Entre feitiços, muito cocô, e um Borela. escrita por Lucas Stumpf


Capítulo 7
Daniel, o trasgo.




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— Você é uma pessoa horrível! - vociferou Pedro a Lucas, assim que irromperam no dormitório.

— Se ser uma pessoa boa, significa ser igual a Ysadora, prefiro ser horrível mesmo. - argumentou Lucas, tirando o manto da Casa.

Pedro não se espantara de Lucas ter sugerido jogar a culpa nos braços de outra pessoa, mas não imaginara que Gabi fosse seu alvo.  Ele contou aos amigos que planejava esconder o frasco da Stelfart no malão de roupas do primo, e depois dedurar mentirosamente para professora Mcgonagall que Fezes transportara a poção para uso próprio, e pedira para que Lucas a testasse em Borela, causando sua diarreia. 

Pedro estava sentado na cama, observando Lucas através do cristal dos óculos, e enquanto o via separar alguns livros, indagava-se sobre quão frio ele podia ser com alguém, mesmo com a própria família. Não era novidade que Lucas não era um garoto com um vasto catálogo de pessoas com as quais tinha empatia, mas o que pretendia fazer podia ocasionar a expulsão do próprio primo. Era verdade que até poucos dias, não acharia ruim a ideia de uma Hogwarts sem Gabi - na verdade, até agora não achava -, mas não às custas de sua incriminação.

— Lucas... - sibilou ele.

Lucas no primeiro momento fingiu não ouvir. Guardou o exemplar de "A História da Magia" no próprio malão, fechou-o, e apoiou suas mãos sobre ele. 

— O que foi? 

— Se você tem uma lasca de caráter, não vai fazer isso com o Gabi.

Lucas virou o pescoço, com as sobrancelhas rígidas, e a boca se abrindo em uma fenda, indagou:

— Não me diga que está preocupado com ele?

— Não. - reconheceu Pedro, levantando da cama. - Mas há poucas horas disse que ele podia confiar em você... E agora vai fazer isso?

Lucas soltou um suspiro.

— O quanto sua percepção do "certo" te cegou do "melhor"? Não esqueça que todos nós estávamos na sala de troféus naquela noite, então todo seremos responsabilizados. Mesmo que talvez não pela Stelfart, mas por estarmos fora da cama depois da hora.

Pedro levantou as sobrancelhas e sacudiu a cabeça. Estava de fato enfrentando um conflito interno, protagonizado pelo senso de justiça, a vontade de se ver livre de Gabi - mesmo que tenham se livrado de seu cheiro, não era certeza de que continuaria assim -, e o impulso de salvar a própria pele. Lucas estava certo no sentido de que todos seriam responsabilizados, mas Pedro sabia que só estava recorrendo a esse argumento para tentar fazer a cabeça dos amigos pender para o lado de lhe apoiarem nessa ideia. 

— Você podia simplesmente destruir o frasco. - sugeriu Pedro.

— Uma suspeita não termina por falta de provas... - colocou Lucas. -Apenas se alonga.

Ele se atirou na cama, e Pedro não conseguia mais ver seu rosto, pois fora encoberto pelos cortinados verdes das colunas. Arrastou o olhar para baixo, e fixou-o no emblema da Sonserina que trazia no peito. Deveriam mesmo incriminar Gabi? Tinha certeza de que não gostaria de estar presente se o fizessem, e se questionado sobre qualquer coisa, negaria veemente ou alegaria não saber de nada. Um lampejo cortou o nevoeiro de sua mente, e um plano despontou através de seu senso de sobrevivência. 

— E quando pretende colocar o frasco nas coisas dele? - Quis saber.

— Amanhã durante o café. - respondeu a voz de Lucas, decidida. 

— Tive uma ideia melhor. - disse Pedro, se aproximando de Lucas. - E se conseguíssemos descobrir quem foi que nos deu a poção? Poderíamos acusá-lo de tráfico ilegal. A culpa recairia totalmente sobre ele, e não estaríamos mentido. 

Lucas o olhava sério e quieto. Pedro teve certeza de que estudava e avaliava a ideia, friamente. Talvez seu - fraco - sentimento fraternal agisse como advogado de Gabi, fazendo-o considerar o plano.

— Seria o ideal. - concordou Lucas. - Mas não temos nem por onde começar.

— Sim, temos. - contrapôs Pedro. - O garoto que te entregou a carta. Ele deve ter recebido de alguém, não é?

