You and I. escrita por Lobo


Capítulo 35
Aniversário.




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Então você tem coragem?

Fico pensando se seu coração ainda está aberto e se estiver, quero saber que horas ele fecha

Se acalme e prepare seus lábios

Sinto muito interromper, é que apenas estou constantemente à beira de tentar te beijar

Mas não sei se você sente o mesmo que eu sinto

Mas poderíamos ficar juntos se você quisesse

EXTRA

Tudo o que ele queria era dormir e não levantar da cama pra nada. Não queria deixar o quarto e encarar ninguém, muito menos participar de alguma festa surpresa idiota que Temari inventava de fazer para anima-lo, mas que só fazia Gaara odiar mais ainda a data.

Ele soltou o ar pesadamente, abrindo apenas um filete das pálpebras para encarar a janela que ficava na parede onde sua cama era encostada observando os flocos de neves caindo sem pressa do lado de fora.

Era seu ultimo ano ali. Mal podia esperar pro ano escolar acabar para sair pelo mundo a fora e agora que já era de maior, sem dar explicações a ninguém, fazer o que quisesse da vida, mandando o fodasse para o primeiro e o ultimo que aparecesse na sua frente.

É, fodasse a faculdade também!

Por que as pessoas davam tanto valor assim a um diploma? O que um diploma pode te definir na vida?

Olhe para esse papel! Olhe! Me deixe me gabar por isso! Olhe e veja como é precioso esse papel, veja como eu desperdicei os anos mais valiosos da minha vida atrás dele! Como gastei horas sobre os livros, perdi encontros, perdi aniversários, aqueles filmes que todo mundo disse que eram genias ou aquele livro que eu sempre adiei e que no final abandonei por falta de tempo, pores do sol que eu não cheguei a ver, amigos que deixei de ver e que não verei mais... Olhe só para esse papel! Com certeza valeu a pena, afinal, no final de tudo a chance de viver do trabalho que eu amo é grande graças a esse maravilhoso, não é?

Não.

Por que você sempre pode descobrir que aquela carreira que tinha escolhido na verdade não tinha nada haver com você ou que na verdade você só tinha deixado as pessoas – seus familiares, seus professores, seus amigos, a sociedade – escolherem por você só porque era uma carreira que ia te dar dinheiro.

Não, Gaara não iria seguir por aquele caminho e pra não ter ninguém enchendo seu saco, também não iria contar a ninguém. Só iriam descobrir quando ele estivesse bem longe dali. Iria ajudar Sakura até o ultimo momento, mas só porque via nela realmente o desejo pela medicina e também, imaginá-la com um jaleco era uma visão bastante agradável aos seus olhos.

Bufou, esfregando o rosto com força quando percebeu que estava sorrindo.

O quão fodido ele estava naquela situação? Queria poder se dar um soco na cara e deixar aquilo tudo pra lá. Por que ele tinha que ter aceitado a amizade dela pra inicio de conversa? Claro que ele não teve muitas opções, Sakura conseguia bastante teimosa – beirando a irritante – quando queria alguma coisa e ela realmente queria a amizade dele.

Mas que droga, ele não podia ter resistido mais? Pelo menos ele não estaria nessa situação.

Não que ele estivesse apaixonado por ela, não. Nem que ele gostasse dela, nem de longe. Era só que fazia um tempo, um tempo que ele nem tinha percebido começar, que a presença dela tinha se tornado agradável e divertida, que provocar o Uchiha na verdade era só um bônus do que realmente ele ganhava com a garota ao seu lado.

Gaara nunca iria admitir em voz alta, e iria negar pra quem se atravesse a sugerir aquilo, mas agora sabia o quão solitário era antes da garota e ele odiava isso. Odiava como da mesma forma como o monstro solitário se acalmava quando estava perto dela e como em um passe de magia, ou melhor em um ataque de raiva, o monstro o cegava descontando em todos em sua volta.

Ele não era covarde o bastante para culpar seu temperamento e dizer que era coisa momentânea, porque não era. Não se lembrava de um único dia em que não estivesse a ponto de um ataque daqueles, a diferença agora era que seus ataques tinham um certo foco especifico.

Uchiha e essa maldita busca pelo perdão da Sakura.

Quer dizer, vai se foder! Ela ficou correndo atrás dele todos aqueles anos – tudo bem que ela não era das garotas mais interessantes antigamente, mas isso não vinha ao caso – ele não tinha o direito de vir atrás dela! Ele tinha mais era que se foder sofrendo pelo que perdeu, isso sim!

