Fora do normal - Draco e Luna escrita por karinacardoso


Capítulo 8
Ela me paga




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Draco voltou para o castelo furioso. Tinha passado tempo suficiente no Jardim para elaborar em sua mente todas as respostas que queria ter dado a Luna e as perguntas que ficaram por fazer. A sensação de ter sido feito de idiota fervilhava dentro dele, e a única coisa que passava por sua cabeça era fazê-la pagar. Examinou cada centímetro do Salão Principal em busca da garota, sem sucesso. Mesmo sabendo que esse era o resultado mais provável, Draco se irritou com a ausência dela, pois de alguma forma alimentara a fantasia de azará-la na frente de toda a escola e encerrar o assunto de uma vez por todas.

Em sua busca, viu Pansy tentando dançar com um desajeitado Crable. Em seus trajes cor de vinho combinados, o casal parecia um cacho de uvas em que uma das frutas era transgênica. Crabble era singularmente grande perto de Pansy (ou de qualquer outra pessoa que não fosse Hagrid) e a toda hora os dois esbarravam em outro casal. A bruxa contorcia o rosto, numa expressão de profundo desgosto, mas Draco deduziu que isso talvez fosse pelos constantes pisões de pé que recebia do companheiro. Todavia, nem mesmo essa doce vingança foi capaz de amenizar o ânimo sombrio de Draco. Derrotado, ele se encaminhou para seu dormitório.

 

— Pó de flu – disse, mal-humorado, mas a sala não abriu.

Só faltava terem mudado a senha, pensou. Ele forçou a maçaneta, sem esperanças, mas para sua surpresa a porta se abriu, e ele entrou pisando fundo em um aposento que não era o seu.

A grande sala à sua frente estava repleta de prateleiras que continham uma espetacular diversidade de penicos. Draco se espantou com aquela curiosa coleção, esquecendo-se por alguns momentos de seus problemas. Havia penicos de todos os formatos e cores, alguns de ouro, outros cobertos com pedras preciosas. Em um canto, um grupo de penicos azuis apresentava uma elaborada dança, para o deleite de penicos menores que serviam como plateia. Draco contemplava aquele ambiente extravagante, quando de repente, um grande penico negro caiu perigosamente perto dele. Esquivando-se por um triz, o bruxo mal teve tempo de se situar quando, com imenso barulho, diversos penicos imitaram o primeiro e começaram a se jogar. Draco desviava, os reflexos treinados no quadribol, mas havia cada vez menos espaço para manobras. Ele recuou em direção à saída, evitando por milímetros um penico de louça decorada que se jogava pela terceira vez. Se atirou para fora da sala e fechou a porta com estrondo, sentando-se para recuperar o fôlego.

É claro que um ataque de penicos era o final perfeito para aquela noite. E onde diabos tinha ido parar seu dormitório? Ele então se lembrou do pergaminho que recebeu no dia do banquete e se encaminhou para a sala ao lado. Repetiu a senha e entrou relutante, mas, felizmente, aquele era seu dormitório, e se encontrava vazio. Draco dirigiu-se direto para o quarto e entrou batendo a porta com força, na certeza de que estaria sozinho para lidar com a cólera que sentia. Uma movimentação brusca na cama ao lado da sua, no entanto, provou que estava errado pela centésima vez naquela noite.

Luna levantou-se num pulo quando reconheceu Malfoy. Ela ainda usava o vestido do Baile, mas o brilho das borboletas já se extinguira e o ar rebelde e despenteado dos cabelos retomara seu posto. Pela expressão cautelosa, Luna parecia ter percebido de imediato o estado alterado do rapaz, e ficou em silêncio. Draco, por sua vez, não sabia por onde começar a despejar sua ira. No silêncio que se seguiu, Luna tomou a iniciativa.

— É melhor eu dormir em outro lugar – disse, apressando-se em direção à porta antes que Draco pudesse reagir.

Draco bloqueou seu caminho. Não havia a menor chance de ela escapar impune naquela noite. As palavras escaparam de sua boca antes que ele pudesse racionalizá-las:

— Não foi a Penélope.

