Connected | BTS Fanfic escrita por Choi Jinhee


Capítulo 14
Suco de Laranja


Notas iniciais do capítulo

Annyeong~~

Gente, desculpem pelo atraso no capítulo!! Continuaremos postando de 10 em dias, mas para compensar o próximo capítulo vai sair mais cedo.
E comentem!! Obrigada por continuarem lendo ♥3
Espero que gostem do capítulo e que a espera tenha valido a pena, aproveitem ♥



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Jung Hoseok POV

 

— Senhor Jung — a voz da secretária no telefone atrapalhou o barulho do programa que passava na televisão —, a Sra. Jung pediu para que eu o lembrasse do seu compromisso de hoje.

Levantei a sobrancelha. Devia ser sobre isso que a minha mãe queria falar nas ligações que eu ignorara mais cedo. Apertei o botão para ativar o microfone do telefone, em cima da mesa de cabeceira.

— E o que seria este compromisso?

— A Sra. Jung marcou um brunch com a família Silverman.

Cogitei a ideia brevemente.

— Diga que eu não estou afim.

A secretária hesitou antes de falar novamente, o pesar em sua voz mesmo através do telefone.

— Senhor, devo insistir que você repense sobre-

— É a minha resposta final.

— Sim, senhor.

 

Peguei meu celular na cabeceira na cama e vi que ainda eram 08h. Algumas mensagens não lidas de Jin chamaram minha atenção – ele pedia nossa opinião sobre uma versão surrealista de mais um quadro da Amélia, a gatinha encapetada que ele criava como se fosse sua filha. Antes que eu pudesse responder, uma mão pesada bateu repetidamente à minha porta.

Revirei os olhos, tapando minhas orelhas com a almofada.

— Jung Hoseok, trate de abrir essa porta agora — ameaçou, sua voz uma mistura de raiva e compostura. — Eu preciso repetir o quão importante é você causar uma boa impressão nos Silverman?

— Eu posso causar essa boa impressão noutro dia — me espreguicei.

— Jung Hoseok, se você não abrir, vou ser obrigada a derrubar, e você já ficou sem porta antes. Acredito que não tenha sido uma boa experiência.

Minha mente relembrou a famosa cena de nove anos atrás, quando passei duas semanas sem porta pelo fato de não a ter aberto após as ameaças de Jung Seolhyun. Resolvi sair da cama, lentamente, ainda me espreguiçando.

Destranquei a porta e me virei para o sofá.

Jung Hoseok! Você vai ficar de castigo-

Ela se interrompeu no meio da ameaça, percebendo que a porta se abrira após mexer na maçaneta. A Sra. Jung entrou no quarto, e eu destinei um olhar breve em sua direção. A visão me deu dor de cabeça; estava muito cedo para alguém estar tão bem-vestida e maquiada.

— Jung Hoseok — começou —, o que mais eu vou ter que fazer para você parar de ser tão infantil?

— Eu não estou sendo infantil. Estou reivindicando minha liberdade de escolha —me estiquei para alcançar o controle remoto no outro lado do sofá.

— E você tem que fazer isso hoje? Os Silverman são uma família importante para a manutenção da-

— Eu não me importo. Ninguém me perguntou se eu estava livre, você só assumiu que eu estou sempre disposto a ir nesses encontros tediosos.

— E o que exatamente você pretendia fazer hoje? Assistir TV? — ela apontou para a televisão. — Como você pode escolher procrastinar diante de uma reunião tão importante?!

— Eu só não quero ir para essa coisa — resmunguei. — Quem faz brunch na Coreia do Sul, de qualquer jeito? Se eles querem mesmo fazer isso, que voltem para a Inglaterra.

Ela revirou os olhos.

— Guarde suas críticas para alguém que se importe. Agora, vá se arrumar. E não me faça repetir — disse pausadamente.

Antes que respondesse, uma voz se fez escutar antes da pessoa entrar no meu quarto.

— Vocês já estão brigando a esta hora?

Olhei para trás, surpreso. Meus dois pais no mesmo aposento; aquilo iria ser traumático, no mínimo.

— Querido! — mamãe exclamou, surpresa. — Você chegou mais cedo da sua viagem. Aconteceu alguma coisa?

— Algumas confusões desnecessárias — ele não a destinou nem um olhar, abanando a mão no ar. — E quanto a você, Hoseok. O que aprontou desta vez?

— Estava com saudades de você, meu velho! — me levantei para ir abraçá-lo, sorrindo.

Ele riu, acariciando meu cabelo.

— Não trouxe nenhum presente desta vez.

— Você deve achar que eu sou o filho mais interesseiro do mundo, pra dizer isso. Não nos vemos há semanas!

Seolhyun deu uma tosse falsa.

