Para Além da Beleza escrita por Ami Ideas
Notas iniciais do capítulo
Quero pedir desculpas pela demora, e dizer que vou postar dois capítulos para compensar.
Espero que gostem.
Boa leitura,
Quando Damien acabou de explicar como tudo tinha acontecido, estavam os dois sentados na mesa de jantar. Teve tempo de contar sobre a conversa de Joanne, a sua desconfiança e a sua ida até a casa desta para ver a criança. Darcelle estava em silêncio, processando cada palavra com cuidado, sem demonstrar nenhuma reação visível no seu rosto.
— Eu sei que o nosso namoro é recente, percebo a sua forma habituada a estar e pensar sozinho, mas em algum momento pensaste em mim? — perguntou. As mãos estavam ao redor de uma chávena de chá ainda cheia, embora fria.
— Eu não soube como agir, fiquei assustado e confuso. Não tinha certeza de nada e por isso...
— Todo este tempo e nem uma palavra sobre o assunto? Sequer cogitaste na ideia de compartilhar comigo para que pudesse ajudar? Podíamos ter feito tudo juntos. — A voz alterou por uns instantes. — Como é que pensas em viver comigo se não confias em mim?
— Eu confio, mais do que tudo. És a única certeza na minha vida.
— A única não. Existe um filho agora, uma vida. E eu tive que saber isso pela televisão.
— Eu ia contar hoje. Só precisava de estar seguro, não queria aborrecer com especulações que poderiam ser infundadas ou fruto de uma mulher maluca.
A forma como ela o encarava revelava toda a tristeza presente, não parecia querer acreditar naquelas justificações infindáveis.
— Eu percebo o que dizes. Juro que percebo — afirmou sem pestanejar. — Mas um relacionamento é a base de confiança. Aquele para quem desejas contar tudo o que incomoda.
— Eu preciso de você, das suas palavras e do seu conforto. — Esticou a mão para acariciar a dela, e sentiu uma pontada no coração, quando a viu se esquivar do carinho.
— Eu estou magoada. Não posso obrigar a contar o que não quer ou só quando lhe convém, mas me senti desprezada.
— Eu jamais a desprezaria. Pretendo processar Joanne por difamação e procurar essa enfermeira que cooperou com isso — tartamudeou. — Só não quero que seja motivo para estarmos brigados. É muita coisa para acontecer ao mesmo tempo e preciso que estejas ao meu lado.
— Processar? — repetiu um tanto incrédula e meneou a cabeça num gesto claro de negação. — Eu vou-lhe dar um conselho: Se passaram seis anos. Joanne é uma mulher rejeitada com um filho que não conhece o pai, com uma irmã linda e feliz no relacionamento, e toda essa raiva vai sobrar para você. O que precisa agora não é de se vingar e sim de se retratar. Não volte a ser o homem horrível que era apenas para massajar seu próprio ego.
Aquilo atingiu Damien como uma bala certa no meio da testa. Os olhos azuis escureceram por um momento, e se afastou para recostar o corpo na cadeira.
— Eu não fiz nada e eu é que sou o culpado? O meu filho não merece a mãe que tem. É falsa e mesquinha, capaz de usar a própria irmã num ato ridículo de vingança.
— Damien, queres pagar sangue com sangue? Tem uma criança inocente no meio dessa guerra de adultos. O que Joanne quer não é mais que sua atenção. Já experimentou sentar e falar com ela por bem? Se abrir e explicar o seu lado e pedir...
— Pedir?
— Sim, pedir. — Reforçou com firmeza. — Para esquecerem o passado, e tentarem um novo recomeço? És uma pessoa diferente agora, e podes fazer com que ela também seja.
Beauchamp passou a mão pelos cabelos num gesto involuntário que revelava sua impaciência. Parecia em nenhum momento ter cogitado tal ideia, já tendo acionado advogados e todos os seus conhecidos na justiça. Mordeu o lábio com força.
— Eu quero que estejas comigo. As suas palavras são sempre sábias e apaziguadoras... Onde aprendeste tanto? — A voz rouca por pouco não beirou ao desespero. — Me perdoa. Eu errei mas foi impensado, nunca com o desejo de te magoar.
Darcelle permaneceu calada, os olhos decidiram olhar para o líquido escuro dentro da chávena. Engoliu em seco.
— Vamos para casa. — Ele pediu, não iria se perdoar se perdesse a pessoa de quem gostava por um erro tão estúpido.
— Eu preciso pensar. — A resposta foi sincera. Por mais que compreendesse, não saberia fingir que não estava triste. — Vou passar a noite aqui.
— Então eu fico com você.
