The Apocalypse escrita por Just Survive Somehow


Capítulo 19
Kiss Me


Notas iniciais do capítulo

Sem comentários, me desculpem.



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19

Eu já nem durmo mais. Eu tentei, tentei de verdade. Mas a cada piscada que dava, só conseguia pensar nele. A lembrança de seus lábios se aproximando de mim me deixou acordada até altas horas.

Tentei ler um pouco para afastar minha cabeça de você, tentei pensar em outras coisas. Meu cérebro sempre voltava ao mesmo pensamento, me lembrando que não esqueceria tão cedo dessa pessoa.

(…)

Acordei antes do sol nascer e olhei para a janela, apreciando os instantes de total silêncio. Mas eu não podia demorar muito ou alguém iria desconfiar. Vesti a muda de roupa que Deanna havia separado para mim, uma calça jeans de lavagem clara, uma camiseta branca e uma blusa roxa de tecido fino. Peguei meus sapatos na mão e desci as escadas, para não fazer barulho. Fui até a cozinha e abri o armário, procurando algo que pudesse comer. Nada, a não ser uma caixa de chicletes sabor menta e garrafas de água.

No caminho, meus olhos passaram de relance na mesa desarrumada de Deanna e Reg, observando um mapa de Alexandria. Observei as marcações das casas e seus respectivos moradores, do portão e de uma linha circundando toda Alexandria. Passei meu dedo por cima da linha até chegar em um desenho de um quadrado que parecia representar um prédio ou uma casa. Havia uma seta apontando para o quadrado indicando o depósito de armas e mantimentos.

Coloquei o mapa no bolso do casaco e saí da casa  antes que me desse conta do que havia feito. Esperava que eles não notassem somente um mapa entre cinquenta naquela mesa bagunçada.

Calçei meus tênis na varanda da casa e sai por Alexandria, explorando. Não tinha ninguém nas ruas e o sol começava a nascer por detrás das casas, deixando tudo iluminado. A sensação de liberdade foi intensa, sem ninguém, só eu e aquele mundo gigante e meu para ser explorado.

Mas no fundo, bem no fundo de mim, sabia que aquela sensação não era real e que o mundo sempre irá pertencer aos mortos. Aquela faísca de esperança apagou – se em mim com o pensamento e voltei á realidade.

Continuei andando por Alexandria até chegar no tal do arsenal, uma casa bonita e igual á maioria dessa rua. Fui até os fundos da casa e vi uma janela baixa, mas fechada. Fiz força contra ela, mas não consegui abri – la. Desisti e acabei usando a última e mais idiota alternativa da minha mente. Bom, se você não consegue dar a volta em uma parede, quebre ela.

Pequei uma pedra do tamanho da palma da minha mão e a bati – a  contra a janela. O vidro se quebrando fez barulho e olhei por detrás da casa para ver se vinha alguém. Nada. Repeti o processo até abrir um buraco grande o suficiente para eu poder passar e me apoiei na parte de cima da janela. Esperava que ninguém tivesse ouvido.

Finalmente entrei na sala de armas, um lugar com paredes verde escuras e quase totalmente repletas por enormes armas e baús cheios de pistolas e facas. Fui para a sala ao lado e verifiquei se alguém tinha percebido minha entrada, e como o esperado, nada de novo.

A segunda sala era repleta de prateleiras com enlatados do tamanho da minha mão até maiores que a minha cabeça. Também havia pacotes de balas, macarrão, temperos, açúcar e algumas latinhas de energético. Peguei um pacotinho de barras de cereal e uma garrafa d’água, mas comeria tudo lá fora. Não queria me arriscar mais do que devia.

 Em um canto havia uma geladeira, daquelas de sorveterias, com pedaços de chocolate e outras coisas que não consegui notar. Porque, caramba, era chocolate. Peguei um pedacinho embalado em papel prateado, desemcapei (maravilhoso adjetivo) e mordi a ponta. Cremoso, doce, maravilhoso. Nossa, há quanto tempo eu não comia chocolate ? Engoli todo e continuei pegando armas (mesmo que o chocolate, de vez em quando, fosse mais necessário).

Passei a mão pela fileira de rifles e metralhadoras, sentindo a aura fria que uma arma dessas causava. Peguei uma mochila preta e coloquei três pistolas, duas facas de punho, três silenciadores e uma granada (vai que eu preciso). Fiquei extremamente tentada a pegar as metralhadoras e rifles mas sai daquela casa antes que fizesse alguma burrada.

