The Originals: Bloodlines escrita por Garota Exemplar


Capítulo 5
1x05 - The Tale Of A Blue Flower


Notas iniciais do capítulo

Hello, loves.
Antes de mais nada dedico esse capítulo totalmente a criatura mais incrivel que já pisou nesta Terra a Absinthe♥ e me deixou com os olhos brilhando de felicidade por ter escrito uma recomendação para a história!!! To até arrepiada até agora, então meu amor, saiba que esse capítulo é seu, assim como um lugarzinho no meu coração, e que eu queria ter palavra melhor do que obrigada, muito mesmo ♥
Eu tinha o tumblr onde eu postava, mas como agora nem lembro mais a senha daquela desgrama, vai ter que ser tudo por aqui mesmo.
Espero que gostem do capitulo de hoje, uma boa leitura!



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Sul da França,1002 d.C.

O galopar furioso do cavalo retumbava contra a estrada arenosa, levantando poeira como o rastro de um novo caminho deixado para trás que tão breve se perderia no vento como tantos outros os quais àquela estrada já presenciara.

O jovem adentrou chamando pela mentora ao quarto á estalagem decadente. Porém, não foi esta a lhe atender. Do segundo compartimento surgiu ao mastro da porta uma jovem de gentis olhos curvados tão escuros que de longe diziam-se negros, assim como os cabelos caindo em belas ondas á sua cintura e mechas laterais dividiam-se em duas tranças encontrando-se em uma só a partir da nuca.

— Oh, você deve ser... — a garota não deu mais do que dois passos e logo se viu detida e calada pela mão dele apertando sua boca, e quase seu nariz, enquanto lutava para inspirar o ar. Os olhos arregalados, entretanto, nem tanto se deviam a isso, mas a afiada lâmina da adaga a centímetros de seu pescoço.

— Quem é você? — indagou ele com tom ameaçador, mirando-a sob olhos que emanavam uma frieza ainda maior que a provinda da adaga.

— Nossa... Sinto muito aparecer assim. Laylah pediu para avisá-lo que... — mal recomeçou a falar e tão pronto o garoto já lhe calava com a palma outra vez.

O jovem bruxo a arrastou á cadeira mais próxima e amarrou-lhe firmemente, no aperto forte da corda. A jovem sentia como se sequer pudesse respirar e o pano cobrindo-lhe a boca como mordaça, tornava a tarefa mais difícil, sentia-se engasgar a cada nova busca pelas lufadas. Viu-se zonza diante a imagem distorcer e suas forças caírem, como sua pressão.

— Um nome. — exigiu ele. E para ela, sua voz soou como um eco abafado.

— Blamer... — disse de voz fraca quando a mordaça foi retirada.

O rapaz a analisou meticulosamente. Contudo o interrogatório foi interrompido na chegada da presença esperada. Laylah tinha duas sacolas suspensas à articulação dos braços, erguendo os olhos rígidos observou a cena durante breves segundos. Enfim, levou as bolsas para a mesa provençal mais afastada e passou a organizar os elementos e talismãs recém-adquiridos.

— O que é isso? — o garoto questionou aproximando-se dela de cenho franzido.

— Acho que com “isso”, você se refere a minha sobrinha, Blamer. — respondeu a bruxa sem fazer menção a fitá-lo. — E ficaria feliz se não a amarrar em minha cadeira de balanço da próxima vez, estou cansada e essa cadeira faz maravilhas ás minhas costas.

— E o que faz aqui? — não soou como pergunta, mas uma ordem a ser obedecida.

— Pensei ter dito que estava esperando uma pessoa.

— Então já que encontraram-se, mande-a embora, temos de partir. Imediatamente. — anunciou o bruxo, mantendo a onipresente postura autoritária.

Laylah manteve-se inalterada diante a neurastenia do jovem. Era mulher velha e seus anos lhe garantiram além da experiência, mas aprendizado, se não por vontade por obrigação, que paciência é a maior e mais perigosa virtude, pode ser a diferença entre triunfo e ruína dependendo a quem lhe cabe. Vem a ser a mais poderosa aliada ao sábio e a mais cruel inimiga ao prepotente.