— Não. Por favor. — Johnson se levantou num salto, sem conseguir olhar para o namorado, e caminhou até a porta, abrindo-a. — Nos vemos amanhã.
Demorou algum tempo até o herdeiro Beauchamp se levantar da cadeira, tinha a cara ruborizada e um ar completamente arrasado. Compreendeu que a companheira precisava de tempo, e por isso não insistiu mais, apenas beijou a testa dela antes de sair porta a fora.
Logo que se encontrou sozinha a primeira coisa que fez foi voltar a ligar a televisão e se sentar no sofá. O programa Pipoca Quente ainda passava mas o foco eram outros famosos e brincadeiras para ganhar dinheiro. Teve que afirmar para si que apesar de tudo, Lorenzo levava jeito para o entretenimento.
— Não tive como não ouvir e penso que foste um pouco dura. — Ali estava Jamie, pronta para sair para o trabalho. Estava parada diante da prima com um ar acusador.
— Eu sei que as pessoas são diferentes, e que cada um tem a sua maneira de agir mediante as coisas. Mas não gosto de confiar em quem não confia em mim. Se dizem gostar de mim e se estão sempre a par do que se passa comigo, deviam se sentir confortáveis o suficiente para partilhar seus problemas. — Devolveu o olhar acusador numa tonalidade ainda mais forte. — Você prometeu não guardar segredos.
— Não estávamos a falar de mim. — Riu de nervoso.
— Tu e o Damien são as pessoas que nunca deveriam fazer isso. E uma gravidez é algo a ser compartilhado com sua melhor amiga. Para além de primas sempre pensei que nossa amizade fosse a melhor do mundo.
— Não contei porque não importa. Eu vou abortar. Não faça esse olhar, Darci. Foi por isso que não contei. Não quero ser crucificada!
— Deveria ter-se protegido então.
— Acidentes acontecem. — A médica mais uma vez foi fria. — Não vou trazer essa criança ao mundo para ter uma família separada como a que eu tive. Você percebe, e de acordo com a medicina sequer é uma pessoa. Ainda é apenas um conjunto de células.
— Se o que tanto quer é uma família, por que não a formas com o Chris?
Jamie riu numa gargalhada divertida, e viu a confusão no rosto da prima.
— Chris não é o príncipe Damien Jacques Beauchamp. Aquele psicólogo de meia tigela é um solteiro bem condecorado e não quer perder o trono tão cedo. Acha mesmo que ia querer brincar de casinhas comigo?
— Você está se subestimando, Jamie. Já perguntou para ele?
— O quê?
— Se ele quer ficar contigo, digo, de verdade.
— Eu não vou perguntar nada, porque nem eu quero. Estou bem assim. — Mentiu, e na sua cabeça soou a voz de Dash lhe dizendo na cara que mentia muito mal. Soltou um suspiro exasperado. — Christian já deixou bem claro que não quer nenhuma relação séria.
— Tenho a certeza que gosta muito de você. Damien comentou que desde que se enrolou contigo, nunca mais foi visto com nenhuma outra mulher.
— Eu... estou atrasada. — Desconversou como sempre, com medo de ouvir algo que pudesse criar uma esperança indesejada. — Te vejo mais tarde.
***
Para quem gostava de estar sozinho dentro das paredes da sua mansão, nunca antes lhe pareceu tão grande aquele lugar. Bebeu alguns uísques para relaxar o corpo, e ao se deitar o sono veio em formato de pesadelos. Primeiro o acidente, tão nítido e horrível como no próprio dia. Depois os risos das pessoas e por fim via Darcelle ir embora para longe dos seus braços e para sempre.
Despertou com o coração a bater, o suor molhava os lençóis e mais uma vez desejou não estar só e não ter a cara naquele estado. Pegou o celular e viu que tinha dormido até bastante, tentou ligar para a sua amada mas não teve sucesso. Optou por ir trabalhar, tomando um banho rápido e chamando por Étienne para o levar até a Beauchamp.
Logo que chegou foi invadido por uma série de repórteres, fotografavam e filmavam seu rosto, algo que bem há pouco tempo era quase impossível. Ouviu a chuva de perguntas, mas ignorou, caminhando firme e rodeado por seguranças até dentro da empresa. Estranhou a ausência de Rupert. Ela estava sempre lá como um acessório obrigatório na porta de entrada, encontrou outra no seu lugar.
— Bom dia senhor Beauchamp. A senhora Rupert teve um imprevisto. — A mulher de certa idade falava devagar, com um gesto amável, diferente do mau humorado da habitual rececionista.
— Obrigado, Marina. Por favor marque um almoço com Joanne Charlton, em meu nome — ordenou. Tinha tomado aquela decisão, ia tentar resolver as coisas sem abusar do seu poder e da força do sobrenome que carregava.