— Então, soubestes que nosso filho estampou todas as capas de revistas?

Shinhwa me olhou torto, como se estivesse avaliando minha reação. Eu funguei.

— Deixe-me adivinhar — pausou, pensativo —, não foi por causa de mais um prêmio importante que ele recebeu.

— Uma foto dele levando um tapa de uma garota — entregou, apontando para mim.

Meu pai me olhou com o canto do olho, mordendo o lábio.

— O que você fez pra levar um tapa, exatamente?

— Um mal entendido — funguei.

Ele arqueou a sobrancelha, pedindo por mais detalhes.

— Não adianta perguntar, eu já tentei de todas as formas — a Sra. Jung suspirou. — Ele nem me diz quem ela é.

— E por que ele diria? Isso seria homicídio.

— Vocês por acaso acham que eu sou o demônio? Eu sou mãe. Fico preocupada com o meu bebê.

— Bobagem. Hoseok já é maior de idade, sabe se cuidar — ele levantou a sobrancelha para mim. — O que ele não sabe, porém, é paquerar com as meninas. Precisamos trabalhar nisso.

— Eu sei sim! Ela deu todos os sinais de interesse! Eu tinha certeza de que estava na minha.

— Francamente, Hoseok — papai pôs a mão no meu ombro. — Eu não te ensinei nada?

— Se for para namorar, eu tenho o contato de várias moças que adorariam conhecê-lo — a Sra. Jung tirou seu celular da bolsa. — Vou te encaminhar as fotos para você procurar uma que te interesse e-

— Eu já disse que não quero encontro arranjado.

— Sim, pode guardar esse telefone — Shinhwa fez uma careta de desgosto. — Filho meu pode beijar na boca de quem ele quiser. Com o consentimento da garota, claro. Ou garoto, o que você preferir.

— Tenho números de garotos também, se esse for o problema.

— Pelo amor de Deus, mãe! Eu não quero namorar.

— Então pare de causar escândalos em rede nacional!

— Foi por isso que você o colocou na universidade com os outros meninos? Por que ele decidiu ser do mundo por uma noite e as câmeras o flagraram?

— O senhor também era assim, na minha idade.

— Eu? Eu era muito pior — ele piscou o olho.

O empurrei com o braço, rindo.

— Mas o seu pai ainda não tinha uma multinacional nas mãos. Você tem — minha mãe bateu o pé no chão, chamando nossa atenção. — E você não parece saber lidar com isso.

— Vocês estão reclamando de barriga cheia — bufei. — Eu já tenho um Q.I. maior que metade da população da Coreia, faço todos os meus deveres e atendo às aulas.

— Não se trata do seu Q.I. — papai chamou. — Jiyoon era um dos homens mais inteligentes da minha época, e mesmo assim hoje em dia ele trabalha pra mim. E eu repeti o segundo ano. Duas vezes.

Eu soltei uma risada.

Ele revirou os olhos.

— Passar de ano no ensino médio é como tirar doce de uma criança, convenhamos — murmurei, sendo repreendido por um olhar de Seolhyun.

— Você é um gênio. E eu não estou falando isso porque sou seu pai — ele piscou o olho para mim, sorrindo. — Mas de nada adianta ser um gênio sem a oportunidade. Você já conquistou dezenas de prêmios que comprovam a sua inteligência, mas o que irá verdadeiramente por tudo isso à prova será o Grupo Shinhwa.

— Que você vai herdar totalmente — minha mãe acrescentou.

— E eu sei que você não me desapontará – concluiu, um sorriso orgulhoso no rosto.

Concordei com a cabeça, sorrindo amarelo. Lembrei que quando ele dizia aquilo, anos atrás, eu sorria verdadeiramente disposto a fazer de tudo para deixá-lo orgulhoso. Mas agora, que tinha conhecimento do que estava me metendo, da quantidade de responsabilidade que aquele cargo me traria...

Por que eles sempre depositam mais e mais confiança em mim?

— Agora, vamos para o Brunch! — meu pai anunciou.

— Você vai? — perguntei, surpreso. — Se eu soubesse que você iria, já teria me arrumado.

— Logo após, iremos eu e você para uma reunião com os acionistas da Shinhwa.

— Ninguém me contou sobre esta reunião — a Sra. Jung franziu a sobrancelha.

— Não é esta a sua função, afinal — Shinhwa apenas deu de ombros.

— Eu tenho uma parcela importante das ações do Grupo Shinhwa, é claro que eu também deveria comparecer nas reuniões dos-

— Seolhyun, você é livre para fazer compras a tarde toda — sua voz era indiferente. — Não reclame do seu trabalho.

Ela fungou.

— Você acha que eu sou assim tão desocupada? Eu tenho toda uma revista nas mãos para cuidar, não é como se-

— Então vá trabalhar!

