Para Além da Beleza escrita por Ami Ideas


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Eu li todos comentários, só que hoje estou sem tempo. Me dei 5 minutos para postar e cumprir o que prometi. Hoje é dia da criança aqui e tou atrasada para ir na escola da minha filha. Vou responder todos com muito carinho como sempre, saibam que adorei cada um e estou muito feliz mesmo, muito.

até já.



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Damien se dignou a sentar de frente para a empregada, os olhos azuis fulminantes perscrutaram com toda a atenção possível a figura a seu ver, pretensiosa.

― O que pretende? ― Havia certa confusão em seu rosto imperfeito, o deixando ainda mais desagradável de ser visto de tão perto.

Darcelle colocou o guardanapo de linho em seu colo, sabendo com exatidão estar a cruzar um risco indevido, afinal era petulância da sua parte agir de tal maneira diante do próprio empregador.

― De momento, apenas jantar. ― Espreitou os olhos para um prato requintado, cheio de pequenas entradas de diferentes tipos para a degustação. ― O que é isso?

O Monstro du Camp bateu com a mão na mesa, assustando a sua companhia com sucesso. Lá fora o céu trovejava sem parar, uma chuva nada simpática tanto quanto o seu próprio humor.

― Percebe que tal situação me é desconfortável, senhora Johnson. Não pretendo desfrutar de sua companhia, e farei o possível para relevar o acontecimento desta noite. Agora vou-me retirar e pedir para que...

― Eu quero ajudá-lo. ― Decidiu jogar as peças de uma só vez, uma tentativa fraca de o manter junto a mesa. Ingeriu um pedaço de bolacha salgada com uma substância escura e de textura esquisita.

Isso é caviar ― respondeu num ato impensado e procurou afastar a cadeira para trás, dando sinais claros de querer se levantar, não sem antes encher a taça de vinho. Pensava em ir beber algures, longe do alcance de quem fosse. ― Eu não quero ajuda. Não me lembro de ter pedido por isso, e estou cansado de soar meio repetitivo.

A assistente pessoal engoliu em seco ao perceber o tom amargurado vindo daquela voz, não era por ela, e sim como uma alma afetada por uma bomba tóxica. Procurou palavras para se explicar.

― Eu quero ajudá-lo a conquistar a senhora Charlton, a encontrar a felicidade novamente ― disse sem hesitar, a voz beirava a um certo desespero, como se o momento dependesse daquilo. Nas poucas semanas em que trabalhara ali, Darcelle via como os dias decorriam na vida daquele homem, e se questionava a razão de expressar tanta infelicidade em tudo o que fazia. Como poderia alguém viver de tal forma? Como uma carcaça sem conteúdo, ou um robô sem um coração verdadeiro.

― Não sei se percebeu, mas Emma Charlton é minha futura mulher. Não preciso de a conquistar. ― Damien pestanejou sem acreditar quando viu Johnson cuspir o caviar no guardanapo e a fazer uma careta de nojo.

― Ter preparado este jantar revela a certeza nas suas pretensões, senhor Beauchamp. Tudo o que penso que precisa é de alguém que lhe diga como fazer.

― Poderia ajudar não se metendo onde não é chamada, por exemplo. Não sei que tipo de confiança tem para tomar esse tipo de liberdade, ainda mais sobre minha vida pessoal. Não falarei sobre ela consigo, e muito menos necessito de sua ajuda. ― Repetiu a última parte cheio de ênfase, e desta vez se levantou com precisão. A inquietação nos seus olhos era visível.

Seria assim tão claro que a bela Charlton jamais quereria nada mais dele do que apenas dinheiro? E se isso não o incomodava antes, por que agora parecia como um ninho de abelhas em seu estômago?

― A festa da oficialização do noivado está perto, senhor Beauchamp. Podemos fazer com que seja real. ― Darcelle não sabia os termos daquele namoro, mas estava ciente do quão era esquisito. Emma nunca mostrava estar contente ao lado dele e parecia contar as horas para ir embora ou estar longe do futuro marido. Era suposto ela viver na mansão, mas passava a maior parte do tempo junto da irmã e do sobrinho, deixando o noivo sozinho. Apesar de ele parecer não se importar, a assistente vira naquela noite pela primeira vez, a deceção dentro dos olhos azuis, e se sentira na obrigação de fazer algo para remediar, visto ter sido ela a sugerir aquelas ideias.

― Use o quarto de baixo para passar a noite, a tempestade não ajuda em nada. ― Foi tudo o que Damien disse antes de se retirar da sala de jantar, percorrendo a passos largos até ao seu quarto. A solidão costumeira lhe pareceu imensa, gostava de estar só ou se tinha habituado àquilo?

Bebeu seu copo de vinho sentado na poltrona junto a lareira, remoía as palavras da assistente em seu consciente. Emma Charlton era diferente de todas que ali tinham passado, parecia serena, preparada para fazer o que tinha de ser feito. Não forçava e nem remediava, como se estivesse sempre no meio da questão. Ainda assim, nos últimos dias quem mais o intrigava era a jovem negra, cheia de personalidade e decidida nas palavras! Nunca antes conhecera alguém igual. Na presença da Johnson, não precisava fingir e nem usar suas máscaras, tal como quando estava com Christian. Bastava ser o que era na realidade, sem hesitações. Algo não tão fácil de se ter diante da futura esposa.

Darcelle emanava ali um poder estranho e até curioso para si. Foi isso que o fez levantar uma hora depois e descer as escadas até ao andar térreo sem rumo certo, até se dar conta de ter ido parar no único quarto onde antes dormia o mordomo da mansão. Ia bater a porta, mas estava  mal fechada e cedeu com facilidade, revelando a visão da assistente sentada na cama grande, apenas com um robe azul e o telefone junto a orelha. 

