Dúvidas da razão escrita por larissasalary


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

O dia está nublado, a luz do Sol não pode ser vista.



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Desliguei o carro em frente à casa dos Hudson.

Fiquei ali dentro apenas olhando para a casa por um momento, pensando em como as coisas haviam mudado dentro de um dia. Ontem, há essa mesma hora, Jess e eu estávamos jantando uma comida maravilhosa, conversando, rindo e éramos apenas felizes. Hoje eu jantei um sanduíche com refrigerante, não estava conversando e nem rindo com ninguém, muito menos eu estava feliz.

Percebi que um carro chegou e estacionou atrás do meu, eram Rachel e Bob. Antes que eles saíssem do carro eu saí e fui em direção à entrada da casa, aliás, casa não, mas sim uma verdadeira mansão, gigantesca e extremamente bela, típico de pessoas de elite, conforme a família Hudson era.

Eu me lembrei do que o Raio disse uma vez e logo refleti que realmente o mundo era um lugar injusto: tantos passando fome enquanto poucos vivem de uma forma estupidamente luxuosa. Isso não dava razão àquele verme, claro, mas também não deixava de ser verdade. A corrupção e as mentiras se apossaram de nosso sistema de governo, que está preocupado em favorecer os ricos, enquanto os pobres perdem direitos, apoios e papéis significativos cada vez mais.

—Luce, está tudo bem? - Rachel me perguntou encostando de leve em meu braço. Eu estava tão perdida em meus pensamentos que nem vi a aproximação dos dois.

—Está sim, só estava pensando em tudo.

—Entendo...

Eu abri a porta e passei entre as faixas amarelas que lacraram o lugar.

Flashbacks da noite passada começaram a rodar em minha mente. Eu quase não havia percebido o lugar antes, de tão apavorada que estava, então tudo parecia diferente, sem contar que ao invés de corpos havia apenas manchas vermelhas de sangue no chão.

—Por favor, quero que os dois procurem pistas por esta sala, eu estarei lá em cima checando os quartos. Qualquer coisa me avise. - os dois acenaram com a cabeça e eu subi as escadas.

Entrei primeiro o quarto da adolescente. Olive Hudson. Era um quarto bem grande, completamente rosa e delicado, assim como a dona. A escrivaninha estava virada no chão e os vários papéis que deviam estar em cima dela agora estavam no chão, assim como canetas, livros e até o seu celular.

O guarda roupa que ia do chão ao teto tinha suas portas abertas e estava vazio, já que todas as roupas estavam ou no chão, ou na cama, todas rasgadas. Aquilo era um caos.

Olhei para as paredes e vi alguns quadros pendurados, outros no chão. Vi os vários porta-retratos que estavam em sua maioria quebrados. Olive era magnificamente linda e me doía saber que ela estava morta com tanto de sua vida ainda pela frente.

Saí do quarto levando o celular e o notebook, só pelo caso de ela ter recebido alguma ameaça ou algo do tipo.

Entrei no próximo quarto e era o do garoto. Eu sabia disso porque seus brinquedos estavam espalhados pelo chão e o lindo azul-marinho inundava o cômodo. Uma completa bagunça dominava o lugar e assim como o da irmã, seu guarda roupa estava com portas abertas e suas roupas estavam pelo chão, rasgadas, como se algo furioso tivesse passado por ali.

Em um dos cantos do quarto, porém, não havia bagunça, mas, o que tinha nele me chocou muito mais do que qualquer coisa que pudesse estar fora do lugar. Em uma pequena cadeira de balanço estava sentado um ursinho de pelúcia e o seu pelo que deveria ser branco agora estava todo sujo de sangue, além de haver uma faca atravessando seu pescoço.

Eu me aproximei e vagarosamente retirei a faça do urso e a coloquei em um saco de evidências juntamente com o urso. Na parede maior do quarto estava exibido um quadro enorme com a imagem de William. A inocência que ele esbanjava em seu sorriso era tão pura, tão verdadeira, o que me fez lembrar minha infância.

