– ...sabendo disso - continuou o professor - Determine o cosseno de teta. Olha pessoal, essa questão é bem simples...
Então alguém bateu à porta.
– Pode entrar.
E Felipe entrou. A sala inteira começou com um burburinho.
– Bom dia Felipe - disse o professor com um sorriso que cortava bochecha a bochecha.
– Bom dia - disse ele se dirigindo ao fundo da sala, então sentou em uma cadeira no canto e se esparramou.
O professor quase não conseguiu terminar a aula, não conseguia parar de sorrir.
Quando o sinal tocou, professor Fabrício deu uma despedida rala e gritou.
– Fica firme Felipe!
Olhei para trás rapidamente a tempo de ver o garoto se endireitar na cadeira e abrir a boca, incrédulo.
Me levantei e fui para o lado dele.
– Oi.
Ele se virou para mim, ainda pasmo. Não disse nada, apenas ficou me olhando.
– Caio disse que você foi expulso.
Ele recobrou a consciência e fechou a boca.
– Eu fui, mas minha mãe é advogada e ela teve uma conversa com o diretor sobre todos os recursos legais que podíamos tomar.
– E ele te aceitou de volta?
Ele se recostou na cadeira e cruzou os braços.
– Ele não teve escolha. Amanda ainda é menor de idade, isso é pedofilia.
– Mas ninguém está falando sobre isso aqui. Estão falando sobre você.
– Eu imaginei.
– Nesses últimos dias que você não veio, a escola se dividiu em dois lados: as pessoas que te odeiam e aquelas que beijariam o caminho por onde você passou.
Ele riu.
– E Fabrício é um do segundo grupo?
– Todos os professores estão no segundo grupo. Georgiana, de redação, passou o tema sobre bullying. Pedro, de geografia, falou sobre uma situação da infância dele em que ele superou algo difícil sendo ele mesmo, e assim por diante. Todos eles estão comentando.
– E os alunos?
– As pessoas que você tirou foto estão bem mansinhas. As que normalmente eram alvo estão do seu lado.
– E virou guerra agora?
– Quase isso. E é melhor você se preparar, vai ser o resto do ano assim.
Ele gemeu e deitou a cabeça na mesa.
Encostei minha mão na sua.
– Eu estou do seu lado.
Ele levantou e olhou bem para meus olhos. Felipe, percebi naquele momento, não tinha olhos tão azuis quanto Caio, os dele tinha um degradê em verde. Parecia um caleidoscópio hipnótico.
– Está mesmo?
– Estou sim.
Ele sorriu.
– Então tudo vai ficar bem.
Tirei minha mão rapidamente da dele e me levantei.
– Vou voltar para o meu lugar.
Seu rosto permaneceu impassível, mas os ombros murcharam de leve.
– Certo.
Me virei e comecei a voltar ao meu canto. Porém quase tropeço no pé de Amanda.
– Opa - disse ela sorrindo maliciosamente.
Olhei para trás e vi Felipe dando de ombros. Entendi imediatamente o recado: "Agora é com você".
– Sua... Chata!
Deu para escutar a risada de Felipe até na China.
Olhei para baixo e continuei meu caminho até minha cadeira.
Olhei para trás com meu olhar mais matador, só para arrancar mais risadas de Felipe e mais raiva minha.
– Bom dia! - disse Gerorgiana entrando na sala e abrindo bem o sorriso quando viu o Sarazate.