Nova Geração escrita por Ana


Capítulo 11
Shi


Notas iniciais do capítulo

ENTÃO NÉ, queria só dizer "desculpa pela demora", mas é aquele ditado né? Eu tardo, mas não falho. Em compensação, aí um capítulo bem longo. Agora voltou as aulas, então próximo capítulo daqui a uma semana só :c
Obrigada por acompanharem e ♥ boa leitura ♥



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Boruto estava sentado na cama, o que, logo de cara, indicava uma enorme melhora. Ainda eram cinco da manhã e estava noite lá fora. Era surpreendente que o jovem já estivesse acordado, a quantidade de dopagem que havia recebido no dia anterior deveria deixá-lo apagado até o início da tarde. Sarada prendeu o cabelo enquanto entrava no quarto, e a enfermeira idosa que o vigiava se distanciou sutilmente. Boruto esbanjava mau humor e cruzava os braços fazendo bico de birra, como se ainda fossem criancinhas.

— Porque está tão irritado agora, ein? - perguntou Sarada, se aproximando. Seu coração, que batia rapidamente segundos antes, havia se acalmado no momento que entrou no quarto.

— A simpática senhora que acabou de sair daqui - o adjetivo à velha teve um peso espantoso de sarcasmo. - disse que não posso sair daqui e que tenho que descansar. Isso é uma ousadia.

Sarada respirou fundo.

— Ela está certa, Boruto.

Espanto atingiu o rosto do colega.

— Você também, Sarada-chan?

— Boruto, eu sou sua médica no momento e minha recomendação suprema é descanso, já que o que quer que te baqueou pode voltar a qualquer momento. Eu não sei o que aconteceu com você ainda.

Ele esticou o braço e pegou a prancheta que estava em cima da cabeceira ao seu lado. Passou alguns segundos lendo-a, enquanto Sarada esperava com rosto impaciente. À medida que lia mais, a carranca de Boruto aumentava.

— "Alergia"? - ele leu em voz alta. - Eu não sou alérgico a nada.

— Eu sei, já descartei essa possibilidade. Isso não muda o fato de que pode ser qualquer outra coisa.

Boruto franziu as sobrancelhas.

— Besteira, dattebasa! - Sarada revirou os olhos.

— Falando em besteira, preciso ouvir os sintomas que você sentiu na hora. O que você sentiu antes de desmaiar? - sua voz assumiu o tom explicitamente profissional.

Ele adquiriu uma expressão pensativa.

— Me senti sufocado e vazio. Eu não conseguia ouvir nada, eu fiquei completamente surdo. Minha visão embaçava e meu corpo todo tinha arrepios. É basicamente isso.

— Você lembra de ter tocado qualquer coisa na floresta? Algo suspeito? - Boruto negou com a cabeça.

— Não é como se eu estivesse realmente doente de algo mortal, Sarada. Eu estou bem, foi um mal-estar do momento.

Sarada olhou ao redor, e viu que Mitsuki havia ido embora. Então, ela se sentou na cadeira ao lado da cama.

— Mas quando podemos continuar a missão? – perguntou Boruto, impaciente.

— Tenho que ser sincera. Você está quase completamente curado, admito, mas meu pai está pensando seriamente em te mandar de volta para a vila para ter tratamento adequado.

— O Sasuke-sensei não pode fazer isso comigo! Ele mesmo tinha dito que ia precisar do time completo para investigar....

— Boruto. – Sarada o interrompeu. – Se você não estiver bem, não há missão que te mantenha aqui. Mistuki ficará no seu lugar. Não é certo que meu pai vá fazer isso, mas devo alertar que ele está considerando.

O rapaz se sentou curvado, de cara feia e irritado. Ele levantou um dos braços e o levou direto até a nuca e ficou coçando o local em que Sarada viu a mancha mais cedo.

— O que foi? – perguntou Boruto, quando viu que ela o encarava. Sem sequer responder, Sarada levantou, empurrou a cabeça do rapaz para frente e puxou a gola da camiseta, o que provavelmente quase o enforcou, coisa que não a incomodou muito na hora.

Ali, bem no meio da nuca de Boruto, havia um símbolo gravado, preto, como uma tatuagem. Era um nome, quase só uma sílaba de tão curto, somente um caractere japonês.