A bruxa suspirou, sentindo os olhos tempestuosos analiticamente sondarem-na a espreita de sugestões ao que lhe passasse na mente através de seu comportamento. E Laylah sabia como ás profundas órbitas castanhas não escapava nada. Finalmente, respondeu:

— Blamer é minha responsabilidade agora. Ela nos acompanhará daqui por diante.

— Ela não pode vir conosco e você bem sabe. — e ela confirmou na resposta sem questionamentos ou resquícios de surpresa que ele já decifrara o que diria apenas no curto período de observação. A bruxa sorriu com humor.

— Para quem está caçando terríveis monstros que se alimentam de sangue, não pensei que você fosse ficar tão assustado por conta de uma garota.

— Pensei que tínhamos um acordo. — enfim levantou premissa qual ela esperava.

— E ele está de pé, serei sua mentora e o acompanharei nesta jornada. Porém, minha sobrinha também o fará. — mostrou-se irredutível. Então dirigiu os olhos castanhos ao jovem. — Não deveria ficar tão incomodado assim, por tanto, em razão aos termos deste acordo.

O garoto não sorria, ainda assim, um vitorioso e diabólico estampava por trás da máscara indiferente. Era a confirmação que faltava. As mudanças às quais passou e seu aprendizado, não eram de todo mal. Posto que garantiram aperfeiçoar habilidades já possuídas anteriormente e o ato de ler as pessoas se tornava mais fácil, afinal o ser humano não é tão complexo quanto se prediz.

No fim das contas, até a sábia Laylah não era tão perspicaz quanto acreditava em manejar seu jogo e mantê-lo nas sombras. Era-lhe vantagem se ela o subestimava, na própria superestima estariam suas falhas. Mas, oh a audácia da juventude. A autoconfiança na percepção do óbvio o cegaria para a intenção oculta por trás deste. O que ele não percebia é como, por vezes, a ignorância é uma dádiva. Nem sempre o jogador que esconde as artimanhas é o vencedor, tampouco aquele que apenas as conhece. Mas aquele que melhor usa-as a seu favor contra o próprio adversário.


Assim, um ano se passou em que vestígios naqueles rastros tornaram-se ainda mais complexos e confusos. E o bruxo provara acertar sobre Blamer. Ela os atrasava. Mal sabia cavalgar, tornando paradas mais frequentes e demoradas. E o jovem bruxo quase adicionava seu nome à lista de inimigos, entretanto, a garota era muitas coisas, porém de forma alguma um monstro. Mas o oposto.

Em meio a bestas famintas e homens-lobo, Blamer era sem duvida a criatura mais curiosa que ele conhecera. A todo lugar que passavam encontrando famintos, indigentes, órfãos e moribundos, a menina dedicava seu tempo para encontrar maneiras de ajudar, principalmente usando magia. Quando raramente o fazia em benefício próprio, ao contrário, por vezes o esforço acabava prejudicando-a. Ele perdera as contas de quantas vezes estivera tão fraca que Laylah temia por sua vida. No inicio isto não lhe era relevante, mas próximo ao fim do ano, isto iria mudar.

Estavam no rio próximo a vila quando esta foi sitiada, tamanha seria sua surpresa ao se tratar de cavaleiros dos de Martel. Ainda maior ao encontrar os três mesmos homens da última vez. Pensou o problema ser agora não estar sozinho e com Laylah enfraquecida após usar a magia pela sobrinha, tornaria mais difícil ter de protegê-las também, porém, estava longe de ser essa principal complicação.

Mas sim, tais obterem poderosos talismãs de proteção repelentes á magia. Esta, ele usou para livrar-se dos demais e para os outros, guardou a batalha armada e, no entanto, aqueles homens vieram ao propósito de uma revanche, pois certamente treinaram duro. Apesar disso, o resultado seria o mesmo, dois dos homens já caíram feridos e ele terminava por derrubar o terceiro, e foi um golpe de traição que o deteve. Cuspiu o líquido carmesim quando a espada atravessou seu abdômen.

