A Magia na Seleção escrita por Darlings


Capítulo 10
Surpreendentemente, eu não morri.


Notas iniciais do capítulo

NÃO, EU NÃO MORRI.
LEIAM AS NOTAS FINAIS OU JAMES POTTER MORRERÁ. SIM, ESTOU FAZENDO JAMES DE REFÉM. E NÃO, AQUI NÃO É O SIRIUS.



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Potter.

 

O ocorrido daquela noite na floresta afetou todo o meu desenvolvimento durante essa semana. Não consegui concentrar-me direito em nenhum dos encontros. E tudo por causa dela. Oh céus, como aquela garota conseguia ter este efeito sobre mim?

Não que os encontros tenham sido de todo o ruim, conheci garotas bem legais. Uma delas é a Ruby. Pensei que o encontro com ela seria um fiasco. Pois: primeiro eu marco com ela na cozinha; segundo eu descubro que ela é bem nutrida – se é que você me entende – e terceiro, ela poderia levar isso como uma ofensa. Mas não. Na verdade ela adorou. Conversamos sobre muitas coisas e ela fez o melhor pudim que já vi – já que ela não me deixou provar e comeu tudo. Uma pessoa muito interessante, pode-se afirmar.

Tonks, a metamorfomaga, é uma pessoa superdivertida. A levei para um passeio pelos jardins, mas seu cabelo – que estava rosa berrante – fez com que todas as flores parecessem desbotadas. Ela transformou-se em várias coisas e fez-me rir durante quase todo o encontro. Uma pessoa fascinante, e brava também, que quase me azarou quando a chamei de Nymphadora. Parece que ela não gosta muito do nome, e devo dizer que eu também não gostaria muito caso me chamasse assim. Queria ter a conhecido antes, como eu nunca a tinha visto em Renascent? Essa pergunta fica ainda mais difícil de responder quando a olho e vejo seu cabelo nada modesto.

Meu encontro com a Marlene McKinnon foi meio que uma conversa de reflexão. Basicamente lembramos e falamos sobre aquela noite. Ela também deixou bem claro para mim que não queria ser a futura rainha, e confesso que fiquei mais à vontade depois disso, fazendo várias perguntas sobre a “vida”.

''Sério que você vai ficar o encontro todo perguntando sobre a Lily?'' Ela chegou a dizer.

Marlene é uma ótima pessoa, espero continuar em contato com ela mesmo depois da Seleção. Sirius me disse, mais tarde, que também gostaria disso.

Bellatrix Black, prima de Sirius, diferente dele, não é divertida ou engraçada, sequer é amigável. Surpreendi-me quando vi seu nome, pois somos meio que inimigos desde o meu primeiro ano em Renascent. Nosso “encontro” foi muito estranho, ela agiu o tempo todo como se estivesse entediada, como se aquilo fosse uma total perda de tempo. Talvez realmente fosse, mas uma perda de tempo para mim e não para ela. Toda essa situação era muito suspeita, afinal, ela não me suportava, estava agindo como se fosse a princesa e ainda por cima ria da minha cara. Conversei com Sirius sobre isso e ele, conhecendo-a como a conhece, não soube dizer o que a fez se inscrever. A única certeza que tenho é de que ela sairá da Seleção na primeira dispensa.

Quando chegou o dia do encontro com Tessa Lupin, tive que jurar mil vezes para Remus que não faria nada com ela. Tess é uma garota empolgada e quer sempre agradar. Durante o encontro, a todo o momento, em cada gesto e palavra, eu via Remus em minha frente com aquela expressão séria. Tess sempre teve uma queda por mim, e eu sempre me afastei por causa de meu amigo. Depois de tanto tempo me esquivando, eu não poderia estragar tudo agora. Ela se aproximava, eu me afastava. Ela arrumava assuntos superinteressantes e eu dava respostas secas. Acredito que ela tenha saído decepcionada do encontro. Talvez seja melhor assim.

Ah, a Kristal. Saí com ela em Renascent algumas vezes (escondido é claro, já que o príncipe não pode sair com ninguém antes da Seleção). Garota encantadora. A princesa que todos esperam. Delicada, amável, linda, apaixonante. Durante o encontro, senti vontade de beijá-la como eu fazia em outras épocas, mas é claro que eu me contive. Há alguma coisa nela que atrai todos ao seu redor. Nosso encontro foi calmo e prazeroso, era como se não precisássemos dizer nada. Ela falou sobre sua família, sobre arte, música, literatura. Mas eu não prestei muita atenção no que ela dizia, estava mais ocupado olhando-a falar, vendo seus gestos sutis e seu sorriso encantador. Eu não entendia o porquê, mas apenas aquela garota tinha esse efeito sobre mim. Um efeito dos bons.

Não precisei de muita coisa para ter um bom encontro com Chloe. Ficamos em uma sala durante todo o tempo, e só aceitei sair de lá quando o tempo acabou porque eu sabia que eu iria encontrar-me com sua irmã gêmea.

''— Estou com saudade da maleta, você podia ter trazido ela, né?

— Não, pois a maleta está com a Emma neste momento.

— Comigo também, então.

— Ainda não, Potter.

Então ela sorriu, é claro que as gêmeas haviam sacado o que estava por trás dos diversos encontros por dia. Elas não eram burras, e me conheciam.''

''— Seu encontro com a Chloe foi bom? — perguntou Emma assim que a encontrei. — Eu poderia perguntar a ela, mas vejamos... Ela acabou de se despedir de mim para ir se encontrar contigo.

Abri um largo sorriso. Como eu adorava essas meninas.

— Foi ótimo... Assim como os outros que eu já tive hoje.

— Que você está tendo agora, James.

— Isso é loucura... Mas é a verdade. A Chloe me disse que você estaria com a maleta, mas não pensei que estivesse mesmo. Por que vocês não a deixam no quarto?

— Desprotegida? Oh, Jay, é claro que para você, o Príncipe Todo Poderoso e tal, o castelo é o lugar mais seguro do mundo... Mas para a maleta não.

— Vocês têm medo de que a roubem?

— Temos medo de que alguma autoridade a confisque e nos prenda por causa do material que temos aqui.

Eu sabia que ela não estava brincando, embora seu tom tenha sido divertido.''

Já saí com Ashley Diggory algumas vezes em Renascent Magic, garota espetacular. Aquele encontro eu sabia que iria dar certo. Ela jogava Quadribol comigo em Renascent e não me enganei ao pensar que iria adorar ir à quadra do castelo. Posso conversar sobre tudo com ela, tudo mesmo. Posso jogar uma partida de quadribol sem precisar deixá-la ganhar. Oh, ela tem capacidade de fazer isso sozinha. Na verdade, ela é capaz de fazer tudo sozinha. Conversamos durante horas, jogamos algumas partidas, relembramos os bons e velhos tempos. Mesmo que eu não venha a me casar com ela, não quero perder nossos laços.

De Dorcas Meadowes eu me lembrava. Havia boatos de que ela era a fim do Remus, nada nunca confirmado. Mas é claro que eu fiquei sabendo, até tentei ajudar, embora indiretamente. Ela foi muito gentil no encontro. Meio sem graça no começo, acho que por causa dos acontecimentos daquela noite, mas foi se soltando depois que percebeu que não tinha sido nada demais, o que me fez descobrir que Dorcas era uma pessoa superlegal.  Nosso encontro foi na biblioteca e ela me indicou vários livros que, certamente, apenas irei pensar em lê-los quando eu for um velhinho e não tiver nada melhor para fazer. Diferente de meu encontro com Marlene, não perguntei nada sobre Evans para Dorcas.

Alice Travers foi muito gentil. Ela estava nervosa e toda vez que eu perguntava algo a garota engasgava, mas ainda assim foi gentil. Media todas as palavras que dizia, o que me fez pensar que ela queria que tudo ocorresse perfeitamente, porém isso só fez com que a situação ficasse mais estranha. A levei para um passeio pelas estufas e ela adorou, ficou o tempo todo falando nome de plantas e o quanto era legal estar em um lugar onde houvesse tantas variedades de ervas. Depois de um tempo ela se soltou e começou a falar e agir naturalmente, como se fôssemos velhos amigos. Gostei mais dessa versão dela, não que seja uma de minhas preferidas, mas com certeza foi melhor que uma garota que cantou – desafinadamente – o encontro inteiro. Pensando bem, quase todas foram melhores que ela, levando em consideração que nenhuma me fez ficar com dor de ouvido.

Apesar de todos os encontros e desencontros que aconteceram ao decorrer desses dias, nem sequer um deles me deixou tão nervoso quanto hoje. Rosto pálido, mãos suando e corpo gelado eram os efeitos que apenas Lily Evans conseguia causar em mim. E não, isso não é amor. É natural que, depois de tantos ''nãos'' recebidos desde os saudosos tempos de Renascent Magic, eu venha me sentir ansioso com o que o tão esperado ''sim'' me traria. Isso não é amor. É completamente natural que, depois de vê-la com aquele uniforme da Renascent Magic por anos, eu venha me sentir excitado  – em ambos os sentidos da palavra  – ao imaginá-la com um vestido mais curto. Isso não é amor. Estou repetindo essa frase para mim mesmo nas últimas duas horas em que estive trocando de roupa em meu quarto. Após vários encontros por dia que tive no decorrer dessa semana, esse é o primeiro em que eu me recuso a ir com a mesma roupa de sempre, até porque o encontro de hoje não será como os outros. Será único (em ambos os sentidos também, porque é o único encontro do dia). Porém, eu devo repetir para mim mesmo pela última vez: isso não é amor. O fato de eu pensar nela nas últimas horas do meu dia a ponto de me causar insônia não significa que é amor, certo? Certo.

— James, você perdeu meu casamento! — Remus exclamou adentrando repentinamente meu quarto juntamente a Sirius.

— Meu filho completou 5 anos e a Vossa Majestade não teve coragem nem de dar um mísero presente. — Sirius continha indignação tanto na voz quanto no olhar. E eu? Bem, eu não estava entendendo nada.

— Do que vocês estão falando, seus malucos?!

— Que você está há tanto tempo nesse quarto que a essa altura Evans já deve estar casada com o Ranhoso, cuidando de Ranhosinhos.

Fiz uma careta de nojo ao imaginar.

— Muito obrigado por me deixar enjoado minutos antes do meu encontro.

— Aliás, James, aproveita que vocês terão um encontro e diga a ela que lave bem os cabelos dos filhos, porque se depender do pai...

Impedi que Sirius terminasse sua frase tacando um travesseiro em seu rosto. Quando ele foi rebater, Rem impediu:

— Pads, chega de provocações e vamos acabar logo com as horas de beleza do James — Moony falou, adquirindo, subitamente, um tom de seriedade. Típico de Remus Lupin.

— Mas eu não estou pron...

— James Potter, você é um príncipe ou uma princesa? — Sirius me interrompeu, impaciente. — Essa roupa tá legal, só passa um perfume e vai pegar aquela garota. Tem certeza de que quer deixar a Evans esperando por muito tempo? A Evans? Além disso, ainda tem programa do Correio Coruja hoje. 

