"Tudo é o mesmo"

Capítulo 1

—Papai, eu não quero mais brincar! Quero ir embora.- 

—Não quer? Lolla, estava se divertindo nesse instante, por quê não quer mais brincar?- 

—Porque aquele idiota não está jogando comigo. Ele não me atinge! Ele está queimando todos, mas nem tentou jogar a bola em mim! O jogo é queimado. Eu não sou enfeite, olha pra mim, é assim que se faz!- Gritei a ultima frase para o menino no gramado jogando a bola e acertando sua cabeça, o que o fez cair no chão.

—Loren!- O pai repreendeu a filha. O pai do menino riu e o puxou para conversar em um canto.  A bola que a menina lançou contra ele havia quicado e voado para a floresta. Bem longe . -Loren, vá procurar a bola e volte para pedir desculpas ao seu amiguinho.-

—Ele não é meu amigo. Eu odeio ele!-

—Loren! Isso lá é coisa que se diga?-

—Para um idiota como ele, é sim!- A pequena bufou e saiu pisando forte em direção à floresta.

Quanto mais a menina entrava na floresta, mais o sonho se dissipava. As folhas nas árvores perdiam a cor como se fosse tinta escorrendo.

Acordei com um suspiro de tédio e olhei para o relógio. Eram 03:37 da madrugada. Não haviam mais estrelas visíveis no céu e o silêncio era ensurdecedor. Levantei me da cama e quando coloquei meu pé direito no chão senti algo que não era cerâmica. Era terra. Me assustei com a textura e acabei derrubando uma xícara de vidro que estava na escrivaninha ao meu lado fazendo um barulho estridente. Quando olhei para o chão, onde havia terra fofa era cerâmica novamente.

Eu cheguei de Seattle há algumas horas e duvido que isso seja Jet lag. 

Red abriu suavemente a porta do quarto me encarando.

—Está tudo bem? Ouvi um barulho- Perguntou com a voz baixa.

—Uhum. Tudo bem. Eu só derrubei a xícara. Achei que o senhor estivesse dormindo.- Respondi.

—Eu...estou resolvendo uns assuntos.- Suspirou.

—Sobre o que é? Eu posso ajudar?-

—Não, não, querida. Está tudo bem. Amanhã conversamos, ok?- Deu-me um sorriso tranquilizador.

—Ok.- Respondi bocejando. -Bom dia, Red.-

—Bom dia, Loren.-

Juntei os cacos de vidro, que ficaram agradavelmente grandes e joguei-os no lixo. Voltei para a cama com cuidado para não pisar em cacos menores, me enfiei por debaixo das cobertas e rezei para que meu sono voltasse. Depois de um tempo adormeci.

Acordei por volta das 05:40. Fiz minha higiene matinal, vesti minhas roupas para a escola e suspirei lembrando das coisas que ocorreram um mês atrás.

Todos vocês devem estar se perguntando: O que aconteceu depois da morte de Peter, o louco?

Bem...Fora Derek ter virado o novo alfa, Red me revelou que sabia sobre o sobrenatural há muito tempo, Lydia desapareceu misteriosamente, apenas para reaparecer pelada no mato (Isso eu soube pelo Twitter.), Scott e Allison continuam na moita, Kate Argent, a morta, foi culpada pelo incêndio na casa dos Hale e por diversas outras mortes e eu...Bem, eu saí da cidade na mesma noite. Dembe se encarregou de me dar um feedback sobre tudo assim que eu cheguei de Seattle, menos sobre Lydia. A foto dela já está rodando pelo Twitter há dias.

Desci as escadas e encontrei Red e Dembe tomando café da manhã. Também havia um jovem mulher com aparência executiva servindo um café para Red e entregando-o uma papelada em seguida.

Ok, talvez ela seja só mais uma contratada, mas isso não exclui a possibilidade de eles terem dormido juntos. Red pode ser muito galanteador quando quer e desde que me entendo por gente, ele teve mais mulheres que o rei Henrique VIII. A diferença é que Red tem sanidade. E, bem, ele também não mata suas esposas. Ele também é fiel quando ama. Acho que não existem mais homens como ele. 

—Bom dia, Loren. Conseguiu dormir bem?- Perguntou me educadamente oferecendo uma xícara com café quente.

—Sim.- Menti.

—Você mente muito mal.-

—Ontem você disse que estava resolvendo algo, tratando de um problema. O que é?- Perguntei sentando ao seu lado.

—Lembra de Kinney? Está na cidade.-

—Depois de todo esse tempo? Ele não sabe que estou com você? Sobre nossa ordem para afastá-lo?-

—Este é o problema. A ordem foi negada.- Disse olhando-me em profunda fúria, no entanto Red é bastante elegante, até em seus piores momentos.