Lucas concordou com a cabeça.

— Vamos procurá-lo, então. -sugeriu Pedro.

— Ele pode contar para alguém que queremos descobrir quem foi.

— Estaremos sob a desculpa da pura curiosidade.

Lucas e Pedro se encaravam sem piscar, até que Lucas sacudiu a cabeça e saltou da cama. Ele apanhou o manto da Casa, ajeitou os cabelos no reflexo sinuoso de si mesmo no carvalho da cama, e disse:

— Está bem, mas se não descobrirmos nada até amanhã, ficamos com o plano original.  

Pedro concordou. Enquanto subiam as escadas, se deliciava com o sentimento de vitória por ter convencido Lucas a mudar de ideia. Sua pele formigava por causa do nervosismo oriundo do medo de não obterem resposta nenhuma, mas resolveu dar espaço para o otimismo pela primeira vez, já que não era uma pessoa que costumava deixar as coisas ao acaso ou à boa vontade da pura sorte. 

Eles subiram até o dormitório da Corvinal, onde prenderam os narizes por puro impulso, mas sem motivo, pois o cheiro não permeava o lugar. Não demoraram nada para resolver o enigma da estátua de bronze, e adentraram o Salão Comunal, absorvendo a atenção de boa parte dos alunos dali.

O Salão Comunal era alto e ornamentado. O teto era salpicado de estrelas que piscavam e cintilavam como jóias no veludo negro; as estantes de livros afundavam nas paredes, encimadas por águias de mármore muito realistas. Os Corvinos que não estavam congelados mirando-os, estavam sentados no longo sofá azul estofado, ou ao redor de uma mesinha de madeira.

Lucas e Pedro subiram as escadas em caracol, e irromperam no quarto masculino. Gabriel estava deitado em sua cama, distante e indiferente, rabiscando algo em um pedaço de pergaminho. Pedro bateu as mãos, roubando sua atenção, que franziu a testa ao vê-los ali. Colocou o pergaminho e o pincel de lado, e perguntou:

— Quem morreu?

— O Ned Stark, mas só no final do primeiro livro. - respondeu Lucas, mais para si mesmo do que para Gabriel.

— Tivemos outra ideia sobre o que fazer com a poção. - contou Pedro, em um sussurro para que os demais Corvinos não o ouvisse.

Gabriel alternou o olhar entre ele e Lucas, e perguntou impaciente:

— E qual é?

Pedro murchou nas próprias roupas, e olhou em volta.

— Acho melhor conversarmos em outro lugar. - Sugeriu ele.

Gabriel deixou escapar uma bufada de ar, e concordou.

Os três deixaram o dormitório da Corvinal para trás, e se dirigiram à estátua de Sor. Santabor, na esquina do quinto andar. A estátua estava envolta pela luz fraca da janela logo acima dela, e os únicos alunos que pontuavam o corredor, conversavam distantemente, desaparecendo gradativamente, assim como o eco de seus passos conjuntos.  

— Então, qual é? - repetiu Gabriel.

— Vamos investigar para descobrir quem nos deu a poção. - contou Pedro.

Gabriel esboçou a mesma reação que Pedro esperava: ficou trocando olhares com os amigos, estampando uma expressão tapada como a de quem precisa saber o restante de uma história.

— Não acham que é mais difícil, assim?

— Talvez, mas é o mais correto. - pôs Pedro, sentindo-se mais alto do que realmente era.

Gabriel agora só mirava Lucas.

— Você fazendo o que é certo?

Lucas olhou para os dois amigos antes de responder, e com os braços cruzados e expressão fechada, disse-lhes:

— Queria incriminar o Gabi, porque a história fazia sentido. Não era o que eu realmente queria fazer. Se há um meio em que o único culpado se dê mal, prefiro ir por esse caminho. 

— E vão contar à Ysadora? - Gabriel perguntou.

— Só se quisermos que o culpado nos veja há quilômetros de distância. - disse Lucas. 

Gabriel assentiu. Pedro também achava melhor não contarem nada a Ysadora, pois ultimamente, ele não tem se mostrado a mais confiável. 

— E por onde vamos começar?

— Aquele garoto que me entregou a carta. - explicou Lucas. - É nossa melhor pista.

— Mas sabem o nome dele? 

— Não, mas sabemos que é da Grifinória. - falou Pedro. - Só precisamos ir até o Salão Comunal e procurá-lo por lá. 