Shi. Só aquilo. Sarada largou Boruto, que se debatia enlouquecidamente, e fez uma careta. O rapaz ficou esfregando o local o qual ela havia usado para empurrá-lo, no topo da cabeça, e a ficou olhando, emburrado.

— O que deu em você? – sua voz soava irritada.

— Desde quando você tem uma tatuagem? – Sarada perguntou completamente chocada. – E o que é Shi?

O rosto de Boruto ficou completamente branco, com a boca entreaberta.

— O que aconteceu? – Sarada perguntou e então colocou a mão na testa do colega, preocupada.

— Sarada, - ele disse lentamente. – eu não fiz tatuagem nenhuma. E eu não faço a mínima ideia de quem ou o que seja Shi.

Sarada franziu as sobrancelhas, e mecanicamente arrumou os óculos que caiam.

— Tem certeza?

Ele assentiu, aos poucos recobrando as cores normais.

— Eu nunca ouvi nada sobre isso antes. Nenhuma vez. E eu não estava dopado o suficiente para sentir alguém colocando isso em mim. – reclamou Boruto, recobrando, além do rubor, o linguajar brusco.

— Na verdade, estava, mas de todo jeito eu deixei enfermeiros de plantão. O Mitsuki também me disse que passou parte da madrugada na porta. – disse Sarada. – Quem quer que tenha feito isso, é bem habilidoso.

Boruto começou a sentar, usando uma calça que Imitsu aprovaria, cheio de rostinhos felizes, com uma blusa lisa branca. Ele sentou na beira da cama, na diagonal de Sarada, e começou a calçar os sapatos. Estava lento, se arrastando praticamente, provavelmente por conta da dose de sedativos que ainda rodavam pelo seu sistema sanguíneo.

— O que pensa que está fazendo? – perguntou a jovem, observando calmamente os movimentos do colega.

— Vou na biblioteca do velhote. – disse, seco.

— Para que? O que vai ganhar indo lá, além de cansaço?

— Eu quero saber o que é essa Shi. – disse ele, determinado, fechando as sandálias.

— Boruto, precisamos descobrir quem fez isso, não o que significa.

O jovem a encarou, incrédulo.

— O significado é importante também! Dattebasa! Pode estar entregando, inclusive, quem fez isso. Será que eles têm computadores aqui? Ia ser mais prático do que vasculhar um monte de livros.... Meu celular não pegou sinal aqui ontem.... Droga.

Boruto começou a tagarelar sobre as pessoas idosas não quererem saber mais da tecnologia e como isso era de certa forma, irresponsável e irritante, e desfocou completamente do assunto principal. Como acontecia sempre.

Em menos de um minuto, ele já estava levantando, indo em direção à porta, com a determinação de um verdadeiro ninja, mas a energia de um velho. Sarada levantou e foi a passos apressados, para acompanhar Boruto, se colocando ao lado dele.

— O que exatamente planeja fazer quando descobrir o que isso significa? – perguntou a menina sorrateiramente.

— Isso é o menos importante. – ele bufou enquanto respondia. Então, olhou na direção da colega com suspeita. – Você é contra eu ver o que significa, por que está indo comigo?

— A favor ou contra, eu sou sua médica temporária e preciso te vigiar, porque querendo ou não, estamos aqui em missão, não de férias, então você tem que ficar bom logo para continuarmos. Estou indo por mera dedicação profissional, Boruto. Se quer ajuda concreta podia pedir à Noriko ou Mitsuki, certamente não se recusarão a ajudar.

Eles não disseram mais nada, mas Sarada viu quando Boruto mudou o curso que tomavam para ir até o quarto de Mitsuki. O sol já estava começando a sair, e a parede toda de janelas, logo na frente deles e da escada principal, minuciosamente posicionada à leste e para o nascer do Sol, exibia fios dourados da alvorada. Um grupo de moças vestidas de empregadas cruzava o corredor, apressadas.

Os dois andavam lado a lado, com a sincronia perfeita de quem havia ficado junto todos os dias nos últimos quatro anos. Uma sincronia que jamais falhava, e por isso eles reconheciam o leve desconforto que pairava ali. Ambos provavelmente sabiam porquê.

