Para Além da Beleza escrita por Ami Ideas


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Cá estou mais uma vez, dizer que estamos nos capítulos finais e a "testar" o amor de Damelle. Poderá superar tudo?

Boa leitura,



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O último dia da semana foi corrido para todos na empresa Beauchamp. O facto de trabalhar com o namorado ainda não tinha afetado em nada até então, tirando os olhares acusatórios dos demais que os viam sair para almoçar ou ir para casa juntos.

— Estou indo ter com Jamie, nos encontramos mais tarde? — Darcelle entrou na sala de Damien para se despedir. Tinha o visto estranho durante a semana, sempre apreensivo e fechado dentro de uma concha. — Podíamos sair para dançar? Só dancei com você uma vez.

— Desculpe-me meu bem, mas estou exausto. Amanhã devo acordar cedo. — Levantou-se para ir até perto dela, viu o olhar desiludido no seu rosto. — Saímos amanhã?

— Tanto faz — respondeu sem demonstrar o aborrecimento. Sabia estar com um homem com uma herança pesada e que dava muito trabalho. Recebeu o beijo rápido.

— Eu queria que viesses viver comigo, já que passas mais tempo lá em casa — acrescentou. Parecia algo a qual pretendia falar há bastante tempo só pela forma como expeliu as palavras.

— E a Jamie? Não queria deixar ela sozinha.

— Já pensou que sua prima sabe se cuidar? Vocês não vão ficar juntas para sempre. Eu ia dizer para chamar ela para se mudar, mas do jeito que Jamie é brava, duvido que aceite.

Darcelle sorriu ao ouvir sobre sua amada quase irmã. Era verdade que não aceitaria.

— Tem estado estranha... os humores alteram a toda hora, chora muito — comentou de forma distraída, pois vê-la vulnerável tinha mexido com seu coração.

— Já pensou que talvez ela possa estar... grávida? — Damien depositou outro beijo estalado nos lábios de uma surpreendida Johnson e voltou a sentar atrás de sua grande mesa.

— Como assim? Sabe de alguma coisa? Fala! — O desespero tomou conta da voz, e os olhos ganharam um brilho incrível. Podia aquilo ser verdade?

— Eu só dei uma dica. Acho melhor falar com ela. — Piscou o olho com charme, deixando-a ainda mais impaciente. Olhou para o relógio de pulso. — Eu vou ter mais uma reunião agora. Depois preciso falar com você.

Darcelle bufou de raiva, sem saber se acreditava ou não naquela possibilidade. Jamie tinha prometido não esconder mais nada.

— É sobre o quê? — A concentração tinha ido embora, sobrepondo-se a ideia de estar a crescer uma criança no ventre daquela teimosa.

— A primeira vou adiantar agora. — Pousou os braços sob a mesa, a camisa dobrada até ao cotovelo revelava um deles tão cicatrizado quanto o rosto, mas não parecia incomodado, pelo menos na presença dela. — Qual é o seu sonho? Sua perspetiva de vida, ambição. O que gostarias de fazer em especial, Darcelle?

— Como assim? — Parou para pensar. Não conseguia se lembrar de nada naquele momento.

— Quando estudavas, qual carreira pensavas em seguir? Que área de trabalho? Qual empresa? O que te agrada como uma profissão de futuro? Qualquer coisa. Me fale.

— Eu... bem. Nunca tinha pensado nisso. — Engoliu em seco, um pouco envergonhada. Nunca fora mulher de grandes sonhos, queria apenas ter um salário bom e uma vida confortável. Não era superdotada como Jamie, que queria ser uma grande cirurgiã e que fazia maravilhas em tudo o que encostava: Cantava bem, cozinhava muito e quando eram adolescentes criava roupas novas e bonitas através das velhas. Darcelle às vezes julgava não ter nenhum dom ou ambição. — Por quê essa pergunta?

— Quero ajudar você a se realizar. Ter seu próprio negócio, gerir sua empresa ou loja, ou o que quiser fazer — respondeu com clareza. — Precisas terminar os estudos também. Pense nisso.

— Tudo bem. — Ela concordou e sorriu um quanto embaraçada. — Obrigada. Mas e a outra coisa?

— Falo com você depois. — O semblante do monstro du Camp ficou sombrio.

Despediram-se e Johnson saiu com mil e uma ideias na cabeça, apanhando o elevador junto dos colegas que conversavam. Dois deles da tesouraria, pararam de falar assim que a viram entrar.