— Podemos demorar horas, Pedro. - alertou Gabriel.

— Ah, alguém tem de saber que ele me entregou a carta. - inferiu Lucas. - Algum amigo... Ele aparentava estar no primeiro ano, como a gente. Vamos perguntar para os demais alunos do primeiro. 

Gabriel cruzou os braços e assumiu uma máscara séria.

— Me parece um plano sem fundo. Não temos garantia que funcionará.

— Deixa de ser chato, Gabriel! - repreendeu Pedro, com a impaciência fluindo pela cabeça. - É a melhor opção que temos. 

— Não sou chato! Só não quero sair por aí atirando no escuro.

— RACISTA! - berrou um aluno negro da Lufa-Lufa que passara chorando pelo trio. 

Pedro sacudiu a cabeça, como se tirasse alguma sujeira do cabelo. 

— Vamos, então?

Lucas fez que sim com a cabeça, e Gabriel deu de ombros - o que era seu "sim". 

Lucas pegara a senha do dormitório com uma aluna, e o grupo se dirigiu á passos largos à torre da Grifinória.

— "Lesmas Mutantes". - disse Lucas a Mulher Gorda.

O retrato se abriu, e os três passaram pelo buraco estreito. A sala estava inundada pelo calor agradável da lareira crepitante. O lugar estava praticamente vazio, com exceção de alguns alunos que jogavam Xadrez de Bruxo sobre o console de uma armação de carvalho. A cor carmesim corria pelas paredes, chão e teto como sangue, e o brilho forte daquela mesmice incomodava os olhos de Pedro. 

— O que querem aqui? - um dos alunos perguntou.

— Encontrar um aluno. - respondeu Lucas.

Os garotos desfocaram do xadrez, e miraram Lucas com curiosidade.

— Você é o Lucas Stumpf? - o outro rapaz quis saber.

— Sou... - disse Lucas, com desconfiança. 

— Estão atrás do David?

Pedro, Lucas e Gabriel se entreolharam, confusos.

— Quem? - disseram em uníssono. 

— David Roth. - explicou o primeiro garoto. - O cara que te entregou aquela carta.

Fez-se silêncio por alguns segundos. Pedro ainda não acreditava que estivessem tendo sorte daquela maneira. Ele olhou com rispidez para Lucas, que respondeu aos garotos:

— Ah, sim, ele mesmo.

— Ele saiu. 

— Saiu? - repetiu Gabriel. 

— Sim. Está nos terrenos, em algum lugar, estudando. 

Os três meninos se entreolharam e assentiram. Gabriel fez um aceno com a mão e agradeceu aos dois.

— Foi muito fácil. - disse Lucas, incrédulo, enquanto atravessavam o corredor em direção à porta de entrada.

— Realmente. - reconheceu Pedro, com a desconfiança flutuando pelas palavras. - Mas o importante é que sabemos onde ele está.

— Sabemos onde ele não está. - corrigiu Gabriel. - Não está dentro do castelo, disso sabemos. Ele pode estar em qualquer lugar lá fora. 

A luz do sol atingiu-os em cheio quando saíram do castelo. O ar estava agradavelmente morno, e como o sol cobria todo o terreno, mesmo a brisa mais gelada acariciava seus corpos como uma luva de lã. O lago negro parecia um metal negro que luzia belissimamente ao dourado da cúpula incorpórea sobre a escola.

O grupo caminhava rapidamente, passando os olhos por cada cabeça de aluno que enxergavam. Se aproximavam sorrateiramente de cada um que notavam estar estudando algum livro ou fazendo anotações. Deram a volta no castelo, e nada... A impaciência parecia relampejar dentro de Pedro, ao mesmo tempo que suas pernas eram espetadas por dores rápidas, e um aperto na região de sua costela direita beliscava sua pele. 

— Vamos voltar? - sugeriu Lucas, tão impaciente quanto Pedro. - Vamos seguir o plano original.

— Calma. - pediu Pedro, apertando os olhos contra a ladeira ao longe, tentando ver alguma coisa.

A fumaça subia da chaminé da cabana de Hagrid e se perdia no azul do céu. E enquanto os pinheiros farfalhavam com o vento, Pedro teve mais uma ideia.

— Vamos ver se ele está para aquele lado. - E apontou para a cabana do meio-gigante. 

Percebeu que Lucas e Gabriel entortaram os narizes. Sem dar muita margem para protestos, Pedro tomou à frente, descendo pelo flanco de terra. 

