Anos atrás

— PARE JORGE, POR FAVOR! – A mulher gritava inutilmente, enquanto seu marido a espancava.

— CALADA, SUA VADIA! – Jorge gritou. – Isso é pra você aprender a não desrespeitar mais o seu marido!

 A verdade é que a Cecília não tinha feito nada. Apenas havia perguntado se Jorge não poderia ter se enganado sobre alguma coisa.

 Mas isso não importava. Nenhuma das – várias – vezes que ele fez isso, havia uma justificativa.

 A mulher suplicava desesperadamente para o cara de uns 37 anos parar.

  Continuava uma fala inútil. Um pedido inútil.

 Nada e nem ninguém o impediria de fazer aquilo.

 Exceto uma coisa.

 O desespero, a dor e o ódio eram as três palavras que definiam o que estava acontecendo naquela casa de classe média, em uma parte do México.

 O ódio e a revolta daquele homem eram enormes, e sem fundamentos. Ele simplesmente tinha demônios dentro dele.

 Um de seus filhos e sua mulher, sofriam por isso. Constantes espancamentos, grosserias, bebedeiras...

 Nenhum dos dois merecia isso.

 Jorge era simplesmente um psicopata, violento e agressivo, que estava prestes a fazer mais uma vítima: seu filho mais novo. Isso desesperou sua mulher ainda mais:

— Depois que terminar com você, eu vou ir para aquele moleque – que estava no quarto dormindo – e vou educa-lo com umas boas surras! Já que nem pra isso você serve, sua imprestável!

— MÃE! O QUE ESTÁ ACONTECENDO?! – Era seu filho mais velho.

 Ele era alto, tinha cabelos castanhos, e estava voltando de seu trabalho. Ele achava que tinha tido sorte em conseguir a carona de um amigo e um conhecido, mas a sorte na verdade, havia sido de seu irmão mais novo. 

 Não era a primeira vez que ele via aquilo, até porque, muitas vezes ele também já esteve no lugar de sua mãe.

 Cecília podia estar se sentindo mais segura e preocupada com ela mesma, mas o que a preocupava era o que ia acontecer com seu filho mais novo.

— FILHO! POR FAVOR! ELE QUER ESPANCAR SEU IRMÃO! – Ela o avisou desesperada e ele também se desesperou. Ele jamais poderia aguentar a ideia de alguém machucar seu irmãozinho.

 Os gritos, chamaram a atenção do homem que estava no carro, ainda na frente da casa, conversando com seu amigo e chefe. Os dois então, entraram na casa.

 O filho mais velho de Jorge, pegou uma faca, mas não conseguiu fazer nada.

 Ele era bom demais para fazer algo.

 Os dois homens que haviam lhe dado carona, se espantaram com a cena. O mais alto tomou a faca das mãos do jovem, e a fez atravessar o estômago de Jorge. Ouviu-se um alto grito que dizia “Não!” vindo de Cecília. Para alguns ela era burra, mas apenas tinha um bom coração. No segundo seguinte em que seu – agora ex – marido caiu no chão sangrando, ela o abraçou enquanto as lágrimas molhavam seu rosto:

— NÃO!!!!!!!! Você matou ele, você matou... – Ela dizia para o homem alto que ela conhecia e até então apreciava por cuidar tão bem seu primogênito.

 O mesmo – o filho mais velho de Jorge e Cecília – estava estático, totalmente sem ação. No fundo, ele queria agradecer ao moço pelo “favor”, mas achou que seria insensível para sua mãe.

— Desgraçado! – Cecília gritou tirando a faca de seu marido e indo em direção ao homem que a tinha colocado lá.

 Ela o teria matado. Se alguém não virasse a faca em sua mão ao contrário, e a fizesse perfurar seu coração.

— Eu sinto muito [...] – Ele disse. 

***

 Minutos depois, quando apenas havia seu irmão e seus pais na casa, a criança acordou e se desesperou ao ver seus pais mortos, e a única pessoa que via ali era seu irmão – ainda em choque.

— Quem fez isso com o papai e a mamãe? – O pequeno perguntou em prantos.

 A resposta lhe causou dor, mas não que ela se comparasse à a de ver seus pais mortos. Mas mais do que dor, lhe causou revolta e rancor.

 Uma injustiça começou a partir daquela noite.