Reaching You escrita por Bloody Tsuki


Capítulo 1
Armadilhas para pegar um tigre


Notas iniciais do capítulo

Tentei escrever algo no clima do anime, espero que tenha conseguido.

Os (*) na história são spoilers do mangá, se você não leu, não se preocupe, estarão todos explicadinhos nas notas finais.


Muito obrigada a todos que lerem!



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Para toda a Agencia de Detetives, vinha sendo uma semana bem comum (na definição deles de comum), mas não para Osamu Dazai. De maneira alguma! Pela primeira vez estava planejando algo que tinha prioridade diante dos seus planos de suicídio a dois.

— Eu te vejo como… Uma cerejeira. - Ditou seriamente, segurando uma das mãos pálidas de Atsushi Nakajima, que o encarava completamente pasmo. - Para um observador ignorante, pode parecer uma simples árvore, mas isso porque ele não sabe que, quando flosrescem, as cerejeiras realizam um dos mais belos espetáculos da terra. - Ditou mirando profundamente aquele olhos dourados com reflexos violetas, nunca tinha se deparado com olhos tão lindos antes.

Primeiro, Atsushi engasgou, depois gaguejou, depois começou a corar terrivelmente como se o homem tivesse lhe dito a maior das indecências possíveis, o que quase fez o mais velho rir enquanto já avançava para o próximo passo.

Bem, isso se Kenji não tivesse aparecido no segundo seguinte.

— Ora, que declaração bonita por demais! Tá ficando melhor nisso Dazai-san! *- Cumprimentou o garoto, dando um tapinha camarada no ombro do maior. - Desse jeito vai achar sua bela dama pra um suicídio a dois em um segundinho só! - Ditou animado em seu sotaque interiorano, saindo bem humorado, desejando sorte ao veterano que só queria derrubá-lo de uma ponte naquele momento.

— Ah, então era isso… - Comentou o homem tigre para si mesmo, como se finalmente se dando conta do óbvio. - Realmente, você é muito bom com as palavras, Dazai-san! Isso foi muito melhor do que as cantadas ridículas e sem noção que você passa na garçonete, sem duvida vai funcionar! - Respondeu na sua habitual sinceridade mordaz, sorrindo em apoio ao amigo, mas dessa vez era um sorriso que não alcançava os olhos.

Dazai quis bater em si mesmo por não ter pensado em nada bom o bastante para consertar aquele engano durante o tempo em que Atsushi demorou para se levantar e sair pela porta. Esse era o efeito que o menor tinha sobre si, nunca conseguia prever suas ações, enquanto fazer isso com a maioria das pessoas era fácil como respirar.

Quis xingar Kenji por estragar o único momento da semana inteira em que Atsushi quase levou suas palavras a sério, mas sabia que o garoto não tinha feito por mal. Na verdade, era capaz de Kenji ser uma criatura ainda mais inocente do que o próprio Atsushi, por isso eram uma dupla sempre evitada para sair em missão conjunta.

Em um breve momento de desistência, o homem de cabelos castanhos se jogou de qualquer jeito no sofá respirando fundo e recordando como tudo aquilo começou.

Se bem que… Nem ele próprio sabia quando as imagens da sua bela e refinada dama começaram a serem apagadas da sua mente e substituídas por devaneios sobre o tigre branco.

Atsushi-kun tinha olhos bonitos.

Atsushi-kun era quentinho.

Atsushi-kun podia ter se acostumado, mas nunca ignorava por completo suas piadas sobre suicídio.

Atsushi-kun via a melancolia por trás dos seus sorrisos falsos.

Atsushi-kun sempre questionava seus sumiços. Mas nunca perguntou o que havia por baixo de suas bandagens.

Atsushi-kun confiava nele, incondicionalmente.

Atsushi-kun não tinha pena de ser sincero, nenhum pouco. Nenhum pouco mesmo.

Atsushi-kun lhe lembrava um gato, e Dazai ama gatos.(*)

Atsushi-kun se preocupava com os outros, muito mais do que a si mesmo.

Atsushi-kun conseguia enxergá-lo realmente, não uma imagem idealizada, e ainda assim confiava nele.

Atsushi-kun era uma das poucas pessoas em que confiava cegamente.

Atsushi-kun conseguia pegá-lo nas suas próprias piadas. Mas só as vezes. (*)

Atsushi-kun ronrona quando recebe cafuné enquanto dorme. E isso é malditamente adorável.

Atsushi-kun faz a dor ir embora. O permite esquecer.

Atsushi-kun tem as reações mais hilárias possíveis a coisas comuns da Agência.

Atsushi-kun o faz se sentir vivo.

E para Dazai, isso é bizarro e assustador, no mesmo tanto em que é viciante.

Claro que tais percepções, sobre talvez, talvez, quem sabe, aquele albino atrapalhado ter feito algum sentimento diferente surgir em seu peito, não mudou em nada sua rotina normal.

O que diria, afinal? Sabia que se o convidasse para um suicídio duplo seria furada. Afinal, Atsushi adorava estar vivo.

Por fim, resolveu pelo mais sensato, que era ignorar aquela sensação, e aproveitar seus dias ao lado do menor.

Inevitavelmente, acabaram ficando cada vez mais e mais próximos. Dazai não se importava de ser intrometido ou de tomar (descaradamente) o espaço pessoal do mais novo, e este simplesmente não parecia desconfortável com a aproximação do veterano, então logo, entrar na Agência e encontrar Dazai jogado no colo de Atsushi para uma soneca da tarde, enquanto este lia o diário de algum caso, já não era mais uma cena estranha aos integrantes do lugar.

Bem, exceto para Kunikida (também conhecido como mãe de todos, e que essa conversa não chegue aos ouvidos dele) que sabia muito bem que Dazai nunca dava ponto sem nó, e que Atsushi definitivamente não era uma pessoa de tão fácil aproximação assim (afinal, tinha que se atravessar umas dez camadas de medo social, e mais vinte de timidez).

Em uma certa tarde, havia tido o infortúnio de acabar ficando sozinho na Agência com os dois. Atsushi tinha acidentalmente desabado de sono, cochilando na mesa de trabalho, e mais do que depressa, Dazai foi acariciar os fios prateados do menor - que mesmo tendo aquele corte que parecia feito por um aparador de grama, eram realmente macios - para ouvir o ronronado que o tigre emitia involuntariamente sempre que fazia isso.