The slip that brought me

(O deslize que me deixou)

To my knees, failed

(De joelhos, fracassado)

Os sons extinguiram-se, como se de repente ele se afastasse, saltados olhos vidrados sem foco algum vislumbraram as paisagens alternarem em um borrão e as últimas, gramíneas e o riacho quando seu corpo despencou. Sequer sentiu o impacto da queda, o rosto dormente e nervos tão entorpecidos quanto, para enviar a sensação da dor. Escutava a movimentação e os ruídos misturarem-se, mas seu olhar pesou.

A última coisa que viu não foi à escuridão, tampouco a cena gravada, mas o rosto angelical da mãe a lhe sorrir, iluminada como se a luz branca como seu manto, emanasse para si, envolvendo-o em uma sensação calorosa e acolhedora. Ele estendeu a mão para segurar a dela, mas a mãe afastou-se. Encarou-a perdido. Antes de qualquer questionamento, ela exibiu o sorriso gentil ao sussurrar “Ainda não”.

But that was just a dream

(Mas aquilo foi apenas um sonho)

That was just a dream

(Aquilo foi apenas um sonho)

Just a dream, just a dream. Dream?

(Apenas um sonho, apenas um sonho. Sonho?)

O lugar de luz e a áurea brilhante da mãe desapareceram e então, seus olhos se abriram. No entanto, ele duvidou estar morto, pois sua primeira visão foi um anjo. Ajoelhada diante ao seu corpo e invocando o feitiço com todas as forças que faziam o líquido rubro manchar seu rosto a partir do nariz, e ao final, Blamer caiu ao seu lado.

Ele sentou em um movimento rápido e encarou as roupas ensanguentadas, mas a ferida desaparecera. Esticou-se rapidamente e ergueu a cabeça da jovem bruxa que arfava durante a dificultosa respiração fraca. No entanto, ela sorriu para ele.

— As flores... — sussurrou de voz tênue, serena e angelical. — Me leve para perto das flores.

O mínimo que poderia fazer era atender e assim, sustentou o corpo magro e levou-a para a margem das águas cristalinas, onde belas flores azuis adornavam o gramado. Ela manteve o sorriso fraco no rosto pálido, sem forças, esticou-se em esforço para ele incompreensível para tocá-las com as pontas dos dedos trêmulos.

— Por que fez isso?! — o jovem manifestou o motivo de sua confusão. — Sabia que lhe custaria à vida.

— Você deu a sua por nós... — Blamer respondeu sem desviar os ternos olhos das plantas. — O mínimo que... poderia oferecer... É a minha em troca...

E cada vez, o bruxinho via-se mais perdido. No fundo, ela deveria saber que só fizera em prol dos próprios objetivos e não em ato genuíno. Ele tão raro se dirigira a Blamer durante todo o tempo e quando o fizera a tratara mal. Por que se sacrificar? E o que ela pedira em troca da vida fora apenas contemplar as flores do rio?

— Qual a razão disso? — indagou, sem esconder o semblante incrédulo.

— Você sempre foi silencioso... — ela observou, erguendo o olhar. — Nunca trocou mais de duas palavras comigo... Quem diria ser quem o faria em meu leito de morte...

Ele nada disse, não sabia o que dizer. Era curioso, passara todo esse tempo decifrando emoções humanas e era igual tão incompreensivo quando o próprio às encarava.

— Meu nascimento foi em um lugar como este... E o túmulo de minha mãe... Este é o meu destino... — a garota explicou, novamente prestando a atenção ás flores. — Desde meu nome... Blamer... É a junção das palavras blå blomster... De onde eu vim, significam flores azuis...

Lembrou-se, as bruxas Bennett eram do norte da Europa. Se ela era as flores a embelezar a margem do rio, ele era a rocha dura e fria a estragar a paisagem. Ergueu os olhos ao céu estrelado e a lua que iluminava o bosque perguntando-se como poderia ser justa a vida de alguém bom que praticou apenas bondade e compaixão ser trocada pelo total oposto, de objetivos tão obscuros quanto à própria alma.

