Katniss ficaria doente só de olhar. Por mais que ela quisesse convencer a si mesmo de que ver Peeta aos beijos com sua irmã não a incomodasse, isso estava longe de ser verdade. A verdade é que doía, era como se várias facas travessassem seu coração a cada sorriso, caricia, beijo, toque, e brincadeira entre Peeta e Sophie.

Ela definitivamente iria vomitar. É claro que estava feliz por sua irmã, mas uma parte dela, aquela mais egoísta, secretamente desejava que fosse ela no lugar de Sophie. Desejava que Peeta a acordasse todos os dias com beijos carinhosos e uma bandeja com seu café da manhã preferido, como ele fazia com Sophie, desejava que fosse pra ela que ele iria dedicar cada cesta de basquete acertada, como ele fazia com Sophie. E que quando ela estivesse tremendo de frio, ele iria cobri-la com seu casaco três vezes maior do que ela, quando estivesse triste passaria a tarde inteira de baixo das cobertas assistindo sua série preferida, que ele odeia, mas assiste porque sabe que vai faze-la sentir-se fazer melhor. Exatamente como ele fazia com Sophie, que ela tinha que relembrar a cada cinco minutos, era sua irmã.

—Anda logo Katniss.—Sophie revirou os olhos, se soltando de Peeta, agarrando a mão da irmã e a puxando para subir as escadas com ela.

Katniss, Sophie e Peeta haviam a recém chegado na escola. E pra ajudar ainda estavam atrasados. Os saltos de Sophie estalavam nas escadas, e Katniss bufava atrás da irmã, enquanto a mesma e Peeta riam de sua cara.

Assim que adentraram a Panem School, as gêmeas Everdeen congelaram, todos os olhares haviam se virado para elas, todos os outros alunos mantinha expressões apavoradas e de longe, uma ruiva pode ser vista arrancando alguma coisa das paredes, pareciam fotos, e eram muitas...Annie Cresta, é com certeza era Annie. Ainda puderam ver que um loiro alto a ajudava a tirar as coisas da parede rapidamente, era Cato, irmão de Peeta.

Os três se aproximaram confusos, e assim que foram percebidos pelos amigos uma tensão se instalou no local.

—Que caras de constipados são essas?—Sophie brincou, tentando aliviar a tensão, o que não funcionou nada bem.

—Sophie, oi!—Annie gritou falsamente animada, passando as fotos que tinha em suas mãos tremulas para Cato, com uma expressão meio assustada.

—Oi Ann.—Sophie respondeu ainda mais confusa com toda a situação.—O que é isso Cato?—perguntou desconfiada, fazendo o loiro esconder as fotos atrás de si.

—Isso o que?—perguntou inocente, fazendo Annie bater na própria testa, não tinha mais jeito, a ruiva sabia que Sophie iria descobrir.

Sophie arrancou as fotos das mãos de Cato, analisando seu conteúdo. Ela lentamente girou nos calcanhares, se virando para encarar seu namorado e sua irmã ali parados na sua frente com um olhar de confusão, totalmente alheios ao que eram aquelas fotos. Ela simplesmente não tinha palavras para descrever como se sentia agora, traída não era o suficiente. Na foto em suas mãos haviam duas imagens, e em ambas, Peeta e Katniss estavam se beijando.

—Agora eu entendi porque você estava tão diferente quando voltou daquele acampamento!—Sophie falou irônica jogando as fotos em cima dos dois, que assim que perceberam do que se tratava, assumiram olhares de culpa.

—Sophie eu...

—Não quero falar com você agora.—ela cortou Katniss sendo curta e grossa, saindo de lá com os saltos estalando no corredor.

Era isso, agora Sophie sabia.

Você pode estar confuso, ou provavelmente pensando que Katniss é uma pessoa horrível por secretamente, ou não tão secretamente assim considerando que todos sabem, ser apaixonada pelo namorado da sua irmã, mas a história não é bem assim. Tudo começou a quase três meses atrás, ela lembrava perfeitamente de como toda essa bagunça havia começado...

