The Apocalypse escrita por Just Survive Somehow


Capítulo 21
Broken Glass




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21

Já fazia um tempo que tinha chegado em Alexandria, e estava penteando meu cabelo no espelho do banheiro de Deanna, ou o meu banheiro, tanto faz. A minha recém nova câmera estava fora da caixa, em cima da cama, esperando que eu tirasse alguma foto.

Estava vestindo uma regata branca de tecido fino e uma calça legging. Começava a esfriar e tinha quase certeza que estava chovendo, pois ouvia um pequeno barulho contínuo enquanto experimentava um hidratante de frutas vermelhas do armário do banheiro. Esperava que depois que terminasse o banho ainda estivesse chovendo para vestir um suéter quentinho ou ler alguma coisa. Talvez até fazer um chocolate quente ou algum bolo.

Pensava em Carl e na saudade que sentia por ele, mas também pensava em Ron e no que exatamente sentia por ele. Com Carl, tudo é mais sólido e nós sabemos porque estamos juntos, bom, estávamos. Com Ron, era novo e estranho e não sabia como me sentir. Isso era traição, mesmo ele não estando aqui ? Como ele se sentiria por isso ?

Eu precisava falar com Ron, dizer para ele que não daria certo. O Carl poderia não estar aqui, mas o que sentia por ele não tinha acabado. Não podia esconder isso de Ron desse jeito, não quando, se estivéssemos juntos, eu nunca seria totalmente dele. Esperava que ele aceitasse isso.

Mas não queria ficar sozinha. E se Ron não fosse mais meu amigo depois disso? Eu não poderia ficar escondida das pessoas na casa de Deanna para sempre.

Mas talvez ele nem se lembrasse do que aconteceu. Talvez a mente dele estivesse tão enevoada quanto a minha. Eu não me lembro nem de metade do que aconteceu depois que o beijei, talvez ele não lembrasse nem mesmo do beijo.

Estava colocando um suéter caramelo gigante com touca, que ia até as minhas coxas, quando ouvi uma batida na porta e o rosto sorridente de Deanna apareceu na porta.

— Olá. Está tudo bem com você ?

— Claro. – falei, sem tirar os olhos do espelho. – Nós conseguimos bastante comida na busca. Pena que os errantes não nos deixaram pegar mais coisas.

— Eu perguntei se está tudo bem com você. – falou ela, me repreendendo com o olhar.

— Tudo bem. – falei, finalmente saindo do banheiro e vendo Deanna com um caderninho e uma caneta, anotando algo. Passei por ela e fui direto ao armário, aproveitando para dar uma espiada nas anotações. Parei na hora que li ‘Ação de Graças’ no título.

— Vão dar uma festa ? – perguntei, sentando ao lado de Deanna na cama.

— Ah, sim. Eu estava pensando, há muito tempo que não damos uma festa, e as pessoas gostariam de um descanso por pelo menos um dia, todos estão trabalhando muito. – nessa hora me senti um pouco culpada. Desde que cheguei não tinha ajudado em absolutamente nada, a não ser ir na busca com Spencer e Aidan, que quase deu errado. - É de Ação de Graças, está na época.

Ouvimos um grito, que fez eu levar a mão até a arma na minha cintura e depois me deixando desesperada no mesmo segundo, pois não tinha nada para me defender.

— Meninas, chocolate quente ! – ouvi Reg gritar, me fazendo relaxar no mesmo segundo

—Estamos indo ! – gritei de volta. - É, seria legal. Mas como você vai encontrar um peru ? Acho que um que não tenha sido comido por zumbis vai ser um pouco difícil de achar. – disse dando um sorrisinho.

Peguei a câmera, nós descemos as escadas e logo depois que falei isso, percebi que Deanna tinha ficado constrangida. Mesmo que eu achasse que as pessoas de Alexandria deveriam aprender a se defender mesmo que não saíssem dos muros, não podia obrigar Deanna a ficar confortável a falar ou até mesmo fazer piadas sobre um assunto o qual não era do seu comum.

Por tanto tempo foi minha rotina, que talvez tenha ficado com uma mente sádica nesse tempo.

— Então… onde você vai achar um peru ou algo do tipo ? – reformulei minha frase, enquanto sentava na mesa da cozinha e pegava uma das canecas quentes.

— Ainda não sei, mas nós podiamos fazer algumas caçarolas. Na minha família, nós sempre faziamos cassarolas do que cada pessoa gostava. O Aiden amava uma caçarola com batata doce, uva e marshmallow. – fiz uma careta. ‘Doce com salgado nunca era uma boa ideia.’ Deanna riu.– É, também acho. Mas, e na sua família ?

— Ah, nós não tinhamos muitas tradições. Meus avós vinham para minha casa e traziam o peru e minha mãe e eu fazíamos alguns doces, principalmente tortas. Eu sempre fazia a de maçã, de abóbora e de vez em quando, de cereja. – falei, olhando para as minhas mãos. - A especialidade do meu pai era o purê de batatas com queijo e brócolis.

— Bom, nós podemos fazer algumas dessas coisas. Talvez pedir para cada família trazer uma coisa. Assim, podemos trazer um pouco da cultura de cada uma.

— Seria ótimo. Eu posso fazer torta de maçã…

— O que você faz muito bem. – gentilmente Deanna interrompeu.

— … e de abóbora.

— Eu também sempre faço aqui em casa…

Deanna começou a falar, mas ouvimos uma batida alta na porta.