— Nunca soube seu nome... Você nunca disse e Laylah... — prosseguiu ela com voz tão baixa, quase inaudível, mais devagar para poupar as forças que se esvaiam após tossir mais do líquido metálico. — Mesmo Laylah, nunca o ouvi chamar...

— Não tenho mais um.

— Entendi isso com o tempo... Mas, tinha que me referir á você de alguma forma... Então, costumava chamá-lo de Vidar...

— Vidar? Não me diga que cultua crenças vikings. — ele a encarou com duros olhos desconfiados e julgadores.

— Nem toda bruxa odeia... Minha mãe casou-se com um... — contou Blamer.

— E foi meu pai quem me criou, por isso... Sei bastante sobre.

— Eu já ouvi falar desse Deus... Vidar. — ele repetiu, tentando recordar-se.

— É o Deus silencioso da vingança. — a morena o respondeu, naquele momento, tudo o que conseguia pensar era sobre os ensinamentos do pai, justamente os últimos pensamentos que queria ter, antes de encontrar com ele. — Ele está destinado a vingar seu pai... Destruindo um monstro que o matou, o lobo Fenrir... Vidar é um dos poucos deuses que... — se interrompeu para outra tosse sangrenta. — Sobrevive ao Ragnarok e vem a ser... o herdeiro... do trono sagrado dos deuses.

— Pare de falar já! — ordenou a voz autoritária de Laylah ao correr até eles. Abaixou-se á relva diante a sobrinha e posicionou as mãos sobre seu peito. — Não a deixarei morrer.

Laylah passou a invocar o feitiço ao surpreendentemente o garoto posicionar ambas as mãos sobre as suas e fortalecê-la ao canalizá-lo, ambos resgatariam a vida da jovem com a lua e o rio de testemunha. Um dia àquelas águas de um azul puro viriam a amolecer a pedra fria, e cresceria ali uma singela flor de mesmo tom, e a tornaria sua morada.

Atualmente, P.O.V Elena

A noite estava fria e o céu fechado, sem estrelas, o que a deixava mais sombria para uma garota sozinha em casa. Ouvia o noticiário da cozinha enquanto terminei de servir o chocolate quente e voltei para a sala.

— E agora, notícias chocantes: um novo ataque do animal que vem aterrorizando Mystic Falls. — anunciava o repórter da praça da cidade. — A vítima foi a jovem estudante Elena Gilbert. A polícia está certa de que as evidências confirmarão que é o mesmo animal dos recentes ataques.

Deixei a caneca de chocolate escapar das mãos trêmulas ao ver minha foto na televisão. Abri a boca totalmente apavorada, dei dois passos atrás instintivamente. De repente as lâmpadas tremeluziram, piscaram algumas vezes e apagaram de vez. Soltei o ar lentamente. Desviando o olhar ao redor, virei subitamente quando um vulto pareceu atravessar a sala e desaparecer. Arfei, recuando enquanto inspecionava a peça, dessa vez, senti a rajada de vento as minhas costas passando por trás de mim. Voltei-me bruscamente, soluçando em puro terror e corri em direção à porta.

Pude ver a sombra mover-se, perseguindo-me durante meu trajeto e quando alcancei a maçaneta, fui arremessada ao ar sentindo o impacto veemente ao bater contra a divisória da sala e encontrar o chão em uma queda abrupta. Tossi ao lutar pelo ar em meus pulmões, erguendo-me com dificuldade.

Tudo pareceu repentinamente calmo. Calmo demais. Andei alguns passos me esticando para olhar em volta em um silêncio mórbido. Senti novamente a presença atrás de mim tarde demais quando em um movimento brutal puxou minha cabeça para o lado e eu gritei em pavor e dor ao sentir presas afiadas perfurarem a pele em meu pescoço, rasgando-a. Presa por tamanha força que eu sequer conseguia me mexer para fugir enquanto sentia meu corpo vibrar em espasmos desesperados de terror, sentia a vida em mim se esvaindo.

