavam em um número relativamente menor do que eu havia previsto, julgando que os concursos da KBS eram, em sua maioria, bem concorridos. No entanto, ainda era cedo; aquela quantidade chegaria a triplicar com o passar dos minutos.

Assim que entrei no auditório, localizei uma pequena fila num balcão de informações. Tentei dar atenção para as paredes – num tom rosa claro e com pôsteres de filmes e novelas famosas da empresa -, na tentativa de aliviar o nervosismo, mas não havia nada nelas tão extraordinário que me fizesse ignorar o tremelique que atacava minha perna direita. Curvei-me educadamente para a recepcionista na minha vez de ser atendida, explicando-lhe que estava ali para a audição e entregando-lhe toda a papelada burocrática. Depois de checar todo o material, ela se pronunciou:

— Seus documentos estão em ordem. — Ela curvou os lábios em um sorriso gentil, carimbou os papéis e entregou-os de volta. Também me deu uma espécie de cartão de plástico com o meu nome e um pacote de lenços umedecidos — Certifique-se de que removeu toda a maquiagem. Sua senha é o número quatorze. As chamadas se iniciarão a partir das seis da tarde, obedecendo à ordem cronológica de chegada, na terceira porta à esquerda.

Embora não houvesse tanta gente na minha frente à espera da audição, os testes costumavam demorar. Como eu não queria passar todo aquele tempo em pé, decidi ir até o local que a recepcionista havia indicado para garantir um assento. Havia uma pequena fila formada, cujo início indicava uma porta vermelha larga, a qual provavelmente levava ao local da audição. Ao longo fila, pessoas com aproximadamente a minha idade ou até mais jovens esperavam pela chamada; não demorou para que eu me juntasse a elas, tomando posse do penúltimo assento ainda desocupado.

Com o passar dos minutos, mais pessoas chegaram e o silêncio, que antes era predominante, foi substituído por um frenesi de vozes, passos e farfalhos dos papéis da inscrição. O ambiente começou ficar intimidador quando os rostos famosos apareceram. A organização da fila foi por água abaixo à medida que as pessoas tentavam filmar ou tirar fotos com os atores famosos.  Os staffs tiveram que intervir várias vezes e exigir por organização, mas a situação só voltou a ficar sob controle quando as chamadas iniciaram.

Os que estavam sentados, como era o meu caso, foram orientados a ficar de pé, para melhorar a circulação de pessoas. O garoto que cochilava na cadeira que me antecedia levantou-se vagarosamente, arrastando os pés e espreguiçando-se. Por um segundo, senti inveja. Nas condições atuais, eu nunca conseguiria ficar tão calma a ponto de cochilar; e lá estava ele, esticando os braços e alongando o corpo despreocupadamente.

Enquanto voltava para a posição inicial, sua mão atingiu minha folha de inscrição, que voou poucos metros à frente. Ele sobressaltou-se, alerto de repente, e saiu da formação para recolher as folhas do chão.

— Perdão — a voz do garoto era baixa e grave, destoando das feições joviais. — Eu não deveria ser tão descuidado.

Ele se curvou, pedindo desculpas. Descartei sua formalidade com um aceno de mãos.

— Nenhum dano foi causado, don’t worry.

Peguei os documentos de suas mãos e me sobressaltei repentinamente. Olhei meu dedo indicador, que ardia com um fino corte. Corte de papel. Incrível.

— Ah... me desculpe por isso também. — Ele começou a revirar os bolsos da jaqueta, como se estivesse procurando algo — Deixa eu te ajudar.

— Não precisa. Logo, logo vai sarar.

— Eu insisto. — Ele tirou do bolso um pacote de lenços umedecidos. — A recepcionista me entregou um desses. Aqui, tome.

Peguei um lenço, sorrindo. Era reconfortante toda aquela preocupação, embora eu achasse um tanto exagerado.

— Obrigada.

— Eu tenho uns bandaids, espera — ele fuçou dentro da sua bolsa. — Aqui. Eu sou estudante de enfermagem e fico meio paranoico com cortes. Qualquer gota de sangue pra mim é um convite a infecções.

— Eu sou estudante de Biologia e ainda sim achei exagero.

— Então você está estudando Biologia errado.

— Eu ficaria ofendida, mas nem compareço direito às aulas pra início de conversa. Obrigada pelos bandaids.