E sabe qual era a pior parte daquela merda toda? Era que ele, ela e o maldito Uchiha sabiam quem Sakura realmente gostava e que não merecia nem 1% daquele amor.

Ele sabia que na contagem final, a opinião dele era a que menos importava, mas ele não tinha como não surtar e querer arrastar a cara dele pelo asfalto quente no verão do Deserto do Saara.

 Ouviu a porta do quarto abrir e cobriu o rosto com o antebraço, sem saco para aturar qualquer um naquele momento.

— Se você estiver planejando mais uma das suas festinhas, pode ir embora Temari. – foi logo dizendo.

Ele sentiu a beirada da cama afundar e estranhou a falta da brutalidade da irmã.

— Você podia ser um pouco menos otário pelo menos no seu aniversario?

Gaara ergueu o braço, o bastante para que um dos olhos ficasse livre. Mesmo com a visão ainda um pouco embaçada o rosa berrante não deixava duvidas quem era a visitante surpresa.

— O que você tá fazendo aqui? – tampou de novo os olhos.

— Acha mesmo que eu vou deixar você ficar nessa bolha depressiva emo 2009 My Chemical Romance? – ela debochou agarrando a mão dele, puxando-o para fora da cama. – Anda, anda!

Gaara quase riu da tentativa inútil dela antes de  aproveitar a falta de equilíbrio dela e puxar-la com tudo, fazendo Sakura cair sobre ele e antes que ela reagisse Gaara girou os corpos ficando por cima.

— Tá me confundindo com o seu namoradinho? – devolveu o deboche adorando ver os olhos da garota arregalados e suas bochechas rosadas.

Adorava como naquele momento ela estava tão reação que sua boca fica abrindo e fechando como um peixe. Era... adorável.

— Gaara! – o repreendeu quando achou de novo sua voz, revirando os olhos.

O sorriso dele só aumentou vendo o bico que ela fazia. Ela libertou uma das mãos e a pôs sobre a testa dele, o empurrando para trás com força o tirando de cima de si.

— Já disse que ele não é meu namorado. – resmungou se ajeitando na cama para não ficar tão colada nele.

Gaara cruzou os braços atrás da cabeça, não parecendo abalado por ter sido afastado. Ela o olhou de canto de olho notando que ele usava um pijama de manga comprida, bem grosso.

— Você sente tanto frio assim?

Ele deu de ombros.

— Não tinha inverno assim onde eu morava.

Sakura o olhou curiosa, apoiando o cotovelo no colchão e o rosto na mão.

— Como é o lugar que você morava? – não agüentou a curiosidade, ele ergueu uma sobrancelha. – você não comenta muito de lá.

— Você não ficou sabendo pelo pessoal lá da escola? Eu vivi em um reformatório desde os 6 anos de idade. – debochou com os olhos arregalados, fingindo estar falando muito sério.

Os dois riram. Realmente, tinha gente que precisava ser estudada. Como criavam um boato daqueles?

— Fala sério...

Gaara revirou os olhos assentindo meio a contra gosto.

— Eu costumava morar em Suna. – Sakura arregalou os olhos, não esperava mesmo que ele viesse de lá. Quer dize, não era aquele lugar quente pra caramba onde o sol parecia estar focado com uma lupa? – Eu sei, esse meu bronzeado a lá cadáver não ajuda. Na verdade, eu acho que nada lá combina comigo. – riu.

Mas Sakura pode ver que o riso não chegava aos olhos. Pelo contrário, o olhar dele tinha um brilho triste.

— Eu nunca estive lá. – ela disse como quem não quer nada. – Você podia ser meu guia da próxima vez que fosse pra lá.

Gaara virou o rosto, olhando bem para o rosto dela. Ela queria ir para Suna com ele? Imediatamente sua mente projetou imagens da garota pelas ruas de Suna, imaginando qual seria a reação dela em cada lugar que ele mostrasse.

Era algo que ele gostaria de ver.

— Você não vai ficar com vergonha por andar com um ex-presidiario?

Sakura ergueu uma sobrancelha, debochada.

— Espero que você não esteja falando de si mesmo, porque você é fichinha comparado a sua irmã.

Ele lançou um olhar desacreditado para ela.

— Bem, já decidiu o que vamos fazer?

