Entre feitiços, muito cocô, e um Borela. escrita por Lucas Stumpf


Capítulo 8
Levada pela enxurrada




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                        — Trinta minutos antes da explosão de Gabi -

O dormitório corvino feminino estava tomado pelo som das conversas fúteis de algumas meninas, e Ysadora tentava, com muito esforço, focar-se no texto que vinha tentando redigir desde que chegara a Hogwarts.

Se tratava de uma carta sobre hábitos na escola, os terrenos e os professores, que ela ficara de entregar para sua irmã mais nova, a qual só poderia ingressar na escola no ano que vem. Sentia falta dela, e, embora soubesse que se daria melhor ali do que ela própria, não podia deixar de omitir algumas coisas do texto, como o fato de Gabi estudar ali também.

Ela estava acostumada a escrever e estudar sob barulho, conversas e gritarias, mas por alguma razão, o fato de essa em particular, ela conseguir prestar atenção, bloqueava sua linha de raciocínio.

"Ah, você viu o rosto dele?", Ysadora ouviu uma garota perguntar.

"Claro! Ele parece um sonho!", respondeu outra.

Ysa desferiu, por cima do pergaminho, um olhar fustigante a elas, mas as garotas estavam ocupadas demais rindo e mexendo no cabelo para notar. Ou fingiam não notar, o que no final das contas, dava no mesmo.

Tentou, mais uma vez, finalizar aquela página, mas uma risada aguda e veloz a fez riscar a letra "B" que havia desenhado. Encolerizada, e com a vontade de enfeitiça-las formigando em seus dedos, Ysa levantou-se e deixou o quarto, fazendo questão de deixar notável, ao bater a porta, toda a sua raiva e indignação. A Sala Comunal também não serviria, pois a maioria dos alunos que pontuavam o salão eram meninos, e com certeza iriam implicar diretamente com ela, ou fazer algum ruído proposital que a faria se desconcentrar.

Com apenas dois passos, conseguiu descer os cinquenta degraus da torre da Corvinal, e enquanto mentalizava um lugar calmo onde pudesse escrever, tentou afastar o satélite trouxa de sua orelha. Caminhava arrastadamente pelo corredor, pensando em que lugares poderia ir. Biblioteca? Não... seria inteligente demais; precisaria de um lugar nivelar à sua capacidade de pensamento. Foi quando a Ala Hospitalar se materializou em sua mente. Não precisou pensar duas vezes para decidir que seria o lugar perfeito. 

Os corredores estavam bastante vazios, e ela imaginou que era porque naquele período, a maioria dos alunos preferia se ocupar na Sala Comunal. Galgou as escadas estreitas de mármore que levavam ao próximo andar, saltou pelo degrau mágico que costumava desaparecer todas as quartas-feiras, e se viu, para seu próprio espanto - pois não esperava ter chegado ali tão rápido -, caminhando diretamente para o arco da Ala Hospitalar.

Ao chegar lá, encontrou, na salinha apertada que antecedia os quartos, madame Pomfrey, nua e ornamentada com figuras Maias pintadas em roxo sobre sua pele. Segurava um punhal de prata sobre a cabeça, e gritava como uma galinha.

— M... Madame Pomfrey? - chamou Ysadora timidamente.

— Sim? - a bruxa respondeu, parecendo acordar de um transe.

— Posso usar uma das camas para terminar de escrever isso? - E sacudiu o pergaminho e o tinteiro em frente ao rosto. - É único lugar quieto o bastante.

Madame Pomfrey levantou-se rodopiando como uma bailarina.

— E a biblioteca, filha?

— É inteligente demais para mim. - explicou Ysa, sacudindo a cabeça e provocando uma ventania que derrubou Pomfrey no chão.

— Está bem, está bem. - falou a enfermeira, tornando a levantar-se. Passou a mão nos seios murchos e lambeu o dedo sujo de tinta. - Pode ficar.

Ysadora assentiu e adentrou a Ala. Estava com o costumeiro silêncio e cheiro estranho, sem falar no nanico professor Flitwick, que desde que chegaram em Hogwarts, tem passado mais tempo ali do que em sala de aula.

— Como vai, professor? - perguntou Ysa.

— Eu sou uma abelhinha... bzz bzz bzz - disse o professor, movendo as mãozinhas como se fossem pequenas asas.

Ysa tomou aquilo como um "nada bem", e deitou-se em uma das camas vazias. O sol que invadia o lugar pelas janelas emolduradas a aquecia bastante, e de vez em quando, a garota dava olhadelas para fora. Viu seus três "amigos" Lucas, Pedro e Gabriel, cruzando os jardins apressadamente. Não quis saber o por que daquilo, já que com certeza não lhe contariam caso perguntasse, tendo em vista o acentuado preconceito que tinham com ela.