— Não é bonitinho, Kunikida-kun? Adotamos um gato. - Sorriu naquele seu tom molenga de sempre, e de fato o loiro tinha que concordar que em muitos pontos ter Atsushi por perto lembrava a adoção de um animal. De início, o albino era doentiamente magro e assustado, pedia desculpa até por respirar e era covarde como um rato. Já agora, havia perdido muito daquela aparência de abandono, mais se assemelhando a um gato bem cuidado, e valente o bastante para desafiar um dos integrantes mais perigosos da Máfia do Porto por livre escolha.

— Que seja. - Resmungou o loiro respirando fundo. - Nakajima! - Bateu na mesa com seu caderno “Ideal”, vendo o menor pular como se tivesse levado um choque e Dazai lhe encarar como uma criança emburrada por ter tido sua diversão cortada.

— Ham? Quê…. K-K-Kunikida-san! M-Me-Me desculpe! Er… Eu só… - O coitado havia acordado tão atordoado que nem sabia por onde começar.

— Tudo bem, eu só quero conversar com você. - Ditou sério, indo em direção a porta e esperando o menor que se apressou em segui-lo.

E como Dazai já havia estranhado aquilo desde a hora em que o loiro os estava encarando demais, foi direto espiar a tal conversa.

Kunikida havia se apoiado na única mesa presente ali, sendo encarado pelo menor que estava tão nervoso que parecia se preparar para tomar uma surra. O estava sendo uma cena bem cômica, ou seria, se Dazai não tivesse um mal pressentimento quando aquilo.

— Eu vou direto ao assunto. - Ditou arrumando os óculos. - Aquele retardado aficionado em suicídio anda te perturbando muito ultimamente, então, se isso te incomodar, não hesite em enfiar a mão na cara daquele idiota, tenho certeza que nem ele sabe quando está sendo inconveniente. - Seu tom era sério, mas seus olhos mostravam um preocupação legítima. E de fato Kunikida sempre zelava por todos na Agência. - O único a quem você deve respeito é ao diretor, no geral, um idiota é um idiota sendo seu veterano ou não, entendeu? - Concluiu vendo o menor acenar rapidamente com a cabeça.

— Mas… Tá tudo bem, mesmo. Eu… Não me importo. Nem me atrapalha em nada. - Admitiu timidamente, encarando o chão.

— Hm… Como eu suspeitava, você gosta mesmo daquele idiota. - Suspirou pesadamente, se apoiando mais contra a mesa.

— Espera! Er… E-Eu na verdade…! Não é que… - O Nakajima entrou em desespero, tentando se justificar desesperadamente, e sendo calado por um olhar mais intenso do loiro.

— Ninguém está te julgando por isso garoto. Vocês nem devem ser o casal mais estranho daqui, se contar com os irmãos Tanizaki. - Deu de ombros. - Só espero que tenha em mente que o Dazai é problema, um grande problema, esteja ciente disso para o seu próprio bem. - Sinceramente, Kunikida acreditava que o albino vinha sendo uma ótima influencia para Dazai, afinal, sempre que o nome “Atsushi” era citado em algum problema, o homem se tornava imediatamente mais sério, mas ainda assim não podia ser irresponsável e não alertar o menor.

— Eu realmente não me importo, afinal… Eu também sou assim, não é? - Retrucou finalmente encarando o loiro, que agora podia ver nos olhos do homem tigre que a sua decisão já havia sido tomada.

— Então, só me resta desejar felicidades ao casal. - Riu de lado quando o menor corou tanto que parecia que alguém havia pintado seu rosto. - Há quanto tempo vocês…

— Não somos um casal, Kunikida-san. - Atsushi admitiu morto de constrangimento. “Céus, como essa conversa chegou a esse ponto?!”

— Quê? - O loiro demorou alguns segundos para recuperar a compostura. - E o que é esse espetáculo diário de pombinhos apaixonados? - Retrucou franzindo o cenho, vendo como o menor parecia procurar um buraco no chão para enfiar o rosto.

— E-Eu realmente não sei. - Murmurou baixo. E era verdade, nunca havia dito nada a Dazai, este simplesmente resolveu que queria de aproximar de si, e Atsushi apreciava aquela aproximação (bem mais do que deveria, para ser sincero), e só. Gostava de compartilhar momentos com o mais velho, mesmo que apenas como parceiro, poderia viver bem com isso.

— Você nunca disse a ele, não é? - Kunikida concluiu. “Não que isso faça diferença, afinal, Dazai é esperto demais para não ter percebido isso de imediato”. - Porque?

— Er… Bem… - Atsushi gaguejou, ainda um tanto surpreso pela pergunta do mais velho. - É só que… Ele já me trouxe até aqui, teve todo o trabalho de me fazer entrar na agência, me explica um monte de coisas que eu não sei e sempre se preocupa comigo, eu só… Não queria causar mais problemas do que eu já causo. - Suspirou pesadamente, sua declaração era tão sincera que era impossível não se comover pelo menos um pouco.

Ele o ama… Mas não quer incomodá-lo com isso. É serio que ainda existe gente tão altruísta assim?” Nessas horas, Kunikida também tinha vontade de fazer como Dazai e alguns outros membros da Agência e manter o albino debaixo da sua asa. Porém, sabia que ele nunca cresceria se fosse superprotegido.

— Sinceramente, aquele idiota não merece você. - Resmungou irritado com o maníaco suicida, mas foi tão baixo que o albino apenas o encarou confusamente sem entender. - Eu acho que você deveria pensar um pouco mais em si mesmo, para variar. Afinal, aquele idiota bem que precisa de algo para se preocupar ao invés de passar o tempo com aquele livro estúpido. - Passou pelo Nakajima em direção a porta, apoiando a mão em seu ombro em sinal de apoio brevemente. - Sabe, não faz mal ser um pouco egoísta ás vezes. - Ditou, vendo uma sombra melancólica passar pelos olhos âmbar.

— Eu estou feliz com o tenho, na verdade, acho que eu nem tinha o direito de esperar por tanto. - Respondeu com um sorriso de gratidão sincera. - Obrigado por sempre se preocupar até mesmo com alguém como eu, Kunikida-san. - Seu tom era realmente agradecido, o que fez o loiro quase perder a compostura por 0.005 segundos.

