Fora do normal - Draco e Luna escrita por karinacardoso


Capítulo 7
Incoerência


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas voltei! Combo de capítulos o/



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Draco saiu do Salão Principal a tempo de ver a porta que dava para os Jardins se fechando. Ao se encaminhar para a saída, a presença de um vulto vermelho atrás de uma das estátuas o fez parar.

— Gina?

A garota levantou a cabeça. Estava sentada, abraçada aos joelhos. Seus cabelos ruivos despenteados caíam sobre os ombros e se mesclavam ao vestido cor de sangue. Como se quisesse fazer parte do time, seu rosto também exibia tons avermelhados, embora os olhos inchados denunciassem que estivesse chorando.

— Draco? O que está fazendo aqui fora?

— Perseguindo meu par. E você? Está bem?

— A Luna acabou de passar correndo. O que você fez de errado?

— Essa é uma questão complexa. E você não respondeu minha pergunta.

— Também é uma questão complexa. Esses não são assuntos que a gente possa discutir no corredor e esperar que ninguém nos veja.

— Está certo. Câmara Secreta mais tarde?

— Hoje não. Ainda preciso resolver algumas coisas.

— Você não é a única. Amanhã então?

— Pode ser. Te encontro depois do jantar.

— Muito bem, vou atrás do meu problema então. Boa sorte com o seu.

Gina deu um sorriso fraco e acenou com a cabeça, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas. Draco sentiu o impulso de ficar para consolá-la, mas a amizade improvável dos dois não era de conhecimento público, e ambos preferiam que se mantivesse assim. Por outro lado, ele não falava com ela desde o início do ano letivo e ela claramente tinha problemas. Lembrou-se de sua própria cota de questões para resolver, e decidiu que elas eram mais urgentes por dois motivos simples: um, Luna era imprevisível e podia estar fazendo qualquer loucura impensável neste momento; dois, seus problemas eram sempre uma prioridade diante dos problemas dos outros. Decidido, ele deu as costas para Gina e foi em direção ao jardim.

 

A noite lá fora não era iluminada como o céu do Salão Principal, mas a lua crescente e o céu sem poluição de Hogwarts concediam luz suficiente para que ele pudesse se localizar e se locomover sem preocupação. Olhou ao redor tentando escolher por onde começar a procurar, mas era uma decisão impossível: Luna poderia estar em qualquer lugar na vastidão do Jardim. “Vejamos”, pensou ele, “Se eu fosse mentalmente desequilibrado, qual caminho seria o mais intuitivo?” Imediatamente, seus olhos foram atraídos pela escuridão premonitória da Floresta Proibida e ele sentiu um leve desconforto no estômago. Ninguém, nem mesmo Luna, seria capaz de entrar ali sozinho no ápice da madrugada. Ao mesmo tempo, Draco não achava que ninguém seria capaz de fazer metade das coisas que Luna fazia com aquela desconcertante naturalidade. Sentiu o estômago afundar mais e desviou o rosto da floresta.

Nesse momento, um relance de luz pálida captou sua atenção, um brilho esquálido como uma fada convalescente, que brilhava embaixo de uma árvore a algumas dezenas de metros na direção da lateral do castelo. Uma fada, porém, não seria capaz de brilhar a essa distância. “Mas uma garota coberta de borboletas sim”. Aliviado, Draco encaminhou-se para lá, confirmando sua suposição depois de alguns poucos metros. Luna estava sentada embaixo de um carvalho imponente, que pouco balançava apesar do vento frio de inverno, decidido a manter a dignidade da espécie a despeito do uso pouco nobre que Luna fazia dele, como abrigo para consolá-la de decepções juvenis. Ele se aproximou com o máximo de delicadeza que pode, temendo assustá-la, mas ela não se moveu. Draco sentou-se ao seu lado, disposto a se desculpar, mas as palavras lhe faltavam. Como poderia explicar para ela o que nem ele mesmo compreendia totalmente? Luna, ao contrário, pareceu aproveitar o momento de hesitação de Draco para resolver seus próprios questionamentos internos, e se levantou num pulo.

No mesmo instante, Draco segurou seu braço e a puxou de volta.

— Espera, eu posso explicar...

— Não precisa explicar nada.

Ela não parecia particularmente zangada quando caiu sentada ao seu lado, apenas incomodada, ou talvez decepcionada. Com aquela menina, era impossível saber.

— Me desculpe, ok? Não foi de propósito.

— Uhum.