Voltou sua atenção para o pergaminho, e tornou a arranhar sua superfície. O texto não estava saindo como o planejado, e Ysa não soube responder se era porque não havia, de fato, nada tão importante para relatar; se era porque ela não tinha vivenciado nada emocionante; ou porque simplesmente era incapaz de fazer uma boa redação. Ouviu os gritos vibrantes e finos da madame Pomfrey irrompendo da outra sala, e olhou diretamente para o professor de Feitiços, esperando que ele dissesse alguma coisa.

"EU QUERO COMER UM GNUUUUUUUUU", gritou Madame Pomfrey.

Ysa esperou-a se acalmar e voltou à sua escrita.

Ficou mais alguns minutos escrevendo, e estava servindo como um bom passatempo. Estava finalizando quando ouviu gritos desesperados se avolumando a cada segundo. A porta da Ala abriu-se de chofre, e uma Pomfrey vestida normalmente, mais dois bruxos altos e emaciados, vinham trazendo Gabi com o feitiço da levitação.

Gabi espumava pela boca, e de suas calças, pequenos toletes marrons caíam como gotas no chão. O cheiro pútrido logo envolveu o local, e Ysadora apressou-se em tapar o nariz. Sentiu suas sobrancelhas queimarem, e sua cabeça latejava com a mescla do odor e da algaravia que se torara os murmúrios frenéticos dos bruxos ali dentro.

— SE ACALMEM! - vociferou Pomfrey, com a mesma voz que usara para dar os gritos de outrora. - Precisamos contatar o ST. Mungus.

— Não dará tempo! - protestou um dos bruxos que trouxera Gabi. - Veja o estado da criatura! - E apontou para um Gabi que agora encharcava a cama toda com cocô líquido.

— Mas como alguém pôde chegar a esse estado? - o outro bruxo quis saber. - Só havíamos visto isto com o sr. Borela.

— É ainda pior. - informou Pomfrey, horrorizada. - Vamos, temos de...

Antes que pudesse terminar a frase, fora chicoteada com um jato castanho que rasgara as calças de Gabi. Os dois bruxos deram vários passos para longe da cama, e Ysadora empertigou-se na sua, boquiaberta e sentindo-se incapaz de fugir dali.

Gabi soltou um rouco lamurio, e, com um abafado som de pum, outro chicote marrom espiralou de seu ânus e estilhaçou uma vidraça. Os dois bruxos correram dali ao som de uma furiosa Pomfrey que gritava "Covardes!" "Paus pequenos!". Ysadora conjurou um escudo para defendê-la de mais jatos marrons, e foi percebendo, à medida que o ato se agravava, que o cocô estava ficando mais forte e grosso, e em breve, talvez, pesado o bastante para derrubar uma parede.

— Ah, Lorde Rabinho de Porco, me ajude. - pediu Pomfrey, olhando para cima. Tirou uma varinha comprida do vestido e girou-a no ar.

Ysadora viu uma camada incorpórea envolver Gabi como uma embalagem de plástico, e aos poucos, aquele casulo foi-se enchendo de fezes.

— Não! - gritou a garota, saltando da cama. - Ele vai ser sufocado pelos próprios dejetos, assim!

Ela tirou sua própria varinha e perfurou a camada com um lampejo amarelo. No segundo seguinte ao do dissolver do escudo, uma enxurrada castanha rasgou a bunda do primo de Lucas e acertou o teto, fazendo-o desmoronar sobre algumas das camas, incluindo a que Ysadora estava antes.

— Tô fora! - exclamou Madame Pomfrey, correndo para fora da Ala, deixando Ysa sozinha com o cagado Gabi e o zonzo Flitwick.

Por um momento, Ysa pensou se devia deixá-los ali e se salvar, ou se, talvez, poderia salvar pelo menos Flitwick. Logo lhe ocorreu que se Gabi morresse ou destruísse mais alguma parte do castelo, talvez a responsabilizassem, e não queria ter seu nome maculado. Tentou lembrar-se da forma correta de se utilizar um feitiço da levitação, quando um rabinho de cocô açoitou sua mão e fez-na derrubar a varinha no chão.

A varinha rolou para debaixo da cama suja de Gabi, da qual Ysa não ousou se aproximar.

— Ahh... - muxoxou Gabi. - Me ajude... - E esticou a mão melada à Ysa, que foi tomada imediatamente pelo pânico, e chutou-a com o arquear de suas ancas. 

O hesitar da garota foi tempo o bastante para que um alto ronco saísse das pregas de Fezes, levantando-o por um braço líquido de cocô. Gabi agora estava alto como as vigas de sustentação, e flancos castanhos destroçavam as paredes, irrompendo do grande braço principal. Ysa aproveitou que Gabi estava longe, esticou sua longa perna e usou-a para trazer a varinha para perto; limpou-a na aba das vestes.

— Louro José... - Ysadora ouviu uma voz murmurar perto dela.