Alguns alunos da Corvinal vinham subindo, mas nem sinal de algum da Grifinória. O aroma do campo de abóboras era trazido pelo vento, mesclado com o tênue perfume dos pinheiros. Seus sapatos enchiam-se de terra à medida que se aproximavam da cabana de madeira, e Pedro sentiu algo revirar-se em seu estômago quando colocou os olhos nas cabeças de doninha que estavam penduras na cerca por cordas.

— O que querem aqui, meninos. - perguntou uma voz poderosa e corpulenta. 

Os meninos pararam abruptamente contra uma muralha negra coberta de peles, mas que logo perceberam se tratar de Hagrid. 

— Ah.. hum... - gaguejou Pedro. Sacudiu a cabeça e continuou: - David Roth. Procuramos ele.

O gigante enrugou sua testa suja, e desferiu olhares curiosos ao trio.

— Não sei de quem se trata. - disse ele. Ele olhou de esguelha para um balde envernizado que jazia encostado na porta, e pediu educadamente:

— Será que algum de vocês não me ajudaria a dar isso para o Daniel? 

—Quem? - Lucas perguntou, com raiva; uma raiva que Pedro não soube exatamente explicar.

— O trasgo da escola. - respondeu Hagrid, apanhando o balde. - Hoje é dia de alimentar ele.

— Será que o excesso de comida entupiu as artérias do seu cérebro?! - vociferou Lucas. - Está pedindo para três alunos do primeiro ano te ajudarem a alimentar um trasgo?

Hagrid alternou a mão que segurava o balde.

— Estou. - disse ele, com naturalidade.

Lucas sacudiu a cabeça e cruzou os braços. 

— Desculpe, mas não podemos. - disse Pedro, olhando com severidade para Lucas, como quem demonstra como deve se tratar alguém. - Temos que procurar o David...

— Ah, por favor. - implorou Hagrid, como uma criança mimada. - Não demorará nada. Por favor.

Pedro sentia-se impedido de aceitar o convite, mais por seu medo de ficar frente à frente de um trasgo, do que qualquer outro motivo. Ele olhou para Lucas e Gabriel, que faziam que não com a cabeça; depois olhou para Hagrid, e o olhar pidão dom gigante inundou-o de pena.

— Ta... Ta bom. - concordou ele.

Enquanto Hagrid sorria e trancava a porta, Pedro sentiu seus pés afundarem no chão por causa da pressão dos olhares de Lucas e Gabriel. 

— E onde ele fica? - Pedro quis saber, principalmente para fugir da repreensão dos amigos.

— Na floresta proibida, é claro. - Hagrid apontou para as altas árvores secas logo atrás da cabana. - Vamos logo, posso me encrencar se algum professor ver vocês comigo. 

Pedro não entendia o que se passava na cabeça de Hagrid, mas para quem convivia diariamente com Ysadora, aquilo não soava tão bizarro. A floresta proibida era cinzenta e escura mesmo ao dia. O chão coberto por uma névoa fina, e raízes saltadas se preparavam para fazer qualquer desatento tropeçar. 

O som de qualquer animal já era o bastante para fazer o coração de Pedro saltar, e, sabia que no fundo, Lucas e Gabriel ficavam satisfeitos em ver seus sustos constantes, pois era por sua causa que estavam ali, afinal. Hagrid os conduzia como um mamute negro, e os meninos sentiam ventos fedorentos chicoteando seus rostos de vez em quando.

As sombras das árvores se desenhavam contra os relevos de terra, se assemelhando a garras fantasmagóricas. O clima que permeava aquele lugar era muito diferente do lado de fora: era frio e triste, como as profundezas dos sonhos que envolviam Gabi. 

Quando chegaram a uma clareira soturna, Hagrid os fez parar na orla, e ficou estudando o longe através das grossas sobrancelhas. Pedro notou que bem no canto, usando as sombras como cobertores, havia uma rocha imensa e disforme, quase do tamanho de Ysadora. Hagrid fez um aceno com a mão gigante, e os quatro seguiram para dentro da clareira.

Os fachos de luz pálida atravessavam o cortinado de poeira que revolvia no ar, e respingos de lama tingiam os mantos negros da escola. Pedro sentiu seu coração disparar quando viu a pedra se movendo, levantando e assumindo a forma de um trasgo imenso, gordo, com cabelos castanhos que caíam até os ombros, e braços compridos até os pés encardidos.