— Eu iria, se não tivesse que ficar seguindo os passos do nosso filho para mantê-lo longe de problemas, já que o pai dele não está aqui para educá-lo.

— O Hoseok é bem grandinho para fazer as próprias escolhas, pare de perder tempo com as suas idealizações de família perfeita. Deixe-o viver sua vida e vá procurar o que fazer.

— Eu vou tomar banho — anunciei.

 

Era óbvio que aquele amor tinha se esgotado.

Minha mãe continuava dizendo que o amor deles era como um carro – você não o abandonaria só porque o combustível tinha acabado; bastava reabastecer. Mas, para mim, aquilo era apenas uma desilusão. Eu não sabia o que era amor de verdade. Eu amava meus amigos – crescemos juntos, éramos irmãos sem relação sanguínea —, mas um amor romântico era diferente.     

Brigas, reconciliações, desculpas e arrependimentos. Eu não sei se poderia sentir tudo isso, já que (como todos diziam) eu sou egocêntrico demais para amar.

“Provavelmente isso é verdade”, me convenci, com o passar do tempo.

Mas na verdade, eu tinha medo. Medo de amar demais, de ser iludido ou abandonado, ser entregue para depois ser afastado.

Medo de acabar que nem os meus pais — o amor se esgotaria, e então ficaria preso na ilusão de ter amado.

 

***

 

Fiquei decepcionado quando cheguei ao edifício sede do Grupo Shinhwa para a reunião. Esperava uma grande comitiva e vários funcionários, já que não era sempre que o próprio Shinhwa comparecia aos encontros, mas não. A grande mesa em formato de U estava ocupada por pouco mais do que meras 12 pessoas, todas em duplas identificadas por placas na frente de seus assentos. Um telão na parede exibia a logo da Shinhwa, e na nossa frente só havia copos de água! Nem sanduichinhos. Tudo bem, havia sido uma convocação surpresa, mas era de se esperar que tivesse um pouco mais de luxo, não? Aquela empresa literalmente segurava o peso da Ásia nas costas.

Saberia mais tarde que eram aqueles os maiores acionistas asiáticos da Shinhwa. Os outros jamais saberiam da existência daquela conferência.

Entrei ao lado do meu pai, que olhou satisfeito para a sala. Mesmo que ele houvesse convocado a reunião no carro já a caminho da empresa, todos os convocados estavam ali a tempo. Menos um casal – a placa ao lado da nossa, ‘’Lee Corp.’’. Eu nunca os havia visto – apenas por vídeo conferências -, mas sabia quem eram. Os segundos acionistas majoritários da nossa empresa.

Não entendia o porquê de nunca ter sido apresentado para eles, que faltavam todas as reuniões dos acionistas. Eu sabia que precisava causar uma boa impressão, afinal sempre existiu uma possibilidade deles se tornarem presidentes no meu lugar — algo que já me preocupa noite e dia. Precisava tê-los do meu lado.

— Boa tarde a todos — Shinhwa cumprimentou, antes de se sentar. — Sejam bem-vindos a mais uma reunião do Grupo Shinhwa. Peço perdão pela tão repentina convocação, mas não passarei muito tempo na Coréia do Sul — ele sorriu, colocando sua maleta em cima da mesa. — Alguns de vocês nunca me viram pessoalmente. Sou Jung Shinhwa, presidente do Grupo Shinhwa. Gostaria que vocês conhecessem meu filho. Herdeiro único, Jung Hoseok — ele olhou para mim.

Fiz uma reverência.

— Boa tarde — levantei a cabeça e procurei olhar cada um nos olhos enquanto falava, esticando os ombros. — Agradeço a paciência e a confiança dos senhores e das senhoras ao me deixarem participar dos encontros da empresa, mais uma vez. E também por serem meus mestres hoje, aprimorando meu aprendizado com suas palavras e ações. Algo que não deixarei passar em branco no meu futuro como presidente desta companhia.

Meu pai sorriu, e puxou a minha cadeira para que eu me sentasse.

— Pois bem, apresentações feitas — ele pegou papeis de dentro de sua maleta e os entregou para uma ajudante distribuir aos presentes. —, a finalidade de estarmos todos aqui reunidos é a necessidade de melhorar nossos recursos para o projeto da construção do Condomínio Gongwon Keun em Ulsan. Projeto criado pelo nosso parceiro da Loyal Corporation, o fiel Jang Chansung.

Eu perceberia mais tarde que a real finalidade naquela reunião era para me apresentar àqueles que deveria procurar fazer alianças. E para que eles soubessem a quem deveriam responder quando meu pai se aposentasse.

 

Kim Seokjin POV

 

Eu realmente não gostava de segundas-feiras.