Ele esperou, olhando atentamente enquanto eu fazia o curativo no meu indicador. Devo ter feito algo errado, porque ele franziu o nariz e pediu permissão para se intrometer.

— Fique a vontade.

Ele colocou o bandaid de uma maneira diferente e estranhamente eficaz.

— Eles ensinam a arte de colocar bandaids na faculdade?

— Temos uma matéria só para curativos — ele sorriu, simpático.

Apontei para trás quando a fila andou, e ele a seguiu, surpreso.

— Desculpe. Às vezes eu posso ser muito distraído. Devo ter causado uma péssima impressão. — Pigarreou, estendendo sua mão para mim: — Sou Shin Daeul, aliás. 23 anos, estudante de Enfermagem na Universidade Nacional de Seoul e ator independente por hobby. Prazer em conhecê-la.

Forcei minhas sobrancelhas a voltarem ao lugar de origem, desfazendo a cara de surpresa.

— Informação demais? — ele piscou.

Aquilo me fez rir. Apertei sua mão.

— Kim Nami. 19 anos, estudante de Biologia na Universidade Shinhwa e trainee na YG Entertainment. O prazer é meu.

— Estuda na Shinhwa e é filiada à YG? — ele pareceu surpreso. — Seu rosto não me é estranho. Você é famosa? — Ele se interrompeu, repensando suas palavras. — Quero dizer, se você for, desculpe não a reconhecer. Eu não tenho acompanhado muito mais do que filmes e séries recentes, então-

— Bem, famosa eu não sou. Já participei de comerciais e de alguns mvs para cumprir a carga horária de trainee; talvez seja por isso que me reconhece? Nunca fiz um trabalho como atriz oficialmente, então, se tudo der certo, este vai ser o meu debut.

A fila moveu-se mais uma vez, relembrando-me o motivo pelo qual passara noites em claro naquele último mês. A ansiedade pulsou forte no meu peito quando a porta vermelha se aproximou da minha visão. Tentei espiar o que havia depois dela durante o intervalo da entrada e saída de candidatos, mas tudo o que consegui ver foi um fundo acinzentado.

Percebendo a minha aflição, Daeul indagou:

— Nervosa?

— Talvez. Mais ou menos. Sim, bastante.

Ele riu.

— As coisas são mais simples do que parecem. Digo por experiência própria. Eu encontrei tantos famosos no meu primeiro teste para uma produção televisiva que achei que nunca passaria.

— E você passou?

— Não para o papel que tinha me aplicado, mas passei. De qualquer forma, os diretores levam mais em conta se você se encaixa no perfil que eles procuram do que o quão popular você é. Eu não sabia disso na época, mas agora estou mais confiante, porque posso usar isso a meu favor. Por isso estou me candidatando para ser o protagonista, o General Ryu.

— Também estou me candidatando para fazer uma protagonista. Mas ainda me preocupo se o fato de ser trainee possa influenciar na escolha dos avaliadores. Experiência é sempre um aspecto decisivo.

— Todo mundo começa de algum lugar. Além de quê o diretor Boon é amador. Ele tem apenas 20 anos. Seu roteiro ganhou o concurso que fizeram há alguns meses e agora irão transformá-lo numa série. Você deve saber disso, eu sei. O ponto é: ele não vai te julgar pela sua experiência. Ele também é um novato aqui. E o foco da KBS agora é a descoberta de novos talentos. Você é talentosa? Você me parece talentosa.

— Sou disciplinada.

— Mostre isso a eles, e eu sei que – se for o que estão procurando – , o papel será seu.

Sorri, me sentindo mais confiante. Continuava nervosa, mas conseguia visualizar as falas na minha mente agora.

— Há quanto tempo é ator? — indaguei.

Daeul sorriu, mostrando covinhas nas bochechas.

— Desde criança. Posso contar a história de como aconteceu? Acho engraçada.

— Vá em frente.

— Então, a minha mãe achava tudo que o Daeul bebê fazia a coisa mais linda do mundo e sentia que devia compartilhar com o mundo inteiro fotos e vídeos meus, às vezes nas situações mais embaraçosas possíveis. Acontece que uma foto minha brincando com o meu dálmata viralizou na internet e o dono da marca de fraldas que eu estava usando na hora contatou a minha mãe para eu fazer uma sessão de fotos. A partir daí, sempre estive fazendo essas propagandas e pequenos papéis em filmes ou novelas. Também cursei Teatro e a tese do meu TCC foi sobre o processo de seleção de atores em produções televisivas. Como eu já tinha vontade de atuar nesse campo, a pesquisa serviu como uma luva.

