Para Além da Beleza escrita por Ami Ideas


Capítulo 17
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Quero pedir desculpas pela demora, e dizer que vou postar dois capítulos para compensar.

Espero que gostem.

Boa leitura,



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Quando Damien acabou de explicar como tudo tinha acontecido, estavam os dois sentados na mesa de jantar. Teve tempo de contar sobre a conversa de Joanne, a sua desconfiança e a sua ida até a casa desta para ver a criança. Darcelle estava em silêncio, processando cada palavra com cuidado, sem demonstrar nenhuma reação visível no seu rosto.

— Eu sei que o nosso namoro é recente, percebo a sua forma habituada a estar e pensar sozinho, mas em algum momento pensaste em mim? — perguntou. As mãos estavam ao redor de uma chávena de chá ainda cheia, embora fria.

— Eu não soube como agir, fiquei assustado e confuso. Não tinha certeza de nada e por isso...

— Todo este tempo e nem uma palavra sobre o assunto? Sequer cogitaste na ideia de compartilhar comigo para que pudesse ajudar? Podíamos ter feito tudo juntos. — A voz alterou por uns instantes. — Como é que pensas em viver comigo se não confias em mim?

— Eu confio, mais do que tudo. És a única certeza na minha vida.

— A única não. Existe um filho agora, uma vida. E eu tive que saber isso pela televisão.

— Eu ia contar hoje. Só precisava de estar seguro, não queria aborrecer com especulações que poderiam ser infundadas ou fruto de uma mulher maluca.

A forma como ela o encarava revelava toda a tristeza presente, não parecia querer acreditar naquelas justificações infindáveis.

— Eu percebo o que dizes. Juro que percebo — afirmou sem pestanejar. — Mas um relacionamento é a base de confiança. Aquele para quem desejas contar tudo o que incomoda.

— Eu preciso de você, das suas palavras e do seu conforto. — Esticou a mão para acariciar a dela, e sentiu uma pontada no coração, quando a viu se esquivar do carinho.

— Eu estou magoada. Não posso obrigar a contar o que não quer ou só quando lhe convém, mas me senti desprezada.

— Eu jamais a desprezaria. Pretendo processar Joanne por difamação e procurar essa enfermeira que cooperou com isso — tartamudeou. — Só não quero que seja motivo para estarmos brigados. É muita coisa para acontecer ao mesmo tempo e preciso que estejas ao meu lado.

Processar? — repetiu um tanto incrédula e meneou a cabeça num gesto claro de negação. — Eu vou-lhe dar um conselho: Se passaram seis anos. Joanne é uma mulher rejeitada com um filho que não conhece o pai, com uma irmã linda e feliz no relacionamento, e toda essa raiva vai sobrar para você. O que precisa agora não é de se vingar e sim de se retratar. Não volte a ser o homem horrível que era apenas para massajar seu próprio ego.

Aquilo atingiu Damien como uma bala certa no meio da testa. Os olhos azuis escureceram por um momento, e se afastou para recostar o corpo na cadeira.

— Eu não fiz nada e eu é que sou o culpado? O meu filho não merece a mãe que tem. É falsa e mesquinha, capaz de usar a própria irmã num ato ridículo de vingança.

— Damien, queres pagar sangue com sangue? Tem uma criança inocente no meio dessa guerra de adultos. O que Joanne quer não é mais que sua atenção. Já experimentou sentar e falar com ela por bem? Se abrir e explicar o seu lado e pedir...

— Pedir?

— Sim, pedir. — Reforçou com firmeza. — Para esquecerem o passado, e tentarem um novo recomeço? És uma pessoa diferente agora, e podes fazer com que ela também seja.

Beauchamp passou a mão pelos cabelos num gesto involuntário que revelava sua impaciência. Parecia em nenhum momento ter cogitado tal ideia, já tendo acionado advogados e todos os seus conhecidos na justiça. Mordeu o lábio com força.

— Eu quero que estejas comigo. As suas palavras são sempre sábias e apaziguadoras... Onde aprendeste tanto? — A voz rouca por pouco não beirou ao desespero. — Me perdoa. Eu errei mas foi impensado, nunca com o desejo de te magoar.

Darcelle permaneceu calada, os olhos decidiram olhar para o líquido escuro dentro da chávena. Engoliu em seco.

— Vamos para casa. — Ele pediu, não iria se perdoar se perdesse a pessoa de quem gostava por um erro tão estúpido.

— Eu preciso pensar. — A resposta foi sincera. Por mais que compreendesse, não saberia fingir que não estava triste. — Vou passar a noite aqui.

— Então eu fico com você.