— Bem, é com você garoto, faça o que achar certo.  - Saiu da sala, vendo Dazai no sofá mais distante “dormindo” profundamente.

Esperou o menor sair da sala para ir comer alguma coisa, e então resolveu “acordar” o maníaco com uma bela cadernada na cara.

— Mas o que foi que eu fiz agora, Kunikida-kun?! - Reclamou em um tom choroso, fazendo manha, mas logo desistiu quando viu a cara de demônio do loiro.

— Pare de brincar com os sentimentos do garoto, seu imbecil. - Ditou tão sério que o outro não ousou interromper. - É cruel demais até pra você. - Saiu da sala também sem olhar para trás, deixando o Dazai sozinho com seus pensamentos e um riso amargo.

— E quem foi que disse que eu estou brincando, Kunikida-kun? - Suspirou pesadamente, voltando a se largar no sofá.

Pelo visto, teria que jogar mais pesado da próxima vez.

—--

Fazia um belo dia nublado, daqueles perfeitos para se jogar da ponte e descer o rio calmamente junto da correnteza até o mar, mas dessa vez, Dazai havia levado Atsushi para tomar sorvete, uma vez que descobriu que o menor nunca havia provado antes.

— Hm… Isso é realmente bom! - Murmurou o albino, ambos estavam sentados na beirada da ponte, balançando os pés sobre o nada, e aproveitando a atmosfera da tarde.

Era curioso como, mesmo Atsushi não tendo a mínima intenção de se matar, sempre acabava se sentindo inexplicavelmente confortável nos locais onde Dazai lhe dizia serem perfeitos para um suicídio duplo.

Talvez porque, se excluindo toda a conversa mórbida do maior, fossem lugares com paisagens realmente belíssimas.

— Posso provar um pouco desse? - Se aproximou segurando a mão do menor que mantinha a colher, e roubando o um pouco como se fosse um próprio Atsushi que lhe tivesse dado. - Realmente delicioso, Atsushi-kun. - Ditou mirando intensamente o menor, que corou com o toque das suas mãos, aparentemente ele não tinha pego a malícia da frase.

— Er… Eu não disse? - Comentou voltando a comer, nem se dando conta de era exatamente aquilo que chamavam de beijo indireto no Japão. Se ele não havia percebido, o maior também não diria… Não agora.

— Vamos lá, prove do meu também, diga “aahhh” - Encheu uma colher de sorvete de limão, empurrando na boca do menor, sorrindo internamente com a forma como ele lambia o creme branco dos lábios, apreciando o gosto, adoraria ver essa cena em outro contexto….

Antes que seus pensamentos enveredassem por ramos realmente interessantes, sentiu uma presença próxima, mais especificamente se aproximando, dos dois que eram o únicos naquela ponte abandonada por risco de desabamento.

Sinceramente, Dazai podia não gostar de Akutagawa, mas ainda tinha uma certa… (?) do garoto. Já quanto a Nakahara Chuya… Vê-lo com os órgãos espalhados na calçada seria uma forma fantástica de começar o dia.

— Ora ora Dazai, não sabia que seu disfarce na Agência incluía encontros suspeitos com garotos mais novos.  - Alfinetou Chuya. - Esse é o tal Atsushi? Mais parece um filhote de gato. - Olhou maldosamente para Atsushi que apenas o olhou de volta com uma expressão em branco.

— Porque ele tá usando uma cartola? Ele trabalha no circo? - Perguntou inocentemente para Dazai que riu, riu alto, riu com gosto como poucas vezes fazia enquanto seu arqui-inimigo praticamente espumava de raiva.

— Esse moleque imundo… - Rosnou irritado, e de fato, teria feito um buraco na cabeça do albino se não fosse o braço do mais velho passando pelas suas costas.

— Você não pode atacá-lo enquanto eu estiver aqui, Chuya-chan é tãão inuuutil… - Cantarolou com um sorriso besta, vendo o loiro quase vibrar de raiva.

— E quem precisa partir para a ignorância, quando a verdade é o bastante para te fazer descer dessa pose estúpida? - Devolveu Nakahara, apontando nervosamente para Dazai.

— Mesmo? - Desafiou Dazai, seu olhar quase sério na direção do integrante da Máfia.

— O que diabos tá acontecendo e quem é esse cara? - Atsushi sussurrou para o mais velho, completamente alheio a situação.

— Eu sou Nakahara Chuya, antigo parceiro desse monte de estrume aí, quando ele era um dos chefes da Máfia do Porto. - Entregou o loiro, sorrindo presunçoso quando viu o ar surpreso do albino.

— Sua antiga ocupação… Era a Máfia do Porto? - Indagou, olhando pasmo para Dazai que apenas acenou em concordância, sua expressão vazia.

— Bem, eu dei minha palavra de que não mentiria sobre isso, não é? - Deu de ombros parecendo despreocupado. (*)  Apenas parecendo, jamais demonstraria alguma preocupação com o plano infantil de Nakahara Chuya de virar seu subordinado contra si.

— Isso é horrível… - Murmurou o albino ainda meio chocado. - Agora que me contaram a verdade eu nunca vou poder ganhar o prêmio da aposta! - Exclamou o menor, afundando as mãos no rosto em decepção. E perdendo completamente o brilho quase surpreso dos olhos castanhos do mais velho, que só durou meio segundo....Infinitamente menos do que a cara de tacho de Nakahara que ainda não acreditava no que tinha ouvido.

— Eh? Atsushi-kun não tem medo de andar com um ex-chefe da máfia? - Brincou Dazai, cutucando a bochecha do menor, que ainda lamentava o fato de não poder mais apostar.

— Hm? Medo? As lacraias do jardim são mais intimidantes do que você. - Retrucou com a sua usual expressão neutra de quando Dazai fazia algo estúpido.

— Isso foi cruel, Atsushi-kun… O que os colegas que eu abandonei vão pensar? - Choramingou falsamente (como sempre) no ouvido do menor.

— A verdade. - O albino deu de ombros simplesmente.

— Então você não se importa… Mesmo se esse homem foi quem fez de Akutagawa o assassino que ele é hoje? - Indagou o Nakahara, seus olhos pela primeira vez mirando os dourados do homem tigre.

