Sorria, faça um pedido escrita por SrtaLili


Capítulo 2
Capitulo 2


Notas iniciais do capítulo

Olá ^_^
Como prometido a segunda parte



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Foi fácil perceber em minutos que sem dinheiro eu não tinha um único lugar para ir aquela noite. Acabei estacionando em frente a uma banca em busca de informações.

 

— Com licença, por favor – pedi ao senhor da banca de jornal, um pouco incerta de que conseguiria realmente arranjar o que queria. – Sabe me dizer, se existe alguma biblioteca aberta aqui por perto essa hora?

 

— A essa hora receio que não dona. É tarde demais.

 

— uhn e uma livraria? – ele franziu a testa –  eu estou...esperando por alguém, e gostaria de arrumar um livro para me entreter

 

— Não tem nada aqui essa hora, mais tem um Shopping, ou pode ir pra outro bairro. Lamento – assenti – ah, tem o ACCAmargo.

 

— O que?

 

— O hospital. Do Câncer – o olhei horrorizada – bem, eles tem uma biblioteca lá, sei porque minha comadre fez uma doação. Fica na rua de trás, é só perguntar se não encontrar, mais você irá.

 

Eu o encarei enjoada. Eu odiava hospitais desde sempre. E certamente que um lugar assim, seria o último a se escolher para passar o tempo.

 

— Obrigada – voltei para o carro pensando em voltar para casa, abaixar a cabeça para o desapontamento que meu pai me concederia, e aguentar as horas restantes do meu ''momento''. Só que assim que comecei a dirigir, eu automaticamente fui para o tal hospital. Gelei ao estacionar. Que porcaria eu estava fazendo?

 

— É só um livro – murmurei para mim mesma. – vou conseguir meu livro, e matar o tempo.

 

A palavra matar, não combinou bem com o lugar que eu estava prestes a entrar, e eu tremi. Hospitais me davam arrepios, desde a morte de mamãe. A falta de tato do meu pai, e a necessidade de chamar a atenção pro restante da família, fez com que ele me levasse para o hospital que ela teve seus últimos momentos, o que resultou em eu ficar horas esquecida naquele lugar. Talvez tivessem sido apenas minutos. Não importava.

 

Minha mãe havia espatifado o carro em algum lugar, enquanto papai estava com a amante da vez. Sua morte foi um escândalo para a família, assim como ele trazer para a mansão sua futura esposa nº 2, Luciana, com seu filho ilegítimo Leonardo apenas dias após o enterro. A disputa pela herança de minha mãe também acarretou em inúmeras brigas entre a família, com dezenas de parentes interessados em mim. Não me lembro de muita coisa daqueles dias. Mas os momentos em que permaneci sozinha, abraçando minhas pernas naquele maldito hospital gelado, e assustador eu nunca esqueci.

 

— Boa noite. Onde fica a biblioteca?  – a recepcionista me encarou

 

— Temos uma sessão de lazer, próximo a ala infantil – eu tremi – Tem brinquedos e revistas lá, assim como livros. Procura alguém?

 

— Estou esperando uma pessoa. – menti novamente, até porque a verdade de que estava fugindo do meu próprio aniversário era absurda demais. – Só queria me distrair.

 

Ela me indicou como chegar até lá.

 

Eu costumava odiar meu aniversário. Quando eu era pequena, papai e mamãe aproveitavam a data para mostrarem a todos a família feliz que não éramos e faziam festas desnecessárias que sempre acabavam com bêbados gritando, brigas e taças quebradas, e uma garotinha chorando até dormir. Após a partida de minha mãe, Luciana garantiu que meu meio irmão Leonardo fosse o centro das atenções, já que seu filho segundo ela havia sido menosprezado a vida inteira. Eu gostava do meu irmão. E por um tempo parecia ser recíproco. O garotinho 4 anos mais novo que eu corria para minha cama, brincávamos de viajar pelo universo intergalático, e aqueles momentos eu sentia que tinha uma família de verdade. Até que ele parou de fazer isso. Mesmo depois que Luciana e papai se separaram ele continuou conosco. Só que eu não fazia mais parte de sua vida. Por alguma razão  fui sendo excluída, e apenas agradar o nosso pai interessava a ele. No meu aniversário de 15 anos, papai dera uma festa de verdade para mim, como aquelas que não aconteciam faz tempo. Eu e Leo dançamos, e também valsei com meu pai me permitindo fingir que aquilo tudo era para mim.

 

Mas nunca era. Eu apenas era uma bonequinha nas mãos de meu pai, sendo exibida para toda a sociedade. E meu irmão só queria se embebedar escondido apesar de ser apenas uma criança. Eu odiava aquele dia com todas as minhas forças.


Porque nada, nunca era bom nele.


Queria fugir dessa data e fingir que era apenas um dia como outro qualquer. Tanto que acabei em um hospital de câncer. Quem diabos iria pra um lugar assim pra matar o tempo? 


