Pérgamo escrita por Gardella


Capítulo 6
Capítulo 6




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Faith estava deitada na cama, com o pescoço apoiado na borda e a cabeça pendurada. Briathos estava sentado comportadamente na cadeira. A TV ligada em um canal qualquer.

— Como você sabe daquelas coisas?

— Eu já te disse.

— Você me julga? 

— Não cabe a mim te julgar.

— Você sabe o que eu sinto?

— Na maior parte das vezes.

— Eu sou má?

Briathos a olhou, sorrindo.

— Não, você não é má.

— Mas você sabe... - disse ela quase envergonhada, e completou sussurrando - aquelas coisas que eu penso... As coisas que eu falei para Samael aquele dia.

— Ele te fez falar.

— Não! Ele me fez dizer a verdade.

O garoto a olhava sem expressão aparente.

— Dentro de você... Há muitas coisas. É normal termos coisas ruins dentro de nós, mas lembre-se de que há também coisas boas. Cabe unicamente a você escolher.

— Como você pode dizer que eu não sou má? Mesmo depois de ver o que eu faço com as pessoas…

— Seus ataques morais não são de inteira responsabilidade sua. É claro que você prejudica os outros mas apenas atingindo o que eles mais estimam. Você nunca feriu, mutilou ou matou ninguém, isso já é uma grande vitória dado ao que há em você.

— O que há em mim? - perguntou ela. 

— Como? - fez-se de desentendido percebendo que havia falado demais.

— Você já começou, agora por favor, me conte tudo.

— Eu já disse que não posso agora

— Eu quero saber.

— Tenha paciência, confie em mim.

— Como eu posso confiar em você se eu nem sei o que você é?

— Eu preciso que você tenha fé.

— Infelizmente eu não posso te ajudar com isso. Sei que meu nome é sugestivo mas se tem algo que eu não posso lhe garantir, essa coisa é fé. - Ela pegou as chaves de casa e desceu - Se você não vai me contar, acho que conheço alguém que vai.

— Para onde você vai? - Perguntou Briathos enquanto ela descia o elevador.

— Encontrar um amigo - respondeu com tom esnobe.

— Não vá.

— Você não quer que eu vá porque sabe que ele vai me contar.

— O que você vai falar? Que seu anjo guarda não quer te contar as coisas?

Ela diminuiu o passo.

— Anjo da guarda? - perguntou com olhar descrente.

— Não vá. - pediu Briathos

— Venha comigo e me proteja. - disse provocando-o.

— Você não entende - ele agora a seguia pelo hall de entrada do seu prédio - ele me expulsa. Quando você está ao lado dele não há nada que eu possa fazer.

— Besteira. - afirmou a garota.

— Faith - gritou ele, pondo-se a frente dela - se você for, estará sozinha.

Ela respirou fundo e desviou-se dele, deixando-o para trás. Andou sem rumo pela cidade, passando pelo setor de grandes empresas. 

— Faith! - gritou uma voz familiar do outro lado da rua.

— Samael! - respondeu, acenando.

Ela já havia percebido que não era uma coincidência se encontrarem. Ele tinha alguma coisa muito parecida com Briathos. Mas ela estava em vantagem, Samael não sabia que ela já tinha conhecimento do seu fingimento.

— O que você está fazendo aqui? - perguntou quando atravessou a rua. Sua camisa vinho dentro do paletó e colete preto o tornava ainda mais desejável.

— Estava passeando, acabei me perdendo e parando por aqui. E você?

— Eu trabalho aqui. - disse apontando para o grande prédio espelhado logo atrás dele - Tinha certeza de que o destino iria nos unir mais uma vez. Estou no meu horário de almoço, está com fome?

— Faminta - respondeu, escutando sua barriga roncar.

Eles seguiram para um restaurante não tão longe, mas muito chique, nada que ela não estivesse acostumada. Já estavam na metade do prato principal.

— Acho que depois de três encontros eu posso ganhar seu telefone. - afirmou Samael com um sorriso galante nos lábios rosados.

Faith riu.

— Honestamente eu não sei mais o que os jovens fazem nos encontros hoje em dia. - ele mencionou.

— Falando assim até parece que você é velho - ela comentou despretensiosamente.

— Você não faz ideia. - respondeu o homem para em seguida levar a taça de vinho à boca. Seu gesto era normal mas parecia querer esconder uma verdade - Que tal um cinema? - perguntou após bebericar.

— Cinema? - ela não achava que Samael fazia a linha romântica.

— Netflix?

Ela o olhava com a boca entreaberta sem realmente saber o que responder.

— Eu estou esperando um sim. - disse ele como forma de quebrar o gelo.

— Cinema parece ótimo. Sexta a noite? - ela sabia que os tios estariam de plantão.

— Maravilhoso! - ele comemorou propondo um brinde. O fato dela ser menor de idade não lhe parecia um grande problema, dado ao fato de ele querer sair com ela em público.

As conversas superficiais rolaram, ele era muito inteligente mas não esbanjava. Falar com ele era fácil, natural. Pela primeira vez ela não sentira vontade de torturar alguém que não fosse seu parente.

— Venha, vou te deixar em casa. - ele afirmou

— Não precisa. - respondeu rapidamente - Vou encontrar um amigo daqui a pouco, é perto daqui.

— Posso te deixar lá.

— Não precisa - repetiu.

Trocaram telefone, beijo na bochecha. Ela o observou partir, então seguiu na direção oposta.

— Briathos - sussurrou assim que achou um beco deserto para entrar.

— O que você está fazendo? - perguntou o anjo assim que apareceu. Mesmo que o tivesse chamado, tomou um pequeno susto com sua aparição.

— Amigos. - respondeu.

— Não me venha com essa. 

— Fomos a lugares públicos, você disse que as pessoas me mantém protegida.

— Não faça isso de novo. - brigou.

— Tarde demais, já marcamos o encontro.

— Porque? - perguntou num sussurro de desaprovação. 

— Por que você não quer me contar.

— Eu já disse que você irá conhecer a verdade, uma hora ou outra.

— Não basta. Eu tenho pressa.

— Eu sei.

— Então me dê algo - suplicou mais uma vez.

— Mais? Olha quantas coisas eu já te dei nesse curto espaço de tempo. 

— Falando nisso... por que você só resolveu aparecer para mim agora?

— Porque agora você precisava de uma presença física.

— Por que?

— Porque eles vieram para terra a sua procura.

— Eles quem? - gritou impaciente 

Ele ficou em silêncio. Faith olhou para a entrada do beco onde uma mendiga a observava, de inicio ela não entendeu a confusão no rosto da mulher, mas logo percebeu que para os passantes ela aparentava falar sozinha. Faith parou e ficou encarando a mulher que, depois de alguns segundos, ficou assustada com o olhar vidrado da menina e foi embora.

—Você disse “quando você se machuca, me machuca”, você se refere ao meu corpo ou a minha alma? - disse retomando a conversa

— Me refiro a tudo.

Ela sorriu diabolicamente.

— Será que já foi praticada a tortura em anjos?

— Você não se atreveria 

— Apenas observe.


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