Perpétuo escrita por With


Capítulo 1
Capítulo Único - Perpétuo


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos! Sejam bem vindo ao universo de "Perpétuo".
Não sei se esse "casal" é conhecido, mas quando Karen e Frank tiveram o primeiro encontro eu já comecei a ter algumas ideias. Pode ser um pouco diferente, mas eu espero que vocês gostem e tirem alguma mensagem da história.
Agradeço a Diana e APR Pereira por terem me dado opiniões super sinceras sobre a história e me motivado a postar.
Desejo uma boa leitura a todos!



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Perpétuo

“Você estava segura. Sempre esteve”. Karen Page recordou-se das palavras de Frank Castle, repletas de sinceridade; lembrou-se do olhar firme que pareceu, por breves momentos, silenciar as dúvidas que pairaram em sua mente, da forma que ele a vinha tratando: Como se fosse alguém especial. O que poderia ser considerado uma grande besteira considerando o pouco que sabia sobre ele.

  Frank Castle não era um homem em que se devia confiar ou querer por perto, contudo Karen se viu depositando a sua vida nas mãos dele, desejando que ele sempre aparecesse quando ela precisasse. E ele sempre aparecia, independente do seu querer. Ele seguia as próprias regras e, estranhamente, sabia o momento certo de cada coisa. Como se a vigiasse.

  Karen massageou o pescoço, pensando naquela hipótese de que ele poderia estar em algum lugar a observando, zelando para ver se sua cabeça continuava fazendo parte de seu corpo. Um pensamento um tanto fúnebre, mas quando mencionava Punisher nada enfeitado combinado. Ele era uma força da natureza, que pessoa alguma conseguia domar. E ela gostava de ser alguém que o puxava milímetros para a realidade, embora não o mantivesse.

  Ao ter com ele no hospital, onde tivera a oportunidade de moldá-lo, Karen percebeu que não havia a mínima chance de Castle refrear a sua justiça, ele tinha uma finalidade, uma determinação que o faria seguir a diante sem parar, sem temer ninguém. E ela admirava a força que ele emanava, mesmo que não concordasse com seus métodos. Frank possuía consciência de seus atos, testemunhara isso, e não era um louco como muitos o intitulavam. Karen sabia a verdade e desejava que muitas pessoas também soubessem que além do que Frank se tornara, ele fora um pai, um marido, um homem como todos os outros. Será que conseguiria?

  Ela suspirou mirando a folha em branco no notebook, esperando que a preenchesse. Existia tanto a contar, a explicar, que sua mente não era capaz de se ligar em uma linha fluida de raciocínio. Tudo se perdia em fatos gritantes, que a deixavam ansiosa. Por fim fechou a tela com certa grosseria e encostou-se na cadeira. Por que era tão difícil? Era apenas escrever o que lhe era de conhecimento! Contudo, estava errado. Dizer qualquer coisa sobre Frank Castle requeria mais do que palavras. E nada do que forçasse seria o bastante.

  Então, Karen vestiu seu casaco e saiu da redatora. Não adiantava bater na mesma tecla obtendo o resultado tão íntimo. Sentia-se frustrada naquela noite fria, os saltos retumbando com seu andar aumentando tal sentimento que a seguiam para casa. Ainda com as luzes apagadas, Karen não pôde deixar de notar que algo estava diferente em seu apartamento, que havia uma respiração além da sua. Percorreu todos os cômodos a procura da presença que tanto ansiava ver, porém tudo não passou de fruto de sua imaginação. Frank Castle não tinha motivos para visitá-la, afinal depois do último encontro havia gritado que se ele continuasse a matar poderia se considerar morto para ela. Arrependera-se amargamente quando ele lhe retrucou, acatando as suas palavras.

  — Droga, Frank, não era o que eu queria. — Karen conversou consigo, sentando-se na cama com o rosto entre as mãos. — Você não está morto, eu sei que não! Por que não pode ver isso também? Eu posso ajudar você, prometo. Só... Só pare. Por favor.