Como se não bastasse a falta de capacidade psicológica para suportar meus amigos, eu ainda tinha que aguentar Yuri me ignorando. No início, pensei que fosse ser divertido reencontrar uma amiga de infância. Que seria legal quando ela me reconhecesse (se reconhecesse). Mas, então, ela passou a agir como se eu fosse uma pessoa a se evitar – qualquer aproximação ou conversa eram logo cortadas.

Aquilo me incomodou; quero dizer, eu nem tinha feito nada de errado. A explicação mais lógica que pude chegar era a de que ela ouvira falsos rumores ao meu respeito. Se bem que, se eu pensasse bem naquilo, não tinha nenhum grande rumor circulando sobre mim. Pensar sobre o motivo que a afastara de mim era frustrante.

Há anos que eu sequer pensava em Lee Yuri. Mas, vendo-a novamente, tão diferente e, mesmo assim, com a mesma essência de criança feliz e sorridente, deu-me um ar nostálgico. Apesar dela nem ter me reconhecido.

Não há motivos para isso, de qualquer jeito.

Quando a conheci, os dois anos que separavam a nossa idade eram barreiras para a nossa aproximação. Minha babá nunca me deixara sair da mesa ‘’dos adultos’’, então eu a observava brincar com as outras crianças nas reuniões chatas que nossos pais frequentavam. Yuri se aproximara de mim em mais de uma ocasião para me convidar para brincar, e quando eu recusava, ela trazia brinquedos para a mesa – aqueles que eu podia jogar sem incomodar ninguém, como gameboys ou revistinhas. Às vezes, ela sentava ao meu lado e jogávamos juntos, ou então voltava para o círculo de crianças. Eu me via esperando que ela permanecesse ao meu lado.

Não sabia se Yuri conhecia os meus amigos ou se ao menos se lembrava deles, mas no fundo eu esperava que sim — era o único jeito dela ainda me reconhecer. Não que eu precisasse ser reconhecido, mas gostaria que ela não me visse apenas como um membro do F4 – o grupo que ela chamou de ridículo.

— Filho, o café está na mesa — minha mãe entrou no quarto, usando um avental por baixo do seu terninho. — Seu pai comprou pasta de amendoim e geleia.

Eu me espreguicei e sorri, e ela jogou um beijo no ar para mim.

— Estou indo, me esperem para comer — pedi. — Vou só lavar meu rosto.

 

— Quem é a gata mais fofinha desse mundo? — Amélia ronronou, se enroscando na minha perna.

A porta se abriu, assustando-a. Peguei-a no colo, acariciando sua orelha no lugar que ela mais gostava. Ela esticou as patas em direção ao travesseiro do sofá, e eu o afastei – ela tinha tendências de estragar a mobília.

— Eu já sei, pai — meu pai entrou na sala com o celular no ouvido. Ele parecia incomodado. — Ele vai estar presente, não se preocupe — olhou para mim, pesaroso.

Levantei a sobrancelha, questionando.

— Ele está bem, dou minha palavra. Eu conheço o meu filho, sei que já a superou. Ele nem pensa mais nela.

Revirei os olhos, já sabendo do que se tratava.

— Ele vai adorar conhecê-la, você vai ver — insistiu. — Eles vão se dar muito bem. Aham. Tchau.

Meu pai guardou o celular no bolso do seu terno e olhou para mim, sem jeito.

— Deixe-me adivinhar — pedi —: você não o convenceu de que eu não preciso de encontros arranjados.

Ele hesitou, e concordou com a cabeça.

— Seus avós estão preocupados com você — sentou-se ao meu lado, pousando sua mão em meu ombro. — Desde que descobriram o que a Rachel fez.

— Não é o fim da minha vida, pai. Eu nem me sinto mal pelo nosso término, nosso relacionamento já estava desgastado depois de tanto tempo. Foi inevitável. Não precisa se preocupar tanto com a minha vida amorosa.

— Eles só estão preocupados que você talvez tenha se traumatizado, depois de uma menina tão insolente.

Eu o reprimi.

— Não fale assim dela, por favor.

Bufou, mas não estava irritado.

— De onde veio toda essa paciência?

— Do vovô é que não foi.

Ele riu. Seus olhos pousaram sobre a gata no meu colo e, lentamente, aproximou a mão de sua cabeça na intenção de fazer carinho. Amélia se afastou imediatamente e mostrou os dentes.

Eu sorri, orgulhoso.

— Essa gata não é normal — resmungou. — Ela não gosta de ninguém, absolutamente ninguém.

— Ela gosta de mim — a defendi, puxando-a para o meu colo novamente. — Vocês que não sabem como chegar nela — beijei sua cabeça. — Não é mesmo, meu amor?