— Sarada-chan.... – ele começou dizendo.

— O que foi? – Boruto olhava para ela e a velocidade em que andavam diminuiu bastante.

— Eu queria me desculpar. Pelo.... que quase aconteceu, com Ayumi. – Sarada parou, no meio do corredor. Boruto também.

— Boruto, como sua companheira de time, eu realmente não acho que isso tenha a ver comigo. – seu estômago doeu quando disse aquelas palavras. – O que você faz ou deixa de fazer não me envolve. Só me surpreendeu porque você mal a conhece.

— De qualquer forma, não pretendo. – ele deu risinho sem graça. – Ela tentou me beijar quando estávamos na churrascaria também. Jogou suco no colo do Mitsuki para que ele saísse da mesa, e ofereceu dangos para a Noriko para despistá-la também. Eu deixei bem claro que minhas intenções com Ayumi eram somente profissionais, entende? E então ela fez a mesma coisa ontem. Não quero me envolver com ela, só queria deixar isso claro.

— Do jeito que fala, parece até que está interessado em alguém da vila. – disse Sarada, sem pensar. As palavras simplesmente voaram da sua boca, rápidas. Elas eram a encarnação de seus pensamentos jogados no rosto de Boruto do nada.

Boruto deu um sorriso malicioso que deixaria Sarada sem graça alguns anos atrás.

— Talvez. – e continuou andando, deixando Sarada com a respiração interrompida para trás.

 

Tenten estava entrando no jardim da casa da família Uzumaki. Ela andava a passos largos, observando algumas crianças que brincavam na rua ao lado com nervosismo que gelava seu estômago. Seu coração batia acelerado enquanto repassava na mente o que falaria para conseguir o endereço de Neji.

Ela ficou uns dez segundos parada na soleira da porta, então finalmente tocou a campainha. Ouviu um suave som de passos soando lá dentro, uma troca de frases abafada que ela não entendeu e então a porta sendo destrancada. Quando ela se abriu, Tenten viu que quem a havia recebido era Himawari. Estava bem mais crescida do que quando a havia visto pela última vez. O cabelo estava maior, mas ainda tinha o aspecto de sempre. Os olhos continuavam grandes, azuis e gentis, complementados com um sorrisinho que marcava seu rosto genuinamente, com as duas listras na bochecha como detalhe final.

Agora, também diferente da última vez que a vira, Hima usava orgulhosamente uma bandana no pescoço, assim como a mãe fazia quando era mais nova.

— Teten-sensei! – Himawari a chamou daquela forma formal por conta das vezes em que Tenten substituíra professores na Academia, em busca de dinheiro extra. Nessa época ela mesmo chegou a considerar virar professora fixa, mas mudou de ideia depois.

— Himawari, como você cresceu! – disse Tenten, animada.

— Obrigada, sensei. Faz tempo que não vem ver a mamãe. Aconteceu alguma coisa? – ela era doce enquanto perguntava. Seus olhos vasculharam atrás de Tenten. – A Noriko veio com você?

— Não, ela está em missão, querida, mas assim que ela voltar eu peço para vir aqui te visitar, ok? – Himawari assentiu, cheia de felicidade. – Ando meio em falta com a sua mãe, por isso vim vê-la.

Tenten teve que admitir que seu coração pesou de culpa um pouquinho, então para compensar ficaria para colocar a conversa em dia com Hinata, para a vinda não ser tão desfeita.

As duas foram adentrando a casa, que estava impecavelmente arrumada, com antigos desenhos emoldurados pendurados na parede e certificados de ambos, Boruto e Himawari. Muitas fotos de família, com sorrisos e momentos felizes. A casa não havia mudado muito.

As duas foram em direção à sala, onde Hinata estava sentada no chão, escrevendo algo em um papel minúsculo. De longe Tenten viu a caligrafia perfeita, muito parecida com a de Neji, e sentiu uma leve inveja.

— Mãe, é a Tenten-sensei! – disse Himawari. Hinata levantou os seus olhos brancos na direção de Tenten, com uma mecha de cabelo caindo no olho. Pareceu surpresa por um minuto, mas então sorriu e levantou do chão.

