— Eles estão aqui.

Sinto a Alice chocar o corpo ao meu, por causa da nossa parada brusca, e me concentro no que o Felipe falou.

Um único pensamento lógico me atinge de imediato e tudo que sei é que não temos tempo. E apesar de saber que isso não vai segurá-los, corro e fecho as portas. Sigo até as janelas mais próximas e faço o mesmo. Quando me viro vejo o Felipe fazendo o mesmo com as que sobraram.

Caminho a passos largos até o centro da sala a procura minha bolsa com armas, mas me lembro que ela está dentro do porta-malas, com as outras. Quando olho em volta e vejo as meninas acuadas sinto uma raiva desumana explodir dentro do meu peito e me obrigo a pensar.

Preciso encontrar uma saída. Preciso tirar elas daqui.

 Pensa, Pensa.

— Gustavo, o que a gente faz?

Ouço o Felipe perguntar mas não respondo. Simplesmente por que não sei o que dizer. Passei anos da minha vida aprendendo como entrar e sair sem ser visto, a ver saídas em momentos que pareciam não ter chance alguma. Mas agora, justo agora, não consigo encontrar uma saída.

Giro em tonro do meu eixo tentando encontrar uma solução, mas é impossível. Todas as saídas estão bloqueadas e duas pistolas não chegam nem perto de ser o suficiente contra o que eles possivelmente tem. E eu não posso arriscar a vida deles em troco de nada.

É uma batalha perdida.

Consigo ouvir mais alto agora o som dos passos ecoando na escada da frente e conto pelo menos dez deles. Um barulho ainda mais forte explode na porta da cozinha e agora tenho certeza de que a casa está cercada.

—O que a gente vai fazer? Gustavo?

— Nada. __ digo e meu instintos gritam dentro de mim.

— O que? __ o Felipe tá transtornado.

— Prestem atenção. __ olho firme para as duas. — Eles vão entrar e levar vocês.

As duas estão chorando e se desesperam ainda mais quando eu assumo que não posso evitar o que está prestes a acontecer. Apesar de saber que algumas vezes é preciso perder pra ganhar, ainda assim, não consigo evitar que o desespero se aposse de mim. O barulho alto da primeira investida na porta da frente as assusta e ela ameaça ceder.

— Não posso impedir que eles entrem e levem vocês agora. __ mais uma investida e dessa vez acho que a porta vai ceder, mas resiste. — Não importa o que aconteça, nós vamos proteger vocês. Mas eu prometo, pela minha vida, que vou encontrar vocês e matar quem está por trás disso.

Quando fecho minha boca a porta de  madeira desiste e a tranca cede a última investida. Pelo menos dez homens invadem a sala com fuzis nas mãos e eu prendo a respiração. Preciso lutar fervorosamente contra o impulso de sacar minha arma e me forço ao controle.

Em milésimos estamos cercados por todos os lados e todos os fuzis estão apontado diretamente para nós. Me sinto como um rato dentro da gaiola e meus instintos gritam me pedindo para fazer alguma coisa.

— Levantem as mãos. __ um deles, o que parece ser o líder, grita.

As meninas me olham e eu me obrigo a fazer o que ele pediu para que elas entendam e façam o mesmo. Dois deles avançam até o Felipe e eu e nos revistam. Sinto a pistola ser retirada de mim. Eles viram e se aproximam delas.

— Não ouse tocar nelas. __ minhas voz é baixa e contida.

Eles me olham, mas não respondem. O lider deles caminha e para na minha frente. Não desvio o olhar do dele e tenho certeza que ele entendeu o recado.

Se ousarem tocar nas duas, eu os mato.

Ele sorri e uma pancada forte e repentina acerta minha nuca. Meu corpo desaba no chão e uma dor descomunal se espalha pela minha cabeça. Ouço as meninas gritarem e quando tento me levantar, não consigo. Mnha visão está turba e eu mal consigo ouvir o que eles dizem. Ouço um baque oco ao meu lado e quando viro meu rosto e vejo a imagem destorcida do Felipe caído ao meu lado.

Tento me levantar mais uma vez e recebo um chute forte das costelas. A dor me impede de respirar e meu peito queima pela falta do oxigênio. Alguém coloca um saco preto da minha cabeça e a última coisa que ouço antes de apagar, é a Alice gritando.

60º Capítulo – “Não posso impedir que levem vocês.”