— Ele o obrigou, por acaso? - Devolveu o mais novo seriamente.

— Como assim? - Retrucou o homem de cartola, estranhando a pergunta.

— Ele o ameaçou de morte, caso ele não matasse? - Indagou ainda sério.

— Hm… Não. Digo, não foi bem assim… - Refletiu o loiro, relembrando aqueles tempos não tão longinquos assim.

— Então… Quem fez dele um assassino, foi ele próprio. - Atsushi deu de ombros, desistindo de dar qualquer atenção ao integrante da Máfia que o encarava sem acreditar. ]]

— Garoto…Eu não sei se você é suicida, ou burro mesmo. - Negou com a cabeça como se lamentasse pelo destino do albino.

— Isso tudo é saudade de mim, Chuuya-chan? - Provocou Dazai. - Sinto lhe informar, mas cães da máfia pedintes por atenção nunca fizeram o meu tipo. - Piscou com risinho arteiro, fazendo o loiro ferver de ódio. - Eu sempre preferi gatos. - Deu de ombros, como se tivesse acabado de simplesmente falar algo óbvio.

— Eu vou te mostrar minhas preferencias quanto a pintar essa ponte com seu sangue. - Nakahara avançou irado na direção do homem de cabelos castanhos que apenas afastou Atsushi do caminho, barrando o golpe com um certo esforço. A parte física nunca foi um ponto forte pra Dazai.

— Hm… Não. Eu não gosto da ideia de morrer sentindo dor. - Resmungou com seu sorriso besta habitual, chutando Nakahara para a beira da ponte, onde se apoiou por pouco no pra peito.

— Mas você vai. - Devolveu o loiro irado, pronto para avançar na direção do outro… Quando viu aquele sorriso. Aquele maldito sorriso que o Osamu tinha de quem venceu a partida de poker.

E foi a última coisa que viu antes de ser acertado por um golpe de pura força bruta que o derrubou da ponte de vez.

— Bom soco, Atsushi-kun. - Cumprimentou Dazai, vendo o menor encarar a mão de tigre esperando esta de “desfazer”. O que não estava acontecendo.

Sem esperar até o menor entrar em desespero, entrelaçou seus dedos na pata de tigre do albino, ativando sua habilidade brevemente, de forma que agora a sua mão e a mão humana de Atsushi estavam entrelaçadas.

— Er… - O menor se sentia inexplicavelmente nervoso com essa situação, o calor da mão do mais velho, a textura áspera das ataduras, seus dedos longos que tocavam sua pele com gentileza… Não sabia bem como reagir.

— Atsushi… Obrigado. - Sussurrou encostando a testa contra a do menor, encarando aqueles olhos dourados e violeta bem de perto. - Por confiar em mim.

— V-Você nunca me deu motivos para não confiar… - Resmungou desviando o olhar timidamente. Mas antes que ele desviasse o rosto por completo, Dazai segurou seu queixo com o indicador, impedindo-o delicadamente.

— Atsushi… - Saboreou o nome do menor sem usar honorífico algum, sentindo-o derreter vagarosamente em seus braços, seus corpos cada vez mais próximos, até que…

— Dazai seu bastardo!!!! - Uma voz feminina irritadissima foi ouvida e ambos se afastaram com o susto repentino.

— Y-Y-Yosano-san… - Murmurou Atsushi, prestes a ter um enfarto.

— Mas o que é agora? - Dazai nem disfarçou o mal humor, mirando a mulher com um ar homicida.

— Eu não acredito que você deixou aquela montanha da papéis na sala e está aqui fora vadiando! - A morena quase berrou, realmente irritada. - A ventania espalhou toda a sua bagunça na minha mesa, misturando com os meu relatórios médicos, e eu só não te mato agora porque eu estaria lhe fazendo um favor!

— Minha nossa, Kunikida-kun possui o corpo da Yosano-san. - Foi a única resposta do mais velho, antes de ser rebocado de volta a Agência.

—---

Dessa vez, o plano era tão apelativo que beirava a trapaça.

Havia escolhido um beco distante de tudo, inclusive das áreas de atuação da Máfia do Porto. Havia comprado erva de gato em um petshop e dissolvido cuidadosamente em um perfume bem concentrado, de forma que não houvesse chance daquilo sair do seu corpo porque o saquinho de ervas se perdeu, e nem de Atsushi encontrá-lo.

Não tinha como dar errado.

Borrifou uma nuvem de perfume no ar, não iria se exceder. Imagine se ao invés de gostar, Atsushi detestasse o cheiro? Seria um desastre. Então, iria começar com uma pequena quantidade insinuante da essência, se funcionar…

Bem, se funcionar, quem sabe fizessem uma viagem rápida ao seu apartamento.

Quando estava prestes a pular dentro a nuvem de perfume, um vulto negro passou por ela… E Dazai mal podia acreditar no que estava vendo.

— Mas que porcaria fedorenta é essa? - Akutagawa tossiu, afastando aquela nuvem maldita com o Rashomon, se perguntando se aquilo era algum tipo de ataque surpresa por parte de Dazai.

— Eu que te pergunto. - Retrucou o mais velho, se referindo ao moreno que o olhava atravessado.

— Eu certamente não estaria olhando para a sua cara de bom grado, traidor. - Devolveu Akutagawa, a fera negra se movendo ameaçadoramente atrás de si, demonstrando seu estado de espirito irritado, mesmo que na verdade não fosse ameaça alguma para Dazai. - O chefe me mandou para negociar informações. - Resmungou de péssima vontade, e era plenamente recíproco.

— Não tenho interesse. - Um morto pareceria mais feliz que o maior. - Pode voltar latindo para o seu dono. - Tinha que tirar o moreno daquele beco antes que Atsushi chegasse, ou então…

— Dazai-san! - A voz do albino soou no beco, e este correu na direção do seu mentor, acreditando piamente que a ligação estranha de Dazai havia sido um pedido de ajuda para uma luta. Embora… Dazai pedir ajuda fosse algo no mínimo muito, extremamente, raramente raro (exceto para coisas idiotas).

— Atsushi-kun, poderia esperar lá fora um segundinho? - Internamente, o homem já estava entrando em desespero, enquanto o tigre e o usuário da besta negra trocavam faíscas com o olhar.