— Tenten-san! – cumprimentou Hinata. – Que surpresa. Não esperava por uma visita sua.

Tenten deu um sorriso sem graça.

— Espero não ter chegado em um mau momento. Eu esqueci de avisar antes de vir.

— Imagina! – garantiu a mulher. - Fico feliz com visitas ilustres. Ainda mais quando faz tanto tempo que não a vejo.

Enquanto as duas mulheres iam em direção à cozinha, Himawari saiu. Ainda estava cedo na manhã, Tenten sabia, então imaginou que a menina estava indo para alguma missão, treino ou algo do tipo.

— Saudades da época em que eu passava o tempo todo treinando e fazendo missões! – pensou Tenten em voz alta, quando sentou na bancada da cozinha de Hinata, enquanto a própria ia de um lado para o outro, catando ingredientes.

— Eu achava divertido, mas não trocaria a vida que tenho hoje por isso. – Hinata riu, provavelmente de alguma lembrança que lhe passou pela mente na hora.

— Eu também não, se me perguntassem alguns anos atrás, mas agora que Noriko vive fora de casa, me sinto bastante sozinha, já que a loja não tem muito movimento.

Hinata parou por um momento, olhando para ela.

— Já pensou em fazer alguma outra coisa? Além de cuidar da loja.

Tenten pareceu pensativa por alguns segundos.

— Não. Nunca vi nenhuma outra possibilidade na minha mente. – admitiu.

— Por que não pensa um pouco sobre isso? Talvez não se arrependa se mudar de curso. Além do mais, - adicionou a amiga. – a Noriko já é uma adulta, com mais de 20 anos, já é hora de você ir cuidar da sua própria vida.

— É, mas por onde eu começo? – a voz de Tenten tinha um peso de drama.

Hinata riu, enquanto pegava uma sacola, e colocava dentro dela tudo o que havia recolhido pela cozinha. Colocou a sacola cheia e grande em cima da bancada em frente de onde Tenten estava sentada, e pegou sua bolsa no canto.

— O que é isso? – perguntou Tenten, já se levantando para ir embora.

— Eu sei por onde você pode começar. – disse Hinata, sorrateira. – Que tal você ir comigo levar essas coisas na casa do Neji-san?

Tenten sentiu as bochechas ficando escarlate, seu coração palpitou e ela apenas assentiu com a cabeça e seguiu Hinata porta afora.

 

Sarada e Boruto adentraram na biblioteca principal do castelo minutos depois. Estava tudo vazio, por conta do horário, e também porque todo o castelo era ocupado por pouco mais de 150 pessoas, e 143 delas eram empregados.

A biblioteca era tão grandiosa e importante, que havia até recebido um nome. Biblioteca Rinuya. Embaixo da placa que anunciava o nome, havia o rosto de uma mulher entalhado madeira e um pequeno texto, homenageando-a e explicando que se tratava da esposa de Imitsu. Quando passou pela porta, Sarada passou a ponta dos dedos pelo entalhe perfeito do rosto da bela mulher, ficando encantada com a perfeição do trabalho. Ela ainda parecia jovem, bem mais jovem do que Imitsu atualmente, o que a fez questionar a quanto tempo a esposa havia morrido.

A biblioteca ficava no primeiro andar e, de todos os dez andares no total que o castelo tinha, ela ocupava cerca de quatro, de toda a lateral esquerda do castelo. Para uma amante de livros como Sarada, aquele lugar era um paraíso. Se pudesse, passaria o resto da vida ali, e mais, até que pudesse ler todos e aprender de tudo que estivesse ao seu alcance. Naquele momento, ela teve que lembrar a si mesma que estavam com um objetivo a cumprir e este era conseguir respostas. Mitsuki e Noriko haviam se juntado nas buscas, mas ficaram para trás quando Sarada e Boruto cortaram caminho por uma escadaria, mas logo apareceriam para ajudar.

— Droga. – resmungou Boruto, passando o olhar por todo o local, com uma careta.

— O que foi?

— Nenhum computador! – reclamou ele, como se fosse óbvio o motivo do seu desagrado. – Todo um castelo imenso, não sei quantas bibliotecas, essa coisa enorme e nenhum mísero computador.