— Não. Por favor. — Johnson se levantou num salto, sem conseguir olhar para o namorado, e caminhou até a porta, abrindo-a. — Nos vemos amanhã.

Demorou algum tempo até o herdeiro Beauchamp se levantar da cadeira, tinha a cara ruborizada e um ar completamente arrasado. Compreendeu que a companheira precisava de tempo, e por isso não insistiu mais, apenas beijou a testa dela antes de sair porta a fora.

Logo que se encontrou sozinha a primeira coisa que fez foi voltar a ligar a televisão e se sentar no sofá. O programa Pipoca Quente ainda passava mas o foco eram outros famosos e brincadeiras para ganhar dinheiro. Teve que afirmar para si que apesar de tudo, Lorenzo levava jeito para o entretenimento.

— Não tive como não ouvir e penso que foste um pouco dura. — Ali estava Jamie, pronta para sair para o trabalho. Estava parada diante da prima com um ar acusador.

— Eu sei que as pessoas são diferentes, e que cada um tem a sua maneira de agir mediante as coisas. Mas não gosto de confiar em quem não confia em mim. Se dizem gostar de mim e se estão sempre a par do que se passa comigo, deviam se sentir confortáveis o suficiente para partilhar seus problemas. — Devolveu o olhar acusador numa tonalidade ainda mais forte. — Você prometeu não guardar segredos.

— Não estávamos a falar de mim. — Riu de nervoso.

— Tu e o Damien são as pessoas que nunca deveriam fazer isso. E uma gravidez é algo a ser compartilhado com sua melhor amiga. Para além de primas sempre pensei que nossa amizade fosse a melhor do mundo.

— Não contei porque não importa. Eu vou abortar. Não faça esse olhar, Darci. Foi por isso que não contei. Não quero ser crucificada!

— Deveria ter-se protegido então.

— Acidentes acontecem. — A médica mais uma vez foi fria. — Não vou trazer essa criança ao mundo para ter uma família separada como a que eu tive. Você percebe, e de acordo com a medicina sequer é uma pessoa. Ainda é apenas um conjunto de células.

— Se o que tanto quer é uma família, por que não a formas com o Chris?

Jamie riu numa gargalhada divertida, e viu a confusão no rosto da prima.

— Chris não é o príncipe Damien Jacques Beauchamp. Aquele psicólogo de meia tigela é um solteiro bem condecorado e não quer perder o trono tão cedo. Acha mesmo que ia querer brincar de casinhas comigo?

— Você está se subestimando, Jamie. Já perguntou para ele?

— O quê?

— Se ele quer ficar contigo, digo, de verdade.

— Eu não vou perguntar nada, porque nem eu quero. Estou bem assim. — Mentiu, e na sua cabeça soou a voz de Dash lhe dizendo na cara que mentia muito mal. Soltou um suspiro exasperado. — Christian já deixou bem claro que não quer nenhuma relação séria.

— Tenho a certeza que gosta muito de você. Damien comentou que desde que se enrolou contigo, nunca mais foi visto com nenhuma outra mulher.

— Eu... estou atrasada. — Desconversou como sempre, com medo de ouvir algo que pudesse criar uma esperança indesejada. — Te vejo mais tarde.

***

Para quem gostava de estar sozinho dentro das paredes da sua mansão, nunca antes lhe pareceu tão grande aquele lugar. Bebeu alguns uísques para relaxar o corpo, e ao se deitar o sono veio em formato de pesadelos. Primeiro o acidente, tão nítido e horrível como no próprio dia. Depois os risos das pessoas e por fim via Darcelle ir embora para longe dos seus braços e para sempre.

Despertou com o coração a bater, o suor molhava os lençóis e mais uma vez desejou não estar só e não ter a cara naquele estado. Pegou o celular e viu que tinha dormido até bastante, tentou ligar para a sua amada mas não teve sucesso. Optou por ir trabalhar, tomando um banho rápido e chamando por Étienne para o levar até a Beauchamp.

Logo que chegou foi invadido por uma série de repórteres, fotografavam e filmavam seu rosto, algo que bem há pouco tempo era quase impossível. Ouviu a chuva de perguntas, mas ignorou, caminhando firme e rodeado por seguranças até dentro da empresa. Estranhou a ausência de Rupert. Ela estava sempre lá como um acessório obrigatório na porta de entrada, encontrou outra no seu lugar.

— Bom dia senhor Beauchamp. A senhora Rupert teve um imprevisto. — A mulher de certa idade falava devagar, com um gesto amável, diferente do mau humorado da habitual rececionista.

— Obrigado, Marina. Por favor marque um almoço com Joanne Charlton, em meu nome — ordenou. Tinha tomado aquela decisão, ia tentar resolver as coisas sem abusar do seu poder e da força do sobrenome que carregava.