Os garotos deram um passo para trás e quase tropeçaram, mas Hagrid os segurou com uma única mão, e pediu que fizessem silêncio. O gigante se aproximou a passos suaves do trasgo, e balançou o balde em frente ao corpo fornido.

— Calma, calma, Dani. Sou eu.

O trasgo balbuciou algo, ao mesmo tempo que uma cascata de baba lhe escorria pela mandíbula. Assim que Hagrid depositou o balde diante do trasgo, esse último pegou-o em mãos e levou-o a boca, bebendo todo o conteúdo dele.

— Isso... - aprovou Hagrid. - Maneiro.

Pedro olhou imediatamente para Lucas, assim como Gabriel, e os dois agarraram o amigo, que disparava raios de luz de sua varinha na direção do meio-gigante. Os raios explodiam ao longe, rasgando a escuridão e fazendo vários corpos levantarem voo.

     - ME SOLTEM! - mandava Lucas, desesperado. - "MANEIRO" É O CACETE ENRUGADO DO MEU AVÔ! - berrou para Hagrid, que levou as mãos ao rosto, apavorado.

Antes que pudessem tirar a varinha de Lucas, gritos de horror ecoaram pelas árvores, atraindo imediatamente a atenção de todos. Os quatro correram para a orla da floresta, e os gritos apenas se amplificavam. 

Inúmeros alunos corriam a ladeira, em pânico, e ninguém respondia quando questionado sobre a razão daquilo.

— Vão para escola. - mandou Hagrid. - Vejam o que está acontecendo na escola. 

O trio começou a correr na direção do castelo, batendo em vários alunos desgovernados que pareciam sequer ver para onde iam. Os gritos cobriam todo o terreno do colégio, e Pedro tomou os óculos em mãos, com medo de alguém bater nele e quebrá-los. 

Ao chegarem próximos do castelo, viram, horrorizados, jatos como os de Borela irrompendo das janelas, escorrendo pelas portas, e jorrando das chaminés, caindo depois como chuva sobre as árvores que ladeavam a descida até a casa de Hagrid. O cheiro de cocô rodopiava pela construção toda, e os alunos que conseguiam fugir do local, estavam cobertos de água marrom, choravam e se arrastavam pelo gramado. 

— Pelos deuses. - sibilou Gabriel.

Professora Minerva tentava conter a enxurrada de cocô que as janelas estilhaçadas produziam, mas não parecia estar tendo muito sucesso. Os três garotos correram para perto da multidão seca, se esquivando dos jorros o melhor que podiam.

Um chicote amarelado acertou Pedro bem na bochecha, atirando-o no chão, zonzo, com o rosto ardendo, e um gosto indescritivelmente ruim na boca. 

— Merda! - bradou ele, se levantando e limpando o cocô de sua bochecha.

— Literalmente. - comentou Lucas. 

Passaram por uma mulher deitada no colo de um aluno. Ela estava em choque; seus olhos esbugalhados, o rosto se movendo de um lado para o outro, e o corpo saracoteando no lugar.

— Era TANTO cocô!- gritava ela. - Oh, Deus, era sim. Tanto cocô, tanto cocô. 

Ao se colocarem ao lado de professor Dumbledore, Pedro perguntou:

— O que aconteceu aqui, senhor?

— O Sr. Stumpf... - gemeu ele. - Está tendo uma crise.

— O Gabi? - Lucas quis uma contestação. 

— Exato. 

Os meninos se afastaram do castelo, sem tirar os olhos da erupção marrom que espiralava da torre da Corvinal. Gabriel reclamou sobre seus livros e roupas, mas antes que pudesse dizer algo mais, viram, irrompendo da janela, um ponto negro, arremessado ao céu por um jato de fezes.

— GABI! - gritou Lucas.

Gabi estava sobre o castelo. Seus gritos podiam ser ouvidos, clamando por ajuda, e dizendo que seu ânus estava ardendo. Uma parede da escola explodiu. Uma onda marrom varreu as árvores para longe, assim como alguns alunos azarados que estavam próximos. 

— Ficou alguém lá dentro, Papoula? - Minerva perguntou a professora de Herbologia, enquanto agitava sua varinha para conjurar um escudo.

— Infelizmente, ficou sim, Minerva. - respondeu Sproutt, com pesar. - Não conseguimos tirar Flitwick a tempo.


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