Bom eu estava lá. Conforme percorria os corredores, esperava encontrar uma multidão de pessoas carecas. Eu era uma estúpida e sabia disso. 
Na verdade o hospital estava quase deserto. Com exceção de algumas enfermeiras fazendo o seu trabalho, não se via quase ninguém ali. Ótimo! No final daquele andar, havia uma sala vazia com sofás, brinquedos e estantes. Finalmente. Comecei a correr as mãos pelos exemplares ali, em busca de algo grande e capaz de me distrair o suficiente até que as horas passassem e eu pudesse voltar pra casa. Não havia nada ali que me interessasse no entanto. Bufei. O que eu estava pensando em fazer ali? Esse era o pior aniversário de todos os tempos.

 

— Bem Stella, – me joguei em um dos sofás enormes afundando – feliz aniversário pra você!

 

— É o seu aniversário? – uma vozinha me trouxe de volta a realidade.

 

Dei um pulo. Quando entrei, não tinha ninguém. Comecei a olhar em volta, prestes a constatar que agora também estava louca, ao me deparar com um pequeno ser que não havia reparado antes.

 

— Oi!! – ela sorriu para mim.

 

Era uma garotinha realmente miúda, usando um vestido florido rodado, com uma calça e blusa grossos por baixo. Me questionei o porque já que não estava tão frio assim. Ela tinha grandes olhos cor de mel, e um cabelo longo castanho caindo até o final de suas costas. Me encarava com um sorriso que indicava que deveria ser uma criaturinha terrível.

 

Já fazia muito tempo que não confraternizava com uma criança. Não soube como agir.

 

— Seu nome é Stella?

 

— Sim. – ela riu. O que era tão divertido afinal?

 

— E hoje é o seu aniversário?

 

— Ahn...sim. – ela deu um pulo animada me fazendo recuar. Parecia que meu aniversário era mais importante para ela do que para mim.

 

— Hoje é o meu aniversário também!! – ela bateu palmas, deixando um urso que estava em seus braços cair. Minha boca escancarou.

 

— Sério? – perguntei incrédula.

 

— E o meu nome é Estrela. Igual ao seu.

 

— Meu nome é Stella.

 

— É a mesma coisa – pensei em argumentar, mais era verdade afinal. Como ela sabia isso, era um mistério. Ou não, crianças são incrivelmente inteligentes.

E diabólicas.

 

— Onde é a sua festa? – ela começou a olhar ao redor, como se a qualquer momento vários convidados se materializassem.

 

— Eu não...a minha festa...está um pouco longe daqui.

 

— Ué? – ela inclinou a cabeça para o lado como um cachorrinho. – E porque você não está lá?

 

— Porque não parecia ser pra mim – desabafei sincera, com aquele serzinho que provavelmente não entenderia. – Acho que ninguém se importa com meu aniversário.

 

Seu sorriso pela primeira vez sumiu de seu rosto.

 

— Não pode. É o seu dia mais feliz.

 

— Acho que nunca tive um dia mais feliz. Por isso fugi da minha festa.

 

— A festa que não era sua festa?

 

— É – dei um sorriso. O primeiro realmente verdadeiro hoje.

 

— Eu tenho uma festa aqui!! E é pra mim!!

 

— Que bom. E porque não está lá?

 

— Porque o meu pai ia contar uma historinha. E eu disse que ia escolher qual.

 

— Ah sim, então veio até aqui, pra escolher um livro certo? – ela confirmou alegre.

 

— Só que acabei não decidindo. Ele vai ter que improvistar.

 

— Improvisar você quis dizer?

 

— É! – ela riu e eu ri de volta. Como uma garotinha que eu jamais havia visto conseguia me divertir com absolutamente nada, era impressionante.

 

— Estrela? – uma voz masculina chamou nossa atenção. Um homem estava na entrada da sala nos encarando com um semblante preocupado. – Você demorou.

 

— É porque eu estava conversando com a minha nova amiga – aparentemente eu era essa – Ela tem o mesmo nome que eu papai e adivinha? Hoje é o aniversário dela também!!

 

Os olhos dele se arregalaram e ele deu passos rápidos até nós duas, a puxando pra trás.

 

— Desculpe, nos conhecemos? Nunca te vi aqui? É familiar de alguma das crianças?

 

Acho que a sede de perguntas da pequena era hereditária.

 

— Na verdade não. Sou Stella, e só..estava aqui.

 

Me senti uma idiota. Não estávamos em um shopping. Apenas familiares e pacientes além dos profissionais estariam por ali. Eu deveria ser uma sequestradora ou uma maluca aos olhos de um pai preocupado.

 

Pai..

 

Foi então que eu tive um estalo. Voltei os olhos para a pequena Estrela que estava sendo espremida para trás por seu pai, seu sorriso mostrando adoráveis convinhas. Ela parecia bem. Realmente bem. Só que bastava uma segunda olhada para capturar os detalhes antes despercebidos por mim. O agasalho que ela usava por baixo do vestido, em uma noite quente. O longo cabelo comprido que agora que o pai a puxava estava torto. A pulseirinha do hospital em seu pulso.

 

 ''Eu tenho uma festa aqui!! E é pra mim!!'' ela me disse antes.

 

Uma criança só estaria aqui a essa hora se fosse uma paciente.

 

A adorável Estrela tinha câncer.


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Notas finais do capítulo

Bem é isso. Ainda teremos umas 2 ou 3 partes. Estou incerta de como dividir pra não ficar grande demais. Espero que gostem. Beijossss



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