“Os céus negros da noite recebem-te

O feiticeiro adormeceu.

Tão certo quanto o nascer do sol,

Hoje e sempre ele vive

Pois sua magia jamais cessará!”

"Dizem que os contos de fadas são histórias com finais felizes. Eu, Yoongi I, posso afirmar que isso não é verdade. Talvez só existam pessoas que aliviam a tristeza e nos fazem seguir em frente; com isso não posso deixar de pensar que cada história tem um final apropriado.

Logo após a invasão de Galarda e morte da princesa herdeira, Namjoon II se tornou um recluso durante vários meses, o autêntico rei se escondeu dentro dos próprios aposentos sempre pálido de tristeza e abatimento.

Ele fora aclamado por todos por ter derrotado o temível feiticeiro, Jin. Agora o nome de Namjoon era quase uma lenda, as pessoas contavam histórias trabalhadas em boatos sobre como o feiticeiro fora morto. Lembro-me muito bem da cena e posso dizer que não fora nada tão glorioso; Namjoon esfaqueou-o pelas costas, justamente como disse que não faria.

Diferentemente das frases de efeito e das falas heroicas que as pessoas repetem umas as outras sendo tidas como ditas por Namjoon II, o bravo guerreiro que acabou com a ameaça do feiticeiro, Namjoon simplesmente desmaiou logo após o golpe mortal ao inimigo. Quando acordou, chorou feito criança balbuciando coisas como “foi minha culpa” e “ele deveria ter me matado”. Não pude deixar de notar que o cabelo que Namjoon trazia no frasco em seu pescoço se tornara negras cinzas e somente muito tempo depois soube dos serviços de Jimin como espião contratado por Namjoon.

Alguns dias após a fatídica luta, falei com o rei de Galarda e finalmente o enigma fora desvendado. Jin vivera em um orfanato e mais tarde fora adotado pelos pais de Jungkook, o guarda real de Galarda. Tudo correu bem até que a mãe dos dois garotos foi incumbida de proteger o então príncipe Namjoon, numa cavalgada perigosa juntamente com a guarda. Namjoon acabou se acidentando na investida ganhando alguns machucados e hematomas pelo corpo, Esme Turner fora a pessoa que o salvara da morte e mesmo assim o rei Namjoon I mandou executá-la, juntamente com o marido e os outros guardas para servir de exemplo para os soldados que fossem ineficientes ao rei.

Depois disso Jin, fugiu de casa e por fim assumiu a magia para si, renunciando seus sentimentos e definindo a vingança como seu principal objetivo.

Quando perguntei a meu amigo, sobre como ele sabia de tudo isso ele me respondeu:

—Quando o matei, quando minha lâmina atravessou sua carne, eu vi. Toda a história estava ali, fazendo daquele bruxo uma confusão, um caos.

Jungkook assumiu a maior parte das responsabilidades nesse período. Não cogitou se sentar no trono outra vez, nem mesmo quando Namjoon sugeriu que tomasse posse do reino como rei interino. O garoto, assim como o rei, estava de luto. Embora sempre fosse pego chorando pelos cantos pelo irmão, o guarda real jamais admitira isso; principalmente porque não o perdoara pelo que fizera com Jilian e com ele próprio.

Quando ouviu da guarda tudo o que havia feito ao reino e à Namjoon estando enfeitiçado por Jin, não pode deixar de pensar que sua única solução seria a morte. O próprio irmão o marcara como o traidor do reino, mesmo que ele não pudesse fazer nada com relação a isso.

Quanto a Jilian, Jin sabia que ela era uma ameaça, sabia que ela podia arruinar seus planos com Jungkook. Ele tentou matá-las, à ela e à avó. A avó morrera irremediavelmente, já a garota escapara com uma sequela na memória, não se lembrava de nada nem de ninguém.

Mesmo assim, ela ficou junto com Jungkook no castelo, como criada do rei. Logo após o período de retiro de Namjoon, Jungkook recebeu o perdão real, e já com dinheiro suficiente, comprou titulo de nobreza e abandonou o posto na guarda, se casando com Jilian em seguida.

Quando retomou sua posição de rei, a primeira coisa que Namjoon II fez foi dissolver o posto de guarda real. Na verdade, bem sei que ele não conseguia imaginar ninguém que ocupasse esse posto sem que esse alguém fosse Jungkook. Posso dizer que nós, reis da Gota, nos apegamos de verdade aos nossos guardas como se um elo de sangue realmente fosse formado.

A rainha Catarina passou a ser parte ativa da reconstrução do reino. Ela criou um ministério com o nome de Yoni, em homenagem à filha; neste ministério foram criados templos de ensino para crianças e jovens, além de hortas que eram mantidas pelos alunos a fim de alimentar a população mais pobre. O rei logo restabeleceu a guarda e Catarina assumiu diversas responsabilidades com o novo exército, formado por boa parte da população que viu na vida bélica um meio de sobreviver e de ascender socialmente.