— Por mim, eu ficaria o dia todo na cama.  – a olhou de canto de olho. – O convite está aberto, cabe nos dois e eu sei de uma coisa ou duas que são bem legais de se fazer em uma cama.

Ela revirou os olhos mais uma vez.

— Eu não vou deixar você passar seu aniversario aqui, anda. – ergueu o tronco e foi se arrastando até sair da cama. – Anda, deixa de ser preguiçoso. – o puxou pelo braço até forçar Gaara a ficar sentado.

Vendo que ela não desistiria da ideia, mesmo sabendo que tinha grandes chances de se arrepender, Gaara aceitou seu destino cruel.

— Ta bom, vai. – a garota abriu um sorriso enorme. – Vou trocar de roupa, aproveita a oportunidade única e... – ela já estava fora do quarto antes mesmo dele terminar a frase.

Percebendo que tinha ganhado a discussão, Sakura foi até a cozinha tomar água enquanto esperava ele ficar pronto. Ela estava de costas para a entrada quando ouviu a voz de Temari se aproximando.

— E então, conseguiu? – a loira perguntou ansiosa.

Sakura se virou com um sorriso vitorioso no rosto.

— Consegui!

Temari arregalou os olhos, surpresa que seu plano tinha funcionado. Quando ligou para a rosada no dia anterior não achou mesmo que ela poderia fazer seu irmão mudar de ideia, levando em consideração que ele nem mesmo tinha contado que hoje seria seu aniversário. A loira desviou o olhar para a janela que ficava entre as duas.

— Fico feliz que você tenha conseguido. – disse sorrindo de leve, seu olhar vago e aéreo perdido em pensamentos. – Essa data nunca foi fácil pra ele, eu tentei de todas as formas, mas nada que eu fizesse chegava até ele. No final, Gaara acabava se isolando no quarto. – suspirou.

Sakura uniu as sobrancelhas, mordendo de leve o lábio inferior. Curiosa.

— Temari, por que... O que aconteceu?

A loira suspirou.

— Acho que você já ouviu falar muito do nosso pai pelo Gaara, mas nunca da nossa mãe, estou certa? É porque Gaara nunca conheceu nossa mãe, ela morreu um pouco depois dele nascer por complicações no parto. – Sakura a olhou em choque. – Mesmo que ele não diga, eu sei que no fundo ele se sente, se culpa por isso. – o olhar de Temari mostrava que ela também sofria com o irmão. – Eu sei que parte disso, dessa culpa que ele acha que é dele, é por causa do nosso pai.

— Então as brigas entre eles são porque seu pai culpa o Gaara?

Temari maneirou com a cabeça.

— Meu pai nunca falou sobre isso, mas é clara a rejeição dele pelo Gaara então depois de uma noite onde os dois discutiram feio, eu peguei o Gaara fugindo de casa de madrugada. Era só um pirralho de 16 anos pensava que sabia tudo da vida. – ela sorriu nostálgica lembrando-se daquela noite. – Eu consegui convencer ele a voltar, mas era como uma bomba relógio pronta pra explodir de novo, então eu conversei com meu pai e nós dois fomos embora.

Sakura ainda a olhava em choque, sem saber o que dizer ou se deveria dizer algo. A situação deles era tão complicada...

— Acho que a nossa historia não é tão legal quanto as que inventam, né? – Temari disse tentando melhorar o clima tenso que tinha se formado no local.

A outra garota deu um sorriso forçado.

— Eu só não esperava isso. – se aproximou, agora sorrindo verdadeiramente. – Obrigada por confiar em mim para contar, Temari. – segurou ambas as mãos dela.

— Você faz bem pro meu irmão, mesmo que só com amizade. – disse apertando a mão da rosada em retribuição antes de soltá-la.

 Elas se afastaram a tempo de começarem a ouvir os passos pesados de Gaara passando ora sala e depois indo para cozinha.

— Ah, você tá ai. – o ruivo disse sem empolgação. Ele vestia típicas roupas de inverno escuras, porém mais grossas que o normal. – ainda dá tempo de desistir.

Um sorriso enorme surgiu no rosto dela que andou até parar ao lado dele, entrelaçando seus braços.

— Sem chance, não desisto tão fácil assim.  

Gaara revirou os olhos querendo parecer aborrecido, mas Temari conseguia ver o pequeno sorriso no canto da boca do irmão.

— Você pelo menos tem uma ideia do que vamos fazer? Não quero ficar dando voltas na neve sem nada pra fazer. – resmungou.