Três meses antes...

POV Katniss Everdeen

Estou a quase uma hora sentada no aeroporto de Los Angeles, esperando meu pai aparecer para me levar pra casa...e ainda nada. Urgh, eu devia ter respondido que queria ficar com meu avô quando o juiz me pediu para decidir aonde eu queria morar, agora que minha mãe morreu. Já faz quase um mês, e tudo me lembra ela. Não era a mãe mais presente do mundo, mas ainda assim, era a minha mãe.

Não posso dizer que estou voltando para Los Angeles depois de tanto tempo pelo meu pai, na verdade desde que me mudei pra Londres com minha mãe há 13 anos atrás foram poucas as vezes que ele falou comigo, só me ligava no meu aniversário e no natal. Mas ainda assim é bom voltar, não vejo a hora de ver Primrose e Sophie de novo, minhas duas irmãs. Depois do divórcio meu pai se recusou a abrir mão de Prim e bem, Sophie sempre foi mais apegada a ele, então minha mãe acatou a decisão de uma garotinha de quatro anos de idade e a deixou ficar.

Sophie e eu nos falávamos o tempo inteiro no começo, e então os anos foram se passando, e já com 11 anos, nem lembrávamos mais uma da outra. Ela e Prim vinham no natal, e sempre me ligavam no meu aniversário, mas nunca foi a mesma coisa.

Eu nem mesmo usava o sobrenome do meu pai, acostumei a usar o da minha mãe, o de solteiro, claro. Depois do meu pai ela nunca mais teve ninguém, ela só pensava em trabalho e algo me diz que mesmo depois de anos, ela nunca parou de ama-lo.

E  outro motivo pelo qual eu escolhi morar com meu pai ao invés de ficar em Londres com o meu avô, foi ele. O garoto com os olhos azuis mais brilhantes e bonitos que eu já vi na minha vida. Peeta Mellark, o garoto que eu conheci nas duas semanas que passei no Camp Hiho, um acampamento que recebe alunos de escolas particulares de todo o mundo.

Posso dizer que aquelas duas semanas foram as melhores da minha vida, conheci seus amigos que são pessoas incríveis, e ele foi maravilhoso comigo o tempo inteiro, parte de mim espera que eu vá encontra-lo afinal, agora estamos na mesma cidade, e daí que é a cidade mais populosa dos Estados Unidos? Pelo menos estamos mais perto.

—Ai meu Deus, Kitkat?—uma voz feminina me chamou, e mesmo não escutando aquela voz a muito tempo, eu sabia exatamente a quem ela pertencia. A única pessoa que me chamava de Kitkat.—tirando Finnick, meu melhor amigo de Londres, que depois que viu escrito em uma carta que minha irmã me mandou quando tínhamos 6 anos aderiu ao apelido.—Era Sophie.

Me virei meio enrolada por causa das malas, encarando uma morena absurdamente linda a minha frente, essa genética é uma coisa maravilhosa. Sophie estava sorrindo de orelha a orelha e eu não pensei duas vezes antes de largar minhas malas no chão do aeroporto e correr em sua direção.

—Soph.—a abracei apertado.—Deus, eu senti sua falta!

—Também senti sua falta.—ela me afastou me analisando um pouco e sorriu.—Deus, nossa genética é tão maravilhosa.—Taí uma coisa que eu senti falta, a chamada “conexão gêmeas”, eu penso, ela fala e vice-versa.

Ah é, tem isso. Sophie e eu somos gêmeas, não idênticas. Mas alguns traços eras os mesmos, como a cor dos cabelos, a altura e a pele clara, que puxamos do nosso pai.

—E não é?—joguei meu cabelo por cima do ombro de brincadeira, e ela riu.

—Vem, o papai e a Prim estão esperando a gente no carro.—Sophie falou agarrando uma das minhas malas, me fazendo agradece-la com um olhar.—Ah, vai ser tão legal te ter por aqui, você vai adorar a nossa casa e a escola, ah e eu ainda quero te apresentar meu namorado mocinha, não pense que vai escapar!