Não tinha ideia de onde pretendia chegar com aquilo, esse nem sequer era um dos argumentos que se repetiam em sua cabeça desde que a garota o abandonara no Jardim. Agora, porém, era tarde demais. Luna não respondeu, contentando-se em fitá-lo com olhos enormes e diligentes, tomando apenas o cuidado de dar alguns passos para trás.

— Eu suponho que você já saiba disso – continuou ele contra a própria vontade, mas sem poder evitar.
             – O que exatamente você supõe que eu saiba?
             – Você – detalhou Draco, como quando falava com Crabble e Goyle – sabe muito bem que não foi a Penélope que me distraiu no Salão, antes de você correr para o Jardim.

Luna continuou a encará-lo, agora de uma forma condescendente que o irritava ainda mais.

— Você não se distraiu.

Draco respirou fundo, usando todo o poder mental que havia treinado por tantos anos para não se perder nos disparates de Luna. Ela não iria vencê-lo dessa vez.

— Não. Você não vai fazer isso, não vai distorcer o assunto. Você me entendeu muito bem!
             – Eu sei, é só que... sabe, não foi uma distração. Para se distrair, você tem que estar prestando atenção em alguma coisa, e você nunca se atenta quando ela se aproxima. No momento em que você a viu no Salão, não existia mais nada. Foi exatamente como na aula de Poções, sabe, tudo o que eu conseguia ouvir era cada parte de você lutando para manter o controle a qualquer custo. Você tem muita sorte de ser um Malfoy.
              – Nisso podemos concordar. Exceto que eu não estava olhando para ela, e se você é a expert em Draco Malfoy como gosta de fazer parecer, então você sabe disso.
               – Eu não sou exp...
               – Ah, você é sim. Você é capaz de ouvir uma conversa qualquer e afirmar que eu ainda gosto dela, que não estou pronto para outra, que não vejo mais nada quando ela está perto! Você sabe de tudo! Eu deveria consultar você todas as manhãs para ter certeza de como estou me sentindo!

Luna ficou em silêncio novamente, alarmada com a explosão de Draco.

— Por favor, não fique tímida! Fale-me mais sobre meus sentimentos. Me diga o que conseguiu descobrir ouvindo minhas orelhas, meus pés ou o diabo a quatro! Quero ver se ainda assim é capaz de afirmar que não sabe o que aconteceu nesse demônio de Baile!

A garota arregalou os olhos. Draco, tomado pela fúria de finalmente levar uma discussão adiante, foi incapaz de observar o rubor que invadiu as faces de Luna, ou suas mãos torcendo as pequenas flores do vestido. Todos os indicativos do conflito interno que a menina sentia diante de ideia que Draco estava insinuando passaram despercebidos ao bruxo.

— É que não... não faz sentido – disse ela baixando os olhos.

— Ah, claro! De repente fazer sentido é algo muito importante para você! Desde quando? Olha pra mim – ele se aproximou dela e Luna recuou, porém voltou a encará-lo – Não gosto do roteiro que você está criando nessa mente desequilibrada sobre Penélope e eu, e não quero você espalhando essa baboseira por aí, entendeu? Aquela garota não tem mais nenhum efeito sobre mim, e isso é uma história encerrada!
               – Mas eu vi... nos seus olhos, foi como na aula de Poç...
              – Não era ela!! – explodiu Draco, lançando as mãos para cima em desespero – Qual é o seu problema, menina?! Você sabe que não era ela, você me viu olhando para você! Você sabe que era você!
               – Mas é isso que não faz sentido – murmurou ela, quase para si mesma – Nunca são garotas como eu, sabe, com caras como você...

O quarto ficou em silêncio, enquanto Draco assimilava as palavras de Luna. A cegueira da raiva foi se dissipando lentamente, conforme ele absorvia a ideia de que havia um caminho do meio nos extremos de Luna. Entre não notar nada ao seu redor e enxergar o que ninguém mais parecia ver, até que enfim havia ali um elemento familiar, a insegurança típica e o nervosismo inexperiente de uma garota comum. Draco sentiu a tensão esvair-se aos poucos do corpo. Ele sabia o que fazer com garotas comuns. Finalmente eles estavam em seu território e agora era Luna que não sabia como agir. Há! O doce sabor da vingança! Olhando para ela naquele momento, porém, não era desejo de revanche o que sentia.