 

Acordei erguendo o tronco em um súbito e puxando o ar com tanta força que deixou minha garganta seca e meus dedos agarravam os lençóis como se minha vida dependesse disso. Afastei os cabelos da testa. Aquele pesadelo fora real demais e aterrorizante o suficiente para ainda sentir meu coração disparado e o corpo tremulante. Toquei meu pescoço receosamente, mas não senti marca alguma. É claro que não, disse a mim mesma.

Afinal, eu só deveria estar impressionada após assistir ao noticiário ontem mais cedo e assistir sobre ataques de animais na cidade. Acho que justamente por Mystic Falls ser uma cidade pequena, é impossível não conhecer pelo menos de vista as vítimas que já se fizeram, e isso é ainda mais perturbador. Saber que até poucos dias atrás ela estava na rua sorrindo para você ou alcançando seu jornal no jardim e cumprimentando e no seguinte, simplesmente acabou. Senti um arrepio e afastei aqueles pensamentos.

Após finalizar a higiene pessoal, encarei meu reflexo na espelheira do banheiro e conferi novamente meu pescoço. Nada. Respirei fundo.

Essa foi à primeira noite que passei sem chorar e, no entanto, acordei tão perturbada quanto. Não derramar uma lágrima esta noite não era um alívio. Sei que deveria ser algo bom, finalmente começar a aceitar e seguir em frente; o problema é a sensação de culpa e, além disso, no fundo saber estar relacionado ao garoto de ontem e ao que dissera. Refleti à noite toda e não consigo decidir o que pensar sobre ele.

Há algo nele que deixou meu sexto sentido em alerta máximo. E embora não saiba o quê, sei que deveria tomar cuidado. E ainda não acredito que aceitei a companhia de um estranho assim, no mínimo foi irresponsável, o que estava pensando? Ou melhor, o que não estava. Além do mais, se pensar bem, é muito estranho não é? Meu acidente, alguém me vigiar do jardim, e justo ao aparentemente ser perseguida, ele aparecer de repente e minha mesma sensação de alerta rondá-lo. Definitivamente, é bom eu esquecer isso e ficar o mais longe desse garoto possível.

Levei os olhos do Diário ao papel de parede marfim no vão a janela. O celular salvou-me da reflexão, agradeci internamente enquanto atendi a chamada.

— Oi, Care.

— Finalmente! — Caroline suspirou exasperada, soube que receberia uma bronca.

— Desaparecendo da fogueira, sério Elena?! Se queria me deixar preocupada: parabéns, conseguiu! Eu e Bonnie procuramos você como loucas, não podia pelo menos avisar?

— Eu sei... Desculpe, é só... — passei a mão no rosto. — Precisava sair de lá...

— É, soube sobre o Matt... — disse cuidadosamente.

— Pois é... — suspirei.

Houve um momento silencioso onde apenas às respirações eram ouvidas.

— Sinto muito por isso, Elena. Não deveria deixá-la sozinha... — lamentou delicadamente.

— Não foi culpa sua. Nem do Matt… E eu não estava mesmo no clima de festa...

— Ok, vamos esquecer isso! Não foi só para o sermão que liguei.

Senti-me aliviada por compreender minha recusa. Notei sua voz, Care sempre usa o tom animado para me convencer á alguma coisa, o que me deixou curiosa.

— Vai ter um show ao vivo no Hokey-Pokey Happytown hoje á noite, e sei que você provavelmente não está afim depois de ontem, mas Bonnie e eu estamos animadas e vai ser divertido. Então... Por favor? — pediu esperançosa.

— Ok. Que horas? — perguntei, ajeitando-me ao futon. Caroline ficou silenciosa.

— Você está falando sério? — desconfiou, eu confirmei. — Então, não vai ser preciso o discurso que ensaiei?

— Não, Care. — Sorri. — Eu percebi como a vida é curta e se simplesmente se deixa de aproveitar, qual é o ponto?! — não sabia por que aquilo mexeu comigo, mas mexeu.

— Ok... Quem é você e o que fez com Elena Gilbert?… Bem, não importa. Passamos mais cedo e fazemos o jantar?