Senti minha alma se derreter quando ela ronronou, esfregando sua cabeça na minha bochecha.

Meu pai suspirou.

— O encontro será hoje — avisou. — Você pode ir depois da sua aula para o Dom Royale. Seu avô estará lá com a moça lhe esperando.

— O vovô vai?

— Tenho quase certeza de que ele vai ser retirar depois de apresentá-los.

Quase certeza?

— Você conhece o seu avô, bom-senso nunca foi o forte.

Abri a boca para responder, mas me resignei com um suspiro.

— Eu posso ao menos saber o nome dela?

Ele fez uma careta.

— O papai mandou uma imagem de foto, mas tecnologia também não é o forte dele.

Estendeu seu celular, e na tela havia uma imagem desfocada e de cabeça pra baixo de algo que parecia uma menina, vista dos ombros para cima. Eu sabia que ela era loura e sua pele era clara, e era isso. O rosto dela podia ser deformado, mas eu só saberia na hora.

— Pelo menos a comida é boa — meu pai deu de ombros.

 

***

 

Eu olhei para a porta no mesmo momento em que Lee Yuri entrou na sala de aula, mexendo no celular. Ela estava com um vestido florido azul e branco, e seu cabelo solto estava tão preto naquele dia que parecia quase azul, as cores contrastando com o seu tom de pele de uma maneira que era fascinante de olhar.

Sentou-se ao meu lado sem olhar para mim, estragando meu plano de dar bom dia uma vez que nossos olhos se encontrassem.

— Bom dia — falei. — Você está me ignorando?

— Não.

— Está, não está? — insisti.

Ela não respondeu, sem levantar os olhos do celular.

— Eu gostaria de saber o porquê, para então me desculpar.

Ela levantou a cabeça, e então falou pausadamente:

— Não. Estou. Te ignorando.

E voltou a prestar atenção no celular. Hesitei por um momento, escolhendo minhas palavras.

— Eu não sei o que escutou sobre o F4... Mas nós não somos os monstros que você deve achar. A maioria dos rumores não tem nenhum fundamento.

— Eu não dou ouvido para rumores. Dou razão para o que presenciei.

— Não fomos nós quem demos o cartão para o seu amigo. Eu nunca dei cartão pra ninguém.

— Mas você assistiu tudo de perto, e nunca fez nada.

— Eu não me meto no que os meus amigos decidem ou não fazer. A vida é deles.

— Ignorar o que está acontecendo como se não te envolvesse é tão pior quanto. Eu só quero me afastar de gente assim.

— E que tipo de pessoa você acha que nós somos?

— Do pior tipo, que acha que pode fazer o que bem entende com os outros só porque são ricos.

O professor entrou em sala e eu não respondi. Não tinha o que dizer.

 

***

 

‘’Do pior tipo, que acha que pode fazer o que bem entende com os outros só porque são ricos’’.

Ainda distraído pelas palavras de Lee Yuri, não conseguia prestar atenção no que os garotos conversavam. Balancei a cabeça, tentando voltar para a realidade.

— Suga, de verdade, eu nunca te vi sorrindo pro nada — Taehyung disse. — E você já tá fazendo isso há mais de três minutos. Você tem noção do quão estranho isso consegue ser?

Olhei para Yoongi, que apenas sorria enquanto bebericava um yakult.

— Vocês só sabem reclamar de mim — ele riu.

Eu franzi o cenho, olhando estranho para Hoseok, que me olhou do mesmo jeito.

— O que diabos aconteceu com você? — ele perguntou. — Ganhou alguma premiação importante e não disse nada pra gente?

— Claro que não, Hoseok — Taehyung bebericou seu suco. — Ele não tá conseguindo escrever a legenda de uma foto, imagine alguma música de sucesso.

Tae xingou quando a embalagem de yakult atingiu sua cabeça em uma velocidade incrível.

— Yoongi, nos conte o que aconteceu — pedi. — Não vamos denunciá-lo ou algo do tipo.

— Por favor, não me diga que você contratou alguém para raspar o cabelo do Rap Monster enquanto ele dormia — Hoseok falou —, porque quando eu sugeri isso era brincadeira.

Suga riu, alongando seus braços.

— Meus queridos amigos — sorriu — e Kim Taehyung — Tae mostrou o dedo do meio para ele —, vocês estão olhando para o próximo número 1 nos charts mundiais.

— Perdão? — Tae levantou a sobrancelha.

— Digamos que eu, Min Yoongi, voltarei com tudo.

— Adorei a positividade, e longe de mim subestimar sua capacidade como artista, mas — hesitei —, hm, como você pretende fazer isso?

— Contratei uma trainee compositora da YG — sorriu —, que não tem nem ideia de com quem ela se meteu.