— Para de reclamar. – reclamou Sarada. – Existem livros para isso sabia? Como você acha que as pessoas faziam pesquisas antigamente?

— Que não fizessem. – Boruto resmungou de novo. Ele respirou fundo, encarou todos os andares a frente deles, como se estivesse prestes a realizar o desafio da sua existência. – Por onde a gente começa?

— Bibliotecas são separadas em sessões. Em que sessão procuraremos sobre “Shi”? – ela se questionou.

— Misticismo ou história, eu acho. – disse Boruto. Sarada olhou para ele franzindo as sobrancelhas, confusa.

— Porque quer procurar isso em misticismo? – ela perguntou. O rapaz pareceu arrependido por ter dado o palpite. – Boruto?

— É só um chute. Nada demais.

— Não parecia só um chute.

Eles ficaram se encarando por uns segundos, esperando qual dos dois desistiria de pressionar primeiro, mas Sarada ganhou no fim. Boruto era bem difícil de ganhar a competição de olhares, principalmente quando ele estava realmente certo. Sua desistência sem luta provava que estava escondendo alguma coisa.

— Foi logo depois que a gente voltou da missão, quando achamos o tio Neji. – ele começou. – Eu ouvi falar em Shi.

— Como assim? – perguntou Sarada, surpresa.

— Não foi nada demais. Eu voltei de noite para casa depois que perdi aquela aposta com você, então eu achei um bilhete estranho.

— O que tinha escrito?

— “O sangue de Shi exige sacrifícios”.

— Só isso? Assustador...

— Só. E isso nem é o mais estranho. O pior foi que quando eu guardei o bilhete na minha gaveta, tendo em mente pesquisar sobre isso depois, quando fui pegar ele novamente, não restava nada. Não foi nem que havia sumido, mas onde antes estava o bilhete, tinha só um monte de poeira.

Sarada cruzou os braços.

— Isso ainda não explica o porquê de você querer procurar na sessão de misticismo. – repetiu ela.

— Não sei, Sarada. O bilhete ter virado poeira de um dia para o outro não é místico? Foi o que se encaixou melhor na minha mente. História eu não sei muito bem porque, me parece um bom palpite.

— Certo, então. Misticismo e história, lá vamos nós.

 

Tenten foi fazendo um mapa mental enquanto ela e Hinata andavam pela cidade, indo em direção ao local em que Neji estava. Ao se confundir, foi criando pontos de referência. Tenten sabia que a casa da amiga ficava à Leste e que o prédio do Hokage, ao Norte. Na sua mente, via claramente que estavam indo para Oeste, do lado contrário da onde estavam. Sua casa ficava no centro, então era o meio-termo dos dois.

As duas de vez em quando revezavam a sacola de compras, apesar de não estar muito pesada. O caminho parecia mais longo do que realmente era quando cansavam, então para se distrair ficaram conversando. Tinham muitos assuntos, já que não se viam fazia tempo, mas em grande parte eram banalidades. Depois de quase meia hora disso, ficaram em silêncio por alguns segundos, apenas observando a vista.

— Você acha que ainda temos alguma chance? – perguntou Tenten repentinamente. Ela sabia que não precisava explicar do que se tratava, Hinata sabia.

— Você parece bem preocupada com isso, não é? – Hinata respondeu com outra pergunta, com sua voz suave terminando em uma risadinha. Bem parecida a quanto ainda era mais nova, mas ao mesmo tempo muito diferente. Tenten apenas assentiu como resposta. – Eu acho que vocês ainda têm chance. Se em algum momento duvidar disso, tenha pelo menos em mente que eu ainda torço por vocês.

— Obrigada.

— Se em algum momento ficar perdida quanto a isso também, - disse Hinata depois de alguns segundos quieta. -  tenho um conselho que talvez seja útil.

— Qual?

— Muitas vezes as pessoas, principalmente homens, acreditam mais em palavras do que em ações. Eu aprendi essa lição depois da minha experiência com meu marido. Quando as coisas mudarem de curso e tudo parecer inseguro, diga ao Neji o que sente. Na hora vai parecer a maior coisa do mundo, mas depois tudo melhora aos poucos.

Tenten assimilou as palavras por um momento, então riu.