Akutagawa queria achatar o albino no chão e fazê-lo em pedaços, ainda mais depois da humilhação da última luta que tiveram (*), entretanto, sabia que era suicídio fazer isso com Dazai ali. Pelo que pode perceber, o albino perdia o controle quando se transformava completamente em tigre, e se o mais velho usasse sua habilidade, Ryunosuke estaria indefeso sem o Rashomon contra a fera. E tinha que admitir, aquele tigre mais parecia um tanque de guerra.

E foi então, no meio daquela tensão violenta com Atsushi rosnando e a besta de  Akutagawa  apontando tentaculos afiados para o menor, o maior medo de Dazai naquele momento se concretizou.

Repentinamente, os olhos do albino se tornaram amarelos e brilhantes, como os do tigre, suas pupilas em fenda dilatando vagarosamente, suas postura ofensiva se desarmando…

Dazai apenas tocou em um dos tentáculos de Rashomon, desativando a habilidade do moreno e evitando que seu Atsushi se machucasse quando este simplesmente se agarrou no seu, até então, oponente, roçando o rosto em seu casaco e ronronado como um gatinho manso.

Um limão seria mais doce do que a expressão de Dazai naquele momento.

— Mas que porra é essa?! - Akutagawa tentou se afastar de imediato, o que só fez Atsushi se agarrar ainda mais a ele. Era desesperador. - Isso tinha que ser obra sua, seu maldito! Desfaça! - Se debateu no abraço quase esmagador do meio tigre que agora tinha enfiado as unhas no seu casaco e o nariz na gola da sua camisa, fazendo-o arrepiar involuntariamente.

— Desfaço com prazer. - Resmungou Dazai abraçando Atsushi por trás e tentando arrancá-lo do moreno… O que vinha sendo bem complicado uma vez que, mesmo com a sua habilidade desativada pelo mais velho, Atsushi tinha uma força latente surpreendente.

— Se eu tivesse o Rashomon… - Akutagawa resmungou, tentando tirar os braços do albino da volta de seu corpo.

— Cale a boca e puxe. - Devolveu o maior, mal humorado como o possuidor da besta negra nunca havia visto.

Depois de mais alguns momentos de puro desgaste físico, Akutagawa conseguiu literalmente escorregar pelos braços do menor, o que foi necessário muito contato físico que não agradou nenhum dos dois que estavam sóbrios.

— Nyamm… - Mesmo com Dazai o segurando a ponto de levantá-lo do chão, Atsushi ainda tentava avançar para o moreno que encarava de volta aquele olhos felinos com um ar revoltado e uma mão cobrindo o rosto quente.

Na verdade, não lembrava mais da última vez que havia sentido algum contado físico de outro ser humano que não fosse violento. E ainda mais um contato tão… Caloroso? E céus, aquela expressão entorpecida do albino querendo voltar para seus braços estava lhe dando umas nauseas estranhas. Iria matar aquele garoto pela ousadia.

— Tch, inacreditável como você suporta essa criatura patética. - Resmungou virando o rosto, já indo embora daquele lugar.

— Não vou ouvir isso da pessoa que tentou sequestrá-lo. - Retrucou o mais velho.

— É meu trabalho. - Devolveu sem nem olhar para seu ex chefe.

— Não me importa o quanto esteja se sentindo sozinho, o Atsushi-kun é meu. - Provocou só para ver aquele olhar de ódio nos orbes negros.

— Apenas morra de uma vez e livre o mundo dessa sua presença nojenta. - Respondeu irado, antes de desaparecer na escuridão do beco, deixando os dois para trás e esquecendo (ou que, sabe ignorando) as ordens que tinha de levar uma resposta do mais velho para seu chefe.

— Hm… Talvez eu devesse dizer a ele que TPM tem cura, mas não me sinto no espirito de fazer uma boa ação. - Suspirou cansadamente, vendo que o albino em seus braços ainda estava bem alterado. - Será que ele vai lembrar disso mais tarde? - Murmurou passando apenas um pouco do perfume em si mesmo, voltando todo o caminho para casa com o menor agarrado a si como um koala.

Bem, pelo menos que eu percebi que funciona mesmo nos casos mais extremos.”

.

No fim das contas, Dazai descobriu que sim, Atsushi lembrava claramente do que aconteceu enquanto ele estava sob o efeito entorpecente da erva de gato, e o menor quase se voluntariou para um duplo suicídio, tamanha a vergonha.

Mesmo acreditando (pobre criatura inocente) que o propósito de do mais velho para aquilo era “controlar sua forma de tigre para atacar determinado alvo”, o albino fez questão de sumir com todo o conteúdo daquele frasco (mal sabia ele que a receita era do próprio Dazai, logo…).

Era uma bela noite de lua cheia e Dazai sentia que deveria estar em algum prédio alto aproveitando a vista maravilhosa da noite, mas sua intuição lhe dizia que seria mais produtivo estar em casa, mesmo que nem ele próprio entendesse o que haveria de produtivo em ler O Manual do Suicídio pela centésima vez…

Entretanto, pensando bem, Atsushi morava ali do lado.

Poderia comprar um pouco daquele sakê que dizem ser de comum gosto para os gatos e testar.

Ótima ideia.

Já estava indo procurar seu sobretudo, quando o telefone tocou. Até pensou em não atender, mas o pouquinho de consciência que ainda tinha falou mais alto e atendeu a chamada.

Era um pedido desesperado de ajuda de Kyouka-chan, a mais nova integrante da Agência, que havia começado a dividir apartamento com Atsushi há alguns dias. Aparentemente, o albino havia se trancado dentro do quarto e a menina só conseguia ouvir ruídos nada felizes saindo de lá.

Desligando a ligação sem nem se despedir devidamente, saiu de casa e correu para o prédio do lado, uma súbita preocupação (coisa muito, muito rara para si) invadindo sua mente logo que saiu na rua e percebeu a lua. A habilidade do garoto se chamar “A besta sob o luar” não era sem significado, e tendo em conta que o albino ainda perdia completamente o controle na forma de tigre e que estava sozinho com uma garota que não tinha como se defender, só tornava tudo pior.

