Dúvidas da razão escrita por larissasalary


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Nascemos e morremos como ninguém



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No início Jess ficou muito animado com a noticia, mas quando deu por si que eu não seria mais sua parceira, uma onda de tristeza invadiu meu amigo. Este seria nosso último caso juntos. Mas ei, agora eu mandaria nele! Brinquei com ele sobre isso, mas não adiantou. Nós éramos uma bela dupla.

Houve uma reunião geral depois do horário de almoço, onde o capitão Thomas anunciou as novas mudanças. Todos me aplaudiram quando souberam da sua nova capitã. No dia seguinte eu trocaria de sala, iria para aquela imensidão do Thomas. Às vezes me pergunto por que uma sala tão grande.

Depois da reunião, hora de voltar à realidade. O legista nos chamou para conversar e relatar o que descobrira com o corpo de Kate. Odiava ir naquele lugar, era muito frio e muito assustador, parecia cena de filme. O legista, o qual eu não sabia o nome, era um senhor que aparentava ter uns 40 anos ou mais.

—Ela morreu com um tiro diretamente no coração. O tiro veio de cima para baixo, muito preciso. A balística aponta que a arma...

—Era de uso exclusivo da polícia? - pergunto ironicamente.

—Exato. - respondeu ele estranhando-me.

Saímos dali e fomos até a área da perícia. Era um lugar com muitos laboratórios e algumas salas para reuniões. Fomos até a sala onde Andy nos esperava. Ele era perito criminal lá havia um ano e pouco, mas já era querido por todos nós. Bob e Rachel já estavam lá nos aguardando.

—Alguma sorte com o legista? - pergunta Rachel.

—Nada, somente que o tiro veio de cima para baixo. Ao sair daqui, Jess e eu vamos fazer o trajeto da bala para vermos de onde eles atiraram. - falo enquanto sento em uma cadeira. Andy ia começar a falar.

—Boa tarde. Bom, analisei o sujeito que vocês encontraram, o suicida. Possuía uma saúde impecável. Ele ingeriu cianeto, o que causou morte instantânea. Além disso, possuía um sol desenhado em suas costas.

—Que surpresa, não? - diz Jess, deixando suas mãos caírem sobre a mesa.

—Eles estavam usando luvas, portanto, sem digitais na cena do crime.

— E quanto à sua identidade? Quem era esse louco? – pergunta Rachel

—Bom isso, meus amigos, continua um mistério.

—Mas como... – começa a perguntar Bob

—Não há registros desse homem, nada. É como se ele não existisse, não está registrado em nosso banco de dados.

—Mas como isso é possível? – eu pergunto.

—Não sei se vocês se lembram, mas, as pessoas que viviam nos subúrbios da cidade só passaram a ser registradas há menos de três anos. Eu aposto que este aqui era um dos que vivem nessas áreas. Eu tenho pena deles, pois por nós, são vistos como ninguém.

—Temos sorte que agora os registros de todos os bebês são obrigatórios. Quantos ninguéns estão vagando por aí, em busca de oportunidade? – diz Rachel, olhando para baixo em um tom de lamento.

Ficamos em silêncio por um momento. Essa cidade ainda tem muito o que melhorar. Alguém bate na porta e em seguida um policial aparece na porta.

 _Com licença, mas o senhor Tyler da T.I está solicitando os detetives Jess e Luce... Didi, o detetive Jess e a capitã Luce em sua sala. Ele disse que é extremamente importante. – ele fica envergonhado pelo seu equívoco.

—Muito obrigada e não se preocupe, por hoje ainda sou detetive – digo e pisco para ele, que faz um sinal com a cabeça e sai. – Bob e Rachel, se importariam de fazer o trajeto da bala, por favor?

— com o maior prazer capitã – Diz Bob, batendo continência. Palhaço. – É só isso Andy?

—Sim, sim. Estão dispensados. E boa sorte!

Enquanto Bob e Rachel iriam então fazer o trajeto da bala, eu e Jess fomos até Tyler saber o que ele queria.