Fui em direção ao muro o mais rápido possível, não queria chamar atenção. Mas no meio do caminho surgiu um problema : como eu iria escalar um muro de 3 metros, com meus singelos 1,63 de altura ?

Começei a procurar algo para me ajudar a subir o muto, eu não desistiria tão fácil. Encontrei alguns tubos de metais e encaixei um deles em uma parte do muro. Se caísse, eu morreria. É, pareceria pior se eu pensasse demais nisso, então, vamos á ação.

Fui apoiando um pé no tubo e outro no metal do muro, adicionando tubos á medida que subia até chegar no topo. A vista era muito linda, dava para ver toda a Alexandria de um lado e boa parte da floresta do outro. Era eu lado a lado com meus dois mundos, o pacífico e o selvagem, a calmaria e a tempestade, a segurança e a ameaça.

Continuei escalando, descendo dessa vez, e consegui colocar meus pés no chão da floresta. Era muito aberta e dava para andar facilmente. Havia muitas árvores com troncos finos e o chão estava com um pouco de folhas, pelo outono que provavelmente acabara de chegar.

Andei um pouco pela floresta até parar perto de uma árvore. Me sentei apoiada nela e abri a mochila, pegando uma das barras de cereal de granola. A mordi, indecisa se tinha gosto de mofo ou gosto de nada. A engoli junto com metade da garrafa de água e continuei andando, em nenhuma direção concreta nem motivo.

Não consegui andar muito sem encontrar um errante. Estava com as roupas cheias de terra e desbotadas. Metade da sua cara se pendurava para fora de seu rosto, desafiando as leis da gravidade. Bom, se o apocalipse existe acho que as coisas normais podem desaparecer também.

O problema era que eu não tinha tirado a faca da mochila. Corri um pouco á frente do zumbi para poder pegar a faca. Me ajoelhei e coloquei a mochila na minha frente, podendo ver quando ele chegaria perto de mim. Tentei desenterrar a faca de dentro da mochila o mais rápido possível, mas parecia que ela tinha ficado presa no fundo da mochila. A afundei mais para baixo e puxei o cabo com força, me fazendo desequilibrar e cair no chão. A faca caiu ao meu lado e tentei me levantar rapidamente, no exato momento em que o zumbi segurou meu pé.

Puxei de volta o mais forte que pude, mas o zumbi era insistente e se aproximava de mim. Sua cabeça começou a chegar aos meus tornozelos, mas segurei seu crânio podre, impedindo que se aproximasse mais. Minha mão afundou um pouco em sua cabeça podre, mas finquei minha faca em seu olho. Espirrou um pouco de sangue em minha camisa branca e no meu rosto.

Me levantei, percebendo que a minha luta tinha atraído uma pequena multidão faminta. Uns seis ou sete errantes se aproximavam de mim lentamente, á uns cinco metros de distância.

Tentei me levantar e escorreguei em algo, caindo de barriga no chão novamente. Senti algo na minha perna, mas ignorei e me levantei do chão cheio de folhas. Peguei minha mochila e corri para fora da floresta.

Os zumbis já estavam mais afastados e logo conseguiria chegar a Alexandria. Consegui avistar o portão, mas ele logo foi encoberto por mais errantes atrás de mim. ‘Merda. Merda. Puta merda.’  Pensei, tentando achar outra saída. Em volta de mim só haviam árvores e os zumbis se aproximavam. Até que avistei uma árvore com tronco maior do que as outras e oca, com um grande buraco que mal cabia uma pessoa.

Corri até aquela árvore, torcendo para que os zumbis não me vissem. Era apertado e não consegui identificar o cheiro, só que era muito estranho. Tentei não me mexer e não chamar atenção, mas discretamente avaliei o meu estado. Minhas roupas estavam um pouco sujas de terra e do meu joelho para baixo estava com uma linha de sangue escorrendo de um corte. Então foi isso que eu senti. O corte deve ter aumentado quando entrei na árvore.

Bom, eu ia passar um bom tempo lá.

(…)

Já fazia uma hora desde que aconteceu e tinha acabado de adentrar em Alexandria. A linha de sangue tinha se transformado em uma inundação, depois de bater minha perna em uma árvore (de novo). Não sentia nada, mas sabia que as pessoas perceberiam. Precisava limpar antes que isso acontecesse.

Estava quase na rua de Deanna quando avistei uma figura andando pela rua, distraído. Tentei me esconder atrás de uma das casas mas Ron conseguiu me ver.