Entrou no apartamento quase derrubando a porta, se deparando com Kyouka-chan na sala com um olhar angustiado, a pobre garotinha parecia à beira das lágrimas. Dazai sabia bem que ambos se importavam bastante um com o outro, tanto Atsushi que derrotou Akutagawa para salvá-la, e ela que se entregaria facilmente de volta para a Máfia se fosse para proteger o albino, eram quase como irmãos. Irmãos normais, por favor, exclua os Tanizaki da lista.

— Ele está no quarto, e pediu para eu não entrar de jeito nenhum, e atirar caso ele saísse. - Explicou a pequena mexendo as mãos nervosamente, o maior percebeu que ela não tinha arma nenhuma mesmo que o Nakajima tivesse lhe dito para usar uma. - Por favor…

— Pode deixar comigo, pequena dama. - Sorriu gentilmente para a garota, antes de avançar para a porta trancada do quarto do menor, e de lá já podia ouvir o homem tigre grunhindo de dor, de maneira agoniante só de ouvir.

Tirando dois arames do bolso do seu sobretudo, destrancou a fechadura rapidamente, entrando no quarto sem fazer nenhum ruído, sentindo uma dor no peito ao ver o estado do menor.

A janela do quarto estava aberta, a luz da enorme lua cheia que brilhava no céu iluminando o corpo trêmulo do albino encolhido no chão, coberto de arranhões fundos feitos pelas próprias garras, já que tinha as mãos e o pés transformados, enquanto seus olhos amarelos e brilhantes refletiam dor e selvageria.

Era doloroso para Dazai ve-lo no limite daquela forma, mas não podia super protegê-lo sempre, afinal, como já aconteceu uma vez, podia não estar lá pra impedi-lo de se machucar. Se abaixou na frente do menor, tocando seu braço delicadamente para chamar sua atenção, vendo o garoto quase pular de susto.

— Sou eu, Atsushi-kun. - Ditou com um sorriso calmo, vendo aquele olhos amarelos inumanos se fixarem em si. - Agora, vamos lá, sente-se. - Se afastou, dando espaço para que o homem tigre pudesse fazê-lo.

— M-Mas… - A voz do albino saiu arrastada, era quase um pedido de socorro. Entretanto, Atsushi jamais pedia ajuda a alguém, por medo de incomodar os outros.

— Sente-se. - Insistiu Dazai seriamente. Tinha que admitir que não era lá uma pessoa muito sensível, mas estranhamente, tudo o que envolvesse Atsushi o atingia de forma devastadora. Odiava ver o menor sofrer, ainda mais quando podia simplesmente usar sua habilidade e acabar com aquilo, mas era necessário mostrá-lo do que o próprio era capaz algumas vezes, e isso significava empurrá-lo ao limite.

Não era que Atsushi fosse covarde (que covarde abafaria uma bomba com seu próprio corpo?), mas o albino era a criatura mais insegura da terra, sem contar do ódio que tinha de si mesmo que chegava a ser inacreditável em algumas ocasiões. E tais características o impediam de ver a si mesmo, e as coisas que podia fazer.

Como ele podia se considerar fraco, com a capacidade de se transformar em uma besta tão poderosa quanto um tanque de guerra? Como podia se considerar um estorvo, quando sempre pensava nos outros acima de si mesmo? Como podia se considerar egoísta, se nem mesmo nunca exigiu nada do mundo em que nasceu e que sempre o pisoteou?

Na visão do maior, o albino sempre foi uma criatura fantástica, entretanto, uma infância sendo mal tratado, chamado de imprestável e ouvindo que deveria morrer em uma vala ou coisa pior, o haviam deixado cego para enxergar a si mesmo. Não só isso, o haviam deixado cego para perceber que era a única pessoa que conseguia resgatar a verdade escondida no fundo do coração do ex-chefe da máfia.

Como Dazai ordenou, Atsushi se ergueu com uma dificuldade penosa, encarando o maior obedientemente, abraçando o próprio corpo como uma forma de se manter no lugar. Sentia-se como se a besta dentro de si estivesse lutando para tomar o controle.

— Muito bom. - Tocou os fios claros e completamente bagunçados do menor, deixando sua mão ali ainda. - Agora olhe para mim. - Ditou vendo os orbes amarelos desfocados se concentrarem em seu rosto. - Isso, agora eu quero que se acalme, sim?

— N-Não posso… - Seu rosto já estava banhado de lágrimas de desespero.

— Pode sim. - Contradisse o maior firmemente.

— Mas… - Sua voz não era mais que um sussurro.

— Você confia em mim? - Indagou seriamente, vendo o menor afirmar com a cabeça. - Ótimo. Se eu estou dizendo você pode, é porque pode. - Sorriu calmamente, sua mão acariciando delicadamente a lateral do rosto do garoto, afastando alguns fios dali.

Com suas mãos acarinhando a pele quente do albino, Dazai podia sentir sua respiração frenética se acalmando aos poucos, seu coração desacelerando devagar, e aos poucos, bem aos poucos, seu corpo curvado de dor ia se endireitando e retornando a uma posição mais normal, sendo seus olhos a última mudança a ser desfeita, voltando a aquele tom misturado de dourado e violeta que o mais velho simplesmente amava.

— Você… Fez algo? - Murmurou o menor surpreso, mirando suas mãos humanas outra vez.

Dazai quase se bateu na testa ao ouvir isso. Sinceramente, quando inventarem o Nobel da insegurança, Atsushi com certeza será o primeiro, segundo e terceiro premiado.

— Fiz, fiquei olhando para a sua cara. - Respondeu direto, vendo o ar surpreso do Nakajima, ainda desacreditado.

— Muito obrigado por me ajudar, Dazai-san. - Ditou mirando o mais velho com aquela expressão que Dazai já sabia que era bom evitar olhar por muito tempo. Aqueles grandes olhos bonitos o mirando em sincero agradecimento, como uma vítima que teve a vida salva naquele instante por algum herói. E o maior sabia bem que não era nada disso.

— Bem… Agora você pode admirar a lua como qualquer outra pessoa. - Desviou o olhar para a belíssima lua cheia que enfeitava o céu naquela noite, escapando daqueles olhos que quase o faziam se sentir uma pessoa que vale a pena se admirar. - Veja só, não é uma visão maravilhosa? - Sorriu satisfeito para o luar, não se lembrava da última vez que havia simplesmente tido um momento para admirar a lua, ainda mais em companhia agradável.