— Você está certo, mas se esqueceu de duas coisas: eu tenho o tempo em minhas mãos. Literalmente. — Peguei o vira tempo e mostrei a ele. — E já passei perfume.

— Não é o que parece, amigão.

 

A cena que vi quando a figura ruiva de olhos verdes abriu a porta para mim nunca será esquecida. Apesar da expressão não muito feliz, Evans estava mais bonita do que nunca. E não, eu nunca achei que isso seria possível. Ela usava um vestido coral, rendado e pouco acima do joelho. As mangas eram longas e o decote nem tão modesto, nem tão avantajado. Agradeci mentalmente a Merlin por ter colocado aquelas três criadas incríveis na minha vida. Fiquei feliz ao ver que Evans usava o colar das Gêmeas, isso me ajudaria muito. No momento a cor estava violeta, indicando tédio. Confesso que não esperava isso.

 — Vamos acabar logo com isso, certo? — Lily finalmente se pronunciou, ignorando minha total falta de discrição ao fitá-la. Reendireitei minha postura e ela fechou a porta atrás de si.

— Errado, minha querida. Vamos aproveitar esse dia como se fosse o último de nossas vidas. — Ofereci meu braço a ela, mas fui totalmente ignorado.

— Primeiro: — Lily aproximou-se mais de mim, encarando-me com aqueles olhos ainda mais realçados por conta da maquiagem. Prendi minha respiração. — não iremos aproveitar nada. Acredite, eu realmente queria que esse fosse o último dia da minha vida, porque assim eu não teria que olhar novamente pra esse rostinho que você tanto hidrata antes de dormir. — Seus olhos eram verdes, mas eu sentia que eles ficariam vermelhos a qualquer momento, para combinar com o restante de seu rosto

— Segundo: — Ok, isso já estava ficando perigoso. Evans havia dado mais um passo, e agora só faltavam questões de centímetros para que seu corpo ficasse totalmente colado ao meu. — eu não sou sua querida — sua boca falou, quase como num sussurro. Certamente eu havia pego Lily em um dia ruim, porque eu nunca tinha visto-a tão tentadora antes.

Um cara comum teria ficado fortemente magoado com as coisas que Lily Evans dissera, mas não eu. Não James Potter. Na minha opinião, há uma linha tênue entre amor e ódio. Às vezes alguém ama outra pessoa tão exageradamente que essa linha arrebenta e todo esse amor se torna ódio, e vice versa. Odiar tanto alguém pode causar o rompimento da linha e transformar toda essa raiva em amor. Acredito que isso já esteja acontecendo com Evans. Só um pouquinho mais de ''Vá se ferrar, Potter!'' para que Lily caia de amores por mim.

Antes que ela pudesse se afastar, eu falei:

— Desculpa, o que disse mesmo? Eu estava ocupado demais observando essa boca que pretendo beijar hoje — provoquei-a. — Uma bela boca, aliás. — Tentei passar meu dedo indicador em seus lábios, mas os reflexos da Lily eram muito bons. Rapidamente ela se afastou e me olhou com ódio.

— Vá se ferrar, Potter! — exclamou, antes de sair pisando fundo. Corri atrás dela.

— Aliás, vi que não gostou do ''minha querida'' — falei ofegante, já no encalço dela. — Não tem problema, eu fiz uma lista com vários apelidos que posso usar...

— Não estou te ouvindo, Potter. Desista.

— ... Pimentinha, Gengibre, Lírio, Fogomaldito, Raposinha, SraPotter...

— Ok, ok! Já chega! — Lily parou de andar e eu quase gritei um pedido de ''Obrigado''.— O que você precisa pra parar de falar essas coisas nojentas?

— Apenas seja uma garota normal e segure meu braço.

Revirando os olhos e um pouco receosa, Lily Evans fez o que pedi.

— Você sabe que ser uma garota normal não é algo que gosto muito de fazer.

 

Fomos até a parte exterior do castelo, onde se encontrava o estábulo dos hipogrifos. Evans parou na porta e olhou de Shadow (meu hipogrifo) para mim, adivinhando a proposta do encontro.

— Se você acha que eu vou subir nesse assassin...

Sequer a deixei terminar. Tampei a sua boca com tamanha rapidez que ela tomou um susto e me deu um tapa no ombro.

— Ouch! — Lily emitiu um som estranho, então percebi que ainda estava com a mão em sua boca. — O que foi isso? Você ficou maluco?

— Eu iria fazer a mesma pergunta. Não quero ter que levar uma selecionada para o hospital logo na primeira semana da Seleção. Você não frequentava a aula de trato de criaturas mágicas? — perguntei, como se já não fosse óbvio. — A última pessoa que insultou um hipogrifo em Renascent Magic quase ficou sem um dos braços

— E mesmo assim você quer que eu chegue perto dele? — ela indagou com as sobrancelhas arqueadas olhando para Shadow. — É para isso que você sempre quis um encontro comigo, Potter? Para me matar?

— Ora Evans, pare com esse drama. Chegue mais perto — andei alguns passos à frente e fiz uma reverência para Shadow, que respondeu instantaneamente. — É só vir devagar, fazer uma reverência e esperar que ele faça o mesmo.

— Potter... não é uma boa ideia, sério. Eu já tentei em Renascent, foi um desastre.

— Olhe nos olhos dele — eu disse, ignorando o que ela tinha dito. — Ele adora verde, gostará mais de você quando olhar em seus olhos.

Evans me olhou suplicante, e eu devolvi o mesmo olhar. A fumaça de seu colar alternava-se de vermelho para lilás, indicando medo e nervosismo, respectivamente. Então ela tentou.  Ainda receosa, ela se aproximou um pouco, encarou o hipogrifo com seus lindos olhos verdes e, por fim, fez uma reverência – um tanto desajeitada, se me permite dizer. Rapidamente, Shadow repetiu a reverência e, pela primeira vez, Lily olhou para mim e sorriu.

— É, não foi tão ruim assim — Lily confessou, tentando disfarçar o sorriso.

— Agora você entende o porquê do príncipe James Potter ter sempre razão?

— Eu entenderia se isso fosse verdade.

Sabendo que não adiantaria nada contestá-la, assobiei para que Shadow saísse do estábulo. Por um momento pensei que Evans iria gritar de susto quando viu a criatura passando por ela.

 

— Então, conheceu alguma garota legal em um dos seus rápidos encontros? — Lily observava suas unhas enquanto andava, tentando parecer desinteressada. Ela havia perguntado sobre os meus encontros na última vez que nos vimos, mas acabei estragando tudo no final.

— Ah, sim, algumas... — respondi, mesmo achando todo aquele interesse na minha vida  amorosa muito estranho. Aliás, o que não era estranho em Lily Evans?

— Oh, legal. — Vi um brilho estranho aparecer em seus olhos. Não de ciúmes ou amor, mas sim de... esperança e interesse. — Minhas amigas estão incluídas nesse ''algumas''?

— Para ser sincero, não. Pelo menos por enquanto — refutei simplesmente. — Por que estamos falando das outras selecionadas? Hoje é a sua vez de ser a garota legal que conheci em um dos meus encontros.

— Não quero ser essa garota, Potter. Você sabe disso.

— Você pode ser mais do que isso, Evans. — Parei de andar, fazendo Shadow parar junto. Encarei-a e infelizmente só pude encontrar aquele olhar que ela sempre me dava.

— Eu não quero. — Desviou o olhar.

— Então é melhor irmos voando. — Sorri de canto, me segurando para não rir ao ver a cara de espanto da Evans.

— Não, não, não! Cumprimentar um hipogrifo é algo totalmente diferente de voar em um hipogrifo. Então, se você acha qu... — Cortei-a antes que terminasse sua fala e a joguei no meu ombro como se fosse um saco de batatas. Logo após, montei-a em Shadow e me sentei logo a sua frente, de costas para ela.

Essa ação talvez tenha feito Lily perder a voz, porque tudo o que ela fazia era olhar aterrorizada para os pelos escuros do animal em que estava sentada. Evans se encontrava dura como uma pedra, sequer respirava e a única coisa que denunciava a sua sobrevivência era o fato de que ela apertava meu abdômen com tanta força que poderia deixar marcas mais tarde.

— Lily, se seu desejo era que meu último momento de vida fosse ao seu lado, ele se realizará a qualquer momento se não me deixar, ao menos, respirar — eu disse com dificuldade. Estou começando a reconsiderar a ideia de voar.

— Eu... Eu não vou conseguir fazer isso. — Lily quebrou o silêncio, falando mais para si do que para mim. Respirando fundo, ela suavizou o aperto. — Nunca consegui vencer meu medo de altura. Só naquela vez que desci do meu quarto deslizando por um lençol, mas aquilo não é nada perto disso.

— Pelas barbas de Merlin, Lily! Eu tenho Shadow desde quando ele era um filhote e tenho certeza que ele nunca me faria mal algum — garanti a ela. — Marque essas palavras: Eu NUNCA deixaria nada de ruim acontecer com você. Eu nunca perdoaria a mim mesmo caso isso ocorresse. — Respirei fundo, já me preparando para o fim do encontro. —  Mas se você realmente não quiser ir, eu vou entender...

— Ok, eu vou, eu vou! — ela disse de uma vez. — Preciso enfrentar meus medos, certo? Certo! Eu acho. — Lily falava tão rápido que eu mal conseguia entender as palavras que saíam de sua boca. — Quer dizer, eu sou da Forlix, certo? Eu sou corajosa. Eu atravessei o lago em cima de uma cobra. — Dei uma risada ao me lembrar da cena. Bons tempos... — Eu...

— Ok, já entendi.

Voltei a olhar para a frente, mirei o céu e, bem... o encontro não estava sendo tão ruim. Se eu imaginei tudo perfeito, dando certo, beijando a Lily e depois fazendo outras coisas? Hm, talvez. Mas toda essa dificuldade fazia com que tudo ficasse ainda mais desafiador.

Acariciei levemente as penas do pescoço de Shadow, e o próprio logo entendeu e abriu suas enormes asas. Ao levantar voo, senti Lily me abraçar, encostar sua cabeça em minhas costas e sussurrar palavrões que até Sirius ficaria bastante impressionado ao ouvir. Ri baixo.

Virei levemente a cabeça para encarar a Lily, que se mantinha deitada em minhas costas com os olhos extremamente apertados. Me segurei muito para não rir de novo e apenas olhei para frente, encarando a bela vista que aquele lugar me proporcionava. Ainda deslumbrado com tudo aquilo, falei alto o bastante para que Lily conseguisse ouvir:

— Você não vai morrer se abrir os olhos.

Tudo o que ouvi no momento seguinte foi um lindo murmúrio de admiração que escapara da boca de Evans. Ela estava gostando. Afinal, quem não gostaria? O céu já indicava que o fim de tarde estava próximo, então era como se as cores dele conversassem entre si. O azul, laranja e rosa com certeza formavam um belo trio.

— É tão lindo, tão inexplicável. Não existem problemas aqui em cima... É como se a paz morasse nas alturas. — Lily olhava para o céu fascinada.

— É por isso que eu gosto tanto de voar — concordei. — Por isso e porque é bom sentir-se apenas alguém. Não um Príncipe. Não James Potter. Apenas uma pessoa.

