Adolescer! escrita por Vagabond


Capítulo 1
Capítulo 1




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Quando a gente cresce, acontecem duas coisas, a primeira é o encanto pelo novo, por aquilo que achamos ter poder para fazer. A segunda, é o oposto, o desencanto de ver ruir as fantasias da infância, de sentir-se um estranho de si mesmo. Hoje, é assim que eu me sinto e se me perguntarem o porquê, não saberei explicar...Já faz um tempo que acordei estranho, desconectado.

Vejo as coisas e as pessoas num tom acizentado, distantes e sem graça! Levanto para ir à escola, numa rotina irritante e “necessária”, pelo menos é o que eu ouço. Pareço aquele gênio dos desenhos infantis, submetendo-me à vontade dos meus pais : “Eu ouço e obedeço, mestres!!” sim, ouço como uma ordem subliminar e, a única escolha que tenho é deixar-me viajar em meio aos conteúdos desinteressantes e as brincadeiras patéticas...

A escola me parece um grande poço, negro, profundo e sem fim! Todos os dias eu me atiro nele e convivo com toda a espécie de vermes que rastejam em seu interior e então, me pergunto, Porque nasci, afinal? Para viver uma vida que não é minha? Para satisfazer as espectativas da família?

É neste momento que ele aparece, o garoto que trafica drogas e se acha o cara! Ele deve achar-me um cliente em potencial, já que eu sou silencioso, esquisito e não me enturmo com os ditos “populares”!

Tenho que rir da cara dele...seu eu quisesse me entupir desta merda, não seria para virar freguês! Eu consumiria algo que me levasse de vez para outra realidade e não para a mesma em que eu vivo e ainda parecendo um idiota! Ele olha pra mim e desvia e eu sigo pelo pátio, procurando um lugar isolado e já sabendo que isso é meio impossível.

Tem tantos falando e brincando entre si que só resta um canto e já tem gente. Bem, é uma garota nova que também não se enturmou. Ela tem uma beleza comum e é bem quieta... Menos mal, talvez não fale nada quando eu me aproximar!

Acho que errei feio, ela olha na minha direção e abre um sorriso tímido...eu baixo a cabeça para fingir que não vi, mas ela insiste e estende a mão e eu noto que ela usa uma pulseira feita de uma espécie de grão escuro, bem diferente das coisas brilhantes que as outras garotas usam.

Oi! ela disse e eu respondi baixo, sem olhar muito. Ela pareceu não estranhar a minha atitude e só virou o rosto e suspirou. Eu fiquei desconfortável, era fácil fazer isso com um cara, mas com uma garota parecia uma grande sacanagem, então mudei e puxei assunto:

Você veio de onde?

– Do hospício, disse ela.

Como?– voltei a perguntar.

É, do hospício! Fui internada por depressão e tentativa de suicídio, mas agora estou bem!

Devo ter feito uma cara tão surpresa que ela riu e disse que era mentira. Eu ri de volta, e me dei conta que era a primeira vez que eu ria durante aquele mês. Então o sinal tocou e ela caminhou em direção à sala, não sem antes virar-se e falar algo baixo, que eu não consegui ouvir. Franzi os olhos e gritei:

O quê?

Toda a turma da frente olhou prá mim, estranhando ouvir a minha voz. Devo ter ficado vermelho, porque senti o rosto quente, mas insisti e ela voltou atrás, chegando bem perto dizendo, simplesmente, obrigada!

Eu ri e ela também, estávamos os dois fora da sala, já que o professor de física não tolerava atrasos. Ficamos no corredor, sentados no banco, aguardando o próximo período, rindo, sem ter nada para dizer. Então eu perguntei:

– Obrigada por quê?

Ora, por duvidar do que eu disse!– ela respondeu, alisando a pulseira de grãos escuros.

Notei que ela baixou a cabeça e ficou olhando para o chão, igual a mim, quando fico sem ter o que dizer. Eu respeito isso, mas ela torna a me olhar e diz que eu fui o único que ficou surpreso quando ela disse aquilo.

Eu devo ter mesmo cara de louca! disse ela, e eu, prontamente disse que não! Foi aí que eu me dei conta que as coisas não estavam como antes, haviam as cores , havia o sorriso dela e havia o meu sorriso...

– Como é mesmo o teu nome?– perguntei num tom casual.

Érika! e o teu? - ela disse, mostrando interesse, fazendo com que eu me sentisse "visível".

Me chamo Ícaro!

– Bonito nome, vem de uma lenda, não? ela rebate e eu já não acho que ela seja uma garota comum. Continuamos a conversar, até o sinal tocar.

O dia acaba e nós voltamos para casa e eu me sinto ansioso, pelo dia seguinte, como quando era criança e gostava de ir à escola. Engraçado como tudo pode mudar num simples dia e numa situação bem banal! Bem, banal talvez não seja o termo, mas isso já não importa. O amanhã não é mais cinza e eu já não me sinto fora de mim. Toco a pulseira de grãos que Érika me deu e sinto que a minha história de vida, está apenas começando...

Fim


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