—Negada?-

—Ele conhece o Juiz e provavelmente ofereceu uma quantia da qual não o pertence para comprar esta briga conosco.-

—Red...-

—Ele está me processando, Loren. E acha que pode ganhar. Pobre iludido tem usado do seu dinheiro para comprar juízes por todo o estado. Vamos a fórum superior. Se ele compra o serviço de um juiz, eu comprarei a alma.-

—Temos tanto dinheiro disponível?- 

—Querida, tem dinheiro o suficiente para comprar o presidente dos Estados Unidos.-

—Loren, ele voltará pra cá.- Dembe me informou.

—Temos que nos retirar da casa. Ele pediu um medida cautelar. Não podemos nos ver, nos comunicar ou ficar perto um do outro sem permissão dele.- John Reddington dobrou o jornal que estava lendo e largou de lado.

—E é claro que não vamos obedecer à isso, presumo.- Disse e Red gargalhou.

—Não, claro que não querida! Já providenciei minha estadia numa casa que acabei de comprar. Está no seu nome, espero que não se importe.-

—É ampla?- Perguntei.

—Enorme.- Respondeu.

—Invista e passe 60% pro seu nome.- Disse firme. Red merecia aquilo. Ele é bom administrador e bom amigo. 

—Não precisa.-

—Eu insisto. Bem, agora que estou atualizada, preciso voltar à escola. O treinador me aguarda com três pedras na mão...-

...

Ou um abraço.

—Loren!- Exclamou me esmagando em seus braços assim que saí do carro. Vi Dembe sumir com a BMW no fim da rua e tentei respirar no aperto do abraço do Treinador Bobby.

—Treinador! Que bom vê-lo.-

—Eu que o diga! Finalmente voltou para nós.-

—Passei um mês fora da cidade e só perdi duas semanas de aula.- Falei me afastando.

—Bom...Foi um longo mês.- Finstock sendo dramático... -Temos treinamento hoje, você sabe.-

—Sim, sei. Estarei lá.- Falei e comecei a me dirigir para o interior da escola junto com Bobby. Vi Stiles e Scott de longe e apressei o passo. Não queria falar com eles. Vi Lydia Martim conversando com Allison. Ela parecia diferente. Mais a frente vi Jackson irritadiço. Tudo exatamente como à um mês atrás. Por quê eu achei que algo fosse mudar?

No meio do corredor várias pessoas me pararam e me perguntaram porquê eu havia sumido.

Dei várias desculpas esfarrapadas que nem lembro. Acho que falei coisas diferentes ou sem sentido.

Dezessete segundos e já me cansei

Pronto para desconectar

Vestindo uma expressão corajosa

Tentando não ouvir

Às vozes na minha mente

Me dirigi à primeira aula, que seria de história, e me sentei no fundo da sala, na carteira ao lado da janela. 

A aula começou e não percebi as coisas que aconteciam ao meu redor. Não notei quando a sala lotou e também não notei quando o professor iniciou a aula.

Morte cerebral por tédio

Sou guiado pela distração

Arranhando a superfície da vida

Nada acontece na verdade

Mas é fácil se manter ocupado

Quando diz a si mesmo que seguirá corretamente

Entediada, comecei a rabiscar no caderno qualquer coisa. Quando minha caneta caiu, a peguei do chão e levantei meus olhos para a janela. O dia nublado concordava com meu humor, o que não concordava era Derek Hale estar me observando.

Mas alguns sentimentos tem o hábito de persistir

Mesmo que você não demonstre

Meus dedos amoleceram e larguei a caneta acidentalmente na carteira, fazendo um barulho que me alertou e me lembrou da realidade.

Para completar, alguém jogou uma bolinha de papel amassada em mim.

"Oi"

A letra acusava o dono.

Ignorei, amassei o papel e me levantei para jogar no lixeiro. Neste momento a aula acabou. Corri para minha carteira, peguei minha bolsa e fugi da sala, deixando Scott para trás e correndo de Stiles, que me seguiu pela escola. Eu só parei quando escorreguei no fim do corredor e caí no chão.

—Oi- Stiles me cumprimentou sorridente.

—Oi.- Respondi balançando a cabeça levemente em afirmação. Um hábito meu. -Tem biscoito?-

(Mas está tudo bem, agora)

É uma lembrança distante, amor

(Tudo bem, agora)

Você sabe que deveria abandonar isso

Por mais que Gotye cantasse que aquilo era uma lembrança distante, meu cérebro gritava o contrário. Até porque tem uma lembrança no mato, lá fora e uma bem aqui. Olhando pra minha cara com um sorriso esquisito.