— Quanta sabedoria mais você esconde atrás desse Byakugan, Hinata? – brincou. Hinata, apesar de ser toda cercada de segurança na idade adulta, corou e riu junto com ela.

Hinata parou de repente de andar, olhou ao redor por alguns segundos e então olhou para uma construção logo à direta das duas. Era um grande muro, alto e com um portão que não tinha nenhuma fresta. O muro era largo e era possível ver a ponta da construção que ele abrigava. Ele era todo branco, quase creme, e só havia um símbolo do clã Hyuga em cada lateral do portão. Muitas árvores encobriam o que quer que estivesse lá dentro, então não podiam ver muito.

Não havia grande circulação de pessoas ali, por ser uma região muito afastada, e as outras construções ao redor eram simples ou similares à a frente delas.

— O que é isso? – perguntou Tenten.

— É o centro de treinamento de verão. É bem pouco visitado, já que é extremamente desnecessário. Já temos um local de treinamento na sede do clã, então esse aqui ficou inutilizado. – explicou.

— Se é tão pouco usado, por que ainda é mantido?

— Por puro orgulho. Se tem um lugar em que Neji está seguro, é aqui. Tem todo o suporte que a sede principal tem, só a localização, tamanho e o movimento de pessoas que é muito menor.

As duas andaram em direção ao portão e, ao pararem em frente a ele, Tenten reparou que não havia tranca alguma, ou campainha. Do seu ponto de vista, não havia como abrir. Para não querer demonstrar sua confusão, esperou que Hinata tomasse a frente.

Assim ela foi. Completamente certa do que fazia, Hinata posicionou o dedo médio e o dedo indicador juntos e os encostou no canto do portão, que automaticamente se abriu.

— O que foi isso? – perguntou Tenten, chocada. Hinata riu.

— Apesar de ambas as instalações serem iguais, essa aqui tem alguns brinquedinhos mais complexos. A porta abre com fluxo de chacra. Nem me pergunte como inventaram isso, porque eu não sei. – ela deu mais um risinho, olhando para Tenten. – Guarde esse segredinho para você, caso precise vir aqui. Para sair é a mesma coisa.

 Ela fingiu não ter entendido o recado escondido na frase. Tenten ficava cada vez mais surpresa com o apoio que Hinata tinha nos dois. Ousaria até dizer que ela torcia veemente para que dessem certo. Era reconfortante.

O local que viam assim que entravam, era um local aberto, com árvores apenas na beira do muro, provavelmente com o intuito de impedir a visão de fora. Alguns metros à frente havia uma varanda de madeira. A casa era obviamente enorme, mesmo que sequer tivesse entrado. Do portão já era possível ver um segundo andar.

Tiraram os sapatos antes de pisar na varanda, que estava impecavelmente limpa. O que ela obviamente esperaria de um lugar onde Neji estaria. Limpo e organizado. A primeira porta estava escancarada, nenhum móvel no cômodo. Assim foram todos. Sem nada, porém também sem nenhum grão de poeira.

— Como pode perceber, meu pai se recusou a demolir o prédio, mas também não o manteve mobiliado, já que quem vem aqui, só usa o quintal e o material de treino. – comentou Hinata enquanto as duas subiam as escadas.

Tenten não sabia o que dizer, então ficou em silêncio. No segundo andar, havia um longo corredor, com muitas portas, todas abertas, exceto a última. E foi para aquela que elas foram. Na frente da porta, Hinata bateu. Não houve resposta, mas elas podiam ouvir os passos na madeira se aproximando delas.

Segundos depois, Neji abriu a porta. Ele usava uma roupa bem simples, diferente das que usavam nas missões quando eram mais jovens. Era uma roupa mais adulta, parecida com a do senhor Hiashi, pai da Hinata. Parecia forte e respeitável e, agora que não tinha mais o símbolo amaldiçoado do Pássaro Engaiolado na testa, não precisava ficar com a bandana. Para sua surpresa, seu cabelo estava solto, o que raramente acontecia, e ele escorria pelos ombros.

Seus olhos automaticamente correram para Tenten e suas sobrancelhas franziram de surpresa.

— Tenten-san. Não esperava sua visita. – ele comentou, abrindo espaço para que as duas entrassem.

— Ela me ajudou a trazer as coisas. – explicou Hinata.