Desde muito nova eu presenciei a violência, o caos e principalmente a perda. Acredito que qualquer fotógrafo que tirasse nem que fossem mil fotos, não teria pego aquela felicidade que o pequeno garoto demonstrava. Nem todos têm a mesma facilidade em iniciar a vida.

Eu saí dali e Dirigi-me ao quarto do casal Hudson. Não estava diferente dos das crianças.

No espelho da penteadeira, porém, havia um sol desenhado com batom vermelho. Isso já não era uma novidade para mim.

Desci as escadas e encontrei Rachel e Bob conversando e olhando para as marcas de sangue no carpete. Eles estavam concentrados, mas logo Rachel me viu.

—Alguma sorte lá em cima? - perguntou ela.

—Bem, está uma tremenda bagunça lá em cima. As roupas estão espalhadas e rasgadas. No quarto dos adultos há um Sol desenhado de batom no espelho. Colhi algumas evidências, como essa aqui - levantei a sacola com o urso e a faca e Rachel cobriu a boca com as mãos

—Que horror - ela falou em um grito abafado.

—E aqui? Acharam alguma coisa?

—Estávamos analisando aqui e pela quantidade de sangue, posso dizer que eles foram mortos neste cômodo mesmo.

—Isso, não demos muita sorte - Rachel disse, mas ela estava hesitando.

—Mais nada?

—Bom, eles quebraram grande parte da mobília como você pode ver, mas, somente isso. - falou Bob.

Eles estavam escondendo alguma coisa. Coloquei a mão na arma em minha cintura e me preparei para o que poderia acontecer agora.

—O quê vocês sabem que eu não sei?

—Bem Luce, nós queríamos te poupar disso - falou Rachel olhando para o chão.

—Fomos verificar o sistema de segurança e encontramos a filmagem do assassinato.

—Alguma pista? - eu tirei a mão da arma.

—Eram cinco suspeitos, todos armados. Não pudemos identifica-los, pois estavam todos mascarados, exceto um.

—O Raio – eu disse e eles acenaram com a cabeça em um gesto se afirmação - mas por que eu teria que ser poupada disso?

—Luce você realmente não precisa...

—Fale Rachel! Eu estou mandando você me dizer - eu explodi.

—Você também está nas filmagens - falou por fim Bob.

—Eu estava aqui no momento em que aquelas pessoas foram assassinadas? - eu entrei em estado de choque, os dois nada falaram, só me observavam - eu tenho que ver esse vídeo!

—Mas Luce... - lamentou Rachel, mas eu já estava decidida.

—Agora! - eu estalei.

Bob fez um gesto de negação e nesse momento eu fiquei receosa do que eu estava prestes a ver.

Ele se dirigiu até seu notebook e abriu a pasta que continha vários vídeos fragmentados. Ele clicou em um e o vídeo abriu.

—Eu me recuso a ver isso novamente - Rachel se virou, mas permaneceu ao meu lado.

Os bandidos entraram pela porta dos fundos e primeiramente dois deles dominaram o pai que estava na sala assistindo TV e não os viu se aproximar. Os três que restaram subiram as escadas e em seguida desceram cada um com um membro da família.

As crianças choravam, a mulher parecia pedir para soltar os filhos, não sei, não havia som na gravação. O marido parecia enfurecido, mas sempre que tentava se soltar os homens davam-no ou um chute ou um soco. Que cena.

O Raio entra pela porta dos fundos, falando e rindo para as pessoas. Ele deu um sinal e os homens fizeram com que todos se ajoelhassem em um círculo. Ele falou em um radio e esperou.

Os jovens estavam apavorados, enquanto sua mãe e seu pai tentavam acalmá-los. Eles conversavam e choravam uns com os outros. Eles sabiam que não teriam como sair dali, então falavam o que eu imagino serem palavras de amor, de arrependimento, de esperança. Os últimos minutos de suas vidas estavam passando rápido demais.

