POV. Kevin

Era o cúmulo do absurdo a minha situação, e eu ainda não conseguia acreditar nisso. Ainda não sei o que fiz em uma outra vida, mas com toda certeza, eu era um pecador.

Sou um adolescente comum, ou quase isso, mas nada justifica o fato de eu ter ficado pobre de uma hora pra outra. Algumas pessoas chamam isso de justiça divina ou de lei do retorno, mas eu não acho a menor graça.

Sou Kevin Albert Parker, neto de um dos caras mais ricos do país e filho de um dos mais falidos, por pura ironia do destino. Meu pai não era tão rico, pois meu avô o deserdou além de ser o filho bastardo, ele ainda casou com uma brasileira, e ainda ter um filho com ela.

Meu pai trabalhou muito e conseguiu dar uma condição boa para nós, porém tudo começou a desandar quando minha mãe ficou doente, e meu pai decidiu que deveria beber até passar todos os problemas. Minha mãe voltou pra o Brasil, sua irmã Daya ia cuidar dela e eu fiquei para cuidar do que restou.

Meu pai conseguiu perder o pouco que nos restou então fomos morar em uma pequena casa em um bairro comum de NY e eu tive que me matricular em uma escola pública e arrumar um emprego, o que não foi nada fácil. O único "luxo" que eu escolhi manter foi o meu carro, e era onde eu gastava a maior parte do meu dinheiro e era um presente da minha madrinha.

O meu primeiro dia na nova escola não foi grande coisa, eu só sentei em uma das cadeiras e deixei o tempo passar. Na aula de Química a professora pediu que fizéssemos duplas e então foi ali que eu comecei a ficar nervoso.

— Olá, meu nome é Esther. - Apresentou-se a menina de cabelos castanhos e olhos verdes - A professora pediu que eu fosse a sua dupla, pois você é novo e não conhece ninguém.

— Ok, Esther! - disse tentando não ser rude, a menina parecia ser legal - Eu sou Kevin, e obrigado.

— Não precisa agradecer, já estudou Oxidação, Corrosão... - a menina começou a falar sobre Química - Se você não souber eu te ajudo, não é problema.

— Relaxa, eu já estudei sobre isso na minha antiga escola, estou um pouco mais adiantado. - expliquei contra a minha vontade - Mas se você quiser ajuda, não tem problema.

Depois da nossa pequena conversa a garota focou no aula e me deixou em paz, ela não parecia ser uma pessoa ruim, mas tinha algo triste nela. Não puxei assunto e nem ela, depois dessa aula não a vi mais.

Pov. Esther

Quanto mais eu rezo mais assombração me aparece, isso não é normal.

Depois de chegar atrasada, a professora pediu que formássemos duplas e pediu que eu fosse a dupla do aluno novo. O menino que tinha cara de problema, mas olhando bem ele tinha cara de metido mesmo.

Troquei duas ou três palavras com ele, nada de importante, depois tentei esquecer que ele estava ali e deu certo. Terminei as anotações e fiquei esperando o sinal bater, olhei rapidamente para o Kevin e vi um sorriso presunçoso, quem ele acha que é?

Depois da aula de Química decidi tirar o dia de folga, fui para biblioteca e terminei de ler o livro que eu tinha pego. O Ladrão de Raios era maravilhoso e eu já era Team Percabeth.

Quando cheguei em casa estava tudo calmo, e eu logo estranhei, pois raramente existia paz naquela casa. Entrei rapidamente e fui direto para o meu quarto, vesti o meu uniforme e fui para a loja em que trabalho. Era uma loja de artigos para festas, e no momento eu estava trabalhando sozinha, pois meu chefe demitiu os outros rapazes.

Cheguei antes do horário e o senhor Ferris estava conversando com um rapaz, bati meu ponto e comecei a ajeitar o estoque da loja.

— Esther, esse é seu novo colega de trabalho, já expliquei tudo a ele. - disse por trás de mim, me assustando - Kevin, essa é a Esther.

Sim, o 'garoto problema' seria meu colega de trabalho, e eu não estava nenhum pouco animada com isso.

— Então, bom trabalho. Eu volto pra fechar a loja, mamãe está de olho em vocês. - disse Ferris acenando pra sua velha mãe que ficava tomando conta da loja - Qualquer coisa me liga, mãe.

Voltei a arrumar o estoque e o tal Kevin ficou organizando os produtos da loja, aparentemente ele parecia mais calmo e não tinha o sorriso presunçoso. Deu a hora da nossa pausa e eu separei o dinheiro para comprar um sanduíche, e então uma ideia louca me veio a cabeça.

— Kevin, você quer lanchar comigo? - perguntei um pouco sem graça - Nós temos uma pausa...

— Eu sou difícil, nem tenta. - disse me interrompendo.

— Qual é o seu problema? Eu só estava sendo gentil!

— Calma esquentadinha, eu só estava brincando, mas aceito o seu convite. - disse rindo - E você paga, afinal foi você quem me convidou.

Caminhamos até uma pequena a lanchonete que tinha ali perto, e pedimos os nossos lanches.

— Então, o que uma pessoa como você está fazendo em um lugar como este? - perguntei curiosa - Você não parece ser pobre ou alguém que precisa trabalhar.

— As aparência enganam, Esther. Eu realmente não era tão pobre, eu tinha alguma condição, mas meu pai perdeu tudo e agora nós estamos nos virando. - despejou tudo de uma vez - Espero que isso fique entre a gente, não quero que ninguém da escola saiba.

— Não saberão, até porque eu não tenho amigos lá. E nem em lugar nenhum, não tenho tempo pra amigos, sabe?

— Entendi, não posso garantir nada, mas aceita ser minha amiga, Esther? - disse ficando um pouco sem graça - Eu também não tenho amigos, só um primo, mas ele não fala mais comigo tem um tempo.

— Vamos tentar, acho que podemos tentar ser amigos. - disse tentando parecer confiante.

Ficamos conversando sobre amenidades até que o nosso pedido chegou e nós tivemos que voltar pra loja. Kevin parecia ser uma boa pessoa, acho que errei no meu julgamento sobre ele. Ou não, só saberei com o tempo.