Concordei sorrindo cúmplice, afinal, “fazer o jantar” era significado de “beber alguma coisa”. Após a ligação, desci para tomar café, Jenna e Jeremy já estavam na mesa posta e cumprimentei-os, sentando e servindo-me. Jeremy logo despediu-se, avisando ir encontrar uns amigos, eu não queria brigar pela manhã e tia Jenna parecia ter o mesmo pensamento, então ele saiu.

— Então, e aquela conversa de ontem? — a ruiva propôs, sugestiva.

— O-oh… É… — balbuciei perdida. Havia esquecido essa parte da noite.

— Desculpe não avisar. Bonnie e Care apareceram de surpresa e insistiram.

— Hum, hum. — concordou Jenna despreocupada. — E aí, quem era seu amigo?

— Ele não é daqui. — disse, sem saber exatamente o que responder.

— E como é o nome dele? — Puta que pariu, pensei ao lembrar não ter perguntado.

— Nossa, Jenna, acabei de lembrar, as garotas virão aqui mais tarde e tenho de arrumar as coisas. — anunciei levantando-me rapidamente, terminando de beber o café e dirigindo-me as escadas.

Subi depressa, ouvindo-a assentir confusa e tratei de arrumar o meu quarto e me ocupar pelo resto do dia para evitá-la e suas perguntas.

Terminei de me vestir e conferi no espelho, eu estava simples, como de costume. Joguei a henley shirt púrpura ametista sobre a blusa de tiras e jeans escuro. Desci e encontrei as garotas já na cozinha, preparando o jantar e claro, as bebidas.

— Ei, já começamos sem você. — avisou Caroline sorrindo, cortava o legume sobre a tábua no balcão, enquanto Bonnie mexia uma das panelas ao fogo. Apenas pelo cheiro eu identifiquei que se tratava de nosso costumeiro Penne a la Vodka. Sorri.

— E aí, quem vai querer o quê?! — Bonnie dispôs copos e bebidas sobre a ilha da cozinha. Ela e Care sorriram largo trocando olhares cúmplices.

— Tequila! — comemoram.

— Água. — anunciei, sequer dirigindo o olhar a minha arqui-inimiga.

— Oh, qual é Elena! Só uma dose. — Care insistiu, me olhando pidona.

— Hã, hã. — neguei com a cabeça, fazendo careta só em lembrar.

— Mas eu aceito! — Jenna juntou-se a nós, debruçando-se a superfície de madeira. — E aí meninas, grandes encontros essa noite?... Hmm, senti a velhice agora, como os jovens chamam “encontros” hoje em dia?

— Só Caroline, eu e Elena vamos desaparecer quando Tyler chegar. — Bonnie respondeu sorrindo acusadora para Caroline, após todas rirmos.

— Nossa, nem me falem. Não tenho um há séculos. — Jenna manifestou-se melancolicamente, descansando a cabeça sobre a mão. — É deprimente.

— Oh, mas por isso eu também. Mal comecei a sair com Tyler. Sexo então, já faz oito meses. — Care pegou a dica no ar antes de Bonnie e eu.

— Onze. — Jenna comunicou como em uma competição.

— Dois. — Bonnie encarou o copo, pensativa.

— Dezesseis anos. Oh, e daqui há alguns meses fazem dezessete! — comemorei brincalhona, erguendo o copo como se fosse um troféu. Enfim uma disputa a qual eu venceria.

— Ganhou. — todas concordaram e viraram suas doses. Rimos na sequência.

— Bem, divirtam-se meninas. — estimou Jenna, afastando-se da cozinha.

Nós jantamos e ainda sobrou tempo para limparmos tudo e terminarmos de nos arrumar, e então fomos.

O Hokey-Pokey Happytown é como um pub irlandês com direito a jukebox, mesas de sinuca e jogo de dardos. A típica decoração rústica de construção de tijolos e madeira escura grossa no piso, mesas e as prateleiras de bebidas atrás do grande balcão. Além de á plataforma ao fundo que servia como o palco para shows ao vivo que eram a parte mais iluminada contando com refletores e holofotes destacando a banda no ambiente de pouca iluminação.