A aflição de Luna era óbvia, e Draco sentiu o ímpeto de fazê-la compreender que estava tudo bem, mas sabia que era o movimento errado. Agora, ele precisava consolidar seu poder sobre ela, nivelar o desequilíbrio entre os dois. “Você é diferente”, ele diria, “nunca me senti com ninguém como me sinto com você. Você é especial”, e então tudo o que haveria na mente de Luna a partir desse momento seria ele, aquele que a via como nenhum outro, que fazia com que se sentisse bem em ser ela mesma. Draco representara esse papel dezenas de vezes ao longo de sua vida amorosa, mas não parecia ser capaz de fazê-lo agora. Talvez as reações de Luna o houvessem traumatizado, e ele soubesse que era improvável que ela reagisse da maneira que ele esperava a qualquer coisa que dissesse. No fundo, porém, temia que elas não fossem falsas o suficiente para serem ditas com a naturalidade com que um Malfoy podia mentir. Afinal, Luna era diferente e o fazia se sentir como nunca se sentira, apesar de Draco não ter decidido ainda se isso era bom ou não.

— Você está prendendo a respiração – alertou Luna, tirando-o de seu devaneio.

Draco soltou o ar, percebendo que tinha se esquecido de respirar enquanto considerava os efeitos de Luna sobre si. Isso certamente queria dizer alguma coisa, mas ele não estava disposto a se aprofundar no assunto. Se Luna tinha voltado a se concentrar nele, ele estava perdendo a janela de ação. Se aproximou dela em poucos passos e a olhou nos olhos. Ficou em silêncio por alguns segundos, apenas para observar com prazer que agora era a garota quem segurava o fôlego. Sem pressa, prendeu uma mecha solta dos cachos loiros de Luna atrás de sua orelha, acariciando seu rosto de leve. Talvez se ele não dissesse nada, Luna não poderia desconcertá-lo com respostas afiadas. Chegou mais perto, sentindo o perfume floral, agora fraco o suficiente para não provocar reações indesejadas, mas ainda cativante. Ela é só uma garota, pensou, enquanto suas mãos desciam até a cintura dela e um gesto automático o fez puxá-la para junto de si. Sentiu o próprio coração se acelerar quando percebeu para onde estava se deixando levar, e afastou o rosto alguns poucos milímetros. Não estava prestes a beijar Luna Lovegood, estava? A resposta para essa pergunta se perdeu para sempre quando seu corpo foi impulsionado para frente pelas mãos de Luna, puxando-o pela gola da camisa e colando os lábios nos seus.

Embora atordoado, Draco não pode evitar (e nem fez questão) retribuir o beijo, subindo uma das mãos pelas costas até o pescoço dela, enquanto a outra descia pela cintura. Luna envolveu os braços ao redor do pescoço de Draco, suspendendo-se um pouco, já que ele era mais alto. Draco agarrou-a pela cintura com um braço e a levantou alguns centímetros do chão, conduzindo-a até uma das colunas que sustentavam o dossel de sua cama. Com as costas de Luna apoiadas na coluna, ele pressionou seu corpo contra o dela, puxando a coluna com uma das mãos. Podia sentir a pele quente dela, aquela fragrância inebriante, as mãos dela puxando de leve seus cabelos. Draco começou a beijar seu pescoço enquanto puxava delicadamente a alça de seu vestido para baixo, entrevendo o colo que ele passara a noite cobiçando. Suas mãos acariciaram ansiosamente os seios dela por cima do vestido, antes que Luna as recolocasse gentilmente de volta em sua cintura.

Draco conduziu-a em direção a cama, na esperança que ela ficasse mais à vontade, quando uma força repentina o impulsionou para frente e o derrubou na cama por cima de Luna. Embora sobressaltada com a aparente intensidade da paixão de Draco, Luna inclinou-se para beijá-lo novamente, mas o rapaz saiu de cima dela e rolou rapidamente para fora da cama, tateando a capa em busca da varinha. A dor aguda em suas costelas indicava que fora um feitiço, e não o desejo, que o jogara na cama. Ele colocou-se de pé bem a tempo de desviar por pouco de um segundo feitiço, que ele mal deve tempo de rechaçar. Só então pode ver Hermione empunhando a varinha, e a cólera em seu olhar fez Draco arrepiar-se de medo pela primeira vez em muito tempo.


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