Ficamos em silêncio por um momento, apenas apreciando a vista.

— Eu gosto de ver os lugares de cima. Você deseja que tudo pertença a si.

— Mas tudo realmente pertence a você, Potter. — Lily riu, me fazendo rir junto. — Acho que essa é a visão mais linda que eu já tive em toda a minha vida.

— Isso é o que eu sempre digo quando me olho no espelho.

— Tava demorando para o Príncipe Potter aparecer — amargurou-se Lily.

— Ele sempre estará aqui, Lírio. Agora se segura aí porque vamos subir mais um pouco. — Dito isso, me segurei em Shadow para que ele já soubesse o que fazer. Instantaneamente ele voou ainda mais alto e eu o guiei para que pudéssemos ver todo o castelo aqui de cima. Ele conseguia ser grande mesmo visto a muitos metros de distância.

 

Guiei Shadow por um tempo, até sobrevoarmos a Floresta Negra. Ela era tão grande e tão intensa que agora, ao olhar para baixo, já não dava para visualizar nada além dela. O céu escurecendo deixava tudo ainda mais lindo e assustador.

 — Meu Merlin! — exclamou Lily, olhando para baixo. — Prometo nunca mais tentar entrar nessa floresta novamente. Nunca mais.

— Depois que você a domina, é difícil sentir medo novamente — respondi. — Foi assim com você. No começo assustadora, depois encantadora.

— Ha, ha, ha  — Lily forçou a risada. — Como você é engraçado, Potter. Além de correr risco de vida ainda tenho que ouvir essas coisas?

— Não seja dramática.

Segurei as duas mãos da Lily e as prendi ainda mais fortemente em meu abdômen. Fiz o sinal para que Shadow acelerasse e ele o fez, causando gritinhos — não sei se de excitação ou medo — em Lily.

— Aproveite, Evans! — gritei, sentindo o vento bater fortemente em meu rosto e meu cabelo voando por conta da intensidade do voo. Não pude evitar dar gritos de animação.

Senti Evans soltar-me e meu coração quase parou por pensar que ela tinha caído. Olhei para trás e a própria estava de olhos fechados, com os braços abertos e gritando alto.

— Ok, só não aproveite tanto assim. Estamos muit... Meu Merlin!

Um inseto havia acabado de entrar na boca de Lily. Imediatamente ela arregalou os olhos e colocou suas mãos em volta do pescoço, numa tentativa falha de colocar o bicho para fora. A cada segundo que passava, mais vermelha ela ficava.

— Ok, sem pânico. Sem pânico. Tá tudo bem, Lily! Tá tudo sob controle! — gritei, mais para mim do que para a própria Lily. Mesmo nas alturas consegui me virar e ficar de frente para a Lil, que parecia prestes a morrer por conta da criatura. — Você realmente não levou a sério o que eu falei sobre não querer nenhuma selecionada no hospital.

Lily fez uma cara (ainda mais) feia para mim.

 

— Desculpa, eu vou dar um jeito nisso.

 

Peguei a varinha de meu bolso e tentei qualquer feitiço que conseguisse tirar aquilo da garganta da ruiva. O rosto vermelho dela agora já estava roxo, e a medida que ia piorando, eu ia me desesperando ainda mais. Depois de muitas tentativas, o animal finalmente saiu e caiu em algum lugar.

— Você está bem? — preocupei-me. Lily apenas assentiu.

 

— O que era aquilo? — Evans perguntou quando recuperou a voz.

— Um inseto da Floresta Negra. Em alguns casos, a mordida dele pode ser fatal. — Respirei fundo ao pensar nisso. — Eu não deveria ter vindo pra cá.

—  Mas você veio, e agora se lamentar não vai adiantar na... — Subitamente, Lily parou de falar, como se tivesse lembrado de algo. — O PROGRAMA, POTTER! Estamos perdendo o programa! A Sra McGonagall vai me matar!

 —  Ela não vai te matar, para de ser paranoica. Você está com o Príncipe —  falei, querendo rir do desespero dela.

—  De qualquer forma, eu quero ir embora.

—  Pelo menos você não morreu. — Tentei amenizar a situação.

Shadow deve ter pensado: ''Hm, Lily Evans não morreu? Irei resolver isso agora!''. Pois, súbita e descontroladamente, ele começou a rodopiar pelo ar, sem conseguir recuperar o controle de suas asas. Rapidamente Lily prendeu seus braços a mim e aquilo, de alguma forma, me deu forças para continuar tentando acalmar a criatura — o que não adiantou muita coisa.

— O QUE A GENTE VAI FAZER? — Lily perguntou entre gritos, à medida em que Shadow perdia o controle ainda mais. — EU SOU MUITO NOVA PARA MORRER, POTTER!

— NÓS NÃO VAMOS MORRER! — exclamei, mesmo sem acreditar muito naquilo. — EU VOU DAR UM JEITO!

Me segurando fortemente ao animal, tentei acalmá-lo e dizer que estava tudo bem. A cada segundo que se passava ele ficava ainda mais agitado. Na verdade, não só ele estava assim.

— JAMES, SE EU MORRER, EU TE MATO!

Lily estava com cara de quem queria arrancar os seus cabelos. Ou os meus.

E então eu vi... Eu vi o que estava causando todo o caos. A mesma criatura que antes estava presa na garganta de Lily, agora picava o traseiro de Shadow. Sem pensar em usar a varinha eu arranquei rapidamente, com toda a minha força e fúria, o pequeno inseto infernal.

— Shadow, você vai ficar bem, eu prometo. Vamos voltar a terra e eu cuidarei de você. — Minha preocupação já deveria estar bem evidente naquele momento. Shadow sempre foi muito importante pra mim... Apenas um pouco do veneno daquele inseto em seu sangue e ele poderia ficar gravemente doente.

Mesmo com dificuldade, Shadow conseguiu aterrissar de modo que nem eu, nem Lily nos machucássemos. Totalmente desesperada por terra firme, Evans jogou-se no chão assim que chegamos.

— EU TE AMO, TERRA! PROMETO TE VALORIZAR AINDA MAIS! — Ela quase chorava enquanto gritava essas palavras. — VOCÊ! — Evans gritou para mim, levantando-se da grama. — ISSO É TUDO CULPA SUA!

A noite já havia chegado e eu não sabia mais o que fazer. Eu tinha uma mulher raivosa ao meu lado, um compromisso em que eu estava atrasado e um animal machucado.

— Evans, depois decidimos de quem é a culpa. Você precisa avisar para todos do programa que eu não vou.

— O quê? Por que você não vai? — perguntou sem entender.

— Porque eu tenho que cuidar do meu hipogrifo — expliquei enquanto acariciava as penas do animal.

— Pelo o que eu sei, você é um Príncipe e também é arrogante, egocêntrico, metido... — A olhei numa tentativa de descobrir aonde ela estava querendo chegar. — Você é tudo isso, menos curandeiro. Shadow precisa ser cuidado por um profissional, Potter. Você sabe disso. 

Sim, eu sabia disso.

— Você está certa, mas...

— Nada de ''mas''! Vá deixar ele no estábulo e ative aquela coisa que você usa quando precisa de alguém — Lily disse, impaciente.

 

E foi exatamente o que eu fiz. Não levei muito tempo para abrigar Shadow e conseguir alguém capacitado o suficiente para que cuidasse dele. Para minha surpresa, Evans continuava me esperando. 

— Não consegue ficar poucos minutos sem mim? — perguntei com um tom divertido, apesar de meu interior não estar tão feliz assim.

 

Evans.

 

Potter entrara com o hipogrifo machucado no estábulo e, desde então, bruxos curandeiros e veterinários saíam e entravam lá a todo momento, indo do estábulo ao castelo e do castelo ao estábulo. O Potter, porém, não aparecia. Já estava quase que completamente noite e, pelo horário, o programa já havia começado. Tudo para estragar ainda mais o dia. Eu ainda podia sentir aquele inseto grande e asqueroso em minha garganta, me impedindo de respirar. Eu ainda podia sentir a adrenalina e o medo que a nada agradável aterrissagem me causara. Potter havia me dito, mais cedo quando me encontrara, que aproveitaríamos o dia como se fosse o último de nossas vidas. E por pouco não fora. Porém, conhecendo McGonagall e a Rainha Michelle como conheço, não é impossível que este realmente seja o último dia da minha vida.

Depois de quase quinze minutos lá dentro, Potter saiu. Em suas feições havia uma mistura de cansaço e alívio, e ao me ver ali, pareceu estranhamente surpreendido.

— Não consegue ficar poucos minutos sem mim? — ele perguntou tentando sorrir um pouco.

— Francamente, Potter, você realmente precisa fazer suas gracinhas mesmo nesses momentos de tensão? O programa já deve ter começado e ainda nem estamos...

— Evans! O programa! Me esqueci completamente... — ele praticamente gritou apavorado.

— Mas eu avisei antes... Potter, o que está fazendo? — Subitamente, ele pegou em meu braço e saiu me puxando em direção ao castelo. 

— Não temos tempo a perder, desculpa — ele explicou-se olhando para mim, mas sem parar de correr.

— Jura? — perguntei irônica. — Potter, seu imbecil, você pode me soltar, eu consigo muito bem correr sozinha — reclamei irritada, mas ele não deu atenção ao meu comentário.

Mesmo depois de adentrarmos o palácio, ele não me soltou. Respirei fundo para não dar um soco em sua cabeça.

— JAMES POTTER! — gritei, fazendo força para conseguir pará-lo. — Você é uma anta ou um jumento?

— Evans, eu te respeito e muito, mas você quer parar pra falar sobre antas? Nós temos que ir... 

— E você quer aparecer no seu programa cheirando a cocô de hipogrifo? — Ele me encarou por alguns momentos e pensei que ele ficaria assim o resto da noite.

— Ok, você tem razão...

— Eu sempre tenho razão — comentei revirando os olhos.

Potter fingiu não ouvir meu comentário e tirou a varinha de dentro das vestes. Jogou um feitiço em si mesmo e automaticamente suas vestes mudaram e até o cheiro melhorou. Ele se virou para um espelho que havia no corredor (eu andara me perguntando o porquê de o palácio ser repleto de espelhos, e acho que agora encontrei a resposta: é claro que James Potter precisaria se ver e aumentar seu ego em todo instante e lugar). Parecendo não estar satisfeito, repetiu o procedimento várias vezes, até que pareceu gostar – mais ainda – de sua aparência, virando-se então para mim e parecendo se lembrar da minha existência.

— Evans, por que ainda não está pronta? — ele perguntou desesperado.

— Talvez porque eu precise de uma varinha? — respondi como se fosse óbvio.

— E por que diabos você não está com a sua?

— Talvez porque agora ela é inútil por causa da politicagem do palácio? — respondi novamente como se fosse óbvio.

O Príncipe respirou fundo.

— Apenas para informá-la, eu fui contra essa coisa de controlar as varinhas... Mas não há nada o que fazer, então terei eu mesmo que providenciar o seu visual — ele disse sorrindo estranhamente, logo em seguida apontou sua varinha para mim (a varinha mágica, ok?)

— Potter... olhe lá o que vai fazer.