— Ei, o que você ta fazendo ? – ele me analisou. As folhas no meu cabelo e as minhas roupas sujas me entregaram de imediato. – O que aconteceu na sua perna ? Você foi lá fora ? – ele gritou, extasiado.

— Shhhh, não grita. – falei, arregalando os olhos. – Qual o problema de ir lá fora ?

— O problema não é ir lá fora, o problema é ir lá fora escondida enquanto todos estão dormindo. – falou ele. – Caraca, você mora na casa da Deanna, o que vão pensar disso ?

— Eu não ligo pra o que as pessoas vão pensar. E a Deanna só vai descobrir se alguém que sabe contar pra ela. E isso não vai acontecer, não é mesmo, Ron ? – falei, não conseguindo controlar minha mania de arquear a sombrancelha.

Ele pareceu pensar um pouco, colocando a mão no queixo.

— Ok, mas você vai ter que ir perto do lago hoje á noite. O Mickey achou uma garrafa de bebida na casa dele e vamos fazer verdade ou desafio.

— Com achar você quer dizer roubar ?

— Roubar é uma palavra muito forte. Assim você nos ofende. – falou ele, colocando a mão no peito. – Eu diria que ele surrupiou a garrafa.

— Ok, eu vou. Mas você não vai falar nada. – disse, virando de costas. – Eu sei onde você mora ! – gritei, sem olhar para trás.

— Eu também ! – gritou ele de volta.

‘Esse garoto é louco, mas não é tão ruim.’ pensei, me arrependendo no outro segundo. Eu tinha certeza de que ainda gostava do Carl , mas se ele tivesse morrido ? Eu deveria seguir minha vida ? Gostar de outras pessoas ? Estava perdida.

(…)

Passei o dia em um completamente nada. Voltei para a casa de Deanna, troquei de roupa, lavei o machucado e fiz um curativo. Menti para Deanna sobre isso e depois ajudei – a com o almoço. Almoçamos e depois passei quatro horas tocando piano com Reg. Depois de acabar a sequência de notas e meus dedos pararem de latejar, continuei tocando. Não tinha nada para fazer mesmo.

A única vez que sai de novo é quando Deanna me pediu para ir buscar algumas roupas (meu armário estava totalmente vazio) na casa de uma tal de ‘Bethany’. Ela que andava me emprestando suas roupas. Era três casas depois da de Deanna, então cheguei lá rápido. Toquei a campainha e um garoto de cabelos clarosum pouco mais velho do que eu apareceu na porta com um sorriso tímido e as bochechas vermelhas.

— Ahn, você é a Emily ? – perguntou ele, gaguejando. ‘Minha aparência assusta tanto assim as pessoas ?’ me perguntei ironicamente. Tinha certeza de que não assustava uma mosca. Assenti com a cabeça e ele abriu passagem para entrar na casa. – Bethany ! A garota tá aqui !

Uma garota de cabelos claros como o seu provável irmão desceu as escadas da casa. Ela vestia um cropped preto que mostrava parte de sua barriga (e seios), uma calça justa vermelha e sapatos de salto. Ela me lançou um olhar de repugnancia e fez um gesto indicando onde pegaria as roupas. ‘Ok, eu esbarrei com a Barbie das trevas. Vou tentar lidar com isso de um jeito amigável.’

Segui ela meio sem jeito até uma salinha cheia de roupas de vários tamanhos. Na verdade, parece que todas as roupas das pessoas de Alexandria estavam lá, naquele closet.

— Ok, vamos começar. Quanto você veste de calça ? G ? GG ? – ela perguntou. Sua voz era fina e enjoativa e a sua fala quase conseguiu ser disfarçada com a cara de inocência.

Não vou descrever a situação. A garota continuou tentando me alfinetar de jeitos discretos e eu tentava ignorar. Saí de lá com metade das roupas dela e acho que ela não ficou tão feliz com isso. Quando estava quase saindo da casa percebi a sua cara (de cu) e falei : 'Não se preocupe. Eu não peguei nenhuma roupa decotada. Não vai faltar nada para você.' Não sei se tinha sido um xingamento ou algo do tipo, mas valeu meu dia.

Continuei não fazendo nada na casa de Deanna. Desenhei um pouco, mas as únicas coisas que consegui desenhar foram assustadoras. O zumbi com a pele pendurada para fora da cara.  O rosto desfigurado de um homem, estragado por um tiro que minha arma tinha dado. Depois de entender o que tinha acabado de desenhar, os escondi no armário. Não queria que Deanna me achasse uma psicopata, mesmo que eu fosse.

