Eu nunca soube por que Felipe e meu pai não se davam bem. Quando meu irmão era criança, eles eram muito próximos, mas depois de um tempo eles foram ficando mais distantes até entrarem em uma relação exclusiva de brigas.
Mamãe nunca quis dizer por que eles não se falavam mais, e Felipe dizia que era por que meu pai traíra minha mãe. Eu sabia que não era só isso.
Enquanto as três novas melhores amigas chifradas saíam pelo corredor, eu e Felipe voltamos para a sala de espera.
– O que houve? - perguntei suavemente enquanto ainda estávamos no caminho.
– Você estava lá, não estava?
– Eu quero dizer entre você e o papai.
– Ele traiu a mamãe e agora a Angela também.
– Eu acho que tem mais.
Ele se virou.
– Não tem nada a mais.
– Claro que tem. Você e papai não podem ter simplesmente parado de se falar sem mais nem menos.
– Caio, por favor. Agora não é a hora.
– E quando vai ser a hora?
– Eu não sei - disse ele se virando de repente - Eu não sei quando vai ser a hora, mas a hora não é agora. Não quando Pedro está bem ali - ele falou apontando para a UTI - morrendo!
– Ele não vai morrer.
Ele balançou a cabeça.
– Eu quero não me convencer disso também, mas eu não tenho tanta esperança.
Então meus olhos se encheram de lágrimas. Eu sabia, tanto quanto Felipe, que talvez a hora de Pedro estivesse chegando.
Olhei para Felipe e ele também estava à beira das lágrimas.
– Vem - falei abrindo os braços - precisamos de um abraço.
Ele veio em minha direção e praticamente pulou em minha cadeira, envolvendo seus braços em meu pescoço.
– Me desculpa - choraminguei no ouvido dele - Me desculpa.
Ele me apertou mais.
– Me desculpa também.
E foi assim que passamos o resto da noite.