Os olhares se encontraram.

― Perdão, eu...

― Senhor Beauchamp, espere! ― Deixou o telefone e correu até a porta, curiosa pela presença de Damien ali. Era a última coisa que podia esperar. ― Precisa de alguma coisa?

O silêncio de uma resposta que nunca veio foi absorvido pelo grito do trovão. O quarto todo foi iluminado por luzes vindas de fora, e a mansão pareceu estremecer.

― Não era nada. Não se preocupe, vá descansar. ― Deu meia volta sem deixar que ela respondesse. Sentia-se como um tolo por ir até ali sem saber sequer o que dizer. A verdade era mesmo essa: Não sabia.

***

Na manhã seguinte Darcelle foi para casa, não encontrando a prima na hora do pequeno-almoço, e nem depois. Tendo ligado para esta sem resposta! Passou a tarde com Emma e Joanne, organizavam a festa do noivado na mansão, e tinham muitos lugares por visitar e compras por fazer. Os convites do casamento tinham sido entregues, mas teriam decidido anunciar o noivado publicamente, afinal se tratava de um dos maiores herdeiros do país.

Só viu Jamie quando voltou de noite, e a prima estava sentada na mesa da sala enfurnada numa montanha de livros grossos e de cadernos. Sequer levantou o rosto para a cumprimentar.

― Boa noite ― Deixou a bolsa e o casaco no cabideiro, e foi até a cozinha para preparar um chocolate quente. Precisava aquecer o seu corpo. ― Eu liguei para você todo dia.

― Não sei se esqueceu mas eu sou uma aluna de medicina.

― Que mau humor! O que tens? Ainda zangada comigo pelo que falei do Lorenzo?

Jamie parou de escrever e levantou os olhos escuros para a prima. Muita gente de tanto as ver juntas, pensavam que fossem irmãs, apesar das diferenças gritantes entre as duas. Respirou fundo.

― Estou a estudar, tenho exame esta semana.

― Queres ir a festa de noivado do Beauchamp? Talvez fosse bom para espairecer um pouco. Parece que estás a precisar! ― Convidou e serviu o chocolate para a chávena, caminhando até se sentar junto da prima. ― Os exames vão até sexta-feira, não?

― Não tenho vontade.

Darcelle estranhou as respostas evasivas, e como conhecia a peça, decidiu usar de outras formas para obrigar a médica a contar o que tinha acontecido.

― Eu realmente não queria estar lá sozinha, e a senhora Charlton já disse que posso levar companhia. Por favor! Recebi um bónus, podemos comprar uma roupa nova.

― Darci minha querida, não sei se ainda não entendeu que estou tentando estudar.― Levantou os livros na altura da cara, uma forma óbvia de fazer a teimosa perceber. Mas foi em vão.

― Viste o carro que está parado aí na porta? Será que é da...

― É meu! ― Jamie não hesitou em responder. A voz pareceu ainda mais amargurada ao dizer tal coisa. Sentiu a mão da prima baixar o livro para lhe encarar.

― Como? ― Admirou. ― Foi o Lorenzo?

― Não. Eu e o Lorenzo terminamos, está bem? Agora chega de perguntas! ― Levantou da mesa e reuniu alguns livros no braço, rumando para o quarto ainda de mau humor. Jamie também sentia vergonha pelo que acontecera e não conseguia encarar a sua prima para contar a verdade.

***

― [...] Nunca uma mulher negou algo meu. Nunca. Quem ela pensa que é?

Os dois amigos experimentavam os ternos para o noivado de sábado. A loja era famosa pelos trajes e os costureiros acertavam as suas medidas para que o corte ficasse perfeito.

― Alguém que não se deixa iludir por bens materiais? ― Retorquiu Damien, cujo rosto apresentava uma máscara branca a cobrir apenas o lado direito. Era incapaz de receber quem fosse com a realidade a mostra.

― Só quis agrada-la. ― Christian justificou, passou a mão pelos cabelos desarrumados.

― Tentou com flores?

― Que forreta, Damien. E eu não a quero conquistar, só quis dar uma ajuda ― garantiu, virava o pescoço de um lado para o outro a apreciar a silhueta do corpo dentro do terno. Não gostava daquelas roupas formais, mas não ia contradizer o amigo.

― Se pelo que me diz, essa... Jamie for tão tempestuosa quanto a prima. Deste um tiro no escuro. ― A cor azul da roupa evidenciava os olhos do herdeiro Beauchamp. O traje feito a medida parecia ter sido criado exclusivamente para si.

Como a prima? ― Dash pestanejou. ― Tens tido contato com a assistente pessoal?

O outro ficou quieto com a pergunta feita, e dispensou os costureiros retirando o casaco, ficando apenas de camisa formal.

― É normal, ela trabalha para mim, ― respondeu sem se esticar muito nos detalhes, e caminhou até ao interfone, chamando por Étienne.

― Não foi isso que eu quis dizer. ― O psicólogo retrucou mas não obteve resposta, apenas encarou o seu amigo sair do quarto, deixando-o para trás.

Darcelle adormecera na sala a assistir mais uma de suas séries favoritas. Tinha em vão esperado Jamie para jantar, e era agora acordada pelo som da campainha. Se dirigiu até a porta com um ar preocupado, quem seria àquela hora?

― Étienne! ― Exclamou. ― Aconteceu alguma coisa?

― Senhora Johson? Desculpe pela hora. ― O motorista parecia um pouco afoito. ― O Senhor Beauchamp pediu para chama-la. Ele está lá em baixo, no carro.

A assistente arregalou os olhos sem poder acreditar, e um turbilhão de sensações invadiu o seu peito. O que Damien queria?


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