De repente alguém abre a porta da frente e entra carregando alguma coisa. Estava enrolado em um pano branco. Olhei novamente e percebi que não era alguma coisa, era alguém e  este homem era ninguém mais, ninguém menos que Jess.

Jess

Ele estava carregando aquela pessoa que só podia ser uma na verdade: eu. O ar foi drenado de meu corpo e eu vacilei a ponto de cair. Rachel me apoiou e eu permaneci de pé, mas as lágrimas que saiam de meus olhos ardiam feito brasa. Era um sentimento de ódio que eu estava tendo.

Eu olhava para aquele homem naquela tela e sentia nojo dele. Nojo de mim.

Bob pausa a gravação.

—Você não precisa ver isso Luce. - diz ele lamentando.

—Vem cá, senta aqui - Rachel me trouxe uma cadeira e eu sentei. Toda a minha estrutura estava abalada naquele momento.

—Eu agradeço a preocupação, mas eu preciso terminar de ver isso.

Eles não discutiram. Sabiam que não conseguiriam me fazer parar de ver a verdade.

Bob soltou a gravação e eu continuei ali, firme.

Jess me colocou no centro do círculo e retirou o pano que me cobria

O senhor Hudson fala alguma coisa e o Raio responde, sorrindo. Ele passa a mão ao longo de sua calça e retira uma navalha. Ele sorri e vai na direção do pai. A mulher grita. A jovem grita. E o menino fechou os olhos, apertando-os fundo, como se ao abrir ele fosse acordar de um pesadelo. Mas aquilo era real, a morte estava iminente.

O Raio começou a rodar, apontando a navalha para cada um dos quatro, enquanto eu estava ali, deitada no centro. Ao ver aquilo eu esperava que a todo o momento eu fosse acordar e salvar aquelas pessoas. Mas não, voltar no tempo infelizmente ainda não é possível.

O Raio sai do círculo e vai para trás do menino Hudson. Ele olha para a mãe que gritava e implorava, enquanto era segurada por dois homens. O Raio pega a cabeça do menino, a levanta e então corta sua garganta.

A mãe cai e coloca seu rosto no chão, sem conseguir olhar para aquilo. O Raio pega o menino e o coloca com a cabeça sobre mim, fazendo com que todo o sangue que saía caísse sobre mim.

Meu coração estava tão apertado neste momento e as lágrimas já haviam molhado toda a parte de cima do meu uniforme.

Ele segue e dessa vez foi a adolescente. Ele repetiu o movimento com a jovem e cortou sua garganta, derramando seu sangue sobre mim.

A mãe, que estava em um pânico surreal foi a terceira.

Restando apenas o pai, que tinha seus olhos avermelhados, o Raio ficou um tempo breve falando com ele. Como eu queria saber o que aquele monstro estava falando nesse momento. O Raio fala alguma coisa e aponta para mim. O homem parece incrédulo, e minha agonia só aumenta. Quando o senhor Hudson abre a boca para falar algo, o Raio corta sua garganta.

Eu abaixei minha cabeça, a encostando na mesa e deixei que as lágrimas saíssem. Toda a raiva, toda a angústia e tristeza que eu sentia nesse momento são incapazes de serem imaginados.

Bob pausou o vídeo e Rachel me deu um longo e demorado abraço. Apesar de não estarmos às boas ultimamente, ela tem feito muito por mim e sou muito grata por isso.

—Bob, eu quero esse vídeo para revê-lo.

—Rever?  - ele me perguntou.

—Sim, preciso estudá-lo - eu respondi.

—Certo.

Ele copiou os vídeos para um pendrive e me entregou.

—Obrigada. Vocês terminaram por aqui?

—Sim, vamos para a delegacia entregar essas provas à perícia e torcer para acharem algo. Qualquer resultado eu te ligo - disse Rachel.

—Tudo bem então, mas eu duvido que vão encontrar algo, eles são muito cuidadosos.

—Tomara que tenham deixado alguma pista dessa vez.

—Até amanhã detetives.

—Até mais Luce.


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Notas finais do capítulo

O segredo está escondido entre os pequenos detalhes.



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