O medo de Willy Wonka. escrita por dayane


Capítulo 11
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Voltamos a apresentar: O medo de Willy Wonka!
Tá, parei.



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Willy não gostou de saber que as aulas de Charlie já tinham voltado. Julgava um ultraje, uma afronta para todos os alunos que podiam congelar ao sair de casa com o sol fraco, bruxuleante, eu não se mantinha fixo céu, não perfurava as nuvens quase constantes que o cobria a cada instante e muito menos aquecia as ruas, derretia a neve. Seu pupilo podia adoecer, os projetos podiam atrasar, os pensamentos negativos podiam agarrar a mente de Willy e quebrar sua criatividade - aparentemente isto já estava acontecendo.

Amargurado, o chocolateiro foi até a ala de criações. Ele queria testar algumas misturas no chocolate, adiantar o trabalho que teriam até o aniversário de Veruca Salt, que já estava bem próximo, preparar formas. Precisava, acima de tudo, que sua mente focasse apenas no presente e não no passado.

 

Ϣ.Ϣ.

 

Charlie Bucket saiu da aula com o caderno cheio de desenhos. As salas estavam vazias devido à neve e muita gente não ficou sabendo do retorno das aulas. Os professores apenas fizeram revisões das matérias, tirando dúvidas, deixo os alunos mais à-vontade. O herdeiro aproveitou o tempo para pesquisar os modelos, ver quais vestimentas mais vendiam e para escrever a resposta para a carta convite.

— Bucket!

Ele escorregou na calçada quando escutou o sobrenome, mas não caiu. Poucas pessoas o chamavam pelo nome de família, menos ainda viviam fora da fábrica. Ele olhou para um lado, passando a olhar para o outro quando não achou a pessoa responsável por chama-lo.

Amanda Funk o olhava sorridente enquanto trotava até ele, atravessando a rua em botas de salto que não combinavam com a neve.

— Toma um chocolate comigo? - Ele uniu as sobrancelhas, estava desconfortável com o convite. - Prometo ser rápida.

Os ombros do mais novo caíram cansados só pela perspectiva de desenterrar um assunto que ele tinha dado como finalizado. O que ela queria?

— Eu tenho que ir para casa.

Ela não mostrou desconforto com a afronta e ter seu pedido negado. Tinha planos com o Bucket, queria falar com ele, persuadi-lo, deixa-lo irritado para que falasse com Willy Wonka sobre a conversa. Amanda Funk sabia que Willy não aceitaria a proximidade dela com o pupilo amado, nem mesmo sobreviveria ao pensamento de que Charlie se afastaria do chocolateiro. E Amanda precisava afastar os dois.

— Senhorita Funk. – A respiração de Charlie saiu em uma pesada nuvem de vapor, denunciando que ele abusou de um respirar profundo para caçar as palavras que usaria.

E aquilo, aquele ato adulto, como se fosse repreender uma criança, irritou Amanda. Ela não era uma criança, não seria tratada como uma por Charlie, que é uma criança.

— Eu sinto muito por Willy ter roubado seu caderno de receitas. – Olhar nos olhos castanhos de Charlie e não enxergar nada, não ver repulsa, sinceridade, nada, era perturbador para loira. – Mas ele me salvou, me fez ser importante e é importante para mim. Eu não vou deixa-lo, mesmo que perca a fábrica.

— Por que ele perderia a fábrica? – Ela tinha um riso preso nas palavras.

— É o que você quer, mesmo que não queira assumir isto. – Charlie não titubeou. – Sei que amou Willy, teve orgulho dele e sabia que ele tinha chances de vencer a competição por conta própria, mas sei também que não o perdoou por completo. – O pupilo arrumou a alça da mochila. – Pode tentar arrancar a fábrica dele, mas nunca me fará abandonar ele. – Charlie concluiu.

Amanda Funk viu tudo. Quando Charlie concluiu o que falava, Amanda Funk viu carinho, viu amor, viu proteção e cuidado. Viu que o herdeiro de Willy Wonka tinha paciência para estudar tudo o que o cerca, tem discernimento para ver os detalhes e, acima de tudo, prever atos. Charlie Bucket era capaz de esconder tudo o que sua mente carrega e só deixar sair quando desejar. E ele quis deixar bem claro o amor que sente por seu tutor. Os olhos castanhos, a força na voz, o corpo ereto. Tudo era uma massa de amor puro, incapaz de ser apagado, desfeito, perdido.

Com Charlie, Amanda Funk não teria nada. Ele era blindado por natureza, amava quem o amava.