— Genial. E a empresa concordou sem discussão?

— É óbvio que não — ele fez uma careta. — O YG-ssi nem sabe.

Hoseok soltou uma risada nervosa curta.

— Ãh, 1) eu estou com pena dessa trainee e espero que você tenha tudo sobre controle para ela não abrir o bico, porque se não você vai ser altamente linchado — Taehyung enumerou. — E 2) espero que saiba o que está fazendo porque se o YG descobrir ele pessoalmente te chuta da empresa.

— Eu sempre tenho tudo planejado — afastou o assunto com a mão.

Uma sensação horrível se alojou no meu estômago.

— Min Yoongi, por que você não falou com a gente antes de fazer uma coisa dessas?!

— Opa, ele irritou a mãe — Tae cutucou Hoseok.

— Simples — Yoongi estalou o pescoço, e eu sabia que estava evitando me olhar nos olhos —; porque você viria com um sermão sobre ética e moral e eu estou andando e cagando pra isso, contanto que eu saia ileso.

— Você não o que está fazendo? — massageei minhas têmporas. — Nós sabemos que você está passando por tempos conflituosos, mas eu te disse para descontar na gente, não no trabalho. Se você for pego-

— Eu não vou ser pego.

— Ninguém sabe se-

Hoseok limpou a garganta, apontando com a cabeça pro garoto que se aproximava da nossa mesa. Woobin corria na nossa direção, e quando parou, estava arquejante. Tae jogou uma garrafa d'água para ele.

— Whassup.

— Eu consegui aquilo... que você pediu — ele se dirigiu a Hoseok, abrindo a garrafa e bebendo longos goles.

— O que você pediu? — perguntei. — Por favor, que seja algo decente e politicamente correto.

— Informações — ele respondeu, sem tirar os olhos de Woobin. — E então?

Ele apontou para o celular de Hoseok, em cima da mesa.

— A localização que eu mandei é de um restaurante. Ela trabalha lá.

— Hm — ele pegou seu celular, levantando a sobrancelha —, a família dela é dona de restaurantes, então?

— Não, não. A dona do restaurante é a mãe do bolsista, Park Jimin.

— Vocês tão falando daquela maluca que gritou contigo, Hoseok? — Tae perguntou.

— O nome dela é Lee Yuri — Woobin assentiu.

— E ela trabalha lá com o quê? — Hoseok continuou.

— Bem, ela é garçonete.

Ficamos em silêncio.

— Mas ela não é bolsista — Woobin continuou. — Então não deve trabalhar lá pelo dinheiro.

— Qual o outro motivo pra alguém se dignar a trabalhar como garçonete? — Hoseok fez uma carranca. — Não acredito que levei um tapa do tipo de pessoa que passa o tempo livre limpando pratos. Imagina se ela não lavou as mãos e-

— Eu também lavo pratos lá em casa — interrompi, incomodado.

— Só quando você cozinha pra si mesmo, mas isso é outra coisa — Hoseok retrucou.

— E qual é o problema em lavar pratos? — Taehyung perguntou. — A Hyejung ahjumma lava pratos e ela é mó gente boa.

— É, mas ela é outro tipo de pessoa.

— E qual é o nosso tipo de pessoa? — perguntei.

‘’Do pior tipo, que acha que pode fazer o que bem entende com os outros só porque são ricos’’.

— Do tipo que não deveria levar tapas de garçonetes — respondeu, convencido.

— Quer dizer que você acha que somos melhores que os outros só porque temos dinheiro?

Eu bufei, irritado.

— Não, bem — ele se atrapalhou, pensando no que estava dizendo. — É, acho que estou sendo um pouco preconceituoso aqui.

Yoongi riu.

— Acha?

— Reflita sobre todas as vezes que a Hyejung ahjumma nos mandou comida sem a gente pedir e reveja seus conceitos sobre pessoas que lavam pratos — Tae concluiu.

— Tudo bem — Hoseok assentiu. — Mas, se ela trabalha como garçonete por opção, ainda não descobrimos quem são os pais dela.

— E isso importa? — perguntei. — Por que você simplesmente não a deixa em paz?

— Claro que não. Sou um homem de promessas, e prometi que iria perturbar a vida dela.

— Há rumores de que talvez ela seja prima da Raposa — Woobin falou.

— Não, Jinhee não tem parentes da idade dela — Yoongi falou.

— Ela tem uma irmã, só que ela tem quase trinta anos e já é formada — Hoseok concordou.

— É, mas Yuri veio do Brasil — Woobin continuou. — Talvez por isso vocês não a conheçam.

— Elas não têm nenhuma relação sanguínea, pode ter certeza — falei. — Nós conhecemos a família da Jinhee inteira. Ela mesma nos apresentou.

Woobin concordou.