Era profa. McGonagall, que trajava uma justíssima roupa de couro negro, e um chicote masoquista acenando em mãos.

— O que é isso, srta. Schorn?

— N... Não sei. - Ysadora não sabia se estava sendo sincera ou não, pois não tinha certeza de que isso era um efeito da Stelfart.

— Evacuem a escola. - mandou Minerva para os alunos de cueca cobertos de hematomas que estavam logo atrás dela. Ela se voltou par Ysa, e tirou uma longa varinha do meio dos seios caroçudos.

— Eu e você precisamos dar um jeito nisso até todos estarem seguros, entendeu?

Ysa assentiu. Tomada pelo medo e pela ânsia de vômito que aquele cheiro causava, ela ajudou Minerva a conjurar escudos que continham os chafarizes sujos. Gabi soltava gemidos tétricos à medida que sua roupa era dissolvida pela própria excreção. 

Á cada segundo, Ysadora desejava mais e mais poder sair dali, sair da escola e se salvar. Acontecia que, com uma professora presente, isso era inviável, sem falar que, mesmo que Lucas não sentisse nada demasiado acolhedor para com seu primo, não perderia a chance de usar sua covardia para deprimi-la ainda mais. Profa. Minerva fora atingida no braço por um ricochete fedido, e seu rosto enrugado se moldou em uma expressão desgostosa e nervosa. 

— É todo seu, srta. Schorn! - E abandonou a Ala, assim como Madame Pomfrey. 

E se deixasse Gabi ali para morrer afogado pelo próprio cocô? Não seria tido como heroína?... Não, boa parte podiam vê-la como bunda mole... Tal conflito a distraía demais, e às vezes, seu escudo cedia em um buraco médio, mas o suficiente para alguns jatos acertarem-na no estômago ou cabelos.

Assim que pôs os olhos em Flitwick, Gabi começou a rodopiar no ar, bombardeando as paredes com pequenas esferas de cocô que deviam ser muito pesadas pois destroçavam a construção facilmente. A garota decidiu que deveria abandonar Gabi ali, então, deslizando os pés em meia lua pelo chão, contornou envolto Fezes, e se pôs em frente à cama de Flitwick. Com apenas um braço, ela conseguiu pegá-lo no colo, e fez o caminho de volta até a porta da Ala Hospitalar.

— Você é minha nona? - Flitwick murmurou ao ouvido de Ysadora.

A garota esgueirou-se para a porta, quando, com um urro digno de cantores de Screamo, Gabi liberou uma potente cascata de "chocolate" que fez boa parte do chão desabar. Ysa pôde ouvir os gritos desesperados dos alunos nos andares inferiores, mas tentou desfocar sua mente das imagens d'eles se afogando em cocô.

Cerca de quatro criaturas grotescas e medonhas se formaram das poças de cocô no chão, e se ergueram como zumbis moles para o alto. O coração da garota deu um salto, e sentiu sua cabeça perder o fio. Com a varinha pendendo na mão trêmula, ela alternava a ameaça entre os monstros guturais, que não pareciam nem um pouco intimidados. 

Quando uma das feras avançou contra eles, Ysa, sem pensar, atirou Flitwick como uma pedra contra ela, e saiu à toda, sem esperar para ver o que aconteceria ao professor de Feitiços. Desceu as escadas com uma facilidade impressionante, e, ao patamar do último andar, viu um Borela deitado nos degraus, completamente nu, estimulando seu membro curto e fino, com, em uma das mãos, uma foto de Ysadora sorrindo.

O sentimento de perplexidade foi tanto, que a garota apontou a varinha para ele, e centenas de faíscas vermelhas irromperam da ponta, fazendo o garoto arder em um fogo fraco porém cheio de ódio e repulso. Deixando Borela para trás, Ysa foi pega no congestionamento que era a fila para deixar a escola. As paredes e o teto davam solavancos violentos; pedaços das estátuas, teto e vigas se soltavam, às vezes esmagando alguns alunos que davam seus últimos gritos sem saber que seriam, de fato, os últimos.  

Quando finalmente se viu livre dos muros da escola, pôs os olhos em algo que jamais antes havia contemplado: Hogwarts estava perecendo, morrendo e desmoronando, ao mesmo tempo que rios marrons rasgavam as paredes, caíam por cima das chaminés e estouravam os encanamentos do subsolo. Os alunos corriam desesperados, desamparados e totalmente perdidos. Alguns se atiravam no chão suplicando a alguém, que os ajudasse, outros corriam em direção à Floresta Proibida... Talvez a dor do ataque de uma Acromântula fosse menos dolorosa do que o cheiro de Gabi. Ysa também viu Minerva junto com Dumbledore, Snape e Madame Hooch, agitarem as varinhas, salvando alguns alunos que tentavam se atirar da torre de Astronomia.

A garota também notou um perolado sorriso satisfeito no rosto de Snape.  


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