Mas a loira não abdicaria da fábrica.

Era sua. Willy havia roubado o livro e a fábrica era resultado daquela competição.

— Mas eu não entendo. – Somente quando Charlie voltou a falar, é que Amanda percebeu que ficou em silêncio por tempo demais. – Por que você deixou Willy roubar o livro?

— Não deixei.

— Mentira. – Replicou o garoto.

— Não sou a culpada.

— E Willy a vítima. – Os dois falavam muito rápido. Não pensavam.

— A vítima? – A loira se conteve antes de explodir. – Eu fui roubada por meu pupilo. Você não vai entender isto até ter um filho ou um aluno. Você não vai entender o que é ter o coração destruído por quem ama.

— Espero não ter. – Declarou o mais novo. A voz acalmada pela pena que sentia de Amanda. – Mas você deixou o livro em lugar inseguro. Podia nem ter levado ele, pelo que Willy me disse.

— Queria ter certeza de que não erraria as receitas. – O herdeiro aguardou a outra resposta.

E um floco de neve caiu sobre o cabelo dele. Estava nevando de novo.

— Tudo bem, Amanda. – Ele deu um passo para frente. – Eu queria saber, mas não me importo de verdade. Com licença.

A rua estava livre de gelo, a calçada também tinha uma trilha perfeita para os andarilhos, mas Charlie quase escorregou quando passou em uma poça não limpa e se segurou na parede de uma loja fechada por conta do frio. Ele olhou para trás, onde viu Amanda parada, o olhando com medo, olhando como se ele fosse um monstro com capacidade de ler pensamentos, mas também como um inimigo.

O Bucket sabia que ao declarar lealdade com Willy, também precisaria anunciar suas fraquezas. Não largaria Willy, mas sabia que as reações do chocolateiro, quase perdesse a fábrica, seriam pesadas e até mesmo de repulsa contra o herdeiro. Pisou em cacos de vidro com os pés descalços, agora precisava rezar para não se machucar.

 

Ϣ.Ϣ.

 

— Tive uma ideia ótima, Charlie. – Willy vinha correndo. A mão direita segurando a cartola, o rabo do fraque voando e a visão cega para a bengala no meio do jardim.

— Willy!

Mas era tarde para pedir que o chocolateiro parasse.

O som do rosto branco contra o vidro foi acompanhado pelo baque do corpo ao pousar na grama verde menta que amaciava todo o jardim comestível. O chocolateiro se reergueu rápido, acostumado com o acidente que sempre acontecia por culpa da transparência de seu elevador único e pelo dom de esquecer onde o colocava.

— Como eu disse. – Ele pisou para o lado e voltou a caminhar pomposamente, como o ministro de um pequeno país. – Tive uma ideia ótima.

— Qual ideia?

Os caminharam para a ala dos dormitórios. Charlie queria por roupas quentes e confortáveis.

— Se a lesminha...

— Veruca, Willy. Ela é sua cliente agora.

O chocolateiro ergueu o indicador.

— Tecnicamente ela é sua cliente. – Focou no sua, para deixar claro que ele não era ligado com ela de forma alguma.

Charlie soltou um riso.

— Somos sócios, não somos?

O mais velho fez uma careta, derrotado.

— Em fim, se ela tiver uma sala climatizada, podemos fazer tudo de chocolate.

— Como?

Era uma questão que Charlie sempre teve. Como Willy conseguiu levar o chocolate para a índia, quando construiu o palácio de chocolate que derreteu?

— Com o elevador, estrelinha. – O chocolateiro seguiu caminho, deixando que o pupilo trocasse de roupa.

Mas parou no meio do caminho e chamou Charlie.

— Estrelinha! Podemos fazer ela em três melhores fotos. Os Umpa Lumpas adoram esculpir. Podemos começar amanhã.

Charlie adorava as ideias excêntricas de Willy. Ele sempre pensava no que era melhor para os moradores da fábrica, deixava cantar quem queria cantar, esculpir quem queria esculpir, criar quem queria criar. Achou os melhores Umpa Lumpas para cuidar das finanças, os fanáticos por limpeza na limpeza e assim sucessivamente. Ele sabia trabalhar os dons, sabia investir, sabia até mesmo quando devia ficar na realidade e não seguir em frente.

Isto era algo único do chocolateiro, exclusividade dele. E Charlie Bucket amava isto em Willy Wonka acima de qualquer coisa, levando-o a ser inteiramente leal com o chocolateiro.

 


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