—Eu não pensaria nisso nem por um segundo.—reviro os olhos, mas ela não pode ver pois está na minha frente.

—Não revira os olhos pra mim garota, jogo meu salto alto em você!

—Como você...?

—Não importa quanto tempo passe KitKat, conexão de gêmeas nunca falha.

Quando chegamos no carro, meu pai fez questão de descer, me dando um abraço apertado e se desculpando por não estar lá por mim quando minha mãe ainda estava no hospital a beira da morte. Prim me abraçou logo em seguida, Deus essa garota estava grande, já tinha quinze anos, seus cabelos loiros estavam maiores e os olhinhos azuis mais brilhantes do que nunca...olhos azuis iguais aos do Peeta.

Quando chegamos em casa, os enormes portões se abriram revelando uma verdadeira mansão. Quando foi que meu pai ficou rico mesmo? Preciso lembrar de perguntar isso para Sophie depois. O carro adentrou os portões, parando em frente a porta dupla da casa. Não foi surpresa quando entrei e vi que a casa era tão linda por dentro quanto por fora.

Sophie fez questão de me mostrar meu quarto, que era uma replica exata do meu quarto em Londres, pelo que entendi, o papai queria que eu me sentisse mais em casa, sorri, apreciando o fato dele estar ao menos tentando.

Não demorei muito para colocar minhas coisas no lugar, Sophie e Prim me ajudaram. Já estava perto das três da tarde, quando a campainha tocou, Sophie que até então estava no meu quarto me contando sobre o papai e a nova namorada irritante dele saiu correndo para atender.

—Provavelmente o namorado dela chegou.—Prim explicou dando de ombros.

—E ele é legal? Quero dizer, com ela.

—Ele mima Sophie até ela dizer chega, trata ela como se fosse uma princesa. Eles são melhores amigos de infância, na verdade ele se mudou com os pais e o irmão mais velho pra casa ao lado dois meses depois que você e a mamãe foram embora.—ela respondeu dando de ombros e pelo que ela disse, Sophie tinha tirado a sorte grande.

—Então eles se conhecem a muito tempo?

—Uhum, na escola apelidaram os dois de “it-casal”, sabe aqueles casais perfeitos de filme adolescente?—perguntou rindo e eu assenti.—Pois é, são eles.

—KATNISS, DESCE AQUI.—ouvi Sophie gritando no andar de baixo.—RÁPIDO GAROTA!

—Acho melhor você descer antes que ela venha te buscar, e te leve arrastada, falo por experiência própria.—ri de Prim e rolei para fora da cama, indo em direção a porta.

Desci as escadas correndo, indo dando direito na sala, Sophie estava sorrindo, suas mãos estavam ao redor de um garoto loiro que até então estava de costas.

—Kat, esse é meu namorado.—o garoto virou, e então eu congelei. Era ele.—Peeta!

Peeta arregalou os olhos ao me ver. Isso não pode estar acontecendo, não, não, não e não. Eu não acredito, não. Eu dormi com o namorado da minha irmã naquele acampamento, ai meu Deus.

—Você...—falamos ao mesmo tempo, na verdade saiu mais como um sussurro.

Sophie levantou a sobrancelha em confusão, alternando o olhar entre nos dois, e cruzando os braços logo em seguida.

—Vocês já se conhecem?

—Ah sim, conheci sua irmã no acampamento amor, só não sabia que era sua irmã.—ele respondeu sorrindo nervosamente para ela.

—Ah, sim, ela costuma usar o sobrenome da nossa mãe ao invés do pai, deve ter conhecido ela como Katniss Snow, certo?—ela sorriu, ainda totalmente alheia a tensão que se instalou nessa sala.

—Isso!

Isso só podia ser um pesadelo. Os olhos azuis que vinham rondando meus pensamentos já tinham dona. E o pior, era a minha irmã.

Eu estava muito ferrada!

—Sophie Everdeen