— Sim… Uma visão… Muito bonita. - Murmurou Atsushi, parecendo bem distraído, o que fez o mais velho se virar para encará-lo e perceber que ao invés de olhar para a lua, ele estava olhando para o próprio Dazai. Corando ligeiramente e desviando o olhar na mesma hora em que percebeu isso, jurando que o maior não tinha percebido o olhar que demorou uns bons segundos.

Ás vezes, Atsushi era tão obvio e tão ingênuo para algumas coisas que dava um pouquinho de dó.

Na verdade, o que dava dó mesmo era ele ter se apaixonado justamente por Dazai.

Eu certamente só te faria infeliz… Mas ainda assim, eu sou egoísta o suficiente para tentar. E insistir, até que você queira fugir dos meus braços”.

Se havia algo nesse mundo que apavorava Dazai, era a sinceridade, e céus, Atsushi era a perfeita encarnação dessa coisa perigosa.

Desde muito cedo, havia aprendido a mentir e atuar para se manter firme e forte, e principalmente para se proteger, para se tornar invulnerável. E foi assim que se tornou o mais jovem líder que a Máfia do Porto já teve, e que nunca foi derrubado de seu posto.

De tão habituado a entrar no personagem desde a hora em que acorda até a hora em que vai dormir, Dazai não se lembrava mais de como era ser ele mesmo, de como era essa sensação.

E Atsushi, sem nem tentar, o havia feito sentir aquilo tudo de novo.

Esse era o motivo real de ter arrumado pretextos e mais pretextos para não se afastar do garoto desde a primeira vez que o viu.

Se encontrar de novo dentro de si mesmo, sem fingimentos, apenas honestidade, havia sido uma sensação realmente assustadora… Mas em anos, finalmente se sentia vivo de novo.

Era como se as cores de uma paisagem apagada e cinza fossem sendo readicionadas aos poucos, assim como sua textura, seus sons… E de repente, a ideia de viver um pouco mais para aproveitar aquilo, parecia cada vez menos absurda ao seu ver.

Entretanto, ainda assim, Dazai sempre foi uma criatura completamente incapaz de ser direta sobre seus próprios sentimentos. Pior ainda se envolvessem outra pessoa.

Por isso todos os planos e maquinações, as situações planejadas, as indiretas, as palavras de significado dúbio, os olhares, os gestos, o modo de agir “como se não fosse nada”, o cinismo…

Era a isso que Kunikida se referia quando lhe disse para não brincar com os sentimentos do Nakajima.

E como Dazai já havia respondido a isso, não estava brincando.

Distraidamente, levou uma das mãos de volta ao rosto do menor, seu polegar secando uma de suas bochechas ainda úmidas de quando estava em desespero por medo de perder o controle e machucar alguém. Pela primeira vez, ele se esquivou de seu toque, tentando esconder as lágrimas a todo custo.

— Não tem mal nenhum em chorar, Atsushi-kun. - “Na verdade, você é uma das poucas pessoas que continuam adoráveis fazendo isso.”

— Crianças rejeitadas até mesmo pelos próprios pais não tem esse direito. - Murmurou baixo, mais para si mesmo do que para Dazai realmente. Entretanto, aquelas palavras eram duras demais para ser ditas a qualquer ser humano, e o mais velho sabia bem de que lugar o albino as tinha ouvido.

— Você não está mais naquele inferno de orfanato. E você também não é mais criança. - Ditou suavemente, afastando as mãos do menor de seu rosto. - E eu jamais rejeitaria você. - “Tudo que eu quero e você mais e mais perto.” Olhou bem fundo naqueles olhos bicolores, e céus...  

Milagrosamente, finalmente Atsushi entendeu o real significado das palavras de Dazai.

E foi então que todos aqueles gestos, as situações, aquele toques muito próximos… Tudo começou a se encaixar na cabeça do albino que não era nada idiota. E o pior, se ele disse que não iria rejeitá-lo, significava que…

— Há quanto tempo… Você… - Tomou coragem pra perguntar, seu coração acelerando bruscamente e seu rosto em brasa.

— Hm… Você nunca foi uma pessoa exatamente discreta, Atsushi-kun. - Na verdade, havia percebido os sentimentos do albino bem antes dele próprio, o que era um tanto cômico.

— Eu… Me desculpe, eu realment… - Foi interrompido pelo polegar do maior, que pousou gentilmente sobre seus lábios.

— Eu acabei de dizer que não estou te rejeitando. – Ditou, vendo o rosto do menor ficar ainda mais vermelho, seus olhos parecendo ouro derretido debaixo da luz da lua cheia.

E quando pensou que o albino ia ficar completamente sem reação e travar, eis que sente duas mãos tocando sua nuca e lábios agradavelmente mornos sobre os seus, apenas tocando-os carinhosamente. Oh… Realmente não esperava vê-lo tomando a iniciativa, e gostou daquilo.

Decidido a levar isso para frente, entreabriu os lábios, passando a língua levemente sobre o lábio inferior do albino, sugando-o provocativamente, sentindo seu gosto e gravando-o na sua mente como uma das melhores coisas que já provou, sentindo o menor suspirar longamente com a sensação, e aproveitando-se desse momento para invadir sua boca, buscando por mais daquele gosto viciante.

Atsushi sentia-se… Bem tonto para falar a verdade. Jamais havia imaginado que um dia, em um sonho, em uma situação hipotética, Dazai retornaria seus sentimentos, e agora… Bem, agora mal podia acreditar em como a textura dos fios castanhos e da pouca pele a mostra era macia, e como aqueles lábios lhe causavam arrepios que nunca sentiu. Tudo bem que nunca tinha beijando antes também, mas nem mesmo imaginava que aquilo existia. E nem queria ter descoberto com outra pessoa.

Sentiu as mãos de palmas metade enfaixadas por ataduras descendo pelas suas costas e se firmando em sua cintura, e foi então que percebeu que talvez seus corpos estivessem distantes demais um do outro e se aproximou do mais velho, sentindo suas mãos o guiarem para sentar em seu colo, o que fez sem hesitação, se arrepiando ao sentir o peitoral do maior se encostar completamente no seu, aquelas mãos grandes e possessivas, e ao mesmo tempo gentis, pressionando seus corpos bem juntos.