— Tenha um bom fim-de-semana, senhora Beauchamp. — Ironizou o mais alto. Era ruivo, e todos ali sabiam o quanto aspirava ao cargo de financeiro.

— É Johnson — corrigiu de forma azeda, sabendo bem o que os dois queriam insinuar, só pelos risos zombeteiros. — Será Beauchamp em breve.

Não soube de onde veio tal resposta, contudo já tinha disparado elevador à fora, ciente das más bocas falarem sobre o relacionamento improvável entre os dois. Procurou as chaves do Jeep que o companheiro insistira para que ela usasse, pelo menos quando Étienne não estivesse disponível. Se espantou ao encontrar Giovana parada em frente ao carro preto.

— Darcelle? Como está? — Sempre a exalar charme e confiança a mulher estendeu a mão para a jovem desconfiada. — Poderia ter uma palavra rápida com você? Vim falar com Damien e... — Viu a admiração nos olhos escuros à sua frente.— Parece que ele não lhe disse, contudo, gostaria de cinco minutinhos do seu tempo.

— Senhora Beauchamp. — Cumprimentou. — Quer entrar no edifício e conversar em alguma sala?

— Não é preciso. Pode ser aqui no... seu carro. — O tom que usou para pronunciar as últimas palavras foi indescritível. Darcelle pensou em se justificar, no entanto preferiu acenar em confirmação e desarmar o carro. As duas entraram, e o espaço de repente pareceu pequeno na presença daquela magnífica mulher. — Serei breve.

— Fique a vontade.

— Sei que como todos, deve pensar mal de mim, deve me julgar e me achar a pior mãe do mundo. Damien diz que eu o abandonei por não conseguir olhar a cara deformada, mas toda história tem dois lados. — Começou a falar com o ar sério.

— Mas a senhora me julgou assim que me viu naquele dia no quarto com o seu filho.

— Quando o acidente aconteceu foi um desastre não só na vida dele, como na de todos. Meu marido ficou desnorteado e eu me sentia culpada por não ter conseguido proteger a pessoa que mais amava de um destino infortúnio. As cirurgias foram um desgaste, uma faca cravada na nossa esperança. Não tinha conserto. — Os olhos azuis ficaram molhados com o relato unido a lembrança. — As pessoas tinham pena de nós. Damien desistiu da vida, se isolou de tudo e todos. A namorada pela qual o maldito acidente aconteceu tentou de várias formas se aproximar. Ele nunca deixou.

«Quando meu marido morreu, eu estava sozinha, destruída, acabada e sem forças para lutar contra aquela máscara ridícula. Os noivados arranjados por mulheres que não suportavam olhar para ele. Ainda assim, isso não era o pior. O feitio horrível, as palavras ácidas, o olhar amargo.

É fácil simplesmente dizer que fui embora e o deixei para trás. Eu sei que como mãe deveria ter suportado até ao fim. É por isso que existem biliões de pessoas no mundo, porque são diferentes. A única forma que encontrei de me proteger foi indo embora.»

— Não entendo a razão de me contar tudo isso. — Darcelle pareceu desconfortável, os olhos preferiam acompanhar o movimento da rua, do que encarar a mãe do namorado.

— Eu não sou uma pessoa boa, mas também não sou má. Sou um ser humano, com defeitos e virtudes. Sei o quanto Damien pode ter raiva de mim, mas só Deus sabe o quanto sofri. Fui egoísta sim, mas quem pode me condenar se nunca esteve em meu lugar?

— Eu não tenho como lhe dar nenhuma absolvição senhora. E não é a mim que deve tentar convencer.

— O Christian sempre esteve do lado do amigo mesmo quando não o suportava. E agora vem você desmontar todas as muralhas que ele ergueu com essa facilidade? Deve ser muito poderosa para penetrar um coração que estava tão amargurado. Não sei se realmente o ama, mas acredito que a solução para tudo possa mesmo ser o amor.

— Ainda não sei onde pretende chegar. — A postura rígida da jovem demonstrava toda tensão do seu corpo.