— Obrigada. Às duas.

Diferente do resto do casarão, aquele cômodo era mobiliado, com uma cama em um canto, uma cômoda e um mapa da cidade logo acima dela. Um tapete no meio de tudo e toda a parede esquerda era formada de vidro, no meio dele uma porta, que dava para uma varanda com vista para a rua. Mesmo de dia, parecia meio escuro, mas ao mesmo tempo refrescante e agradável.

— Você parece muito bem acomodado. – disse Tenten. – O local é ótimo.

— Não tenho do que reclamar. – respondeu Neji, soando entediado.

Hinata olhou os dois por alguns momentos, então deu um sorriso e disse:

— Eu vou deixar as coisas lá embaixo. Volto logo.

Tenten e Neji se olharam assim que Hinata saiu, e então sorriram, porque ambos sabiam o que Hinata estava tentando fazer.

— Fiquei feliz que veio. – disse Neji. – Foi uma surpresa boa.

— Devo fazer mais surpresas boas? – perguntou Tenten, com tom de brincadeira.

— Não vou reclamar se você fizer.

 

Boruto e Sarada se separaram, cada um olhando uma sessão diferente. Acontecia que, na verdade, as duas sessões ficavam uma na frente da outra, então estavam bem próximos. Ela não sabia porque aqui a extasiava tanto.

Não havia muito o que procurar, até porque não havia nenhuma bibliotecária que pudesse ajuda-los e, depois de certo tempo, Sarada começou a desejar também que houvesse um computador. Seria mais prático e mais rápido.

Depois do que pareceu uma hora procurando, cada um dos dois separou dois livros que pudessem ter alguma pista. Não iam ler nenhum inteiro, mas iam folhear procurando pelo nome estranho. Bem, depois de uma longa discussão, os dois acabaram concluindo que “Shi” era um nome.

Sarada usava seu sharingan enquanto folheava o livro, o que a ajudava muito. Boruto não ter essa vantagem acabou deixando a procura toda por conta somente da colega. Depois de dois livros e meio, os dois estavam prestes a perder as esperanças, mas então, quase no final do terceiro, algo chamou a atenção de Sarada.

— Achou alguma coisa? – Boruto perguntou quando viu que Sarada havia parado em uma página para vê-la com mais atenção. Ela não respondeu, já que o rapaz já estava ao seu lado segundos depois, olhando a página junto com ela. – “Guerreiros espirituais que se tornaram lenda”?

Sarada começou a ler um trecho do livro.

— “Após a criação do Ninshu [*conduta ninja*], muitas pessoas com poderes excepcionais em suas determinadas vilas e vilarejos eram tratadas como divindades. Logo após a morte do Sábio dos Seis Caminhos e expansão do uso do chacra, o poder na mão dos humanos aumenta consideravelmente. Um dos mais renomados guerreiros da época foi Ryuri Atsuhiko.”

Boruto pareceu perdido no começo, sem entender o que Sarada havia achado demais no texto, que podia se passar muito bem por um dos livros chatos que liam na época da Academia – e alguns ainda atualmente, quando era necessário -, mas então ele leu alguns parágrafos abaixo, suas sobrancelhas subindo cada vez mais. Sarada leu a parte que ele lia também.

— “Uma de suas maiores conquistas em batalha foi a morte de Tatsume Shi, uma mulher que se tornou uma de suas principais rivais. A mulher, mais conhecida como Shi por todos, possuía um poder obscuro e maligno. De alguma forma que até hoje desconhecemos, ela conseguiu causar a morte de Atsuhiko mesmo depois de estar supostamente morta. Desde então, os moradores da região temem ir até o local de sua “morte” e hoje em dia ainda tem fama de ser um local Amaldiçoado pela Ceifadora, apelido dado à Shi anos depois”. É isso que procurávamos. – concluiu Sarada.

— Isso data pouco depois a morte do criador do Ninshu, Sarada. Essa mulher certamente já morreu.

— Você por acaso leu a mesma coisa que eu? Até o próprio pesquisador duvida que ela ainda esteja morta. Precisamos descobrir aonde Shi morreu e ver o porquê da obsessão disso em você.