O reino de Galarda ainda estava fraco, mas caminhou bem em direção à recuperação, principalmente quando a produção de armas aumentou graças à guerra que acontecia em Ophélia. Embora o rei ainda se tornasse melancólico durante alguns dias, tudo melhorou quando os gêmeos Raiden e Danlos nasceram.

Galarda finalmente pode experimentar um pouco de paz enquanto o sul entrava em guerra. Hoseok III revelou toda a verdade a Sir Taehyung que de início recusou terminantemente assumir o trono de Ophélia. Após meses de insistência por parte do falso rei, Taehyung subiu ao trono e agora é chamado por todos de Taehyung I, rei de Ophélia.

As consequências da revelação vieram imediatamente após a nomeação de Taehyung como rei: Arian foi até seu pai em Oraculum, pedir a invasão de Ophélia. Taehyung I nomeou Sir Jimin como seu guarda real enquanto Hoseok passou a fazer parte do conselho pessoal do rei.

Um dia, quando discutia alguns pormenores da guerra com Hoseok, não pude conter a curiosidade do por que resolvera revelar tudo a Taehyung mesmo sabendo da guerra eminente.

—É verdade que me importo com o reino e com todos da Gota. Mas, só agora percebi algo que não havia percebido antes; Taehyung não é mais aquela criança que costumava sonhar acordado. Eu não tive confiança nele, mas subitamente, sinto que ele pode tanto quanto eu proteger algo que é importante para nós dois.

Fiquei espantado com a serenidade de Hoseok ao me dar tal resposta. Penso eu que talvez sua leveza esteja mais ligada ao fato de que não precisou se casar com Arian do que finalmente ter de abdicar do trono e entregá-lo ao amigo que sempre esteve a seu lado.

Quanto a Taehyung, a decisão acertada de trazer Sir Jimin para seu ministério estava rendendo conquistas notórias na guerra. Embora fosse um rei inexperiente, Hoseok o aconselhava quanto à política e diplomacia enquanto Jimin orientava quanto às investidas do exército na guerra.

Os exércitos inimigos podiam ser numerosos, mas nada era páreo para a inteligência de Sir Jimin e o punho de aço de Taehyung I. Nunca mais falei com Sir Jimin, embora tenhamos nos visto frequentemente quando a guerra começou. Soube, algum tempo depois, que Beatriz estava morando no castelo como dama de companhia de Lady Kaira, a futura rainha de Ophélia, e que logo seria desposada por Sir Jimin.

Quanto a mim, os dias passaram a ser monótonos. Não pude ficar em Ophélia já que o reino de Denver havia ficado tempo demais nas mãos do novo capitão da guarda, o respeitável capitão Axel. Porém, assim como Namjoon II, decidi que não queria um novo guarda real, ficando a maior parte do tempo à mercê de pensamentos inúteis e divagações sobre minha solidão dentro do enorme castelo.

Mesmo contra minha vontade, algumas festas foram realizadas na corte. Exceto o período em que Beatriz fora minha consorte, nunca fiz questão de celebrações ou qualquer coisa do gênero. Mesmo assim, os anciãos e alguns membros da guarda ficaram em polvorosa com a possibilidade de haver a celebração da volta do rei ao reino; não que o acontecimento fosse realmente animador.

Conforme as festividades aconteciam, mais me sentia deslocado. Era como se meu castelo cuidadosamente montado, tivesse sido bombardeado maldosamente e tudo o que sobrara foram ruínas. Mesmo vencendo a guerra. Mesmo Denver estando em paz.

Odiava ter de admitir, mas sentia falta de Beatriz. Não a escolhera como esposa, mas ela passou a fazer parte de minha realidade e mesmo que não quisesse acabei me apegando a ela.

Antes de este castelo ter uma rainha, lembro-me claramente como eram minhas noites. Eu passava a maior parte do tempo no escritório ou junto do exército e em algumas raras exceções saia pelo reino para olhar como tudo estava. Nos dias de frio intenso, ficava nas torres altas observando o céu estrelado e limpo.

Mas depois que ela chegou foi um tanto estranho saber que alguém me esperava logo após os meus serviços terminarem. Foi realmente estranho ter alguém me perguntando se o dia havia corrido bem, ou se minha febre havia melhorado.

Acredito que fui mal acostumado. Alguém como eu não poderia esperar mais do que mais um casamento político e um castelo cheio de nada.

Porém o destino é algo incerto e só depois de ser homem formado que aprendi isso. Certo dia, enquanto cuidava dos livros de contas do reino, recebi uma carta sem remetente.

Nela havia uma única frase. Letras bordadas em uma caligrafia feia diziam:

'Estou muito orgulhosa de você!'

No mesmo momento reconheci aquela letra. Mesmo quando era apenas uma criança, a pessoa que a escrevera me ensinara a imitar aquela caligrafia para que aprendesse algo, mesmo não tendo dinheiro para me mandar para os templos caros que somente os filhos dos ricos frequentavam.

Tenho certeza que meu criado se espantou com meu choro descomunal. Acredito que desde que me tornara rei jamais desfrutei de tal sentimento, algo como um fardo havia sido tirado de minhas costas agora que sabia que minha mãe não mais me odiava."

FIM