— Da próxima vez compraremos entradas antes. — Care comunicou, graças às filas no estacionamento e para essas. Acomodamo-nos em uma das mesas redondas.

— É, mas ainda não sabíamos se a Elena viria. — relembrou Bon.

Repentinamente, uma nova presença se fez notar.

— Meninas. — anunciou-se Matt. Ao final, desviou constrangido o olhar a mim.

— Oi, Elena.

— Oi. — disse após um momento o encarando sem esconder a reprovação.

Ele perguntou se poderíamos conversar, e embora contrariada em um primeiro momento, acabei por acompanhá-lo incentivada pelos olhares de Care e Bonnie. Além disso, não gostava dessa sensação de mágoa entre nós e o sentimento ruim em mim que isso causava, Matt era meu melhor amigo desde sempre.

Paramos em um dos cantos mais afastados e eu cruzei os braços esperando. Matt sorriu sem graça, remexendo nervosamente no objeto o qual antes escondia.

— Trouxe seu caderno de história… Eu não estava com tempo para fazer a tarefa do Tanner, então… Realmente, obrigado. — agradeceu, oferecendo-me meu caderno.

— De nada. — respondi secamente, recuperando meu caderno. — Mas, não é só para entregar esse caderno que está aqui, certo?

Matt engoliu em seco enquanto passou a mão aos fios loiros, demonstrando estar pouco à vontade. Ainda estava decepcionada pelo seu comportamento, mas amenizei a postura rígida ao percebê-lo verdadeiramente arrependido.

— Eu sinto muito mesmo, Elena. Sabe, eu estava bêbado e tudo mais... Sei que isso não justifica, eu fui um babaca, mas lamento muito. Mesmo. — lastimou-se Matt com pesar. Era visível a culpa e a sinceridade em seus vívidos olhos azuis. Eu suspirei.

— Tudo bem, Matt, aceito suas desculpas. — consenti, porém, o encarei segura e intensamente ao alertar: — Mas nunca, nunca mais faça isso de novo. Entendeu?

— Claro, eu prometo. — assegurou, abrindo um sorriso aliviado. Eu retribuí. — Ei, Ty já chegou.— Matt comentou enquanto arqueou o rosto para nossa mesa.

— Vamos voltar?

— Oh, vai na frente, vou comprar uma água.

Enquanto Matt fez o caminho de volta à mesa, virei na direção oposta e enfrentei a dificuldade de me esgueirar entre as pessoas dançando. Porém mudei de ideia assim que ergui os olhos para o bar e lá estava ele, o mesmo cara, outra vez. Só pode ser brincadeira. Pensei em dar meia volta, mas desisti ao percebê-lo olhar em minha direção. Engoli em seco e respirei fundo, fingindo não perceber meu interior tremer junto a meu sexto sentido apitar.

— Água sem gás, por favor. — pedi ao bartender quando alcancei o balcão.

— Evitando a tequila? — ouvi o charmoso sotaque conhecido pronunciar-se. O encarei.

— Você aqui também. Muita coincidência, não é?! — ironizei, mantive postura firme.

— Eu não acredito em coincidências, amor. — ele disse intensamente. Então usou de sarcástica postura reflexiva. — Na verdade, estou começando a achar que você está me perseguindo, Elena. — estremeci ao ouvi-lo dizer meu nome e estava claro, foi proposital para me desestabilizar. Contraí a mandíbula.

— Como sabe meu nome?

— Poderes psíquicos. — sorriu debochado no segundo seguinte e gesticulou com a cabeça para o caderno em minhas mãos. Baixei o olhar e li na capa “Pertence á: Elena Gilbert”. Senti-me a pessoa mais estúpida do mundo.

— E você, está me perseguindo? — rebati, o observando com atenção, tentando transmitir confiança e segurança. Ele riu suavemente desviando os olhos pelo salão e levando o copo de uísque a boca. — Então está no mesmo lugar que eu, pela terceira vez só por acaso?! — arquei a sobrancelha ao insinuar sarcasticamente.