Dazai mal acreditava no tanto de tempo que desperdiçaram, quando poderiam já estar juntos há um bom tempo (culpa sua em grande parte), ainda mais agora que apertava o corpo do menor em seus braços, conduzindo-o em um beijo lento pela inexperiência total no menor, mas nem por isso menos intenso. Na verdade, achava completamente adorável como Atsushi se esforçava para acompanha-lo, se deixando levar, mas ainda assim se impondo e… Por tudo que é sagrado, como mesmo ele havia percebido que sua nuca era o pior de seus pontos fracos? A esse ponto, já estava completamente arrepiado.

Quebrou o beijo suavemente, ou tinha certeza que o albino ia morrer sem respirar sem nem mesmo perceber que estava morrendo, deixando vários beijinhos suaves nos lábios do menor e em seu rosto, vendo-o sorrir de uma maneira incrivelmente bela, um sorriso doce e sinceramente feliz, um sorriso besta arrebatadoramente apaixonado. Queria tatuar aquela imagem nas suas pálpebras e assim poderia vê-la sempre que fechasse os olhos.

— Deveria sorrir mais. - Murmurou descansando a testa contra a do menor, que ainda estava meio ofegante.

— Você também. – Devolveu, acariciando o rosto do mais velho com a ponta do nariz, como um gatinho manso.

— Hey, eu sorrio bastante, sou uma pessoa animada como o sol. - Respondeu Dazai, simplesmente adorando sentir o menor todo manhoso, bem ali, preso em seus braços.

— Sorrir de verdade. - Esclareceu beijando o canto dos lábios do mais velho, que sorriu de verdade antes de devolver o favor, logo roubando os lábios do albino mais uma vez em um beijo ainda mais intenso que o anterior, o que terminou com um Atsushi com o coração a mil por hora, descabelado, e completamente sem fôlego.

Difícil resistir a isso.

O beijou mais uma vez, percorrendo as mãos pelo seu corpo dessa vez, descendo pela sua cintura, prendendo seu quadril e sua nuca, sentindo o menor arquear o corpo contra o seu em busca de mais contato, uma de suas pernas se enrolando a sua volta e quase fazendo Dazai perder a cabeça, ainda mais ao ouvir o gemidinho baixo do albino quando separou o beijo, mordendo levemente seu lábio inferior, e depois beijando-o, e continuando a beijar seu queixo, sua mandíbula, seu pescoço, sentindo Atsushi tremer a cada avanço dos seus lábios.

— Atsushi-kun… Más noticias. - Sussurrou no ouvido do menor, que se encontrava mais arrepiado que um gato assustado nesse momento, e com a mente ainda nublada pelos beijos do mais velho.

— Hm…? - Apenas murmurou, abraçando o outro mais forte.

— Eu não quero mais ir embora. - Reclamou manhosamente, ainda se divertindo em testar como a pele do albino era sensível.

— Então durma aqui. - Respondeu em um tom de voz ainda inebriado, voltando aos poucos ao mundo real ainda.

— Oh, não me diga que isso é uma proposta indecente? - Provocou vendo o menor corar até as orelhas.

— Eu disse dormir, idiota! - Retrucou com um soco no ombro do mais velho, que apenas riu da expressão do albino, beijando-o mais uma vez.

No dia seguinte, Kyouka desesperada resolveu ligar para Kunikida, uma vez que Dazai também não tinha dado mais sinal de vida depois que entrou no quarto de Atsushi.

E qual não foi a surpresa do loiro ao encontrar os dois dormindo abraçadinhos no futon, o sobretudo e o colete de Dazai jogados de lado, de forma que o mais velho usava apenas uma camisa branca meio aberta, seus braços em volta do albino abraçando-o protetoramente, enquanto o menor tinha o rosto escondido no pescoço do maior, seus braços passando pela sua cintura e as pernas entrelaçadas com as do mais velho debaixo do cobertor bagunçado.

Kunikida apenas de um sorrisinho de lado, saindo do quarto tão silenciosamente como entrou.

— O que aconteceu? - Indagou a menina, ainda preocupada.

— Um milagre, pelo visto. - Respondeu ainda se perguntando como o desastre (Atsushi) e a dissimulação (Dazai) em pessoa conseguiram se resolver sozinhos. - Bem, de qualquer forma, vamos lhes dar mais uma hora, se não acordarem, jogamos água. - Ditou indo em direção a cozinha para ajudar a menina a preparar o café da manhã, sendo seguido pela menor que ainda não tinha entendido nada.


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Notas finais do capítulo

Observações:

*No mangá, Kenji (é o loiro de chapéu de palha) vem do interior e tem sotaque interiorano (quase como a Sasha, de Snk, muito fofoo)

* Na verdade, Dazai odeia cachorros, o que, para mim, é uma CLARA referências ao cães da máfia (afinal, não aparece nenhum cachorro em momento nenhum na história). O que pode se referir a Chuya e Akutagawa.

*Se refere ao extra do mangá onde os dois são humoristas. O Dazai que ser "o sério" e manda Atsushi imitar a pessoa mais idiota que ele conhece, e Atsushi começa a imitar Dazai kkkkkk

*Embora apareça bastante para a gente que vê/assiste, nenhum dos outros personagens sabem do passado de Dazai (pelo menos pelo que foi mostrado até agora). Além de ter se tornado o mais novo chefe (tem mais de um) que a máfia já teve, também foi ele
treinou Akutagawa que mal fazia nada com o Rashomon.

*Ao final da luta com Atsushi, Akutagawa é resgatado por Higuchi (a loirinha assistente dele) e fica em coma por um tempinho. (uma senhora surra, pois sim, quem diria né...)

Nakahara Chuya - Arqui-inimigo de Dazai após ele ter saído da máfia, tanto que no perfil de Dazai, tem apenas duas coisas que ele detesta, cães e o Chuya kkkk.

Izumi Kyoka - Não sei se já apareceu no anime (mas vai, é a garotinha de kimono na abertura, com um monstrão branco de katana atrás). Acaba morando junto com Atsushi depois de ele lutar com Akutagawa para salvá-la da máfia. Ele meio que adotou ela como irmãzinha quase *u*

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Enfim... O que acharam? Eu continuo? Quero muito saber a opinião de vocês.

Muito obrigada a todos que leram, de verdade :3

Até a próxima ~

Kissus