— Relaxa, Evans. Não confia em mim? — Olhei para ele com as sobrancelhas arqueadas, num singelo gesto querendo dizer "não". — Hm... vamos pensar — ele disse pensativo. Então uma luzinha rosa saiu de sua varinha e veio até mim, me causando uma sensação estranha.

Meu vestido coral sumiu e em seu lugar apareceu outro verde; olhei-me no espelho do corredor e fiquei completamente vermelha e louca: o vestido era hiper mega super curto, com um decote enorme.

— POTTER, TIRA ISSO DE MIM JÁ! — ordenei aos berros, tentando tampar as partes de meu corpo que estavam aparecendo demais.

— Mas você tá sensacional! — Potter elogiou-me, me olhando de cima a baixo, deixando-me ainda mais envergonhada.

— Tira isso de mim antes que eu pule em cima de você — ameacei.

— Eu adoraria que você fizesse isso — ele disse rindo. — Calma, Evans, estou apenas brincando. — Ele rendeu-se e apontou a varinha para mim novamente. — Como você quer o seu traje?

— Quando mais pano e mais pele coberta, melhor — respondi impaciente.

Potter lançou o feitiço novamente, e senti a estranha sensação novamente. Para minha surpresa, senti tecido envolver meu rosto também. Ao olhar-me no espelho, vi algo parecido com um dementador. Potter, ao ver como fiquei, começou a rir desesperadamente. Realmente havia muito pano, pois a única coisa que era possível ver em mim eram meus olhos. Todo o resto estava coberto por um tecido marrom escuro.

— Ha ha ha! Muito engraçado, Potter — disse revirando os olhos.

— Você que pediu assim — ele se explicou, tentando conter a risada, mas riu ainda mais.

Perdi a paciência e fui até ele, minha vontade era de pular em cima daquela anta e socar com toda a minha força.

— Vamos, me dê sua varinha, Potter — ordenei.

— Ora, ora, Evans! Nunca pensei que você iria querer pegar em minha varinha logo no primeiro encontro — ele disse com um sorriso pervertido nos lábios.

— Quê...? Potter, nós já estamos atrasados, e mesmo assim você insiste em ficar brincando? — Me aproximei mais e tomei a varinha de suas mãos. Ele me olhou desacreditado, porém não fez nada.

Me virei para o espelho, e, após pensar um pouco, lancei o feitiço sobre mim. O traje ridículo de Potter deu lugar a um longo vestido preto, que cobria o pescoço e os braços. Utilizei também um feitiço para maquiagem (incrivelmente eu estava cheia de olheiras por causa do estressante dia), e deixei meu cabelo num coque frouxo.                                        

Depois que terminei, devolvi a varinha a Potter, que me olhava com divertimento e espanto. 

— Você realmente vai assim?  — ele perguntou quando me viu seguindo pelo corredor.

— Sim, e saiba que é tudo culpa sua! — comentei me virando para ele. — Se você não tivesse a brilhante ideia de pedir para as meninas fazerem aquele vestido indecente para o encontro de hoje, eu não estaria com esse desejo de me vingar delas.

— Espero nunca provocar seu lado vingativo — ele disse com um meio sorriso, enquanto olhava para meu vestido.

— Acho que é tarde demais, Potter — o respondi, voltando a andar pelo corredor; depois de um tempo andando, porém, percebi que eu não sabia para onde ir.

Virei-me para o Príncipe e o vi parado ainda no mesmo lugar. 

— Err... você por acaso sabe onde está acontecendo o programa? — perguntei como quem não quer nada. Potter riu e começou a andar em minha direção.

— Você não existe, Evans — ele disse entre risos, e então virou para a esquerda. Apenas o segui sem dizer uma palavra.

Chegando ao salão dos bastidores, nos deparamos com muitas pessoas aparentemente enlouquecidas, que, ao nos ver, tiveram suas expressões aliviadas. Antes, porém, que qualquer um chegasse até nós, Black e Lupin praticamente nos arrastaram para dentro de uma espécie de camarim, que foi trancado, deixando novamente, imagino, o pessoal lá fora louco. Lá dentro estavam minhas Amigas-Que-Cuidam-de-Mim.       

— O que vocês dois têm na cabeça? — perguntou Natalie completamente louca.

— Com todo o respeito, senhor — completou Lauren olhando envergonhada para Potter.

— E que vestido é esse? — indignou-se Elisa me olhando. — Se você soubesse o trabalho que deu para fazer o vestido que você iria usar...

— Cheio de decotes e fendas, eu imagino. — Revirei os olhos. 

— Mas esse está legal — comentou Sirius. — O funeral é de quem?

— Do Potter — respondi, lançando um olhar assassino para o Príncipe.

— O encontro de vocês parece ter sido bem agradável — Remus disse baixo apenas para Potter ouvir, mas não evitei revirar os olhos (de novo). 

As meninas se atacaram em cima de mim, jogando pó, perfume, produto para cabelo e várias outras coisas que eu não fazia ideia do que era. 

— James, não duvido nada dessa coisa sobre ser seu funeral. Você não sabe como a tia Chechelli tá incrivelmente pior do que o normal — disse Black rindo. 

Tia Chechelli? Quê? 

— E sim, isso é possível — completou Lupin, rindo também.

— Então preciso que vocês providenciem tapadores de ouvido extras para mim, soldados — Potter comentou com um fingido tom de formalidade ao mesmo tempo que ria. 

Não imaginava que era assim a conversa entre eles, olhei de soslaio para o Príncipe e corei fortemente ao ver que ele estava me encarando. 

— Garotas, acho que não há necessidade disso tudo, nós já estamos atrasados e precisamos entrar no palco. — Pela primeira vez no dia – e quem sabe na vida – o Príncipe disse algo útil. 

O agradeci mentalmente ao ver que as meninas saíram de cima de mim, porém o amaldiçoei – também mentalmente, claro – logo em seguida, ao lembrar que eu teria que entrar no programa junto com ele, e ainda fingindo estar voltando de um encontro maravilhoso.

— Não fique nervosa, seja você mesma e tudo dará certo — Natalie instruiu-me. 

— E, pelo amor que você tem à sua vida, não pare a entrevista para mandar beijos à sua família. Isso é brega — Lauren prosseguiu com a série de conselhos, o que me fez ficar desapontada. Eu estava realmente pensando em falar algo para eles.

— Tem um lugar reservado para você, e como é na ordem da Seleção, é o último assento — Elisa finalizou.

— Vamos, Evans? — perguntou Potter, lançando seu braço para mim. 

Por sorte, no camarim havia uma porta que dava para o palco, então não precisamos passar pelo salão cheio de gente. Depois da porta, havia uma cortina branca, e nada além dela nos separava do programa ao vivo para toda Pure Illéa. 

— An... Potter? — o chamei quando já estava abrindo as cortinas. — Sua gravata... tá um pouco torta.

Oras, se eu realmente teria que aparecer com o Potter, o próprio deveria estar, no mínimo, apresentável. Ele franziu o cenho para mim, porém nada fez quando levei minhas mãos até seu pescoço, arrumando sua gravata. Incrivelmente a temperatura caiu, e senti um vento estranho vindo do lado da cortina. E, quando me virei, a cortina não estava mais lá e todos nos olhava, inclusive estávamos aparecendo em um telão ao fundo. Olhei para Potter e ele sorria; oh, claro que ele percebera. Senti minhas bochechas corarem incrivelmente rápido; tentei sorrir, porém sinto que falhei. Eu odeio A Seleção. 

— Ora, ora! — disse Didi, o apresentador. — Se não temos aqui uma coisa curiosa... Aproximem-se jovens, não vão querer ficar parados aí o programa todo, não é? Que já começou aliás... há muito tempo. 

Sempre gostei muito de Didi, dos programas que ele apresentava. Sempre gostei da maneira como ele coloca as pessoas na parede e tira coisas delas tão fácil e naturalmente. Mas sempre gostei de tudo isso nele quando o mesmo estava bem longe de mim, quando eu não era a vítima.

Ele era o único que olhava simpaticamente para nós, todas as outras pessoas presentes (selecionadas, Rainha, produtores) nos olhavam aborrecidamente. Mas o que mais me doeu foi o olhar de desprezo e decepção de Sev. Desviei o olhar e senti até meu couro cabeludo enrubescer ao perceber a imensa plateia que se encontrava em meu lado esquerdo; plateia essa que olhava diretamente para mim.

O palco parecia ter a forma de uma meia lua; Potter e eu estávamos em uma das pontas, e na outra extremidade estavam a Rainha e Severus, sentados em "tronos". Percebi que perto de onde estávamos havia também uma cadeira luxuosa, que só podia ser destinado ao Príncipe. Entre as duas extremidades do palco, se encontravam todas as trinta e três selecionadas sentadas (muitas me encarando com ódio nos olhos), e Didi, o famoso apresentador de um metro e vinte de altura, estava em pé no centro do palco, sorrindo vivamente para nós. 

— Oh, me desculpe! — ele disse como se lembrasse de algo. Então dobrou-se numa profunda reverência, que logo foi imitada por todos os presentes (com exceção de Sev e da Rainha, que continuaram sentados). — Estávamos preocupados, senhor.

— Aconteceram alguns imprevistos com meu hipogrifo — Potter respondeu dando um sorriso de desculpas.

— Ah... problemas com o hipogrifo... sei bem como é  — Didi disse com um sorriso insinuoso. Olhei para o Príncipe e vi que estava um pouco corado. Porque James Potter também se constrange. 

Didi indicou o lugar onde Potter e seus guardas deveriam ficar, enquanto eu estava mais perdida que Lummy no castelo. Olhei para a fileira de selecionadas que estavam sentadas em ordem — assim como Elisa me explicara — e surpreendi-me ao ver Sophie em meu lugar, que era o mais próximo do Príncipe. Torcendo para que ninguém percebesse, caminhei silenciosamente ao assento que antes pertencia à Soph. Infelizmente, meu plano de não ser notada falhou miseravelmente.  

— Aonde pensa que vai, Srta Evans? — Apesar de seu tom ter sido descontraído, intimidei-me com sua pergunta. Virei-me para ele e sorri amarelo.          

Não gagueje. Não gagueje. Não gagueje...

— Sentar... Eu acho. 

Ok, não fui tão ruim assim. 

— Srta Brown, eu sei que deve frustante para você ter que sentar tão longe do Príncipe, mas terei que tirá-la do lugar da Evans.         

É sério... O tom brincalhão usado por ele não pode ser normal. O modo como ele segura a varinha para falar não pode ser normal. O fato de eu ter medo de uma pessoa com uma estatura tão baixa não pode ser normal.

Aparentemente irritada, Soph saiu de meu assento. Somente quando ela passou por mim com uma cara feroz consegui perceber que eu continuava estagnada no mesmo lugar. Tentei sussurrar um pedido de desculpas — que acabou sendo totalmente ignorado por ela. 

— Acho que já fomos interrompidos o suficiente por hoje, não acham? — Didi perguntou para todos, assim que me sentei. Um grande ''sim'' ecoou pelo local. — Então é hora do jogo começar! — Ao som da palavra "jogo", meu estômago se revirou ainda mais. 