—Oi Luce. - ele estava sério e preocupado. Era raro vê-lo assim - vocês precisam ver uma coisa.

—Oi... - falei, mas ele já havia ido para seu computador. Eu e Jess o seguimos e ficamos em pé atrás dele. Seus dedos corriam pelo teclado numa velocidade impressionante.

—Eu estava aqui tranquilamente no meu computador tentando rastrear uma peça que foi roubada e que claro, possui um dispositivo de rastreamento. É uma peça que parece uma caixinha e que serve para emitir sinal. Por exemplo, o HD das TV'S é influenciado por isso, só que ninguém sabe. E quando ela não funciona a TV fica com aqueles chuviscos. Enfim. Somente grandes empresas possuem isso e ele não é caro, mas sua venda é restrita para as torres que emitem sinal de TV. O fato é que, ontem à noite outra coisa foi roubada. Um nuke.

Olho para Jess e para ele. Jess faz o mesmo. Ele vê que nós não sabemos o que é isso é prossegue.

—Ok, nuke é como se fosse uma chave que está dentro de um pendrive. Ele, utilizado de forma correta, é capaz de interferir em sistemas de água, luz e esgoto. Luz principalmente, pois causa pequenas explosões se estiver funcionando com a rede ligada. Pequenas é uma maneira de falar, pois quem está perto de terminais, como tomadas ou computadores, pode morrer. Essa chave é utilizada em empresas para manutenção, onde um setor é isolado de luz, água, sinal de telefone, e outros, para que sejam feitos os ajustes necessários.

—Tá, e o que isso tem haver com a gente? Foram dois roubos aleatórios e não estamos investigando furtos. - fala Jess secamente.

—O furto de ontem foi feito com armamento policial. - ele fala diretamente para Jess - ou seja, são os seus caras.

—E para que eles iriam querer isso?

—Também me perguntei isso. Fiz uma pesquisa procurando algo que relacionasse esses dois objetos e adivinhe! Eles irão fazer um crake!

—Um o quê?  - pergunta Jess

—Um crake. É uma espécie de “bomba” na qual esses equipamentos são unidos. Ao invés de paralisar apenas algum sistema em um prédio, por exemplo, eles poderão paralisar toda a cidade!

—Isso é possível? -pergunta Jess.

—Infelizmente.

—Então quer dizer que tudo...

—Sim, tudo - ele me interrompe - água, luz, telefone. Tudo irá parar. Prédios de grandes empresas e até hospitais irão ficar sem nada. A cidade entrará em colapso.

—Deus do céu! - eu falo me afastando dali. Isso era demais, não conseguia acreditar. Pessoas iriam morrer em leitos de hospitais, empresas perderiam grandes negócios, a cidade ficaria sem comunicação nenhuma.

—Um grande hacker teve que fazer isso - ele continua - com grandes recursos, só vi isso uma vez estudando na faculdade.

—E onde seria um bom local para implantar essa "bomba"? - pergunta Jess.

—Algo que tenha conexões com o máximo possível de estabelecimentos... Como por exemplo... - ele começa a digitar - aqui! Estava olhando o que teria conexões com toda a cidade. É claro! Sistema elétrico, logo o local de hackear esse sistema seria no centro de distribuição de energia. Rua Prive número 1001.

—Vamos para lá agora! – digo, me dirigindo à porta.

—Espere Luce, esses caras são da pesada. Eu nunca vi nada assim. Tome cuidado!

—Pode deixar! – pisco para ele e saio. Eles que teriam de tomar cuidado comigo.

Saímos dali em disparada. Eles iam aparecer em algum momento, era a melhor chance de todas, pois pela primeira vez, estaríamos à frente deles.

Chegamos à central e nos dividimos. Quatro policiais foram pela cobertura e eu e Jess, juntamente com outros três fomos pela parte debaixo. Três estariam indo pelos fundos. Eles estariam cercados.

O lugar estava escuro, todos os funcionários já haviam ido para casa, exceto por alguns guardas que faziam ronda, mas que se caso alguém como o Raio atacasse, não conseguiria proteger o local.

