Meu pesadelo no seu sonhar escrita por lelexc


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

A história é one-shot (tem apenas um capítulo)
Se encontrar algum erro sinta-se a vontade para me avisar educadamente



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Quando seus pais morreram Breu, que não tinha mais nenhum parente vivo, foi enviado para o orfanato Luz do luar, localizado no centro de uma pequena cidade cercada em todas as direções por uma floresta densa. 

  Mesmo tendo crescido ali nunca sentiu o lugar como sua casa. As freiras queriam que ele acreditasse em algo que não acreditava, os outros meninos eram egoístas, cruéis e tinham prazer em zombar dos mais fracos, os quartos eram tão próximos e as paredes tão finas que era possível ouvir o mais leve movimento em qualquer lugar da casa e nunca, nunca mesmo, acontecia nada de diferente, todo dia era igual e as semanas passavam se arrastando sem nada que as diferenciasse. Com o passar dos anos tudo que ele mais queria era fugir dali, ir para uma cidade grande onde as casas fossem maiores, as pessoas mais legais e coisas emocionantes acontecessem. 

  O menino tinha inclusive um plano: quando fosse sua vez de ajudar a preparar o jantar esconderia alguns suprimentos numa mochila embaixo da pia, depois da janta quando todos estivessem dormindo sairia de fininho pela janela do segundo andar, escorregaria pelo cano até o chão e pegaria a rua de trás da casa do  padeiro, onde a luz era mais fraca, até a margem da floresta e dali seguiria em frente até chegar á próxima cidade. Era um plano excelente e ele havia decidido que o colocaria em prática assim que possível, mas a chegada de um menino novo adiou sua partida. 

  O recém chegado era um menino mais novo, baixinho, rechonchudo, cabelo loiro espetado, chamado Sandman, o total contrário do outro com sua altura, magreza e cabelo negro, além disso gaguejava demais e era incapaz de terminar qualquer frase sem recorrer á linguagem de sinais. Era um alvo fácil para zombaria e Breu logo se viu com pena e defendendo o menino.

  Ele se meteu em diversas brigas por causa disso, cuidou dos machucados de Sand, discutia com quem falava mal do mais novo, até que passou do ponto da pena e se interessou em aprender linguagem de sinais para se comunicar com ele, se preocupou com como o outro estava se sentindo, fez de tudo para deixar o menino alegre, virou seu amigo.

  Com o passar do tempo a amizade ia crescendo, piadas internas iam surgindo, os dois pareciam mais alegres, estavam tão próximos quanto era possível, mas as brincadeiras de mal gosto das outras crianças continuavam e feriam seu novo amigo. Foi quando Breu se lembrou do plano, se ele pegasse um pouco mais de comida e água  talvez desse para os dois. Eles conversaram sobre o assunto, revisaram os detalhes e se resolveram: na noite seguinte aconteceria a fuga.

  Naquela noite os dois sonharam com a cidade nova: eles moravam juntos numa casa enorme, brincavam até não poder mais no jardim, conversavam até caírem no sono e dormiam juntos todas as noites sem que ninguém os incomodasse ou risse deles. Era a vida perfeita.

  Na noite seguinte tudo correu conforme o planejado, os dois esconderam suprimentos na mochila, desceram pelo cano e caminharam até a floresta, quando estavam lá um olhou para o outro procurando qualquer sinal de incerteza, mas não havia tal pensamento na cabeça de nenhum então prosseguiram. 

  O destino era a cidade mais próxima, mesmo que nenhum dos dois soubesse qual seria ou em que direção ficava, o que era necessário estava na mochila, mas pensando bem um casaco extra não teria sido de todo ruim afinal a noite estava esfriando, e a confiança e determinação cega dos meninos estavam estampadas em suas faces junto com os sorrisos que iam de canto a canto do rosto.

  Os dois seguiram durante dias sem um rumo definido. A água acabou, a comida acabou, a confiança sumiu, a floresta parecia se estender por centenas de quilômetros em todas as direções, o clima esfriava, as vezes caia neve durante a noite, eles não sabiam o que fazer, só seguiam em frente rezando para encontrar uma cidade, uma estrada, qualquer coisa que mostrasse que estavam perto. 

  A cada problema que aparecia eles davam um jeito de contornar. Se não havia água eles derretiam a neve, se não havia comida pegavam frutas ou folhas nas árvores, se ficava muito frio se abraçavam para ficarem aquecidos. Até que um problema não pôde ser contornado.

  Sandman começou a se cansar muito rápido, sentir frio sem o tempo estar gelado, suar ao mesmo tempo em que tremia, a febre havia tomado conta dele o fazendo delirar e falar alucinadamente sobre os sonhos. 

  Breu fez tudo que podia para diminuir a febre, o abraçou para mantê-lo aquecido, tentou conversar com o amigo, mas tudo que ele sabia dizer era sobre o poder de sonhar, sobre como no mundo dos sonhos, com a magia, tudo era possível.

  O mais velho o carregou, se recusou a desistir ou a aceitar a verdade, ouviu atento ao que o outro dizia, tentou mantê-lo confortável, se esforçou o máximo que conseguiu, mas no fim foi tudo em vão. Sand morreu naquele mesmo dia enquanto sonhava com o Sol.

  No dia seguinte o resgate apareceu, mas não encontrou o que esperava, os dois meninos alegres que só sabiam rir na presença um do outro, tudo que encontrou naquela clareira foi um menino com o coração despedaçado chorando sobre um corpo rígido e sem vida. 

  O menino nunca se recuperou, ficou se culpando pelo acontecido, teve pesadelos com a morte do amigo, milhares deles, cenas horríveis que se repetiram todos os dias até que morreu também alguns anos depois. 

  Após a morte os dois se encontraram, mas nada restava da vida anterior além da aparência e das conseqüências daquela última aventura. Nada de amizade, nada de lembranças, apenas sonhos e pesadelos. 

 


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Notas finais do capítulo

Caso haja algum erro sinto muito