— Eu atendo. – falou Deanna, ajeitando a sua camisa de botão branca e indo até a porta. Bebi mais um gole de chocolate e li as anotações de Deanna sobre a festa. Ouvi a porta se abrindo e senti uma corrente de ar frio. – Oi, quer falar com a Emily ?

— Obrigado, Sra. Monroe. – ouvi a voz de Ron, o que me fez quase cuspir o chocolate quente. ‘Ah meu deus, merda.’

Eu queria fazer alguma coisa, sair correndo prara o quarto, abrir um buraco e me esconder, mas fiquei paralisada, sem conseguir me mexer. Como eu poderia falar com ele ?

Ron foi até a cozinha, vestindo um casaco todo molhado de chuva e uma touca, o que o fazia ficar um pouco com cara de adolescente revoltadinho.

— Oi, soube que você saiu de novo.

— Em uma busca. Nós conseguimos pegar algumas coisas legais. – minha voz saiu um pouco mais fina do que o usual. – Eu ganhei uma câmera do Aidan.

— Que legal. Ahn, eu e o Mickey vamos assistir um filme na minha casa. Você quer vir ? – falou ele se dirigindo para a porta.

— Como… amigos ? – perguntei a ele, de forma sutil (eu acho).

Ele hesitou por um instante, fazendo com que eu tivesse a certeza de que ele lembrava do nosso erro, mas continuou falando logo.

— Claro. Vamos lá ? – ele perguntou me lançando um sorriso convincente.

— Por mais que eu queira ir, eu preciso ficar aqui com Deanna pra ajudar com a festa que ela vai dar.

— Que festa ?

— Ação de Graças.

— Eu lembro da ação de graças da minha família antes. Minha mãe sempre cozinhava com a minha avó. Saudades de todo mundo reunido na mesa, meus primos, meu tio Joe derrubando purê todas as vezes. Minha mãe dizia que ele fazia de propósito. – ele deu uma pausa para rir um pouco e o acompanhei, mesmo estando tensa perto dele. – Por favor, Emily, venha com a gente. Vai ser legal.

— Eu não sei se devo deixar a Deanna sozinha. – falei.

— Deixa de ser tão preocupada, você precisa se divertir. Venha, respira fundo, fecha os olhos e repita comigo. – ele falou, segurando minhas mãos. Lançei um olhar de descrença a Ron e fechei os olhos, ainda sentindo o calor de seu corpo nas costas das minhas mãos. – Eu, Emily… qual seu sobrenome mesmo ?

— Grace.

— Você com certeza é uma graça. – ele falou sarcasticamente e lhe dei um soco no corpo, mesmo não vendo nada.

— Estou com olhos fechados mas ainda consigo te ver, Ron. – cantarolei.

— Ok. Continue.

— Eu, Emily Grace…

— … prometo não bater no Ron.

— … prometo não bater no Ron. – falei, entre um sorriso.

— e prometo tentar me divertir mais.

— e prometo tentar me divertir mais. É só isso, Ron ?

— Ah, e prometo trazer pro Ron um pote de Nutella quando sair pra fora dos muros de novo.

— E prometo tentar  trazer pro Ron um pote de Nutella quando sair pra fora dos muros de novo. – falei, rapidamente. – Se eu for sair de novo.

— Até parece que você me engana. – falou ele, e sabia que ele sorria sarcástico naquele momento. - Pode abrir os olhos.

Segui seu comando, abrindo – os lentamente e sem pressa. Totalmente abertos, Ron estava na minha frente bem perto.

— Vamos lá ! – falou ele, dando um beijo mínimo na ponta do meu nariz e guiando a minha mão até a porta. ‘Será que ele não entendeu ou ele trata os seus amigos desse jeito ? Se bem que nunca vi ele dando um beijinho na ponta do nariz do Mickey.’ Pensei com um sorriso na última frase. Seria uma cena muito esquisita. Ser amiga do Ron é bem complicado.

— Espera aí, vou pegar uma coisa. – eu falei subindo as escadas. Entrei no quarto e peguei a câmera fotográfica e desci correndo as escadas. Ron estava na varanda coberta de Deanna, de costas e olhando a chuva. A porta que dava para varanda estava aberta e sai da casa sem fazer barulho. Respirei fundo e gritei, pretendendo dar um susto. – Ron !

— Ah ! – ele gritou também, caindo no chão imediatamente e se encolhendo de vergonha. Tentei segurar a gargalhada, mas elas escapavam da minha boca e da de Ron naturalmente. As bochechas de Ron estavam coradas diante da vergonha, mas mesmo assim ele continuou rindo.

— Diga xis, Ron. – falei, capturando com a câmera um momento totalmente espontâneo, com Ron de costas para o chão e com a boca aberta em uma risada que se tirasse outra, não saíria tão espontânea quanto a primeira. A foto saiu da câmera e chacoalhei a foto para a imagem aparecer rapidamente.

— Ei ! – ele falou, tentando pegar a foto da minha mão e me derrubando no chão também. Mas em vez de cair  de costas no chão, a minha cabeça bateu em algo e retiniu. A dor era tão forte que conseguia sentir em cada dobrinha de meu cérebro. Parecia que não conseguia respirar até que a minha querida amiga escuridão veio me acolher novamente, me fazendo esquecer da realidade, dos meus sentimentos, das pessoas á minha volta e até de mim mesma.


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Notas finais do capítulo

A música é da Sia ( para variar ) e olhem a tradução, tem tudo a ver com a fanfic.
Comentem o que acharam do capítulo nos comentários ( dã, comentem nos comentários ).



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