Sakura fez um pequeno bico.

— Você é tão chato que as vezes dá vontade de enfiar sua cabeça na privada. – apesar de falar aquilo da forma mais fofa que ela conseguia, aquilo ainda era bizarro. Sorriu para Temari. – Nós estamos indo, quer vir também?

— Nem fodendo. – Gaara respondeu antes da irmã, ele usou o braço entrelaçado com ela para arrastá-la para fora da casa.

A garota não se importou, na verdade só conseguia rir da forma como Gaara resmungava. Eles pararam de andar rápido quando já estavam longe da casa dele, já estando na metade do caminho até o centro de comercio mais próximo, eles preferiram ir a pé mesmo parando nas barraquinhas na rua quando Sakura achava algo interessante.

— A gente podia ir em uma churrascaria. – ela sugeriu ao parar na frente da placa que anunciava o restaurante. – Acho que tenho alguns cupons de desconto...

— Eu vou ali. – interrompeu o que ela falava, olhando para outra loja do outro lado da calçada.

A garota uniu as sobrancelhas, virando para ver o que tinha despertado o interesse dele ficando ainda mais confusa ao ver a fachada em tons de vermelho e preto com desenhos tribais e caveiras, a porta coberta por posters de bandas de rock se abriu para dar passagens a dois motoqueiros, grandes, cobertos por tatuagens e assustadores. Sakura pode ouvir heavy metal saindo da pequena loja.

Ela procurou por Gaara, já o encontrando andando em direção a loja.

— Gaara?! – correu até ele.

O ruivo não deu muita atenção a garota, continuando a andar.

— Você está falando sério? 

— Eu sempre quis fazer isso, por que não hoje?  - deu de ombros enquanto entrava na loja.

Sakura não teve muito o que fazer além de ir atrás dele. Gaara foi até a bancada onde uma garota de cabelo raspado dos lados que mostravam com desenhos old school tatuados nas laterias da cabeça. Os dois começaram a conversar sobre os preços e o estilo de tatuagens que o estúdio fazia, vendo que ele não estava mais prestando atenção nela e que não conseguiria mudar sua opinião Sakura foi até a churrascaria.

Se ele iria fazer alguma estupidez, ela iria arranjar alguma coisa pra comer enquanto assistia.

— Kami! – ela gritou ao chegar na sala reservada e ver a cena.

Gaara estava deitado na maca e o tatuador já estava por cima dele, tatuando sua testa. SUA TESTA!

Ela correu até os dois.

— Mas que... Gaara! Eu... Eu! Argh! – ela nem conseguia formular uma frase de tão irritada que estava. – Eu quero socar sua cara nesse momento!

— Um só esbarrão e eu pinto a cara dele toda. – o tatuador disse sem interromper o desenho.

— Mas que merda você tá fazendo?! – gritou ainda irritada com o ruivo. – Eu deixo você sozinho  por um instante e você já vai tatuando sua cabeça?! Você tem merda em vez de cérebro?!

Gaara continuou imóvel, sem se deixar abater pela gritaria da rosada.

— Eu quero ver como você vai explicar isso pra sua irmã. – pausa. – Como eu vou explicar isso pra sua irmã. – reformulou a frase dando ênfase no “eu”.

— Ela é minha irmã e eu sou maior de idade. – ele disse revirando os olhos. – Eu posso fazer o que eu quiser.

A garota estreitou os olhos.

— Você, para um momento. – o tatuador parou e ela socou o peito do ruivo. – Você é um idiota, sabia? Como é que você vai arranjar um emprego com esse treco na cara?!

O tatuador voltou a trabalhar na tatuagem.

— Relaxa, eu sei o que eu to fazendo.

Sakura balançou a cabeça negativamente, sem concordar com aquela ideia maluca. Ela continuou a brigar com ele por um bom tempo até finalmente se acalmar.

— E o que ela significa? – perguntou quando o tatuador começava a passar o produto para limpar o desenho. Sem saber em qual momento tinha começado a segurar a mão de Gaara enquanto ele era tatuador.

Aos poucos os traços vermelhos de kanji apareceram acima da sobrancelha dele.

— Amor. – respondeu apertando de leve a mão dela, mas não o bastante para que ela notasse.


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Notas finais do capítulo

É um extra pessoal, não vai mudar muito na linha de tempo da historia real fiz pra comemorar mesmo o mes do aniversario do Gaara.