  O monólogo lhe trouxe lágrimas aos olhos, que escorreram quentes e culpadas por sua face. Ela jamais alcançaria Frank como achava poder, ele erguera uma parede intransponível e imune a tudo e todos; era infantil de sua parte crer que apenas ela surtia efeito sobre suas ações. Riu de sua derrota patética; aquilo não mudaria. Frank Castle continuaria sendo Punisher, caçado pela polícia, destinado a uma cela na prisão de segurança máxima. Que destino mais o aguardava?

  Karen tentou recriá-lo em um cenário diferente, entretanto o comum há muito não se vestia nele. Um homem marcado jamais voltaria a ser comum, sequer teria a chance de o ser. E isso era o que mais a frustrava: Saber que Frank perdera aquele espaço. Cansada, ela limpou os olhos e deitou-se sem se trocar, puxando as cobertas por cima do corpo e imediatamente teve a percepção de que não estava sozinha. Fechou os olhos com força, ignorando a brincadeira de sua mente pela segunda vez, todavia se tornava mais nítida e palpável à medida que detectava no ar um perfume a mais.

  Descrente, Karen se forçou a sentar e a resposta foi o disparar de seu coração. A sua frente, Frank se materializava. O mesmo olhar duro, as roupas manchadas de sangue, contudo havia algo de respeitoso na maneira com que ele se mantinha afastado. Então, talvez... Ela fosse mesmo especial. Ela jogou a coberta para o lado e se levantou, a respiração fazendo seu peito subir e descer. Karen rompeu a distância, os olhos dançando em mútuo reconhecimento e admitiu que sua imagem parecia certa na imensidão negra.

  — O que...? — Ela tentou perguntar, mas achou que soaria ridículo. — Está ferido? — Aquela sim parecia mais sensata.

  — Não. — A voz rouca preencheu e dominou o quarto, detonando firmeza. Frank não trazia arma com ele, pelo menos que estivesse à vista de Karen. Ele não gostaria de vê-la recuar. Estava ali para saber que ninguém mais a perseguia, que estava segura. Analisado-a melhor e somando ao que escutara, podia dizer que ela se acostumara a ele. — Bom.

  — Eu não... Eu queria que soubesse... — Karen se atrapalhou, nervosa em se explicar.

  — Eu sei.

  — Sabe? — O espanto ameaçou um leve afastar, que logo foi corrigido.

  — As pessoas dizem certas coisas quando estão com medo. E se arrependem.

  Subitamente Karen sentiu raiva daquele rosto impassível, do jeito que se dirigia a ela, como justificava as suas ações em bases erradas. Abriu a boca para rebater, embora nenhuma frase escapou. Ela ficou parada e sem reação ao sentir uma das mãos de Frank em seu rosto. Ele tinha um toque quente, os calos ásperos roçando em sua pele dissolveram qualquer tentativa de contradizê-lo. Ela apenas colocou sua mão sobre a dele, mantendo-o ali, e esse simples gesto pareceu confundi-lo.

  — Frank... — O nome dele pesou em sua língua, escapando de forma pedinte; o bastante para fazê-lo se inclinar a sua boca.

  O beijo aconteceu de forma lenta no início, os lábios se massageando com carinho singular, para logo se tornar mais feroz. Frank a trouxe para perto, um braço enlaçado em volta da cintura fina de Karen, sentindo-a entregue. Ela lhe cedeu passagem para devorá-la, extrair e extravasar o desejo que ficou escondido desde a aproximação.

  A cama se encontrava tão próxima, convidativa, e um de seus pés cedeu para trás, levando Frank consigo. Ela o queria sim, o toque, o beijo, o corpo... Contudo, de repente, Karen cogitou se não estaria se deixando levar demais. Fazia poucos meses que o conhecia, e mesmo assim ele conseguia apagar seus pensamentos lúcidos e fazê-la dar atenção ao desejo crescente. Embora tivesse o intuito de refreá-lo, isso não aconteceu.