Didi estalou seus dedos, o que fez com que inúmeros bolinhos viessem em nossa direção, pairando perto de nossas bocas, fazendo com que meu estômago voltasse ao normal (normal=fome). Havia bolinhos por toda a parte, até perto da Rainha, mas é claro que ela e nem Sev deram atenção a eles. O Príncipe, por outro lado, olhava para eles com mais desejo do que quando olhava para alguma mulher; Black e Lupin, que agora estavam posicionados atrás de Potter, olhavam com curiosidade para os bolinhos. 

— Coma um bolinho, Príncipe Potter! — disse o apresentador com grande expectativa, e aquilo me deixou preocupada. James, sem exitar, pegou o bolinho que flutuava em sua frente e o comeu. — E as senhoritas, o que estão esperando?         

 Algumas selecionadas se entreolharam, outras comeram logo de cara. Embora aquilo tudo fosse estranho, não teria nada de mal em comer um bolinho magnífico desses. O próprio Príncipe comeu, que mal faria? 

— Bom, muito bom! — Didi disse por fim, quando todas comemos um bolinho. — Se quiserem mais, é só desejar por um.    

 Era inevitável querer mais. Desejei outro bolinho e, instantaneamente, um veio flutuando até mim; enquanto o comia, observei o estado das outras selecionadas, e não pude evitar um riso quando vi vários bolinhos flutuando ao redor de Ruby Greengrass. Ao olhar de soslaio para o lado do Príncipe, percebi Black e Lupin mastigarem disfarçadamente; não os julgo por isso. 

— Agora sim podemos começar o nosso jogo! — falou Didi animadamente. — A fome atrapalha às vezes. Nossa brincadeira será o seguinte: eu farei as perguntas e vocês responderão — ele explicou, e meu estômago voltou a se embrulhar. Droga. — Serão perguntas fáceis, sobre vocês, sobre A Seleção, sobre o Príncipe... Acho que vocês entenderam. Entenderam?    

Fizemos um aceno para dizer que entendemos, e minha cabeça pareceu estranhamente pesada. Didi sorria e gesticulava o tempo todo, deixando-me ainda mais ansiosa. Responder perguntas sobre A Seleção? Olhei para o Príncipe, ele não parecia saber quais seriam as perguntas, nem o que poderia acontecer naquela noite, parecia tão perdido quanto eu e as outras selecionadas; nossos olhos se encontraram e ele franziu o cenho para mim, mas continuei o encarando, até que percebi o que estava fazendo. Desviei meus olhos de Potter e olhei para Sev, que me observava com apreensão. 

— O que foi? — Pensei alto o suficiente para conseguir ouvir minha voz, e alto o suficiente para fazer todos (até a plateia) desviarem seus olhares para mim.

— Algum problema, senhorita Evans? — perguntou Didi, virando-se em minha direção. 

Senti todo meu sangue subir e, sem coragem de pronunciar uma palavra, neguei envergonhada com a cabeça. 

— Então iremos iniciar. As perguntas serão respondidas pela mesma ordem do dia da Seleção, ou seja, pela ordem em que estão sentadas. O Príncipe responderá perguntas também, porque precisamos saber o que Vossa Alteza realmente pensa. — Ele finalizou a explicação soltando uma gargalhada. — Senhorita Brown, está preparada? Muito bem então. Primeira pergunta: o que mais gosta no príncipe?         

Sophie abriu um largo sorriso e olhou para Potter, respondendo logo em seguida: 

— O abdômen, é claro!

— Oooh! Então você já viu o abdômen do Príncipe? — questionou Didi olhando de Potter para Sophie. A que ponto chegamos, Merlin?

— Em meus sonhos, sim — ela respondeu dando risadinhas. 

 Olhei para James e em seus lábios havia um largo sorriso pervertido, ao fim ele deu uma piscadela discreta para Sophie, algo que interpretei como um convite para ela deixar de ver a barriga dele apenas em sonhos.

— Posso fazer uma observação? — Palavras escaparam da minha boca sem que eu desse permissão para isso. O que estava acontecendo comigo?

— Fique à vontade — respondeu Didi com curiosidade.

— Sophie, se você tiver a oportunidade de ver, veja. Vale muito a pena. — MAS QUE BOSTA ESTAVA ACONTECENDO? EU NÃO DEIXEI AS PALAVRAS SAÍREM.

— Ora, ora... Quando foi que a senhorita viu James Potter assim? Vocês saíram em Renascent?

— Oh, não! O Potter não descumpriu o mandamento de não sair com garotas antes de A Seleção começar... Não comigo. — Depois de perceber o que eu estava falando, tampei minha boca com as mãos.

— Acho melhor continuarmos — disse Potter um pouco nervoso.    

E assim continuaram, mas não consegui prestar atenção nas respostas das outras selecionadas. O que eu diria quando chegasse minha vez? Respirei fundo. Graças aos céus, eu não era a única que estava estranha ali. Embora eu não conseguisse prestar atenção, percebi tumultos e selecionadas falando no lugar de outras. Até Black e Lupin pareciam alterados, dando, muita vezes, gargalhadas altas. O que eu diria quando minha vez chegasse? Eu não podia nem mais confiar em meus lábios; me recusar a responder não seria uma boa opção, já que minha língua ganhara vida própria. Tentei prestar atenção nas respostas das garotas, para ver se assim conseguiria elaborar uma própria (já que eu não gostava de nada no Príncipe). 

— O sorriso, os olhos, o modo como ele bagunça o cabelo, o perfume... — Foi a resposta de Tessa Lupin, que suspirava a cada palavra. Sinto que não foi uma boa ideia me inspirar nas respostas de outras selecionadas.    

Olhei para Potter e ele parecia sem graça com a resposta de Tessa, e só entendi quando meus olhos pousaram em Remus, que estava transtornado com o que a irmã dissera. Pelo olhar que ele lançava ao Príncipe, era inevitável pensar que alguém corria sérios riscos de levar uma surra. Black apenas ria dos dois amigos, típico Sirius. 

Desistindo de buscar inspiração fora, foquei em pensar numa resposta. O que eu mais gostava em James Potter? A boca dele, quando estava fechada. Mas claro que eu não poderia dizer isso num programa ao vivo para toda Pure Illéa. Por mais que eu tentasse pensar em alguma coisa, meu cérebro não colaborava, estava incrivelmente (mais) lento. Então chegou a minha vez e eu precisava falar. Apenas abri minha boca e deixei que as palavras saíssem. 

— Quando ele cala a boca. 

Ouvi risadas de todos os cantos do palco, mas quando olhei para Potter ele parecia profundamente magoado. 

— A relação de vocês dois é bem ambivalente. Amor e ódio? — insinuou Didi.

— Só ódio mesmo — respondi.

— Bom, agora temos a pergunta para o Príncipe — continuou o apresentador, parecendo estar com medo do que eu poderia dizer. — Está pronto?

— Sinceramente? Não — Potter respondeu com sua típica mania de passar as mãos pelos cabelos.

— Perfeito! — Didi exclamou sorrindo. — Qual é a característica dentre as selecionadas que você mais gosta?

— Cabelo ruivo — o Príncipe respondeu automaticamente, sem ao menos perceber o que dizia. 

Didi passou seus olhos por todas nós, parando nas Gêmeas Weasley e em mim. 

— Nem tente insinuar qualquer coisa — uma das irmãs disse.

— Se fosse sobre a gente, ele falaria da maleta — completou a outra.

— Foi o que pensei. — Agora os olhos do apresentador estavam sobre mim. — O que diz disso, Evans? Apenas ódio, hein?

— Não me responsabilizo pelas respostas desse idio... digo, de Vossa Alteza.

— Príncipe Potter, parece-me que você está em uma situação complicada, hein?

— Penso o mesmo que você — Potter respondeu dando de ombros.

— E eu também! — exclamei subitamente.

— Bom, bom, muito bom! Vamos continuar. Próxima pergunta: qual foi o pior motivo que fez com que vocês pegassem detenção em Renascent Magic? 

Oras, essa era fácil: eu nunca ficara de detenção. As garotas começaram a falar seus motivos, que poderiam ter me deixado boquiaberta, se não fosse pelo fato de eu já saber muitos deles. O de Lene, porém, eu não sabia. 

— Dentre todos, acho que ter tentado escalar uma torre da escola. Era noite de lua cheia, lembro-me bem. Se não fosse por eu ter me assustado com uivos próximos eu teria conseguido finalizar minha missão — ela disse completamente chateada.

— Uivos? Como de lobisomens? — inquiriu Didi interessado.

— Tenho quase certeza que era de um lobisomem. Não era incomum ouvir esses uivos em Renascent nas noites de lua cheia — Marlene explicou, fazendo-me arrepiar lembrando.

— Sério? Nunca soube disso. O que diz sobre, Príncipe? — Didi perguntou olhando com curiosidade para Potter.

— Digo que devíamos continuar com as respostas — Potter respondeu, e parecia fazer grande esforço para pronunciar tais palavras. Lupin e Black estavam estranhamente inquietos em seus lugares.

— Claro, claro! Senhorita Fawcett?

— Hm... não fiquei muitas vezes de detenção, mas a pior eu acredito que seja quando deixei alguns professores surdos por vários minutos — ela respondeu pensativa, parecendo se surpreender com a própria resposta.

— Só os professores? — Ouvi Dorcas perguntar alto o suficiente para que todos escutassem. Risadas ecoaram por todo o local.

— Acho que eu não cantava muito bem naquela época... mas melhorei, se quiserem posso dar uma demonstração... — Tentou Brittany, mas foi cortada por Bellatrix Black:

— Ninguém quer ouvir uma mandrágora a essa hora da noite — disse revirando os olhos. 

Fawcett pareceu magoada, mas nada disse, e assim as selecionadas continuaram dando suas explicações de o porquê terem pegado detenção. Quando chegou minha vez, porém, não soube o que dizer.

— É... — falei baixinho. Cadê a ousadia que minhas cordas vocais haviam adquirido antes? — Eu nunca fiquei em detenção.

— SEM GRAÇA! — gritou Black de seu posto, fazendo-me revirar os olhos.

— Não tenho culpa se você ficava de detenção toda semana, Black — o respondi.

— Na verdade, você tem sim — Lupin disse dando de ombros, surpreendendo a todos.

— Realmente, Evans, você foi a responsável por muitas detenções nossas — se intrometeu Potter.

— Vocês mereciam — devolvi.

— Quer dizer então que Vossa Alteza já ficou em detenção por causa de Evans? — perguntou Didi interessado.

— A partir do quinto ano, quando ela virou monitora, foi só detenção atrás de detenção. E parecia que era só com a gente.

— Talvez porque vocês fossem o principal problema de Renascent — revidei.

— Que acusação gravíssima, srta Evans. Mas tudo isso se encaixa muito bem na sua pergunta, Príncipe. Quantas vezes ficou em detenção?

— De acordo com as minhas contas... — Potter pareceu pensativo por alguns instantes. — Não sei. Pergunte à Evans, ela deve saber, já que me dera mais detenções do que poderia cumprir. Inclusive, teve uma vez em que ela me fez alimentar as criaturas do lago durante todas as noites de uma semana. Ela era cruel.