— Oh amor, você é tão paranoica. Parece com meu irmão. — pontuou divertido.

Tudo bem, talvez esteja exagerando. A verdade, é que o pesadelo dessa noite não saia da minha cabeça e isso estava afetando consideravelmente meu humor, além de, como sempre, ele especialmente colocar meus sentidos em alerta. Por fim, soltei o ar com pesar e balancei a cabeça.

— Desculpe, eu só... Não estou no meu melhor dia.

— Noite difícil?

— O que disse? — questionei arregalando os olhos, perturbada.

Foi como se pudesse ler minha mente exatamente ao pensar no pesadelo. Meu peito trepidou e pude sentir as batidas de meu coração acelerar. Por breve momento, um sorriso satisfeito iluminou seu rosto, parecendo conseguir a reação esperada de mim e saber a coisa exata a dizer para me fazer sentir mal E tive a certeza: ele estava fazendo de propósito.

— Espero que sua tia não tenha pegado pesado com você noite passada. — disse como se inocentemente após um gole no uísque. Trouxe novamente os intensos olhos castanhos aos meus com um brilho diabólico escondido por trás de um sorriso divertido e meneou a cabeça. — Ela não parecia feliz.

— Acha isso engraçado?! Me intimidar. — exigi indignada e confusa mutuamente.

— Talvez apenas um pouco.

— Então você admite que gosta disso?!

— O quê? Você?

— Ok, não sei se isso é um jogo para você, ou sei lá, mas é melhor parar. Agora. — esclareci com a voz firme e até rispidamente, enfatizando a última sentença.

— Isso soa como um desafio. — ele sorriu travesso, sorriso que aumentou ao ver-me com a postura rígida. Porém, pareceu refletir sobre o que eu disse durante um momento. — Jogos… Eu gosto de jogos.

— Se é o que significa para você, apenas saiba: não vou participar dele. — garanti.

— Oh amor, você não entendeu. — inclinou-se para frente como se fosse revelar um segredo. — Você já está nele.

Foi o basta. Peguei minha garrafa d’água do balcão e bati a mão em certo impacto ao deixar o dinheiro sobre este. Aproximei-me dele.

— Fique longe de mim. — empurrei meu dedo em seu peito com força, desejando arrancar aquela expressão convencida de seu rosto enquanto acompanhou meu movimento com os olhos e sorriu minimamente ao final.

Dei as costas e avancei bruscamente de volta a multidão dançando enlouquecidamente ao som do rock da banda. Eu percebia enfim que não eram apenas meus sextos sentidos, esse garoto me tirava do sério, o que era realmente novo, sendo uma pessoa normalmente calma.

Eu atravessava de volta a mesa quando senti a mão pesada fechar em meu braço com certa firmeza. Parei para encarar o homem pouco mais velho de olhos azuis esverdeados, rastro de barba por fazer e cabelos curtos que tinham aparência de encaracolados. Meu sexto sentido pareceu entrar em alerta máximo mais uma vez. Ele me observava atentamente incrédulo e desconfiado, como se tentasse entender alguma coisa ao perguntar:

— Katherine? — eu franzi as sobrancelhas, fitando-o em alerta apreensivamente e mantive distância, esquiva.

— Hm, não... — respondi cuidadosamente, puxando meu braço.

— Claro. — ele concordou repentinamente, sorrindo sem graça e libertando-me. — Desculpe.

Logo me afastei depressa, andando o mais rápido possível de volta aos outros enquanto sentia seus olhos melindrosos acompanharem-me enquanto me afastei. Sensação que não deixava meu interior em paz, que continuava a alarmar-me, como se algo muito ruim não tardasse a acontecer. E parecendo me garantir uma coisa: estava apenas começando.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo infelizmente não deu pra encaixar NOLA mas não se preocupem que no próximo têm, não quis colocar porque deu 7 mil palavras, meu deus ksks. Mas agora estou aquietando o facho (ou pelo menos tentando) e diminuindo-os. Mas "Antes sobre do que falte" - MÃE, em "Ceia de Natal".
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