Teve uma reunião com o sindicato logo de início, uma com a administração e mais duas com compradores gigantes. As vezes se perguntava, se não seria ingrato por reclamar de uma deformidade apenas, em relação a tudo o que tinha. Nada na vida acontecia por acaso, e ter encontrado Darcelle era a prova disso.
A hora do almoço pediu o motorista para passar deixá-lo no restaurante e ir buscar Joanne à casa. Era um sítio simples e agradável, a velha Marina parecia ser uma pessoa sem muitas complicações. Era discreto o suficiente para não chamar a atenção dos demais, pois da forma como Lorenzo o atacava em todo lado, as pessoas pareciam ter- se recordado da existência do monstro du Camp.
Pediu uma garrafa de vinho branco e ostras e Sushi, e se dignou a livrar-se de toda a ansiedade dos últimos dias. Tudo o que queria era terminar aquele almoço e correr para estar com Darcelle.
— Eu só vim aqui para dizer que se pensas em fazer ameaças, estás muito enganado! Eu não tenho medo, a média está do meu lado. O júri vai ser pressionado pelo público e...
— Se acalme, senhora Charlton. E uma boa tarde para você também — murmurou de olhos estreitos. Não queria se arrepender de ter tomado aquela deliberação. — Sente-se.
O servente veio ajudar a puxar a cadeira para a mulher e a abrir o guardanapo de pano, e serviu o vinho.
— O que você quer? Que eu retire o que disse na televisão? Pode esquecer.
— Eu quero pedir desculpa, Joanne. — O rosto dela empalideceu em descrença ao ouvir algo impossível da boca de Damien. — Eu errei com você, minha mãe, e essa enfermeira. Mas você também errou! Mesmo assim, não estou aqui para criticar ninguém e sim para falar abertamente. Eu trouxe duas opções e você pode escolher ouvir ou partir.
— Pode falar. — Charlton fingiu não ter importância, contudo, os olhos castanhos demonstravam uma curiosidade acima de qualquer coisa.
— A primeira opção é que podemos os dois continuar a ter esse comportamento infantil, vamos ao tribunal e nos darão dias em que cada pai poderá estar com a criança. Você continuará zangada, e a falar mal de mim para o Giovani, e eu irei arranjar provas sobre isso e meter uma queixa. Percebe? Estaremos numa guerra sem fim. — A postura de Beauchamp pouco se alterava, os cabelos loiros estavam bem arranjados e o perfume exalava masculinidade. Podia não ter a cara perfeita, mas possuía muito charme. — A segunda opção é que podemos esquecer tudo. Passar uma borracha e recomeçar como adultos que somos. Todos temos direito de uma segunda oportunidade, mas essa criança não tem culpa de nada. Merece ter pais que se entendam e se respeitem e as duas famílias unidas para o seu próprio bem. Acredito que ama o Giovani e quer o melhor para ele, e isso, eu também quero.
— E se eu por ventura concordasse com a segunda opção? — Joanne estava ferida e sua mão tremia ao segurar a taça de vinho, não queria demonstrar fraqueza. Não depois de tudo.
— E vou dar uma casa para vocês, carro, dinheiro mensal e pagarei todas as despesas que tiverem. Não vou exigir entrar na vida dele assim da noite para o dia, quero que tudo aconteça sem pressa. Até porque eu também estou com certo medo. — Baixou a cabeça para esconder o riso espontâneo pela sua confissão. — Mas quero acabar com essa guerra.
— E a... Darcelle? — A pergunta foi feita de forma ácida.
— Ela é minha namorada.
— Vai dar irmãos mulatos para meu filho? — Ela riu com gosto. — Eu posso aceitar tudo isso, mas tem uma condição.
— Qual?
— Não quero sua namorada perto do meu filho. Percebeu? Não quero.
Damien levantou a cabeça para encarar melhor aquela que seria a possível mãe de seu filho. Podia perceber a razão de não ter-se encantado por ela em nenhum momento da sua vida. Respirou fundo.
— Isso seria impossível, Joanne.
— Agora eu vou dar duas opções: Ou segue o caminho mais fácil para ter o seu filho perto, num ambiente saudável e com os pais que se entendem, para o próprio bem dele. Ou, vamos pelo difícil mesmo! O tribunal, as brigas constantes e a certeza de Giovani saber que o pai escolheu a namorada ao invés dele. A decisão é sua.
— Isso é um absurdo, senhora Charlton!
Assistiu a irmã mais velha de Emma se levantar com um rosto cheio de convicção.
— Tudo depende de você, senhor Beauchamp.
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Espero que tenham gostado.