— Sei que a ofendi no outro dia. Sempre fui dura e imprudente nas palavras, e coloquei sempre Damien num pedestal acima de qualquer outro. Ver uma mulher negra, claramente de poucas posses em seus braços, um dia após o dito noivado foi no mínimo chocante. — Foi sincera. — Mas depois eu fui para casa refletir. A forma como ele te abraçava naquela cama, o rosto desfigurado pela primeira vez estava sereno. A forma como você o defendeu cheia de garra. Sou uma mulher vivida como você bem disse naquele dia, e devo reconhecer que talvez o vosso sentimento é verdadeiro. Não sei se importa, mas quero que saiba que podem contar comigo.

Giovana não esperou a resposta de Darcelle, e desceu do carro com toda a sua elegância, caminhando como um felino com um pé em frente ao outro até dentro do grande edifício. Parou na receção.

— Senhora Beauchamp, o seu filho está a sua espera. — Rupert sorriu como a etiqueta mandava, tendo uma cara amarrada como resposta.

— Não me pareça que esteja sol aqui dentro. Não é de bom-tom que receba os clientes de óculos escuros, Elisa Rupert. — Implacável como sempre, a mulher que trajava um luxuoso fato vermelho, pousou a sua bolsa de marca em cima do grande balcão.

— Perdão, senhora. É que estou com uma alergia e não achei que...

— Nesse caso fique em casa. — Cortou com frieza. — Tire os óculos para eu avaliar. Vamos lá Rupert, esqueceu que fui enfermeira?

A rececionista tinha o coração a bater tão alto que quase se ouvia do lado de fora. Num movimento lento e de constrangimento, retirou os óculos escuros, revelando um olho fechado e com uma grande mancha negra ao redor.

— E agora? Vai dizer que se bateu contra uma porta? — A senhora meneou a cabeça, e saiu a caminhar em direção ao elevador. Não era capaz de entender a razão de algumas mulheres se submeterem àquilo.

Encontrou o monstro du Camp concentrado no computador, não levantou os olhos duas vezes para encara-la, embora conseguisse sentir os movimentos todos da sua mãe. Esta se serviu de café e sentou na cadeira em frente do filho.

— Fiquei surpreendida quando me chamou aqui. — Decidiu iniciar a conversa, vendo que o filho não falava nada.

— Joanne Charlton me procurou e diz que tem um filho meu, o mesmo que a senhora mandou abortar. Confere? Se me mentir saiba que o resultado do teste de ADN sai na segunda. — Foi direto ao ponto. A voz rouca sempre cheia de charme, mesmo quando estava zangado.

— Você não conseguia se amar nem a si próprio, imagina uma criança? Não querias falar com aquela mulher por nada neste mundo, quanto mais ter um filho dela? Apenas fui prática em resolver esse assunto e evitar chatices para o seu lado. — Não negou, muito pelo contrário, parecia certa da sua atitude.

— Parece que o assunto foi mal resolvido. Eu vi a criança na segunda-feira, e é igual a mim quando tinha seis anos. Até o buraco no queixo e as covinhas na bochecha quando ri. Tudo.

— Estou tão surpresa quanto. Joanne me disse que tinha abortado com sucesso e nunca me pediu nada todos estes anos. Parecia decidida a te esquecer e tudo.

— Agora essa criança não sai da minha cabeça, e essa mulher afirmou que vai fazer da minha vida um inferno antes de permitir que me aproxime dele. O Giovani por sinal. — Pela primeira vez viu a mãe perder toda a compostura dura e séria. — Meu relacionamento com Darcelle acaba de começar. Se aquela mulher foi capaz de enviar a pobre da irmã para se deitar comigo em busca de vingança, o que mais será capaz de fazer?

— Quer que eu diga que a culpa disso tudo foi minha, Damien? Talvez tenha sido bom conhecer essa criança agora que mostrou ser uma pessoa melhor. — Bebeu o café com uma delicadeza absoluta, sequer o batom rosa manchava a borda da chávena.

O celular de última geração vibrou, mostrando a fotografia de Christian Dash no ecrã. O amigo atendeu, irritado.

— Alô?

Ligue a televisão no canal 5, agora Damien.

Não posso ver televisão, Christian! Estou ocupado.

É melhor ligar. Lorenzo Wright acaba de estrear um programa televisivo, e adivinha quem é a primeira convidada? Joanne.

Damien procurou o controlo remoto perdido nas gavetas por falta de uso, muito antes de desligar o celular. Ligando-a logo em seguida.

Lorenzo era conhecido pelo jornal Tempo, e ultimamente por ser o principal pivô das notícias relacionadas às primas Johnson. O que não parecia encaixar era a relação que poderia ter para chegar às Charlton.