Entramos e passamos pela recepção, seguindo por um corredor que nos levava a diversas salas. O lugar era muito moderno, com portas de vidro e alumínio, que brilhavam de acordo com nossas luzes. Eu e Jess estávamos no meio, dois polícias na frente e um atrás, todos com as lanternas das armas ligadas e fazendo o menor ruído possível.

No fim do corredor havia uma porta que possuía um sistema de segurança com senha, mas os guardas nos deram um cartão de acesso. Chegamos perto e pudemos ver algo estranho: o painel onde se passa o cartão estava desligado, a porta estava apenas encostada. Os fios do alarme estavam cortados.

Eles já estavam lá.

— Que ótimo! Vamos continuar - diz Jess, dando continuidade à nossa perigosa caminhada.

A porta dava acesso ao local onde as conexões eram feitas e a energia era distribuída. Existiam diversas caixas de força, o que dava ao lugar uma aparência sombria. As máquinas fazia um barulho que se assemelhava a um zumbido. Era gigante, não conseguíamos ver a última caixa de força. Elas estavam em fileiras, cada uma com dez. Onde estariam eles?

Vamos andando vagarosamente até que vemos uma luz vinda do centro da grande sala. Dividimo-nos para podermos cerca-los. Quando faltavam cerca de 50 metros, demos de cara com os guardas do Raio. Havia um em cada fileira, e eles nos viram, infelizmente eles nos viram. Cada um de nós recuou e se escondeu atrás da caixa mais próxima. Eles começaram a atirar.

Eram por volta de 10 homens, cada um fortemente armado. Os outros policiais chegam até à sala e começam a atirar de volta. Agora éramos 12 contra 10. Os tiros não paravam. Da minha posição eu conseguia ver o Jess, que estava atirando também. Ele conseguiu ferir um deles, que agora estava deitado no chão, ou morto.

Um dos nossos, o David, foi atingido no braço e estava sangrando bastante. Outro policial que eu não conseguia identificar estava com ele.

—Cessar fogo! - eu grito, pois eles haviam parado de atirar. Um silêncio nos invade. Mas não era um silêncio de paz, era um silêncio desesperador, angustiante, de que algo estava errado.

—Luce! Minha doce menina! Como fico feliz por você ter vindo! Não seria especial sem você aqui, afinal, eu preciso de alguém para culpar, já que não teve competência de me deter.

Era o Raio. Ele gritava do painel de comando no centro da sala.

—Incompetente? Acho que não é bem isso que está acontecendo. Se renda, você não tem saída!

—Já ouvi isso uma vez e quer saber? As portas estão bem abertas. Sempre estarão, porque eu mando nisso. Mando nesses homens, nesse centro de distribuição e em breve, na cidade toda!

—Então é isso que você quer? Quer a cidade? Mas para que você iria querer uma cidade destruída? Você irá parar a cidade inteira com esse dispositivo, pessoas morrerão em hospitais! É isso que você quer? - eu escuto passadas vindo mais para perto.

—Um mal necessário. Hoje as pessoas só atendem com violência.

—Sério? Não diga! – digo sarcasticamente.

—Digo e repito. Mesmo que seja para o seu próprio bem, as pessoas têm medo de mudar, elas estão tão acostumadas a sofrer, que acabam se acomodando a isso e desperdiçam sua curta vida lutando para sobreviver. Porque é isso que elas fazem, sobrevivem ao invés de viver.

Dita essa última palavra, percebi que ele devia estar muito perto de mim. Um frio sobe em minha barriga. Por favor, dê certo!

—Se fala tanto em mudança, porque não muda? Ao invés de se candidatar, matou famílias cruelmente, roubou armamento policial, matou uma promotora! Tudo isso para que? Pessoas como você não mudam, estão eternamente condenadas a viver do crime e machucar os que estão ao seu redor.

—Luce - ele diz e percebo que ele está logo atrás da caixa que me protege, perto demais - olhe ao seu redor, veja o mundo em que vivemos. Ele não vale a pena. O mundo é ruim, as pessoas são más, egoístas, têm o coração corrompido pela ganância, inveja. Eu apenas darei um recomeço, iniciando por esta cidade.