Já estava começando a anoitecer e era hora de encontrar Ron e Mickey. Vesti um casaco preto, as noites da eram um pouco frias aqui e eu não queria ser vista.

Fiquei enrolando e tocando musicas fáceis no piano, esperando a sala de estar se esvaziar. Quando Deanna foi pegar algo em seu quarto, puxei a touca do casaco sobre minha cabeça e sai da casa.

Andei pelas ruas escuras de Alexandria, observando todas as casas com luzes desligadas. Avistei uma única casa com luzes ligadas e janelas abertas, a de Ron. Duas figuras discutiam e só conseguia ver suas sombras, por causa da cortina que separava o que estava acontecendo na casa de mim. Me aproximei, evitando chegar perto da luz para não ser reconhecida.

As duas pessoas continuavam discutindo e tentei me aproximar, mas a cortina recebeu uma rajada de vento e revelou um homem de cabelos caramelados descendo a mão na cara de Jessie. O sangue voou de seu nariz e ela caiu no chão de cara no chão, com uma linha fina de sangue saindo de seu nariz. Ele continuava a gritar com ela.

Eu tinha que fazer algo. Como alguém como Jessie podia ter feito algo tão ruim a ponto de receber um tapa ?

O homem continuava gritando e ele puxou os pulsos da mãe de Sam e Ron e a ergueu do chão com facilidade. Se aquilo continuasse, Jessie podia se machucar feio.

Peguei a primeira coisa que vi no chão e tentei jogá – la no cara para pará – lo. A notícia boa é que era só uma pedra e a má é que eu acertei ele, bem na cintura. Ele gemeu de dor e soltou Jessie, que caiu no chão como uma boneca de pano. O homem veio em direção a janela.

‘Corre, corre, corre.’ insisti para mim mesma, fazendo minhas pernas começarem a correr. Coloquei a mão nos bolsos e sai o mais rápido que pude, esperando conseguir chegar ao lago antes que o homem me visse. Eu não podia fazer mais nada sobre Jessie.

Cheguei logo ao lago e observei dois garotos, Ron e Mickey, segurando uma garrafa de licor e copos de papel. Eles acenaram para mim e sentaram no asfalto.

Observei o lago. As águas estavam prateadas e iluminadas pela lua. Tudo era mais escuro naquela parte de Alexandria e mal conseguia ver os garotos.

Uma pergunta veio em minha cabeça : ‘O que eu diria para Ron sobre sua mãe ?’

— Oi. – falou Ron, com um sorriso enorme. Ron andava para lá e para cá e parecia estar em outra dimensão.

— Ele não conseguiu esperar e já bebeu um pouco. – falou Mickey. – Ele nunca se acostuma com a bebida.

— Vocês já fizeram isso antes ?

— Talvez. Vai querer um pouco ? – ele me estendeu um copo. Recusei de imediato. – Você precisa relaxar.

Eu sabia que aquilo era errado e não queria beber, só queria me sentir menos tensa. Peguei o copo de e virei, imaginando que estava bebendo só água. A bebida tinha gosto enjoativo de cereja e desceu como se tivesse queimando em minha garganta. Tossi e ouvi Mickey rindo de minha primeira reação com bebida.

Uns minutos depois tudo parecia diferente. A noite estava mais alegre e tudo tinha graça. Havia uma sensação de tranquilidade onde a bebida tinha percorrido, minha boca, garganta e barriga.

Avistei Mickey deitado na grama, como se estivesse fazendo um anjo de grama em vez de neve, e Ron se aproximando de mim rapidamente. Ele segurou meu pulso e sussurou em meu ouvido, causando uma comichão.

— Você é linda. – ele falou, sorrindo. Ele enlaçou seu braço em minha cintura e me puxou para mais perto, fazendo nossos lábios se encostarem levemente. Eu levei um susto e me afastei rapidamente.

Mas eu não gotava de Carl ? Eu gostava de Ron ? Mas eu podia gostar de alguém que provavelmente morreu ?

Eu gostaria de dizer que a bebida não me deixou ter outra saída, mas estaria mentindo. ‘Foda – se.’ pensei, colando nossos lábios novamente. O beijo era totalmente diferente de tudo que já senti. Era, como eu posso dizer, mais quente. Enterrei minhas mãos em seu cabelo e mordi seu lábio levemente, o incitando a continuar me beijando. Ele segurou minha cintura até que nossos corpos se tornassem um.

Eu apenas queria ser de alguém. Tinha cansado de esperar.


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Notas finais do capítulo

Ainda sem comentários.



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