— Em minha defesa, ele quase me viu pelada — interrompi Potter, me explicando para Didi, que parecia se divertir.

— Eu me lembro muito bem disso — Black disse rindo. — Você quase conseguiu, Jay... AI! — Ele foi interrompido por um tapa de Lupin em sua cabeça.

— Vejo que sempre que chegar na vez de Evans terá polêmica... — Didi observou, e quando estava prestes a fazer outro comentário, Potter se pronunciou.

— Acho que podemos continuar o programa, certo? Próxima pergunta! — Ele estava visivelmente constrangido.

— Se é o desejo de Vossa Alteza, então nada posso fazer. A pergunta de agora promete muita coisa — falou Didi com suspense na voz, me fazendo estremecer. — Quem foi seu primeiro amor?

Houve uma série de murmúrios no salão, mas minha vontade era de gritar. Qualquer pergunta, menos essa. Infelizmente, eu sabia qual seria minha resposta; e, infelizmente também, não era algo para se orgulhar. Tentar mentir seria inútil, já que naquele momento eu estava certa de que ninguém naquele salão (a não ser Didi, talvez) estava totalmente sóbrio e com domínio das coisas que estava falando. As selecionadas começaram a responder, e, embora eu não conseguisse pensar em outra coisa que não fosse meu fracasso pessoal, não pude deixar de ouvir vários "James Potter". Aquele com certeza estava sendo o pior dia da minha vida.

Tonks, a metamorfomaga, tirou-me de meus pensamentos ao revelar que seu primeiro amor fora Remus Lupin; quando ela disse tal coisa, seu cabelo ficara vermelho e caiu sobre sua face, escondendo seu rosto. Ao olhar na direção de Remus, pude ver a definição de constrangimento em todas as suas expressões. Acho que Lupin nunca fora acostumado com essa ideia de mulheres, ainda mais mulheres o paparicando (diferente dos dois amiguinhos dele). A próxima a falar seria Marlene, e o fato de ela estar muito – MUITO – angustiada me deixara curiosa e preocupada. 

— Severus... Snape  — ela disse perturbada. Uma corrente de comentários se espalhou por todo o amplo espaço, fazendo Lene revirar os olhos. — Eu não me orgulho disso, OK? 

Meu amigo Sev estava incrivelmente mais pálido que o normal, e, se eu não soubesse que ele realmente estava ali, poderia acreditar que aquela figura era uma estátua de gesso. Por outro lado, a Rainha Michelle olhava com curiosidade para minha amiga, e, por incrível que pareça, aparentava estar gostando daquilo. James Potter também estava um tanto perplexo, mas nenhuma feição naquele lugar superava a de Black; com o rosto enojado, parecia estar prestes a vomitar, enquanto Lupin o olhava receoso. Mas tudo isso logo deu lugar a outro constrangimento: chegou a vez de Tessa Lupin e ela respondeu em alto e bom som "Sirius Black", fazendo Remus enrubescer. Eu não entendi muito bem o porquê, mas estava claro que Lupin se sentia muito desconfortável com toda essa história da irmã. Sirius apenas deu de ombros para o amigo que parecia querer azará-lo. Potter também parecia nervoso, será que o primeiro amor dele fora ruim?

A minha vez estava se aproximando, eu já estava quase desmaiando quando chegou a vez de Dorcas, que estava próxima a mim. Ela estava muito nervosa e olhava constantemente para o lado do Príncipe. 

— Remus Lupin — ela disse completamente vermelha, desviando o olhar para o chão. Didi fez qualquer comentário sobre aquilo, deixando Dorcas e Lupin envergonhados. 

Se eu tivesse minha varinha agora, me mataria com certeza.

— Confesso que estou curioso quanto a sua resposta — Didi disse quando chegou minha vez.

— Não sei por quê. Sinceramente, não há nada de novo — respondi tentando – tentando – parecer natural.

— Então diga, srta Evans, quem foi seu primeiro amor?

— O Príncipe Potter. — A voz saiu de minha boca que nem percebi e, quando vi, todos estavam olhando para mim surpresos. Inclusive ele. Droga, droga, droga.

— É sério isso? — perguntou Potter perplexo.

— É mais do que sério! Não tem como mentir nesse jogo, vocês já devem ter percebido. — Didi sorria como nunca, mas agora aquele sorriso parecia demoníaco.

— Não é uma coisa legal sobre meu passado. Passado, entenderam? — expliquei evitando olhar para Potter. Eu já deveria estar mais vermelha que os cabelos de Tonks.

— Se você está dizendo, é o que é. Uma pena, na verdade. — Suspirou Didi.

— Realmente, uma pena — Potter disse com um tom que não consegui decifrar, atraindo meu olhar para ele.

— E agora vamos para a resposta do Príncipe — anunciou Didi muito animado. — Quem foi o primeiro amor de Vossa Alteza?

No instante seguinte, Potter pareceu fazer o mesmo que eu fizera antes: apenas abrir a boca. 

 — Lily Evans. — Sua expressão era de pura surpresa. Ele olhou para mim com um olhar indagador, e nada pude fazer a não ser devolver o mesmo olhar.

— Ora, ora, temos uma história de amor aqui?

— Terror — o corrigi.

— Ação — disse Potter. — O que foi? Acham que é fácil fugir das detenções de Evans por vários anos?

— Nem as detenções fizeram você não se apaixonar, Príncipe — o apresentador comentou.

— Eu não sabia disso — Sirius observou repentinamente.

— Nem eu. Por que não contou pra gente, James? — perguntou Lupin, completando a ideia de Black.

— Porque nem eu sabia — Potter explicou olhando para para mim. — Você sabia?

— Eu?! E como eu saberia? Nem sabia que você tinha capacidade de gostar de alguém além de si mesmo — o respondi.

— Aqui vemos que o amor de Evans realmente ficou no passado — Black disse rindo, mas percebi que olhou preocupado para Potter.

— Infelizmente, nem tudo é como a gente gostaria — Didi disse e deu um longo suspiro. — Vamos para a próxima pergunta. Essa, porém, será apenas para as selecionadas.

— Graças a Merlin — suspirou Potter.

— Vamos lá, garotas. A pergunta é: se você soubesse que não ganharia A Seleção, quem escolheria para ser a futura rainha de Pure Illéa?  

Eu andava pensando bastante naquilo, já que sabia que eu não seria rainha. Mas era difícil escolher uma, porque ao mesmo tempo em que eu estaria desejando algo bom, eu estaria também desejando a alguém passar o resto de sua vida ao lado de James Potter. E, convenhamos, isso não é nada legal. 

Eu estava distraída pensando nisso quando ouvi pronunciarem meu nome. 

— A Lily, é claro — Marlene disse sorrindo para mim.

— Lene, se você é minha amiga e realmente gosta de mim, não deseje isso — respondi.

— Ai Lily, você é tão dramática... Não foi você mesma quem disse antes que o abdômen do Príncipe vale a pena? — ela indagou com as sobrancelhas arqueadas

— O problema é que o abdômen que vale — minha boca (não eu) respondeu.

— Mas você precisa ver o resto para poder opinar, Evans — sugeriu Potter dando uma piscadela para mim.

— Vá se danar, Potter!

— Legal que nem chegou a vez da Evans e ela já está causando — disse Sophie de repente, como quem não quer nada.

— Ora, ora, senhorita Brown... Você é uma mulher de atitude, percebemos — comentou Didi, olhando com curiosidade para Soph. — E o programa já está se estendendo demais, é verdade. O melhor a fazer é continuarmos.    

As meninas continuaram com suas respostas. Enquanto isso, fiquei pensando no que Sophie dissera, acho que já estava ficando feio para mim. Mas não é como se eu tivesse culpa, tudo estava muito estranho. E também não é como se eu fosse a única a gerar essas situações, eu só estava demasiada confusa e com raiva de mim mesma e do resto do mundo para prestar atenção no que acontecia com as outras selecionadas. Mas às vezes, claro, era inevitável ficar interessada pela resposta de algumas meninas. A Kristal Delacour, por exemplo, me despertou enorme curiosidade em relação ao que ia responder. Estranhamente, eu queria que ela falasse sobre mim. MAS POR FAVOR, NÃO PENSE QUE EU QUERIA SER APROVADA COM O RIDÍCULO DO POTTER, eu queria apenas que ela me notasse, e isso era estranho porque ela era uma selecionada como todas as outras (ou talvez não).               

— A Ashley Diggory — ela respondeu me deixando um pouco decepcionada. Ashley olhou confusa para ela, mas nada disse. 

Logo chegou a vez de Diggory responder, e coincidentemente, a resposta dela foi: 

— Kristal Delacour. — Nada havia de estranho naquilo, já que o nome de Delacour fora citado inúmeras vezes, mas mesmo assim isso chamou minha atenção. As duas apenas trocaram um sorriso.  

Tudo estava correndo rápido nessa questão, e eu agradecia imensamente por isso. Eu não via a hora de estar em meu quarto, de tomar um longo banho, falar de como o dia havia sido péssimo para Natalie, Lauren, Elisa e Lummy, e ouvir deles também sobre a vergonha que eu estava passando no programa. Mais uma vez fui tirada de meus devaneios ao ouvir meu nome, dessa vez dito por Dorcas.  

— Mas o que é isso? Pensei que vocês fossem minhas amigas — reclamei, olhando de Dorcas para Marlene.

— Não foi proposital, desculpa — Dorc falou dando de ombros.         

O programa continuou, e como eu não sabia – racionalmente – quem eu queria que fosse a rainha, deixei que minhas cordas vocais agissem por si só.

— Kristal Delacour. — Não fiquei nada surpresa com minha resposta.

— Parece-me que o nome da senhorita foi o mais dito nesta sessão — observou Didi olhando para Kristal. Ela respondeu apenas com um sorriso tímido (e lindo).

— Isso é meio óbvio e até esperado — comentou Ashley. — Até eu gostaria de me casar com ela. — Risadas ecoaram por todo o ambiente, mas ela não pareceu ter dito isso para ser engraçado. Na verdade, parecia bem arrependida e até tapou a boca com as mãos, despertando – mais uma vez – minha curiosidade.

— E qual é a selecionada que você quer que se torne sua rainha, Príncipe? — Didi perguntou deixando Potter estupefato.

— Mas você disse que eu não precisaria... 

— Acalme-se, Vossa Alteza, estou apenas brincando. Uma pergunta dessas não seria justa. — Didi soltou uma gargalhada.

— E por acaso alguma foi justa? — perguntou Marlene, fazendo todos rirem.

— Fique calma, senhorita McKinnon, porque a próxima e última pergunta não tem nada demais. Ela é: se você pudesse, agora, eliminar uma selecionada, quem seria?

— Você quer ver confusão mesmo, não é Didi? — perguntou o Príncipe rindo da pergunta.

— Jamais, Vossa Alteza. Apenas sigo ordens — revidou Didi dando um sorriso para Potter. — As ordens da minha consciência. Senhorita Brown, quem eliminaria?

— A Evans — ela respondeu e olhou para mim, sem mostrar surpresa ou arrependimento. 