— De qualquer forma, obrigado, Woobin — Hoseok apontou para o seu celular. — Darei uma passada lá para fazer reconhecimento de terreno mais tarde.

— Precisa de mais alguma coisa?

— Por enquanto não. Pode ir.

Ele assentiu e se virou.

— O que você planeja fazer com a Yurissi? — perguntei.

— Darei uma honra para ela — Hoseok respondeu.

— Honra? — franzi o cenho.

— A honra de fazê-la se apaixonar por mim — piscou o olho.

Um, dois, três segundos se passaram até Yoongi e Taehyung caírem na gargalhada. Apoiei a cabeça nas mãos, pensando se estaria ficando louco.

— Você é tapado? — Yoongi riu. — Aquela garota vai é te matar se você chegar perto dela.

— Prepare suas cuecas, Yoongi — Hoseok abriu um sorriso inabalável —, porque você vai perder a aposta.

Taehyung riu ainda mais.

— Eu só queria saber o que você quer fazer com minhas cuecas, Taehyung — perguntou. — Você sabe que eu sou hétero, não é?

— Hyung — Taehyung limpou uma lágrima —, você não tem noção do quanto isso vale na internet.

Jung Hoseok POV

 

Gwanak-gu tinha uma intensa área comercial. Mas claro, tratava-se de algo popular, ou seja, comum para a população sul-coreana — traduzindo: incomum para mim. Não me lembrava de ter visitado algum restaurante daquele distrito nunca, mas respirei fundo, encarando a porta de um ambiente sem nome. A única coisa que permitiu que eu o diferenciasse da maioria foi a sua numeração e o intenso movimento que estava lá dentro.

Olhei meu reflexo no espelho do carro, penteando meu cabelo com os dedos. Arrependi-me mentalmente por não ter pedido a companhia de Taehyung. Respirei fundo, pegando uma máscara cirúrgica preta do porta-luvas para esconder meu rosto.

Desci da Ferrari, receoso pelos olhares que me reparavam. Entrei no restaurante rapidamente, passando despercebido diante do burburinho animado que preenchia o ar. Dirigi-me para uma mesa vaga no fundo do lugar, ignorando o cumprimento de um garçom que me desejara boa noite.

Peguei o cardápio e o usei para cobrir meu rosto, procurando discretamente a garota de cabelo preto. O ambiente era diferente demais daquilo que eu estava acostumado; as pessoas estavam vestidas informalmente, conversando e rindo alto. Uma senhora com um longo vestido florido cafona — a dona do restaurante, percebi logo — andava de mesa em mesa sorrindo, cumprimentando os clientes. E, por trás do balcão, Yuri ajeitava seu avental branco e prendia seu cabelo em um rabo de cavalo.

Ela não era tão feia assim. Pelo menos isso, pensei. Hoseok bêbado não era o melhor avaliador de telas, mas acertou daquela vez.

Percebi dois garotos familiares perto dela – o garoto do cartão e um que não me era estranho. Vasculhei minha mente a procura de nomes; Park Jimin e Jeon Jungkook. Ela conversava com eles sorrindo e tocando seus ombros como se fossem íntimos.

A mulher gorda chamou por Yuri e ela respondeu rápido, seguindo em sua direção imediatamente. Não consegui escutar suas vozes, mas pude ler suas ações; Yuri estava com um tablet nas mãos pronta para anotar pedidos, mas a mulher sorriu e a apresentou à dupla de homens na mesa. A mulher riu alto de algo que um deles disse que deixou o rosto de Yuri vermelho, e logo em seguida seu rosto se iluminou quando o homem puxou uma câmera de aparência profissional de uma bolsa para mostrá-la.

Era fascinante observar as mudanças de expressões no rosto de Yuri.

As duas se despediram rapidamente, indo atender as outras mesas, e sem delongas, Yuri começou a correr de um lado para o outro. Segurava uma bandeja e passava de mesa em mesa recolhendo pratos e anotando pedidos, sempre com um sorriso no rosto.

Era uma cena animada, divertida de ver.

— Rosto novo na casa — a mulher com o vestido cafona se aproximou, tampando minha visão de Yuri. Ela sorriu: — Você já sabe o que vai pedir, querido?

Abaixei a máscara.

— Ainda não.

— Gostaria de recomendações ou quer que eu chame a sua paixão pra vir te atender?

— Perdão?

— O nome dela é Yuri — ela apontou com a cabeça para trás. — Uma graça, não é mesmo?

— Não, não mesmo — limpei a garganta, olhando para o cardápio. — Eu só estou confuso com relação ao que pedir.

Ela levantou a sobrancelha, segurando o riso. Estranhamente, não me senti ofendido quando ela riu de mim, apenas envergonhado.

