Há muito tempo Regina não perdia uma noite de sono por alguém, na verdade ela não se lembrava de ter perdido o sono alguma vez, durante toda sua vida fora treinada para não demonstrar, não sentir, não se deixar levar...
Talvez aquela tivesse sido a sua pior noite, na maioria das vezes ela dormia com imagens da loira passando por sua cabeça, mas naquela vez havia sido diferente.
Ela sentia uma tristeza enorme invadindo seu corpo, seus pensamentos, ela sabia que por ter “aceitado” o pedido de Killian era como por um ponto final naquela história que nem havia começado.
Regina não podia negar que a loira fazia com que ela visse o mundo com outros olhos, ela queria largar o que quer que fosse e assim como Emma, viver da forma como achava ser correta. Virava na cama, fechava os olhos, contava até cem, revirava... Tentava esquecer aquele sentimento absurdo que ela nem mesmo sabia definir, queria colocar um ponto final naquilo, queria parar de pensar naqueles olhos verdes ou azuis que quase derrubavam suas barreiras, queria jurar para si mesma que aquela seria a última vez que se lembraria daquele sorriso de criança sapeca que acabou de roubar doce de algum amiguinho que a loira fazia ao cruzar olhares com ela.
Ao perceber que não conseguiria dormir decidiu levantar e tentar respirar ar puro.
Procurou por um casaco, mas não sabia onde havia colocado suas coisas, decidiu sair mesmo assim.
Ao passar por fora de uma das tendas, ouviu algumas vozes, algo que se parecia com uma discussão, olhou em volta e se sentou ao lado tentando se concentrar para ouvir sobre o que falavam.

— Não tem como isso estar certo – Hermione dizia num tom alarmante – Vocês não viram o que aconteceu quando eles foram trocar alianças?

— Mas o que você esperava? Confetes, balões, papéis coloridos voando?  – Harry retrucou impaciente – Era óbvio que algo ruim fosse acontecer, se estamos fazendo o certo unindo os dois, seja lá o que vamos ter que enfrentar, se realmente é uma pessoa, vendo o avanço da relação dos dois e a felicidade que ambos estão sentindo, isso ou essa pessoa, ficaria com raiva causando assim todo esse desastre.

— Eu não to ouvindo isso – a professora tentava respirar fundo – Felizes? Alguém aqui realmente acredita que os dois estejam felizes tendo a vida toda decidida assim por vocês?

— Regina sempre quis isso – Cora disse dando de ombros – O que importa é que contenham o mal que há nela, não é isso que você viu na profecia Potter?

— Pelo que eu entendi desde que toda essa história começou – Gold entrou na conversa – Foi predestinado que uma criança vinda dessa linhagem teria a tendência para o mal, uma tendência tão forte que até mesmo o próprio Voldemort temeria a essa pessoa se ela realmente sucumbisse ao caminho das trevas.

— Exatamente – Harry disse encarando Gold – E eu tenho certeza que tem mais pessoas que sabem sobre essa profecia, pessoas más que querem o retorno da maldade...

— E qual é a garantia de que esse casamento vai funcionar? – Ronny questionou encarando o amigo – Eu posso não estar muito por dentro disso, mas a garota realmente não parece feliz – Regina estava inconformada ouvindo tudo aquilo, como eles podiam considerar aqueles assuntos sem a presença dela e de Killian ali?

— Você tá louca Regina?! – Emma perguntou se aproximando, nem teve tempo de fazer ou falar qualquer outra coisa pois a morena praticamente voou em direção dela colocando uma das mãos em sua boca tentando evitar que eles ouvissem a loira.

— Quieta Swan – ameaçou contra o ouvido da loira que tentava se debater e se desvencilhar das mãos de Regina – Se ouvirem a gente aqui estaremos em problemas...

— Okay – Emma respondeu a contragosto – O que tá fazendo aqui bisbilhotando sem ao menos trazer um casaco? Quer ficar doente?

— Não achei minha mala – respondeu revirando os olhos – Você está me atrapalhando ouvir – a loira tirou o casaco que vestia e estendeu em direção a Regina que negou com a cabeça.

— Vou ficar falando, te impedindo de ouvir até você colocar esse casaco, tenho tempo, amo te irritar, podemos fazer isso por horas – a loira provocou.

— Não, você vai ficar com frio, eu estou acostumada com o frio – Regina disse mais para si do que para Emma – Estou bem.

— Minha blusa é de manga olha – a loira estendeu o braço mostrando a camisa verde musgo que usava e era quase maior que seu braço – Você que sabe, Regina, adoro falar e...

— Tá bom – concordou impaciente colocando o casaco da loira, respirou fundo sentindo o cheiro dela que estava se impregnando em seu corpo – Fica quieta agora – concluiu se sentando e dando um espaço para que Emma fizesse o mesmo.

— Regina está infeliz, Killian não quer viver nisso, vocês só vão acabar fazendo com que ela vá para as trevas obrigando ela a se casar assim – Hermione continuava tentando fazer com que as pessoas a ouvissem, mas parecia que o único que realmente estava fazendo isso ali era seu marido.

— Vocês não tem o direito de falar por nós – Killian se fez presente – Eu não disse que não quero isso, se Regina não estivesse tão disposta a isso quanto eu, ela teria recusado meu pedido.

— Ela provavelmente não faria isso – Luna que estava meio avoada decidiu dar sua opinião – E se pensarmos bem, ela apenas estendeu a mão, não ouvimos o sim da boca dela.

Regina sentia a cabeça cada vez mais pesada, sentia seu corpo tremer de raiva, não queria que aquele bando de pessoas decidisse o que ela faria ou não, ou que Killian se sentisse no direito de falar por ela. Seus olhos queimavam tanto que não pode evitar algumas lágrimas que desciam por seu rosto.

— Hey – Emma se aproximou passando um dos braços pelas costas da morena, como se estivesse abraçando-a – Não fica assim... Eu sei que dói, deve ser horrível ter que ter a vida toda decidida assim – ela limpou suavemente uma das lágrimas com o polegar.

— Eu não aguento mais – desabou nos braços da loira num choro compulsivo.

— Eu entendo, mas você vai aguentar, vai ficar bem – a loira sentia tanta dor ouvindo aquilo que só queria fazer Regina parar de chorar – Eu sei que dá vontade abrir um zíper nas costas e sair do corpo porque dentro da gente não parece ser um bom lugar para se estar, mas vai passar, confia em mim.

— Eu só digo que se a escuridão que pode despertar em Regina for pior do que a que havia em Voldemort, estaremos todos mortos – as duas voltaram a prestar atenção naquela conversa, a atmosfera na sala mudou rapidamente, se segundos antes estava controlada e até meio descontraída, agora ficará mil vezes mais tensa, correu um arrepio pelo lugar a menção do nome de Voldemort, Gold que ia tomar um gole de vinho baixou a taça lentamente com ar de preocupação.

— Nossos objetivos continuam os mesmos – Harry disse tentando acalmar a todos – Temos que trabalhar com o máximo empenho para que seja lá quem for, não tenha seus planos concretizados.

— Regina devia ter voz aqui – Hermione disse atraindo atenção para si – Ela devia poder dizer o que a fará feliz ou não.

— Ela ainda é uma criança, não tem como ter certeza ou não de que algo a fará feliz, por mais que pareça ter tudo sob controle, ela é apenas uma garotinha!