  Seu corpo foi coberto pelo dele, sentindo-o clamar por ela. E embora aquele momento tivesse feito parte dos seus sonhos e devaneios, ela não podia. Era como se manchasse a imagem da mulher que viera na vida dele antes dela, e a respeitava assim como os sentimentos que ele ainda preservava. Não seria justo com nenhum dos dois.

    — Pare, Frank... — Karen se desfez do beijo, buscando os olhos do homem. Notou sua camisa tatuada com uma caveira e pensou em como tal figura combinava com quem ele havia se tornado. — Por favor.

  — Por quê? — As mãos de Frank seguraram a cintura feminina, sem intenção de soltá-la. Se pudesse, isso nunca aconteceria. Aquela mulher se tornou alguém cuja sequer imaginara que poderia vir a ser. Ele não a forçaria.

  — Não vai acabar bem. Você sabe disso. — Karen tentou puxá-lo para a realidade. — A última coisa que quero ver é você sendo deixado a sete palmos da terra. Eles não vão esquecer você, seu rosto ainda é um alvo.

  — Ainda tenho o que fazer.

  — É tão importante assim?! — De súbito ela se afastou, gesticulando nervosamente. Tudo o que mais buscava agora era uma distancia, onde pudesse organizar a mente. — A sua vida não vale nada? Você pode recomeçar, tentar de novo!

  — E voltar para onde? — Frank também se exaltou, abrindo os braços como se quisesse que ela visse que o único destino que tinha direito era aquele. Não havia um melhor ou final feliz, afinal ele era Punisher agora. — Eu perdi tudo, Karen! Minha mulher, meus filhos... Eles merecem ser vingados!

  — E tudo o que você fez não foi suficiente? — Karen limpou uma lágrima teimosa, recriminando-se por se mostrar fraca diante dele. — Será que um dia você vai chegar ao limite ou se sentir satisfeito?! Por que, Frank, eu estou tentando acreditar e te imaginar aqui, andando livre, mas não consigo! Você não me deixa ver!

  Frank não rebateu, apenas observou a mulher explodir. Ele podia sentir os sentimentos dela lhe estapeando a consciência, chamando-lhe a voltar atrás e esquecer aquela história, contudo sua mente trabalhava ao contrário do que Karen implorava. Quando começara a fazer justiça com as próprias mãos uma das primeiras constatações que tivera fora que não existia volta, que trilharia aquele caminho até a morte. E ainda pensava assim, mesmo com as oportunidades que ela lhe mostrara. Gostaria sim de corresponde-la, entretanto ele já não se via daquele jeito.

 — Não. — Ele respondeu seco e indeferível. Acompanhou-a desabar e se reconstruir com incrível maestria, acostumada aquela resposta.

  — Tudo bem, Frank. — Karen fungou e respirou fundo, assumindo uma postura indiferente, o que por dentro resguardava tristeza e mágoa. — Então, acho melhor você ir embora. Alguém pode chegar e eu não quero mais interferir. — Uma desculpa deslavada, porém ela esgotara seus argumentos.

  — Parece justo. — Ele caminhou em direção a porta, uma parcela esperava que Karen mudasse de ideia e o impedisse, contudo fizeram uma escolha.

  — Adeus, Frank. — Ela disse antes que ele atravessasse a porta.

  — Adeus, moça.

   O tratamento a fez lembrar do primeiro encontro no hospital e isso machucou mais do que qualquer golpe físico. Definitivamente, daquela vez, ela tinha certeza de que Frank não mais voltaria, que nos dias seguintes a sua presença seria a única na casa.

  Um vazio se formou quando ele se foi, levando consigo uma esperança infantil. Aquela visita tivera o propósito de esclarecer que, o que quer que sentissem pelo outro, deveria ser esquecido.

  E que, no fim, ambos sempre terminariam sozinhos.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, espero que tenha gostado.
Deixe sua crítica construtiva, sugestões, opiniões... Vou adorar saber o que achou da história, respondo com muito carinho.
Até uma próxima!
Beijos,
With.