— Agora você é quem parece não ter lido o mesmo texto que eu. Essa doida aí “tinha poderes obscuros e malignos”. Procurar por isso é erro na certa. – ele parecia bem decidido.

— Você por acaso está com medo? – ela zombou. – Além do mais talvez isso explique porque Neji voltou dos mortos. Talvez tenha sido Shi. No final desse texto diz que hoje em dia ela é tratada como divindade em muitos lugares, principalmente por gangues de patifes e homens de laia ruim.

Boruto fez uma careta de quem não gostava do rumo da pesquisa.

— Isso não é muito reconfortante. – comentou. Sarada não prestava atenção.

— Já parou para pensar que ela pode ter morrido na Caverna dos Sonhos?

— Sarada, para e pensa. Você é que está me assustando agora. Isso pode realmente ser real. Geralmente o inconsequente sou eu.

— Certo, desculpa. Mas vamos perguntar à Noriko e ao Mitsuki o que eles acham. – ela o olhou de canto. – Não era você que queria respostas?

Antes que ele pudesse responder, um estrondo ensurdecedor cruzou o ar. Vários farelos de poeira caíram na mesa, rachaduras brotando no teto. Boruto e Sarada se levantaram da mesa onde estavam e correram em direção aos seus quartos, para buscar suas armas. Só o cinto com kunais e shurikens podia não ser suficiente.

Assim que estavam de prontos, chegou a passar pela mente de Sarada que Boruto ainda não estivesse bem o suficiente para lutar, mas ignorou e deixou que ele pegasse seu uniforme, por conta da falta de tempo. A operação toda durou menos de segundos, e mais duas explosões se seguiram enquanto isso. Indo na direção dos estrondos, tombaram com muitas empregadas que corriam desesperadas pelos corredores.

No saguão principal, Sasuke e Gecai já estavam de prontidão parados em frente à entrada do castelo. As duas enormes portas de madeira pareciam estar segurando algo do lado de fora. Algo forte, que tentava desesperadamente entrar. De alguma forma, a construção ainda aguentava a pressão. Por enquanto. Sarada não havia percebido antes, mas Mitsuki também estava no local, porém no segundo andar, pronto para pular no que quer que entrasse.

Sarada e Boruto se enfileiraram ao lado de Sasuke, esperando por ordens e explicações, o que viesse antes.

— O que aconteceu? – Boruto perguntou, antes que Sarada o fizesse. Não houve tempo para respostas, porque bem naquele instante, a porta direita saiu das dobradiças, que ainda estavam coladas nos pedaços de pedra que formavam uma parte da parede.

A visão que Sarada teve foi surreal. Nunca tinha visto nada daquela magnitude. Um par de raposas, com pelos vermelhos como o ápice de um pôr do sol. Não eram raposas comuns, porque mediam quase cinco metros de altura cada uma. Parte de suas pernas eram pretas e, apesar do tamanho descomunal, seus movimentos pareciam suaves e calculados. Elas rugiam com ferocidade, como se fossem lobos, e a espinha de Sarada gelou. Não por medo, mas pela falta dele. Eram tão lindas, que ela jamais imaginaria que podiam ferir alguém, mesmo que seu rugido dissesse o contrário.

Gecai avançou, gritando, e Sasuke foi logo atrás, um em cada raposa. Mitsuki, de prontidão no segundo andar, pulou no corpo da que estava mais próxima, enrolando seus braços elásticos ao redor do seu pescoço, numa tentativa de enforcamento.

Assim como não havia notado Mitsuki, Sarada só viu Noriko quando ela apareceu do segundo andar também, no lado oposto ao de Mitsuki. Ela chegou com seu jutsu especial, que era muito parecido com a teoria do Punho Gentil, que Boruto usava. Ela aplicava a mesma técnica, só que usando um par de leques pouco maiores que suas duas mãos juntas. Era um golpe de consequência brutal, aparência suave, e com movimentos delicados.

Logo atrás do pequeno grupo, Sarada e Boruto atacaram as raposas pelas laterais, tentando fazer o mínimo de estrago possível no saguão do castelo.


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Notas finais do capítulo

Espero que estejam satisfeitos. Digam o que acharam comentando, seus comentários fazem meu dia mais colorido. Até a próxima semana!



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