Teve uma reunião com o sindicato logo de início, uma com a administração e mais duas com compradores gigantes. As vezes se perguntava, se não seria ingrato por reclamar de uma deformidade apenas, em relação a tudo o que tinha. Nada na vida acontecia por acaso, e ter encontrado Darcelle era a prova disso.

A hora do almoço pediu o motorista para passar deixá-lo no restaurante e ir buscar Joanne à casa. Era um sítio simples e agradável, a velha Marina parecia ser uma pessoa sem muitas complicações. Era discreto o suficiente para não chamar a atenção dos demais, pois da forma como Lorenzo o atacava em todo lado, as pessoas pareciam ter- se recordado da existência do monstro du Camp.

Pediu uma garrafa de vinho branco e ostras e Sushi, e se dignou a livrar-se de toda a ansiedade dos últimos dias. Tudo o que queria era terminar aquele almoço e correr para estar com Darcelle.

— Eu só vim aqui para dizer que se pensas em fazer ameaças, estás muito enganado! Eu não tenho medo, a média está do meu lado. O júri vai ser pressionado pelo público e...

— Se acalme, senhora Charlton. E uma boa tarde para você também — murmurou de olhos estreitos. Não queria se arrepender de ter tomado aquela deliberação. — Sente-se.

O servente veio ajudar a puxar a cadeira para a mulher e a abrir o guardanapo de pano, e serviu o vinho.

— O que você quer? Que eu retire o que disse na televisão? Pode esquecer.

— Eu quero pedir desculpa, Joanne. — O rosto dela empalideceu em descrença ao ouvir algo impossível da boca de Damien. — Eu errei com você, minha mãe, e essa enfermeira. Mas você também errou! Mesmo assim, não estou aqui para criticar ninguém e sim para falar abertamente. Eu trouxe duas opções e você pode escolher ouvir ou partir.

— Pode falar. — Charlton fingiu não ter importância, contudo, os olhos castanhos demonstravam uma curiosidade acima de qualquer coisa.

— A primeira opção é que podemos os dois continuar a ter esse comportamento infantil, vamos ao tribunal e nos darão dias em que cada pai poderá estar com a criança. Você continuará zangada, e a falar mal de mim para o Giovani, e eu irei arranjar provas sobre isso e meter uma queixa. Percebe? Estaremos numa guerra sem fim. — A postura de Beauchamp pouco se alterava, os cabelos loiros estavam bem arranjados e o perfume exalava masculinidade. Podia não ter a cara perfeita, mas possuía muito charme. — A segunda opção é que podemos esquecer tudo. Passar uma borracha e recomeçar como adultos que somos. Todos temos direito de uma segunda oportunidade, mas essa criança não tem culpa de nada. Merece ter pais que se entendam e se respeitem e as duas famílias unidas para o seu próprio bem. Acredito que ama o Giovani e quer o melhor para ele, e isso, eu também quero.

— E se eu por ventura concordasse com a segunda opção? — Joanne estava ferida e sua mão tremia ao segurar a taça de vinho, não queria demonstrar fraqueza. Não depois de tudo.

— E vou dar uma casa para vocês, carro, dinheiro mensal e pagarei todas as despesas que tiverem. Não vou exigir entrar na vida dele assim da noite para o dia, quero que tudo aconteça sem pressa. Até porque eu também estou com certo medo. — Baixou a cabeça para esconder o riso espontâneo pela sua confissão. — Mas quero acabar com essa guerra.

— E a... Darcelle? — A pergunta foi feita de forma ácida.

— Ela é minha namorada.

— Vai dar irmãos mulatos para meu filho? — Ela riu com gosto. — Eu posso aceitar tudo isso, mas tem uma condição.

— Qual?

— Não quero sua namorada perto do meu filho. Percebeu? Não quero.

Damien levantou a cabeça para encarar melhor aquela que seria a possível mãe de seu filho. Podia perceber a razão de não ter-se encantado por ela em nenhum momento da sua vida. Respirou fundo.

— Isso seria impossível, Joanne.

— Agora eu vou dar duas opções: Ou segue o caminho mais fácil para ter o seu filho perto, num ambiente saudável e com os pais que se entendem, para o próprio bem dele. Ou, vamos pelo difícil mesmo! O tribunal, as brigas constantes e a certeza de Giovani saber que o pai escolheu a namorada ao invés dele. A decisão é sua.

— Isso é um absurdo, senhora Charlton!

Assistiu a irmã mais velha de Emma se levantar com um rosto cheio de convicção.

— Tudo depende de você, senhor Beauchamp.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.