Sorria, faça um pedido escrita por SrtaLili


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoinhas ^_^ sabe, recomeçar é bastante difícil, e aqui estou eu depois de um longo tempo. Era pra ser uma OneShot, só que eu tenho sérios problemas em escrever pouco, e percebi que teria de dividir a história em uns 3 ou 4 caps. Por favor leiam tudo para realmente entenderem a história. Mas espero ansiosamente que gostem ♥



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Me pergunto quantos sorrisos amargos  ainda seria capaz de dar aquela noite. Depois que você assume uma postura hipócrita, é como se todos ao seu redor se moldassem a você.

 

Meu pai entretanto era todos sorrisos em seu palanque improvisado.

 

— E é por isso que me orgulho da força e do poder da nossa família! Graças a nossa garra, as empresas Paiva e Correa subiram do 23º lugar diretamente para o top 5 esse ano! – Todos gritaram vivas – Nada nos deterá no próximo não acham?

 

Todos pareciam imensamente compenetrados em lamber o chão que ele pisava. Meu irmão Leonardo parecia satisfeito demais por ser o centro das atenções junto de papai, apesar de tecnicamente aquela noite fosse voltada para mim. Certamente que já haviam se esquecido. Seria um milagre se sequer tivessem me notado.

 

— Stella, esse vestido é um Valentino com certeza.

 

— O que? – me desliguei completamente por um momento, voltando a atenção a conversa que me rodeava em minha mesa. – Não, não, eu só comprei aqui mesmo, isto é ele nem é de uma marca importante, foi em uma boutique pequena. Posso lhe passar o cartão depois.

 

Minha colega de faculdade Adriele torceu o nariz, assentindo com a cabeça. Obviamente ela não iria querer, na realidade um artigo simples, independente do que fosse jamais interessaria a qualquer ser vivo naquela festa. Minha festa.

 

Aquele era o meu aniversário.

 

E com exceção dos comprimentos obrigatórios que me eram dirigidos, e meu quarto repleto de presentes que em sua maioria eu jamais usaria, nada ali parecia realmente para mim.

 

A ascensão dos grupos imobiliários do meu pai no último ano, transformaram a nossa vida em um único e limitado tópico: Ele próprio. Claro que se fossemos analisar a minha vida inteira, sempre foi assim mesmo.

 

''Ele foi obrigado a se casar jovem demais com a namorada grávida'' ''Ele se esforçou, mais era infeliz no casamento'' ''Ele cometeu pequenos deslizes'' ''Os pequenos deslizes lhe renderam um filho bastardo, o filho homem que ele sempre quisera'' ''Ele sofre com o desequilíbrio da esposa'' ''Ele lamenta a perda da esposa'' ''Ele lida com as conseqüências de cuidar de sua filha órfã e frágil'' Ele, ele, ele...

 

Hoje completo 27 anos de uma vida miserável. E ELE era o pai. ELE era o anfitrião. ELE organizara uma festa para 300 convidados, cujos quais eu deveria conhecer no máximo 30. Olhar para ele era como escutar um disco riscado. Pior do que isso, vê-lo com sua cumplicidade com meu irmão, esquecendo-se de pensar em mim uma única vez, me conduzia a velha desilusão de que jamais iria conseguir fazer parte realmente de sua vida. Minha existência era vazia, e estar ali não tinha nenhum sentido. Como viver também não.

 

— Stella feliz aniversário. – alguém fez uma pequena reverência, o que me deu uma enorme vontade de rir. Eu não pertencia a realeza, apesar de me lembrar de quando mamãe me vestia como uma princesa, na época em que ainda ficava sóbria. Se ela ainda fosse viva, estaria no vigésimo drink, exibindo o seu mais precioso conjunto de jóias, disputando a atenção com a amante da vez de papai, que parecia mais nova do que eu.

 

Inferno ela parecia mais nova que Leonardo.

 

— Com licença, preciso ir ao toalete. – me levantei e virei as costas sem me importar que alguém notaria minha ausência. Meu pai certamente não sentiria minha falta, com seu filho promissor do lado, e todos os empresários e políticos ao seu redor, explodindo em gargalhadas, com assuntos que não me interessavam em nada.

 

Subi ao quarto soltando o coque que prendia todo aquele meu cabelo rebelde, liberando os cachos cheios de volume. Era a única coisa que eu herdara da minha mãe, apesar de meu pai costumar dizer que eu era inútil e tola como ela. Retirei minhas jóias, colocando o crucifixo de prata que pertenceu a minha avó materna.

 

Depois da morte da minha mãe, quando papai trouxe Leonardo e a mãe dele para morarem conosco, vovó implorou para que meu pai lhe cedesse a minha guarda. Em resposta, ele nos levara para uma temporada na Alemanha longe dela, e não permitiu que falasse com ela nem uma única vez. Oito meses mais tarde ela morreu também, e eu sequer pude me despedir.

 

Também não me despedi de minha mãe, que havia me deixado dormindo sozinha para ir atrás de meu pai, e nunca mais voltou. O acidente tirou a vida dela. Mas eu sabia que ela já havia partido muito antes disso, se rendendo ao álcool e aos remédios. Eu já estava terrivelmente sozinha, aos oito anos.

 

E permanecia assim até hoje. Me pergunto se algum dia vou ser como ela, herdando não apenas o seu cabelo, como também sua depressão e desilusão com a vida.

 

Olhei rapidamente os pacotes espalhados pelo meu quarto, nenhum realmente despertando minha atenção, e caminhei até a varanda olhando para o céu. Estava iluminado pelas estrelas, a brisa do vento balançando meus cabelos. Qualquer lugar do mundo parecia melhor do que ali. E nenhum lugar parecia ter espaço para mim.

 

Eu estava com o corpo presente aqui e com a mente vagando pela imensidão do desconhecido, mais nenhum lugar era meu de verdade, eu era puxada em várias direções, não existindo em nenhuma.

 

Suspirei e peguei minhas chaves, descendo e saindo pela cozinha. Em algum momento, apenas porque o protocolo mandava, meu pai Fabio Correa iria me chamar para iniciar algum discurso de mérito próprio. Só que não estaria ali. Em uma farsa, uma série de mentiras em um local cheio de alienados. Peguei meu carro e saí sem rumo, buscando entre o nada, em uma noite silenciosa.

 

Foi quando eu percebi que deixei todos os cartões, documentos e dinheiro na bolsa em casa, e que a única coisa que eu conseguiria é andar desnorteada pelas ruas da noite paulista.

 

 — Que aniversário perfeito – suspirei rendida saindo do carro e olhando para o céu – Se existe alguma justiça nesse mundo, eu merecia algum tipo de presente ou benção essa noite não? – disse incerta de pra onde realmente olhava.

 

Por um milésimo de segundo vi uma estrela destoando das outras, brilhando tão intensamente que eu me assustei dando um passo para trás. Dei uma segunda olhada e tudo parecia normal.

 

 – Ok. – falei comigo mesma. ou talvez com minha amiga brilhante no céu. – Vamos ver o que essa noite me reserva.


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Notas finais do capítulo

E é isso. Comentem por favor! Prometo postar a outra parte, amanhã ou segunda ;)
Beijocas



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