Depois da resposta de Sophie, não consegui mais prestar atenção em nada. O que eu havia feito para ela? Não seria possível que essas atitudes fossem apenas fruto da minha entrada para A Seleção. Eu não reconhecia mais a minha amiga naquela Sophie Brown, que agora apenas se dirigia a mim pelo meu sobrenome, e, quando o fazia, era apenas para me repreender ou me julgar. Eu sentia falta da antiga Soph, sim; mas agora eu estava percebendo que minhas novas amigas (tanto Marlene e Dorcas, quanto Lauren, Elisa e Natalie) fizeram mais por mim na última semana do que Sophie em muitos anos de amizade.

Quando saí de meus devaneios, percebi que mais ou menos metade das selecionadas já haviam falado. Droga, se alguém falou mal de mim ou de minhas amigas não não teria mais como eu saber. Por sorte (ou não?), voltei à realidade no momento em que isso estava acontecendo. 

— Lily Evans — Ashley Diggory respondeu, dando de ombros.

— Que ótimo — murmurei chateada.

— Não precisa fazer essa cara de furanzão quando cai da mudança! — ela disse para mim, deixando-me surpresa. — De verdade, não tenho nada contra você, é que você não conversa muito e nem demonstra suas reais intenções.

— Minhas reais intenções? O que...

— Ora, Evans, você fica se passando de difícil, falando que não quer Príncipe, Coroa, nem nada. É estranho isso, já que você se inscreveu para A Seleção e tal... — ela tentou justificar.

— Isso é verdade, nem eu entendo — Potter interveio interessado. 

Meu coração, pulmão, cérebro, tudo parou. O que eu diria? O que eu diria, Merlin? Claro que esta pergunta foi completamente hipotética, já que a essa altura eu não tinha mais controle sobre as coisas que dizia. Pensando nisso, mordi minha língua e olhei para o chão, como se não estivessem falando sobre mim. Foi estranho, porém necessário. 

— Eu acho... É só minha opinião; não to querendo sugerir nada, sabe, mas já sugerindo... acho que deveríamos continuar com o programa... Porque assim, metade das selecionadas ainda precisa responder essa pergunta... Não é muito legal ficarem só focando na Lily... Evans. Lily Evans é o nome dela, Lily Evans — disse Dorcas gaguejando tentando tirar o foco de mim, fazendo algumas selecionadas rirem de seu discurso.

— Claro, senhorita Meadowes, claro... — disse Didi olhando com curiosidade para minha amiga. Olhei para ela e sorri, agradecendo. 

Dorcas estava mais vermelha do que nunca, mas parecia aliviada, assim como Marlene, que sorria desacreditada para a amiga. Então elas olharam para mim, mas me olharam de tal maneira que tive certeza de que poderia contar com elas para o que eu quisesse, sempre que quisesse. Retribuí o olhar com gratidão, o que seria de mim sem elas?

 Para não ficar tão alheia à opinião das outras selecionadas sobre as outras selecionadas, comecei a prestar atenção em suas respostas. Inacreditavelmente (lê-se com ironia) o nome que mais se ouvia era o de Bellatrix Black, que, por sua vez, não parecia se importar nem um pouco com a fama que estava recebendo. Enfim, a última pergunta chegou à última selecionada. 

— Brittany Fawcett — respondi. E sim, eu estava ciente de minha resposta. — Desculpa, mas você grita demais.

  Ela respondeu apenas com uma feição magoada, o que fez com que eu me sentisse mal por ela. Antes que eu pudesse me desculpar, Didi começou a falar suas últimas palavras do programa. Graças a Merlin isso já estava no fim. 

— Após muitas emoções, infelizmente teremos que encerrar o programa. Mas não fiquem tristes, pois semana que vem terá muito mais! Espero que a Srta. Evans não seja eliminada até lá. — Ele deu risinhos que me fizeram revirar os olhos. 

— A menos que ela queira desistir no meio do caminho, ela não vai. — Potter interviu, dando uma piscadela para mim. Eu realmente não entendia o porquê de o Príncipe ainda me querer naquele lugar. Para aterrorizar minha vida, talvez. 

— Nos vemos na próxima sexta-feira! A lição de hoje é: comam bolinhos com moderação. 

Eu adorava assisti-lo e esperava ansiosamente pela lição do dia de cada episódio, mas depois de hoje eu definitivamente nunca mais assistiria algum programa dele. Meu modo trauma estava 100% ativado, e ter que aturá-lo todas as sextas feiras enquanto eu estivesse na Seleção não seria uma tarefa fácil para mim.

Algumas luzes se apagaram e o grande painel mágico que fazia com que o programa fosse exibido em holograma para todas as ruas de Pure Illéa foi desativado. Meu corpo já estava totalmente suado e eu podia sentir meus braços sendo pinicados com não muita gentileza. Maldito vestido. Maldita hora que eu fui pensar em me vingar das meninas. 

 

Voltei imediatamente para meu quarto, sem conversar com ninguém. Chegando lá, as meninas me receberam com entusiasmo, mas ao mesmo tempo apreensivas. É claro que elas perceberam que eu não estava em meu juízo perfeito durante o programa.

— Você quer conversar ou devemos nos retirar? — Lauren perguntou ao ver meu estado.

— Não me levem a mal... Eu quero muito esclarecer as coisas com vocês e conversar sobre o show de horrores que aquilo foi, mas eu estou tão cansada... — Tentei explicar sem deixá-las magoadas. Mas claro que elas não ficariam.

— OK, te deixaremos em paz — Natalie disse.  — Mas você terá que nos explicar tudo sobre essa história do Príncipe ser seu primeiro amor...

 — Com todos os detalhes, sem deixar nenhum ar passar — continuou Elisa sorrindo de um jeito maroto.

— Ok, Ok — concordei revirando os olhos.

— E por favor, jogue esse vestido no lixo — Natalie disse fazendo carão enquanto elas já saíam do quarto.

Como eu adorava aquelas meninas. Um pouco mais feliz, tirei o vestido (e sim, joguei no lixo) e enchi a banheira com água e todas as coisas cheirosas que saíam das torneiras. Me afundei na espuma e fechei os olhos, respirando fundo. Logo as lembranças de Renascent Magic surgiram em minha cabeça.

 

''Uma semana.

Foi o tempo que durou para que uma admiração construída por anos acabasse.

Passei cada segundo dos meus dias tentando não aceitar que ele realmente era daquele jeito... egocêntrico e metido. Eu nunca, nem sequer uma vez, me enganei sobre algo. Eu sempre tinha respostas exatas para tudo e nenhum pensamento meu era considerado errôneo. Até eu conhecer o príncipe James Potter. Tudo o que eu sempre pensei sobre ele era uma enorme mentira. Eu sempre tento ver o melhor nas pessoas e é por essa razão que eu levei tantos anos para perceber que, apesar de ser um Príncipe, James Potter não era um Príncipe.

O início do fim começou a uma semana atrás... 

 

— Príncipe, Príncipe, Príncipe!

Todos cantavam, gritavam e ovacionavam o nome do Príncipe Potter. As alunas, os alunos e até mesmo alguns professores. Sim, Professor Abbott; eu vi isso.

O Príncipe não parecia estar nem um pouco assustado com aquela recepção, pelo contrário, sua feição era feliz e seu sorriso também. Ele jogava seu braço direito para cima e dava socos no ar, para entrar no ritmo dos gritos de toda a escola. 

Era o primeiro dia do Príncipe James Potter em Renascent Magic.

E, não que isso também importe, mas também era o meu primeiro dia em Renascent Magic como aluna do terceiro ano.

Bem, é claro que eu não acreditei quando ouvi os boatos de que a Vossa Majestade entraria para a minha escola, até porque ele é  um Príncipe e sempre fora educado por professores particulares. Diziam até que a Família Real estava passando por dificuldades financeiras  frase essa que me matava de rir toda vez que eu a ouvia. Mas, agora... Vendo-o ao vivo e em cores, não tinha como não acreditar em tudo o que foi dito. O Príncipe estava aqui, e não sorrir como uma boba toda vez que ele dizia uma palavra era algo que eu não conseguia fazer. 

 Apesar de odiar todas essas garotas histéricas que viviam enchendo o saco do Príncipe, eu tinha algo em comum com elas: a paixão desenfreada por James Potter. Sei que apaixonar-se pelo Príncipe é algo clichê e eu sempre fui contra todos os clichês existentes, mas James Potter fazia-me questionar todas as minhas crenças. 

Desde poucos anos de idade, a coisa que eu mais gostava de fazer era comprar revistas e ler as notícias dele ajudando pessoas mais pobres, ao mesmo tempo em que dava um de seus apaixonantes sorrisos. Eu sabia qual era seu livro, música e lugar favorito... Pensando assim, isso parecia ser até um pouco assustador. Mas não é.

Perdi noites de sono pensando em como seria quando eu entrasse para a Seleção, e os vestidos e joias eram as coisas que menos importavam nesses pensamentos. Só a possibilidade de poder governar Pure Illéa ao lado de um homem como James Potter fazia com que todas as outras coisas parecessem desnecessárias. O único problema era que minha irmã também pensava assim. E minha melhor amiga. E outras milhares de garotas. Mas sempre tinha algo em minha mente falando que James não daria a mínima para essas garotas enquanto eu estivesse por perto. Ele me acharia única, não fútil como todas as outras meninas são. Ele entenderia que fomos feitos um para o outro.

Ok, agora eu realmente estou parecendo assustadora. 

POR FAVOR, SEM FORMALIDADES o Príncipe gritou para todos.  PARA VOCÊS, EU SOU APENAS JAMES!

Isso fez com que a multidão gritasse ainda mais. Eu apenas sorri de canto.

— Esse homem é incrível, Lily! — Sophie, minha melhor amiga, exclamou (ou tentou, já que sua voz estava totalmente rouca).

— Ele realmente é. Não vejo a hora de crescermos e participarmos da Seleção — respondi enquanto o olhava. 

— Lily, já conversamos sobre isso. — ela adquiriu um tom de seriedade subitamente, assim como sempre fazia quando o assunto era minha paixão pelo Príncipe. — Ele não é o cara certo para você.

— O que te faz pensar que ele não é a pessoa certa para mim? Eu sou tão chata assim? — Sério, aquele assunto já estava tirando totalmente a minha paciência. 

— Sim, você é. — Ela colocou seu braço em meu ombro. — Olhe para ele... Sempre teve tudo o que quis. O Príncipe está acostumado com fama e dinheiro, Lily. E você está acostumada com livros e... coisas chatas. 

— Ele gosta de livros tanto quanto eu — retruquei. 

— E é exatamente por isso que você nunca deveria se inscrever para a Seleção. — Soph suspirou.

— Por ele gostar de livros? — perguntei confusa.

— Não, criatura. Por você ser tão ingênua. Claramente você pegou todas essas informações do jornal Correio Coruja e agora age como se já conhecesse todos os segredos do Príncipe. Pessoas famosas mentem para ficarem bem na fita. Você acha mesmo que As Esquisitonas nunca cheiraram pó de flú? 

— Sophie! — indignei-me, tentando não rir com a última frase dita. — Mas se você realmente pensa que o Príncipe é capaz de mentir e fazer todas essas coisas por trás dos panos, por que ainda se encanta por ele? 