—Você é insano! Não é assim que as coisas mudam.

Ele corre e pula para cima de mim, eu me desvio, rolando para o lado. Levanto-me e vou para trás de outra caixa, os homens dele atiram em mim, e eu revido, mas eles são muitos. Os policiais começam a atirar também, um deles é atingido e cai, acho que seu pescoço estava sangrando.

—Jess! Rápido!

—Consegui Luce!

O Raio olha para mim, desconfiado. Ele corre em direção ao centro de comando, e para a surpresa dele, seu dispositivo para hackear toda a estrutura da cidade não estava mais lá.

O que ele não sabia era que enquanto ele fazia seu showzinho comigo, Jess e mais dois policiais correram e deram acesso à Tyler. Ele cancelou o hackear e assim, a cidade estava salva, para nosso alívio. Mas o Raio estava dominado pelo ódio.

— Não! Lucille! Sua menina hipócrita e imbecil! Vocês que nasceram em berços de ouro não sabem o que é sofrimento! Mas sua hora vai chegar! Você não perde por esperar!

—Se renda! Você não vai conseguir fugir! - eu grito, recarregando minha arma. Ele não vai desistir e eu sei disso.

—Você se engana quando pensa isso! Eu sempre vou conseguir me sair bem, você já deveria saber isso.

Falando essas palavras, eles começam a atirar. Toda a minha equipe, de menos o homem que estava ferido, começam a devolver os tiros. Eu me levanto e corro para mais próximo de onde o Raio estava. Um tiro pega de raspão em meu braço. Arde muito, mas a bala passou direto, apenas provocando uma leve queimadura no meu braço esquerdo. Como estava com o corpo quente, a dor nem me prejudicou em nada.

Minha munição acaba.

—Preciso de munição agora!

Jess olha para mim, pega um de seus pentes de bala e o manda para mim pelo chão, fazendo o pente se arrastar pelo meio dos tiroteios. Antes que ele chegasse a mim, alguém pisa no pente, impedindo de chegar até mim.

Era um homem até baixo, mas era assustador. Antes que ele pegue o pente eu corro e dou um chute nele, fazendo-o cambalear para trás. Ele olha para mim e vem em minha direção, dando um soco que impeço de acertar meu rosto. Ele se joga em cima de mim e me prende com seus braços, eu tento me soltar, mas ele é muito forte. Ele me segura, de costas para ele, e começa a me empurrar. Eu então me lembro de um truque que aprendi quando era pequena. Eu levanto meu pé com força para trás, acertando ele bem entre as pernas. Ele cai de dor.

Quando pego o pente de balas e recarrego minha arma, percebo que o Raio acaba de capturar um dos meus policiais e coloca em sua frente como escudo. Ele dá um tiro para cima.

—Já chega! Se alguém atirar eu meto a bala na cabeça dele!

Viro-me e vejo o homem que acertei entre as pernas ainda deitado no chão, com muita dor. Vou até ele e me abaixo,  apontando a arma para sua cabeça.

—Larga ele! - eu grito - ou eu atiro!

O raio olha para mim, com desdém. Ele aponta sua arma para o homem que estava deitado em minha frente e atira. Mas que merda é essa?

—Estes homens aqui morreriam por mim! - ele grita se dirigindo a mim - a maior fraqueza de um homem é sua mulher e seus filhos, os quais tenho certeza que esse camarada aqui tem - ele encosta a arma na cabeça do policial - mas os meus homens, eles fazem um pacto: eles vivem só por mim e para mim! Sem distrações. - ele começa a andar para trás – nascemos e morremos como ninguém! Se vocês me seguirem, este homem vai morrer - ele vai andando para a porta dos fundos e antes de fechar a porta, atira no policial, em sua cabeça.

—Não! - eu grito e começo a atirar, mas a porta já está fechada e o Raio está escapando, outra vez. Isso não vai ficar assim. - rápido! Para as viaturas!

Veremos se esse desgraçado sabe dirigir.


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