— Isso é meio impressionante. Você é tão novo e já fez tanta coisa.

Ele franziu as sobrancelhas, um sorriso nos lábios.

— Você também é nova e tenho certeza que já fez várias coisas também. Conseguiu entrar na YG Entertainment; isso por si só é um grande feito. Aos meus olhos, você já é uma vitoriosa.

Receber o reconhecimento de um estranho numa fila de espera sobre aqueles feitos tão penosos era agradavelmente reconfortante. Fez-me lembrar da alegria que sentira ao ser aprovada no teste para treinamento na YG – alegria que foi se esvaindo a medida que a rotina tomou conta da minha vida.

Antes que eu pudesse respondê-lo, uma staff aproximou-se e dirigiu a palavra à Daeul:

— Prepare toda a documentação, você entra em dois minutos.

Ele assentiu e tirou os papeis de sua bolsa, já pré-organizados. Atrapalhou-se com o zíper e eu percebi que suas mãos tremiam.

— Nervoso? — indaguei, sorrindo gentilmente.

Ele riu.

 — É inevitável.

— Eu não sou boa com discursos de incentivo, então só posso te desejar boa sorte.

— Obrigado.

Nesse instante, a porta se abriu e, assim que o candidato anterior retirou-se, Daeul foi chamado.

Ainda tive tempo de murmurar um segundo Boa Sorte, ao qual Daeul respondeu com um sorriso antes de entrar na sala. Por uma fração de segundo, pude visualizar uma parte do espaço. Havia uma mesa retangular de um cinza metálico, na qual estavam sentados uns cinco ou seis avaliadores – não deu tempo de contar, e não sabia nem se havia visto todos. Tinha duas grandes câmeras de aspecto profissional apontadas para o centro da sala, onde presumi ser o local de apresentação dos candidatos. Antes que pudesse ver qualquer coisa a mais, a porta se fechou.

O tempo que passei esperando pareceu uma eternidade. Racionalmente falando, não demorou muito, mas o meu nervosismo fez com que os segundos se arrastassem como anos. Eu segurava o ar no pulmão e só consegui respirar direito quando a staff me distraiu, recomendando que eu organizasse logo os meus documentos. Depois disso, não tardou para que Daeul saísse da sala, com um sorriso que se estendia de orelha a orelha.

Ele me desejou sorte, segurando a porta para que eu entrasse. Com um suave tup, a porta vermelha fechou-se atrás de mim. Senti minhas pernas estranhamente trêmulas, caminhando até a mesa dos avaliadores. Entreguei-lhes meus documentos.

O homem do meio, de aparência jovem – a placa em sua frente lia-se Diretor Boon — distribuiu aos outros as cópias dos papéis.

— Kim Nami, 19 anos. Protagonista, han? — Ele sorriu. — Vamos analisar sua ficha técnica.

Os cinco avaliadores murmuraram entre si. Eu não queria e nem tentei escutar o que eles falavam.

— Pois bem — ele pousou os papéis na mesa, em sua frente. — Ato cinco, cena um.  Vamos esperar o posicionamento das câmeras.

Concordei com a cabeça, atentando às duas pessoas apontando as câmeras para mim. Uma luz desconfortável foi acesa bem no meu rosto, mas tentei não dar atenção àqueles distratores. Em vez disso, concentrei-me em lembrar qual seria o ato cinco. A cena da ponte...? Não, aquele era o ato três. O alistamento militar, sim, alistamento militar era o ato cinco. As falas e as posturas organizaram-se em minha mente, e eu respirei fundo enquanto ainda tinha tempo, acalmando meus nervos. Ao que eu terminava de me preparar, uma mulher da bancada de avaliadores levantou os olhos dos meus documentos – pude visualizar brevemente a minha foto no perfil da folha.

— Kim Nami, filiada à YG Entertainment... Pode provar que é tão talentosa quanto a sua ficha técnica diz que você é?

Sorri.

— Certamente, senhora.

Dessa vez, a minha voz esteve ao meu favor. Soou firme, confiante tal como esperei. Respirei fundo quando as câmeras apontaram para mim. Era agora.

— Pois bem, Kim Nami — o diretor Boon pareceu divertir-se. — Convença-nos


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