— Porque eu também sou assim. Todos são assim, Lily. Ninguém vive no mesmo mundo perfeito e bondoso que você.          

Algum instrutor nos direcionou para o Grande Salão e eu fui tentando não ser pisoteada por ninguém. 

— Eu não acredito que ele seja assim. Nem todos vivem no mesmo mundo perverso que você — falei enquanto andava.

— Ei! Você sabe que eu não sou perversa. Apenas estou tentando alertar uma amiga. Mas já que você não quer... Fim de papo. Não sabemos se você irá ser selecionada mesmo. Tudo pode acontecer. 

 

O resto do dia ocorreu com grandes comemorações e festas — coisas que eu geralmente abominava, mas resolvi dar uma trégua. Para minha felicidade — e de todos que pertenciam à Forlix — o Príncipe foi selecionado para a minha casa. Tudo estava correndo como eu queria, menos o fato de haver centenas de garotas em sua volta. E o pior: ele parecia estar realmente gostando delas. 

Os dois dias após esse não foram muito diferentes. Tentar chegar perto do Príncipe era uma missão suicida, e tentar ser notada por ele era ainda mais difícil. Além de toda a minha falta de sorte, eu ainda tinha que aguentar Sophie e Sev falando horrores em meu ouvido. Minha vida era realmente ótima.

Juntamente a Sev, fui para o local menos movimentado possível: uma árvore horrenda que causava arrepios em todos que passavam por perto. No primeiro ano, Sev executou algum feitiço que fizesse com que ninguém quisesse se aproximar dali, para que aquele lugar fosse o nosso lugar. Eu gostava da ideia.  

 Você não tem noção de como é conviver com esse cara — Sev comentou pela trigésima vez, quando nós nos sentamos. Coloquei meus livros em meu colo.

— Acho que tenho, pois você não para de falar disso. Isso tudo é só para mostrar que agora você faz parte da Família Real ou realmente essa implicância é séria? — perguntei apenas para irritá-lo, até porque eu sabia que ele estava odiando fazer parte daquilo tudo. Coloquei meu braço em seu ombro. 

— Você vai ver quem ele realmente é. Apenas aguarde. — Snape finalizou, ignorando minha pergunta.

— É, acho que eu vou — respondi, levantando-me e trazendo meu material comigo. 

O Príncipe estava a uns metros à frente, correndo para algum lugar. Sem pensar duas vezes, corri em sua direção, já sabendo que aquilo resultaria num baque entre meu corpo e o seu. O que foi? Para odiar clichês precisa-se ter os lido. Costumava dar certo nas histórias. 

Não demorou muito para que eu esbarrasse nele e derrubasse todos os meus livros no chão, exclamando um ''Ops!'' mais forçado do que eu gostaria. Eu estava me sentindo muito, muito idiota fazendo tudo aquilo para receber pelo menos um oi. A cada segundo que se passava eu me sentia ainda mais parecida com o resto das meninas do país.

— Desculpe-me, Vossa Alteza. Não foi minha inten... — tentei começar com o discurso feito por mim, mas fui interrompida por aquela voz.

— Ok, ok, sem problemas, senhorita... — Ele parecia confuso e cansado ao mesmo tempo.

— E-Evans.  Não é hora de gaguejar, Lily! Lily Evans. 

— Senhorita Evans, eu que me desculpo. Eu realmente preciso ir agora, desculpa por... isso.

E então ele foi. 

E tropeçou em um dos meus livros, jogando-o para longe. Ele virou-se para mim e disse ''desculpa'' novamente, só que agora sem sair som de sua boca. 

Eu apenas fiquei ali, parada, me sentindo a garota mais estúpida do universo. 

— O que foi isso, Lily? — Sev aproximou-se de mim e perguntou sem entender. — Isso não é você.

— Eu sei, eu sei... E-eu... Acho que sonhei alto demais durante esses anos. — Minha cabeça estava totalmente confusa. 

— Finalmente algo com que concordamos. Vem, vamos juntar essa bagunça. 

Não preciso nem falar que depois desse incidente eu procurei ficar o mais longe possível de James Potter, preciso? É, acho que não. Estar perto dele automaticamente fazia com que meu rosto ficasse totalmente vermelho, então era melhor permanecer longe. 

Ele parecia ter se dado muito bem com os meninos do dormitório masculino, principalmente Black e Lupin. Os três, mesmo com pouco tempo de amizade, pareciam se entender perfeitamente — Lupin e Black até fingiam serem seus guardas e o protegiam de quem tentasse se aproximar. 

 

Os dias seguintes fizeram-me lembrar de como Renascent Magic realmente era: tranquila e até monótona. RM voltou a ser assim porque os professores finalmente decidiram tomar alguma atitude quanto a toda a perseguição dos alunos para com o Príncipe, suspendendo todos aqueles que o incomodassem. Em alguns momentos ele parecia chateado por não ser mais o centro das atenções, mas acho que eu estava imaginando coisas. Afinal, quem iria gostar de ser perseguido vinte e quatro horas por dia? 

 Eu estava realmente deixando minha paixão pelo Príncipe James de lado. Quer dizer... Não que eu tivesse parado de o admirar ou algo do tipo, mas eu realmente precisava focar em meus estudos agora. Eu simplesmente não conseguia mais reconhecer a Lily de alguns dias atrás, jogando-se contra outra pessoa apenas para receber a atenção dela. Aquilo não era eu. E minha mãe sempre me disse que não devemos mudar nossa personalidade por causa de um amor, a não ser que esse amor seja o próprio.

Bem... mesmo com todo esse discurso de amor próprio, olhar para trás só para vê-lo fazer a tarefa — lê-se: rir de alguma coisa com os amigos — não é grande coisa, é? Principalmente quando você vai olhar e percebe que ele já estava te observando antes. Nada demais.          

In(felizmente), o que aconteceu no dia seguinte fez com que tudo o que eu sentisse pelo Príncipe caísse pelo ralo. A pessoa amável, gentil e encantadora que eu ''conhecia'' simplesmente não existia. Assim como Sophie me dissera.

Como eu finalmente percebi isso? Bem, foi simples. Só foi preciso com que eu marcasse de estudar com o Sev no mesmo lugar de sempre e acabasse me atrasando pelo mesmo motivo de sempre: Soph tagarelando em meus ouvidos. Quando fui, finalmente, de encontro ao Snape, pude ver James e seus dois amigos conversando com ele. Pensei ''uau, finalmente Sev está deixando seu orgulho de lado e começando a se entender com seu meio-irmão''.

Bem, não era isso que estava acontecendo. 

Como eu realmente não queria atrapalhar o ''momento'' deles, corri para atrás de uma árvore onde dava somente para eu enxergar o que estava acontecendo. Pude ver a feição assustada de Sev enquanto Black e o Príncipe tiravam suas varinhas do bolso. Severus também pegou a sua, mas não parecia ter a intenção de usá-la. Era bem difícil entender tudo o que estava acontecendo, pois não dava para eu ouvir nenhuma palavra do que eles diziam... E então, num piscar de olhos, Snape estava sendo puxado por seu tornozelo e colocado de cabeça para baixo no ar. O príncipe James Potter, juntamente com sua varinha, era o grande responsável por aquilo. Sev parecia totalmente vulnerável (algo que nunca vi ele sendo antes) gritando ''Me coloque no chão!'' tão alto que agora eu conseguia ouvir.

Ainda sem acreditar no que meus olhos estavam vendo, imediatamente fui até onde eles estavam.

— O QUE VOCÊS PENSAM QUE ESTÃO FAZENDO? — gritei para as costas deles, fazendo-os virarem para mim; por conta disso, a varinha do James se moveu e fez com que Snape fosse arrastado junto, ainda no ar. — COLOQUEM ELE NO CHÃO AGORA!

— Senhorita Evans, tudo tem uma explicação... — Potter tentava começar a sua ''explicação'', mas eu já havia visto demais. Mais um tempo perto daqueles garotos nojentos e eu iria vomitar. 

— COLOQUE. ELE. NO. CHÃO. — Sim, eu havia ativado meu modo Evans irritada. À essa altura meu rosto já devia estar com uma cor ainda mais forte que a dos meus cabelos.

— Como quiser — Black finalmente falou algo, e após isso murmurou ''Libercorpus!'' e imediatamente ouvia-se um baque de Severus caindo no chão.

— Senhorita, eu já disse, não é o que parece. O ranho.. O Snape estav... 

— O Snape, Vossa Alteza, vem me contando há um tempo que você não passa de uma pessoa detestável, e infelizmente eu não acreditei nele antes. Agora eu estou pouco me importando com o fato de você ser Príncipe ou não! Então não me venha com ''Senhorita'', na verdade, não me venha com nada, apenas saia da minha frente! 

— James, vamos, não vai adiantar nada... — Lupin pronunciou-se. Potter apenas lançou um olhar (que eu não consegui entender) para mim e saiu com seus dois amigos. 

—  Você está bem? — Preocupei-me com Sev, que agora já estava de pé.

— Sim, estou. O importante é que você finalmente notou o que eu e a Brown viemos tentando te falar há tempos. 

          

Eu finalmente notei.''


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Notas finais do capítulo

[CAPÍTULO DEDICADO À LEITORA SNOWING, QUE ME DEIXOU EXTREMAMENTE EMOCIONADA AO RECOMENDAR A FIC! MUITO OBRIGADA, DE VERDADE ♥]

OI BATATINHAS!
Vocês pensaram mesmo que eu não ia atualizar a fanfic hoje?
Ok, eu sei que, na verdade, vocês pensaram que eu não iria atualizar a fanfic nunca. Ok.

Vocês merecem uma explicação do meu sumiço, eu sei, e vocês terão! Antes disto, queria dizer que revisei todos os capítulos da fanfic e achei alguns (vários) erros horrendos e consertei-os. Então, se quiserem, podem ler de novo. Se não quiserem, bom... não leiam, ué!

Vamos lá, o que aconteceu foi o seguinte: há um ano (ou quase isso), eu prometera atualizar todo domingo, sem falta, masssss como eu —ainda— não tenho um vira-tempo, isso acabou não ocorrendo muito bem. Minha rotina estava bastante corrida, e, pra piorar, minha criatividade desceu pelo ralo do meu banheiro. Tive um bloqueio durante meses, tentei voltar a escrever durante meses. Não deu certo. Cá estou eu, com a maior cara de pau do mundo bruxo, pedir mil desculpas por não ter dado notícias, por não ter, ao menos, avisado. Não, não vou prometer atualizar toda semana, nem todo mês, sequer todo ano. Quero que vocês fiquem com a consciência de que eu vou SIM atualizar quando o meu horário —ela é importante, ela— deixar e que eu quero MUITO que AMNS dê certo. Quero que fiquem em total consciência de que eu NÃO vou abandonar essa fanfic, então fiquem tranquilos. Darei o melhor de mim, juro.
Pelo menos todo o meu desaparecimento repentino rendeu um capítulo de quase 15 mil palavras pra vocês, não é mesmo?!

Qualquer dúvida, falem comigo, responderei com todo o prazer!

Spirit: darlings
Wattpad: darlingsx
Twitter (estarei seguindo e respondendo as dúvidas de todos lá): darlingsxz



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