— É que essas coisas... bom, elas saem do controle às vezes.

— Se você não pode cumprir, não deveria se apressar em prometer as coisas.

— Eu sei, eu apenas... Como disse? – Draco não se lembrava de ter prometido nada, mas não seria a primeira vez que cometia esse tipo de erro com uma garota.

— Você não tem nenhuma obrigação de me proteger, obviamente. Mas você fez toda aquela cena de “você está comigo”... – Luna pegou a mão de Draco, imitando o gesto que ele havia feito mais cedo no Baile e acertando de forma perturbadora o tom de voz do bruxo – e eu acabei baixando a guarda. Você não precisava ter feito isso.

— Baixando a guarda? Você quer dizer... que provocou isso de propósito?

A mera ideia desse acontecimento era tão surreal que novamente Draco se sentiu à deriva no oceano de confusão particular de Luna.

— De propósito? Você acha que eu sou culpada disso?

— Não quis dizer isso...

— Não, não provoquei isso, apenas... não impedi. Bom, não sei se eu seria capaz de impedir efetivamente, mas eu estaria, não sei, alerta. Eu não fui a esse Baile em total inocência, eu fui avisada que isso podia acontecer. Era minha responsabilidade evitar.

— Você sabia que isso podia acontecer? O que quer dizer? Alguém te avisou que eu teria essa, hm... reação?

Draco estava estupefato. Não somente Luna tratava as circunstâncias com muito mais naturalidade do que ele próprio, mas indicava que já esperava por isso. Ele se preocupou com o tipo de boato que poderia estar correndo pela escola a seu respeito. “Cuidado com o tarado do Malfoy”, era o tipo de conselho que as garotas trocavam sobre ele agora? Seria talvez o motivo de tantos convites para o Baile recusados?

— Santo Merlin, você acha que você é tudo o que importa no mundo? Eu te disse que já sabia sobre as fadas! Por isso eu trouxe minhas borboloetas. Você não se importa o suficiente nem mesmo para escutar?

— Fadas? As... o que?

Draco conhecia a desorientação por incapacidade de acompanhar o que acontece ao redor, apenas não por experiência própria. Agora, enquanto Luna revirava os olhos, ele se sentia como Crabble ou Goyle.

— Na nossa última dança, uma colmeia inteira de fadas estava rondando a minha cabeça! Elas não deram a mínima para as minhas borboletas! E você supostamente deveria me proteger, mas não o fez. Como eu disse, a obrigação não era sua e sim minha, mas você prometeu.

Draco soltou uma gargalhada alta, uma explosão de emoções pouco característica de sua personalidade, que extravasavam a confusão, o alívio, a incredulidade e uma certa raiva: emoções demais para um Malfoy lidar ao mesmo tempo.

— Você está falando sério? Isso é... Você nem sequer... – Draco era incapaz de achar palavras para descrever a insensatez daquilo.

— Tem razão, isso não importa – disse Luna, levantando-se – Minha vida em perigo iminente não importa o suficiente a ponto de você parar de vigiar a Penélope por um segundo.

Draco se espantou com a observação mordaz, tão fora de lugar vinda de Luna. Ele se julgava um bom avaliador de pessoas, e embora Luna confundisse seu juízo o tempo todo, aquela conversa parecia particularmente incoerente. A garota, que semanas antes adivinhara seus sentimentos por Penny na aula de Poções, era observadora. Desconsiderando aquelas bobagens sem propósito sobre “ouvir suas orelhas e seus olhos”, ainda assim ela acertara as reações de Draco em cheio, o que o fazia deduzir que ela era no mínimo tão competente quanto ele em prever as reações das pessoas (ao menos das pessoas normais, uma desvantagem que Draco tinha em relação à Luna). Pois essa mesma garota agora parecia incapaz de avaliar uma situação muito mais óbvia. Se ela se julgava capaz de ouvir seu coração, como podia não saber para quem ele realmente estava olhando antes dela correr? Como ela podia saber o que se passava dentro dele e ignorar reações claras de seu corpo, muito mais chamativas do que seria adequado?

Luna, que permanecia de pé, pareceu interpretar o silêncio de Draco como encerramento do assunto e virou-se para voltar ao castelo. Deu apenas alguns passos antes de voltar-se para ele novamente:

— A propósito, você deveria arrumar um lugar melhor para guardar sua varinha. Estava me incomodando...

Ela retomou tranquilamente seu caminho, deixando Draco sem entender se aquilo tinha sido ou não uma indireta.


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