Wonderland/ Time: Incalculável

No momento em que ela morreu, eu soube. Não porque eu gostasse dela, tivéssemos uma ligação ou algo assim, não, mas no instante em que Cora, Queen of Hearts ou, como alguns acham que eu deveria chama-la, minha avó morreu, eu soube. E não poderia ter ficado mais contente.

Todos sabiam que quando ela foi embora há tempos atrás, e eu passei a lidar com o Wonderland por minha conta, que mesmo Cora ainda possuindo o titulo, só passando-o com a sua morte, que eu já era efetivamente aquilo que fora criada para ser, uma Rainha, mas eu tinha outros planos.

Levantei-me da cadeira onde estava sentada na fria e esquecida biblioteca do castelo e comecei o caminho até meu quarto ouvindo apenas o som das minhas botas no piso negro, pelos intermináveis corredores escuros, assim como eu gostava. As portas duplas foram abertas e fechadas, magicamente, enquanto eu andava até a enorme tapeçaria ao lado da minha cama e me dei ao prazer de arranca-la com minhas próprias mãos, sorrindo para a porta escondida detrás dela.

Eu adentrei o espaço totalmente escuro e velas ao redor do cômodo foram se ascendendo enquanto eu andava até o centro do quarto que não possuía nenhum móvel, apenas espelhos, por todas as paredes do chão ao teto. Caminhei até um deles, mas antes que eu percebesse estava me avaliando novamente, as roupas de montaria vermelhas e negras, minha Black Pearl pendendo solitária no pescoço, meus cachos negros emoldurando o rosto, meus olhos azuis claros, como o mar, e cheguei a pensar por um instante que talvez alguém que não me conhecesse pudesse achar-me bonita, talvez até gentil; mas passou, mandei esse pensamento incabível para longe, ergui a cabeça e atravessei o espelho para meu refúgio: O Mundo do Espelho.