— Uh hum — ela apontou para um quadro atrás do balcão. — Aqueles são os pratos especiais de hoje; todos eles saem bastante. E, não se preocupe, ela não morde. Quando você souber o que pedir, chame-a, ok?

Eu concordei com a cabeça, tentando afastar aquela mulher intrometida.

Assim que ela saiu – rindo–, cutucou Yuri e falou algo em sua orelha. Ela assentiu, e veio sorrindo na minha direção. Quando percebeu que era eu, porém, seu sorriso murchou.

— Olá — apoiei o queixo nas mãos, abrindo um sorriso presunçoso.

— Você está brincando comigo? — disse, atônica. — Como descobriu onde eu trabalho?

— Coincidência do destino — inclinei minha cabeça. — Então, o que você me recomenda? — levantei o cardápio.

— Que você saia daqui — abriu um sorriso rígido.

Eu ri.

— É assim que você trata seus clientes? — balancei a cabeça. — O que a sua chefe iria achar disso?

— Se ela soubesse que você criou o cartão vermelho, não acho que faria objeções — deu de ombros.

— É, mas eu também acabei com ele — me defendi. — Olha, eu adoraria sair daqui, mas infelizmente, preciso de um favor seu. Quero que-

— Você tem algum problema? — questionou, guardando a caneta e o tablet no bolso do avental. — Prometeu que arruinaria a minha vida e está pedindo um favor?

— Eu tirei o cartão vermelho do seu amigo — lembrei. — É o mínimo que você poderia fazer.

— Na verdade, o fato de eu ainda não ter agredido você nos deixa quite.

Bufei como se estivesse irritado – mas, no fundo, estava achando a situação toda divertida.

— Olha, para que eu possa sumir de uma vez por todas da sua vida, eu preciso que você dê uma entrevista para algum jornalista explicando aquele acidente naquela festa idiota. Eu sei que você lembra.

Ela me encarou, pensativa.

— E se eu não quiser?

— Tenho meus meios de persuasão. Posso infernizar você até aceitar.

— Minha vida viraria um inferno se descobrissem que eu dei um tapa na sua cara — bufou. — Você só pode estar brincando se acha que eu vou dar uma entrevista me revelando para o mundo.

— Não ia ser tão difícil — argumentei. — São perguntas bestas, como: Qual é o seu nome?

Fiz um microfone com minha mão e o estendi para ela.

— Eu não vou fazer isso — negou.

— Vamos lá, é bem simples. Qual é o seu nome?

Suspirou.

— Isso é ridículo — reclamou, mas senti uma risada disfarçada em sua voz. — Lee Yuri.

— Quantos anos você tem?

— Vinte.

— O que você faz da vida?

— Sou estudante — respondeu. — E trabalho meio período num restaurante — acrescentou.

— O que você estuda?

— Fotografia.

— Qual seu estado civil?

— Não te interessa.

— São esses tipos de perguntas que eles irão fazer — insisti. — Não seria difícil, você pode até acabar famosa por ter tido algum tipo de interação comigo.

Ela revirou os olhos.

— Olha, eu estou trabalhando, estou ocupada. Você vai fazer o seu pedido ou eu devo anotar qualquer coisa aqui?

Cerrei os olhos, pensando nas possibilidades.

— Poderia até virar trainee de alguma empresa de entretenimento — pausei —, se você inventar alguma história legal pra aquele tapa. Por mim tudo bem, contanto que limpe meu nome.

— Espero que não goste de pimenta, porque você acaba de pedir o prato mais apimentado do cardápio.

— Eu adoro pimenta. Também adorei o seu avental, ficou muito bom em você.

— Vai querer alguma coisa pra beber? Água é de graça, mas você vai ter que se levantar porque eu me recuso a ir pegar pra você.

— Mas, falando sério, eu realmente preciso que você desfaça aquele mal entendido. Tem gente dizendo que eu te assediei.

— Você tentou me beijar.

— Eu estava bêbado, pensei que você queria.

— Isso não é desculpa para agir feito um babaca. Sabre de luz. Francamente.

Senti meu rosto ficar vermelho.

— Esqueça o lance do sabre de luz, por favor.

— Já está esquecido. Bebida?

— Que tal um suco de ‘’Olá meu nome é Yuri e o tapa foi um mal entendido’’?

— Suco de laranja, ótima escolha.

— Eu não vou parar de insistir, você sabe.

— E eu não sou obrigada a nada — ela bloqueou a tela do tablet e sorriu. — Seu pedido chegará em cerca de vinte minutos. Se precisar de qualquer coisa é só me chamar, mas eu não vou vir se não for sério.

— Eu estou sendo sério!

— E eu estou ocupada. Boa noite, Jung Hoseok.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Não esqueçam de comentar