***

— Por que me olhas com essa cara? Você está assim desde que chegou — indagou Jamie sentindo-se incomodada. As duas estavam sentadas no mesmo sofá, conversavam mais sobre Darcelle, que era quem mais parecia disposta em contar suas coisas.

— É que você já comeu quase um frango inteiro, duas laranjas, um chocolate e agora um pacote de batata frita.

A médica arregalou os olhos, afastando o pacote para longe de suas mãos. Sorriu com vergonha e coçou a cabeça sem saber o que dizer.

— Sabia que Lorenzo conseguiu um programa exclusivo? Tudo as nossas custas, quero só ver o que o idiota vai apresentar. — Desviou o assunto e procurou o comando para mudar de canal. Darci quis reclamar mas o rosto da irmã de Emma na televisão, roubou toda sua atenção.

— O que ela está fazendo aí?

— Sabe de onde eu conheço a que ia se casar com Damien? Pois, eu lembrei. Ela tinha um namorado que era melhor amigo de Lorenzo. Já os vi algumas vezes.

— Seja bem-vinda ao Pipoca Quente, Joanne. Agradecemos a sua presença e por ser uma mulher corajosa o suficiente para dar as caras na televisão para falar de um assunto tão delicado. — A câmara fechou o plano para o rosto aparentemente triste da Charlton, mas a voz do entrevistador continuou a ser ouvida. — Todos sabem que Damien Beauchamp apareceu com outra namorada pouco tempo depois de ter noivado. O mais impactante não foi a traição vergonhosa contra a bela Emma, irmã da nossa convidada, e sim, a história inacreditável por trás de tudo.

— Eu nunca tinha contado nada para a minha irmã, mas não aguentava viver sufocada, e assim que ela soube, se separou de Damien. Essa é a verdade, ele só ficou com a empregada para esconder que tinha sido abandonado.

— E por quê ele fez isso? — Lorenzo tinha uma voz enfática, criando um derradeiro espetáculo dramático ao passar uma caixa com lenço de papel, para a convidada limpar o rosto.

— Damien Beauchamp teve um filho comigo, o Giovani, de seis anos. Nunca quis assumir e sempre me desprezou por eu não ser tão bonita, ou estar nos padrões aceitáveis. Fingiu não me conhecer todo este tempo no qual sofri e...

Jamie desligou a televisão no minuto seguinte, a mão escura chegava a tremer.

— Liga isso de volta. Liga!

— É tudo uma mentira para ganhar audiência. O Lorenzo quer me atingir, e por isso vai provocar todos que eu amo, não chore!

— Liga a televisão de volta, Jamie. Quero ver o que essa mulher tem para dizer.

— Melhor ouvir o que seu namorado tem para dizer!

A médica levantou do sofá e foi desligar a ficha da ligação. A prima levantou e começou a andar de um lado para o outro, pensava em mil coisas, sem querer acreditar que o namorado tinha conhecimento daquilo. Só podia ser mentira. As pessoas costumavam fazer qualquer coisa por um minuto de fama.

A campainha tocou alto, e as duas se entreolharam. Darcelle correu até a porta, os olhos pareciam queimar por dentro. Damien entrou na casa, olhando para a televisão e depois para uma Jamie que saiu da sala sem hesitar.

— Você viu? — Ele questionou.

— É verdade?

— Eu não tenho certeza. Estou a espera do resultado do ADN.

A deceção cobriu os olhos escuros de forma tão certa que o coração dele falhou uma batida. Soube logo que tinha cometido um erro.

— Você já sabia?

— Era essa a segunda coisa que eu queria falar contigo. — O desespero estava estampado no rosto disforme.


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Notas finais do capítulo

Gostou? Não gostou? Crítica, elogio, palavrão, sugestão. etc. Tudo na caixa abaixo!

Um simples gostei, valeu, detestei. Qualquer coisa para deixar uma pequena autora feliz.

Dizer que Para Além da Beleza está a concorrer para o Wattys2016 um concurso anual da plataforma Wattpad, onde conta com mais de 27,6 K de visualizações, 4 K de votos e mais de 2 K comentários. (Toda a ajuda é bem vinda para quem usa a app é só usar a # Hashtag ao comentar sobre a história se assim acharem que merece)

Muitos beijos e até breve.



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